Mostrar mensagens com a etiqueta Pascal. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Pascal. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Duas frases de Pascal para abrir

Há dias, uma frase de Pascal. Inesperada, pelo menos para mim:
"O tempo cura as dores e as querelas, pois mudamos: já não somos a mesma pessoa. Ele já não ama esta pessoa que amava há dez anos. É isso: ela já não é a mesma, e ele também não. Ele era jovem, ela também; ela agora é totalmente diferente. Talvez ele ainda a amasse se ela fosse como era."
(Daqui.)

Outra hoje, embora me pareça mais pascalina:
O último ato é violento, não importante quão refinado é o resto da peça. Atiram-nos terra para cima da cabeça, e ele acabou para sempre.

domingo, 26 de outubro de 2014

Anselmo Borges: "Igreja, sexo, família"

Texto de Anselmo Borges no DN de ontem, 25.

Aí está um tema sobre o qual a Igreja tem imensa dificuldade em falar. À partida, porque é em si mesmo difícil. Mas a dificuldade aumenta na Igreja, porque, para lá de outras razões, que talvez Freud ajudasse a explicar, está entregue ao papa, a cardeais, bispos e padres, que devem ser celibatários e não têm propriamente família. Mas que o tema é relevante, mostra-se, por exemplo, pela enorme importância dada pelos media ao Sínodo que lhe foi dedicado, cuja primeira fase - segue-se um ano de reflexão, que culminará na nova assembleia sinodal, em Outubro de 2015, e na Exortação final do Papa Francisco, nos inícios de 2016 - concluiu no domingo passado.

Quem foram os vencedores e os perdedores? Há quem insinue que o Papa Francisco não conseguiu levar adiante o seu projecto. Não creio nessa tese. É preciso perceber que se trata da primeira fase do Sínodo. Depois, sobretudo, criou-se um clima e abriram-se portas que já não é possível fechar. Votou-se um texto que, se em relação aos divorciados e aos homossexuais, não obteve os dois terços necessários para a aprovação, venceu, mesmo aí, por forte maioria, continuando, portanto, o debate. Que haja tomadas de posição diferentes, é sinal de vida, embora a Igreja não esteja habituada a este estilo de abertura democrática. Teve alto significado o facto de o Papa ter mandado votar os vários pontos e publicar os resultados, para que haja transparência e cada um assuma as suas responsabilidades.

A Igreja não abdica da doutrina, mas esta tem de ser aplicada na vida real, atendendo a dois princípios: o da compreensão e misericórdia e o da não exclusão. Penso, assim, possível antecipar, em termos gerais, o que se seguirá.

1. O casamento enquanto união em amor fiel e estável por toda a vida, aberta à procriação, lugar privilegiado de apoio mútuo e para a educação dos filhos, é um ideal de que se não deve abdicar e pelo qual vale a pena bater-se. Mas, por outro lado, o divórcio é uma realidade que não está em vias de declínio, e por razões múltiplas. Há situações e situações. É inegável um ambiente de hedonismo, de sociedade "líquida" e recusa de compromissos perenes. Pense-se também que há 100 anos a esperança de vida na Alemanha era à volta de 35 anos, sendo hoje de mais de 70; no tempo de Jesus, era à volta de 28 anos. Depois, se tradicionalmente parecia que os casamentos aguentavam mais, isso também se devia ao facto de as mulheres terem de aceitar ficar na penumbra e por vezes quase escravizadas, o que felizmente hoje não aceitam. E há aquele pensamento de Pascal, na linha da identidade processual e narrativa da pessoa: "O tempo cura as dores e as querelas, pois mudamos: já não somos a mesma pessoa. Ele já não ama esta pessoa que amava há dez anos. É isso: ela já não é a mesma, e ele também não. Ele era jovem, ela também; ela agora é totalmente diferente. Talvez ele ainda a amasse se ela fosse como era."

De qualquer modo, pergunta-se: se, divorciados, recomeçarem a vida em amor, em dignidade, se tiverem filhos que se esforçam por educar humana e cristãmente, poderá a Igreja negar-lhes a participação plena na vida eclesial, incluindo a comunhão?

2. Será reconhecido o valor dos casamentos civis e também das uniões de facto e da coabitação, que até poderão, nalgumas circunstâncias, desembocar no sacramento do matrimónio. Quantos sabem que só a partir do século IX foi exigida no casamento a presença de um padre e só no século XII se começou a definir o matrimónio como sacramento?

3. Quanto à homossexualidade, não se espere o reconhecimento do casamento de pessoas do mesmo sexo. Como já aqui expliquei, a linguagem eclesiástica não fala em casamento, que vem de casa, mas em matrimónio, que vem de mater (no genitivo, matris), mãe, o que significa que, segundo a Igreja, a abertura à possibilidade da procriação é constitutiva do casamento. Mas a linguagem mudou: os homossexuais "devem ser acolhidos com respeito e delicadeza; deve ser evitada qualquer marca de discriminação injusta". Será dada especial atenção às crianças que vivem com pessoas do mesmo sexo.

4. Evidentemente, será necessário rever a questão da contracepção, o que implica rever o pressuposto de uma natureza fixa e imóvel, centrada na biologia. A sexualidade humana não se reduz ao biológico e é próprio da natureza de o homem ser histórico e cultural e intervir artificialmente, com responsabilidade, na natureza.

5. Em todos estes pontos vale um princípio tradicional, retomado por Bento XVI, quando era professor: "Acima do Papa encontra-se a própria consciência, à qual é preciso obedecer em primeiro lugar; se fosse necessário, até contra o que disser a autoridade eclesiástica." Não vale tudo, mas, para lá da moral reduzida a normas e proibições, é preciso educar para a autonomia, para a liberdade na responsabilidade e dignificação.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Um país chamado Jansénia


Jansénia, um país que faz fronteira com Despairia, Calvínia e Libertínia, tem uma cidade que se chama Hipona ou Tarso.

Por causa do artigo a que se refere a frase acima, quase investia 20 e tal euros na compra do "Dicionário de lugares imaginários", de Alberto Manguel e Giani Guadalupi. A ideia da compra fica em quarentena uns quinze dias. Se não passar, terei de o comprar. Mas não é admirável que em Jansénia haja uma cidade chamada Hipona ou Tarso? Também lá (no livro) está cartografado o País das Maravilhas (imagem abaixo). E certamente a ilha de Rafael Hitlodeu.



quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Gratidão

Eternamente alegre por um dia de exercício na terra.

Blaise Pascal
(Penúltimo verso da oração que teve sempre com ele, de 23 de novembro de 1654 ao dia da morte, 19 de agosto de 1662)

sábado, 2 de novembro de 2013

Anselmo Borges: "Os dias da memória e da interrogação"

Erich Fried (1921-1988), poeta

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje.

O escritor Erich Fried escreveu de forma provocatória: "Um cão/que morre/e sabe/que morre/ e pode dizer/que sabe/que morre/como um cão/é um homem." Na história gigantesca do universo, com 13 700 milhões de anos, sabemos que há ser humano, diferente dos outros animais, quando aparecem rituais funerários: eles revelam a presença de alguém que sabe que é mortal, que põe a questão da morte e do seu para lá.

A morte, aparentemente uma realidade tão simples e evidente - tudo o que vive morre, como diz a palavra portuguesa "nada", do latim res nata (coisa nascida) -, é o enigma e o mistério. Platão colocou aí uma das bases do filosofar, como também Pascal, Schopenhauer, Heidegger, entre muitos outros. Sim, a morte é natural, do ponto de vista biológico. Mas o homem não se reduz a biologia. Tem consciência de si enquanto eu, e, assim, abalado pela morte, protestava Unamuno: "Ai que me roubam o meu eu!" Na morte, o homem é confrontado com o nada e angustia-se. Face a algo de concreto que nos ameaça, temos medo; face ao abismo insondável do nada, o que surge é a angústia.

Perante a morte, as palavras falham. Ninguém sabe o que é morrer, esse passar de vivo a morto, já cá não estar. Ninguém sabe o que é estar morto, nem sequer para o próprio morto, como reflectiu o filósofo Levinas. Dizemos, diante do cadáver do pai, da mãe, do irmão, do filho, da filha, do amigo, da amiga: o meu pai, a minha mãe, o meu filho, a minha filha, o meu amigo, a minha amiga, está aqui morto, está aqui morta. Mas isso não faz sentido, pois o que falta é precisamente o meu pai, a minha mãe, o meu filho, a minha filha, o meu amigo, a minha amiga. O que ali está é um resto e o que falta é precisamente o sujeito, alguém. Como se não pode dizer que os levamos ao cemitério, pois ninguém se atreveria a enterrar o pai, a mãe, o amigo, a amiga ou a cremá-los. Também dizemos que vamos visitá-los ao cemitério. Ora, com excepção dos vivos que lá vão, nos cemitérios não há ninguém; apenas lixo biológico, "ossos e podridão", segundo o Evangelho. Pergunta-se então: o que há nos cemitérios, para que a sua profanação seja, em todas as culturas, um crime hediondo? Nos cemitérios, o que há não é senão esta pergunta infinita: o que é o homem, o que é um ser humano?

Nas nossas sociedades tecnocientíficas e citadinas, a morte tornou-se tabu, o último tabu. Tabu já não é o sexo, mas a morte. Não se pode dar sinais de luto, mente-se às crianças e da morte pura e simplesmente não se fala ou, pelo menos, é de mau gosto e de mau tom falar dela.

Não se julgue que isso acontece, porque a morte já não é problema. Pelo contrário, de tal modo é problema, o único problema para o qual uma sociedade que se julga omnipotente nos meios não tem resposta nem solução que a única solução é ignorá-la, como se não existisse. Trata-se de uma sociedade centrada na produção e consumo, no ter, no êxito, no cálculo, no espectáculo, no poder. Ora, a morte interrompe toda esta lógica. Perdeu-se o sentido da morte e, consequentemente, o sentido da vida ou, talvez melhor, perdeu-se o sentido da vida e, consequentemente, o sentido da morte. Mas, então, também se perdeu o sentido ético: de facto, sem a consciência do limite no tempo, não se ergueria a problemática ética na sua urgência da liberdade na definitividade. É o pensamento sadio da morte que, como mostrou Heidegger, obriga à distinção entre existência autêntica e existência inautêntica, entre bem e mal, entre o justo e o injusto, o que verdadeiramente vale e o que não vale. E que dá o horizonte da fraternidade: à beira de morrer, disse H. Marcuse ao amigo Habermas: Sabes, Jürgen? Agora, sei onde se fundamentam os nossos juízos morais: na compaixão.

Mas até a Igreja Católica, na negociação dos feriados, preferiu a Senhora da Assunção aos dias de Todos-os-Santos e dos Finados. Um erro. De facto, estes são os dias da memória (lembrar todos os que partiram) e da interrogação essencial: o que é o homem?, viver para quê?, qual o sentido da existência? Nestas perguntas, transcende-se a morte como facto biológico e abre-se outra dimensão.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Deus escondido

Aprendam ao menos qual é a fé que rejeitam, antes de rejeitá-la. Se esta religião se vangloriasse de ter uma clara visão de Deus e de possuí-la abertamente e sem véus, seria efetivamente um modo de combatê-la o dizer que não se vê nada no mundo que no-la mostre com tal evidência. Mas o cristianismo diz, ao contrário, que os homens estão nas trevas e no forçado afastamento de Deus, que ele se escondeu do conhecimento deles, que é precisamente este o nome que ele a si mesmo se dá nas Escrituras; Deus escondido, Deus absconditus...

Blaise Pascal

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Deus absconditus

Se esta religião se vangloriasse de ter uma clara visão de Deus e de possuí-la abertamente e sem véus, seria efetivamente um modo de combatê-la o dizer que não se vê nada no mundo que no-la mostre com tal evidência.

Pascal

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

sábado, 27 de outubro de 2012

Luto(s). Por quem os sinos dobram

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:

Várias vezes me perguntaram por que é que não escrevia algo sobre o(s) luto(s). Aí fica então a tentativa (hoje e no próximo sábado) de satisfazer esses pedidos. E faço-o nesta ocasião, porque, num tempo em que a morte se tornou tabu - o último tabu -, as nossas sociedades permitem que os mortos nos visitem nestes dias, concretamente 1 e 2 de Novembro.

O dia 1 será este ano feriado nacional pela última vez. Permita-se-me, neste contexto, que manifeste a minha total discordância pelo facto de, na negociação do fim de dois feriados religiosos, a Santa Sé - o Vaticano, na linguagem corrente - ter optado por cortar o dia de Todos os Santos em vez do dia 15 de Agosto, Assunção de Nossa Senhora. Afinal, já havia uma festa dedicada a Nossa Senhora, a Imaculada Conceição, no dia 8 de Dezembro. E os dias 1 e 2 de Novembro são mais universais, pois são os dias da Memória e da Interrogação.

A palavra luto (do latim luctus, dor, mágoa, aflição, lamentações, lágrimas) significa, nas várias línguas - duelo, Trauer, lutto -, dor, principalmente pela morte de alguém. Principalmente. De facto, é a dor pela perda, e há muitos tipos de perda: o desemprego, o fim de um namoro, um divórcio, a reforma, um fracasso profissional... Mas é sobretudo dor pela morte de alguém. Porque a perda principal e sem retorno é a morte.

O primeiro luto deve ser por nós próprios, isto é, luto de cada um por si mesmo, no sentido de cada um se reconciliar, se ir reconciliando, com a sua mortalidade e, assim, com a sua própria morte. Hemingway escreveu um romance famoso, pleno de humanidade: Por Quem os Sinos Dobram. Afinal, por quem dobram os sinos? É por ti. Por cada um de nós. Por mim.

Para perceber uma sociedade, mais importante do que saber como é que nela se vive é saber como é que nela se morre e nela se tratam os mortos. Porque esse "como" da morte explica o "como" da vida. Na nossa sociedade do cálculo, da razão instrumental, da eficácia, da produção que deveria ser ilimitada e do afago festivo e agitado do consumo e do bem-estar consumista, a morte teve de tornar-se tabu: disso pura e simplesmente não se fala, porque é de mau tom e mau gosto. E assim se construiu uma sociedade assente na mentira. Com efeito, podemos tentar esquecer a morte, ela não se esquecerá de nós.

Não se julgue, portanto, que se tenta não pensar na morte, porque a morte já não é problema. É exactamente o contrário: de tal modo a morte é problema, um problema para o qual uma sociedade poderosíssima concretamente no domínio técnico não tem solução que a única solução é calá-lo, ocultá-lo.

Já Pascal chamou a atenção para isso, no quadro do seu divertissement. "Quando algumas vezes me pus a considerar as diversas agitações dos homens, e os perigos e trabalhos a que se expõem, na corte e na guerra, e que dão origem a tantas contendas, paixões, empreendimentos ousados, e muitas vezes maus, descobri que toda a infelicidade dos homens vem de uma só coisa: não saberem estar sossegados num quarto. Mas, quando pensei de perto no assunto, e quando, depois de ter encontrado a causa de todas as nossas infelicidades, quis descobrir a razão dela, vi que só há uma razão muito efectiva, que consiste na desgraça natural da nossa condição fraca e mortal."

Não se trata, como é evidente, de um pensar mórbido na morte - esse pensamento é detestável, tanto mais quanto foi utilizado até pela Igreja para, pelo terror da morte e do Além, exercer domínio e controlo sobre as consciências. Pelo contrário, do que se trata é de reconciliar-se e conviver de modo sadio com a morte própria. Por duas razões fundamentais. Porque o pensamento da morte atira-nos, como mostrou Heidegger, para a distinção clara entre a existência autêntica e a existência inautêntica, entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o que verdadeiramente vale e o que não vale. Por outro lado, a consciência do limite temporal da existência no mundo obriga a viver intensamente cada instante. Só se vive uma vez e tudo é sempre pela primeira e última vez. O que temos a fazer é aqui e agora. Não há adiamento possível. E da nossa vida podemos fazer uma obra de arte ou um desastre.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

É difícil lidar com a modernidade



Eugénio Scalfari, fundador do jornal “La Repubblica” (aqui referido num diálogo com o cardeal Martini), escreveu no seu jornal sobre a "grande crise da Igreja", que vai de “Pacelli a Ratzinger”.

Um balanço no fim do pontificado de João Paulo II:
Os problemas da Igreja na sua morte eram os mesmos: poder da hierarquia, marginalização do povo de Deus, crise das vocações, crise da fé em todo o Ocidente, nenhuma modernização dentro da Igreja. Mas uma modificação, sim, havia sido verificada nesse meio tempo: a mensagem do Vaticano II não só não dera passos à frente, mas havia dado passos para trás.
Quanto a Bento XVI, Scalfari aprecia os livros e as encíclicas e que tenha afastado o tomismo, “com  tantas saudações a Orígenes, Anselmo de Aosta e Bernardo”. É curiosa a sugestão de beatificação de Pascal, algo de que nunca tinha ouvido falar:
Se quisesse dizer algo verdadeiramente atual, o Papa Ratzinger deveria dar início à beatificação de Pascal, mas me dou conta de que, no mundo dos Bertone, da Cúria Romana e das atuais Congregações, isso sim seria um gesto radical rumo à modernidade. Nunca o farão.
Muito mais Bento XVI poderá/poderia fazer rumo a modernidade, ainda que alguns achem que não deve fazer nada. A encíclica “Deus caritas est”, com uma nova visão da sexualidade (falou do eros, novidade num texto papal), parecia querer iniciar uma grande reforma. Parecia.

Ler tudo aqui.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Os Pascal riam pouco

Jacqueline Pascal

Jacqueline (1615-1661), irmã de Blaise Pascal, foi superiora em Port-Royal. No regulamento do convento influenciado pelo jansenismo, mandou acrescentar a proibição de rir e sorrir. Pascal viria a comungar das mesmas ideias. A irmã, mais velha, teve influência na conversão do génio matemático. Aprecio muito Pascal, mas preferia que tivesse gostado muito de rir.

sábado, 31 de março de 2012

Evitei-te

Separei-me de ti; evitei-te, renunciei, crucificado.
Que nunca eu seja separado dele.


Blaise Pascal (1623-1662)

sábado, 17 de setembro de 2011

Eclesiastes versus Pascal

Quem ama o dinheiro jamais se fartará dele.
Ecl 5,9


Eu só gosto do dinheiro, porque me dá a possibilidade de ajudar os outros.
Blaise Pascal

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Wittgenstein resume Pascal

Versão de Wittgenstein do argumento da aposta de Pascal:


"Vá. acredita! Mal não faz".


Li em "Nada a temer" (ed. Quetzal), de Julian Barnes, o livro autobiográfico focado nas questões (ou talvez apenas na questão) da  morte e de Deus. O agnóstico Barnes, que já foi ateu, é uma pessoa honesta. O livro, já o disse (aqui), é imperdível.


Argumento de Pascal aqui.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

domingo, 19 de junho de 2011

Blaise Pascal faz hoje 388 anos

Blaise Pascal nasceu no dia 19 de Junho de 1639. Recordei-o aqui no ano passado, sem esquecer o argumento da aposta (aqui).


Sabedoria Pascal para qualquer ocasião

O último esforço da razão é reconhecer que existe uma infinidade de coisas que a ultrapassam.


Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas.

Normalmente, convencem-nos com mais facilidade as razões que nós próprios encontramos do que as que vieram ao espírito dos outros.

Fazer troça da filosofia, é, na verdade, filosofar.

Tudo o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é essa mesma morte, que não saberei evitar.

A natureza tem perfeições que mostram que é a imagem de Deus, e defeitos que mostram que é apenas a imagem.

Há duas espécies de homens: uns, justos, que se consideram pecadores, e os pecadores que se consideram justos.

O homem não é nem anjo nem animal, e a infelicidade exige que quem pretende fazer de anjo faça de besta.

O que é o homem na natureza ? Um nada em comparação com o infinito, um tudo em face do nada, um intermediário entre o nada e o tudo.

O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram.

Quando considero a duração mínima da minha vida, absorvida pela eternidade precedente e seguinte, o espaço diminuto que ocupo, e mesmo o que vejo, abismado na infinita imensidade dos espaços que ignoro e me ignoram, assusto-me e assombro-me de me ver aqui e não lá. Quem me pôs aqui? Por ordem de quem me foram destinados este lugar e este espaço?

sábado, 23 de abril de 2011

Anselmo Borges: O penúltimo e o último

É imbecil dizer: eu sei que há Deus, eu sei que há vida para lá da morte; mas é igualmente imbecil dizer: eu sei que não há Deus, eu sei que tudo acaba na morte. Perante o último, está-se no domínio da crença razoável, não no domínio do saber racional. Há razões para acreditar e razões para não acreditar. De qualquer forma, o crente deve compreender o não crente, mas este também não pode atirar os crentes todos para o asilo da ignorância e da superstição.

Nos meses de Fevereiro e Março, participei como conferencista em vários colóquios e simpósios sobre o tema da morte, do além e do luto. Em todos, as salas de conferências estavam cheias - a última intervenção foi nos H U C, e as inscrições chegaram, segundo me disseram, a 865. Afinal, embora vivamos num tempo em que a morte se tornou tabu - disso não se fala -, as pessoas continuam a pensar nela. Será possível não pensar? Mesmo se ela é o impensável - diz-se que o filósofo Michel Foucault, nos seus últimos dias no hospital, terá sussurrado: "Le pire c'est qu'il n'y a rien à dire" ("O pior é que não há nada a dizer) -, é-o enquanto o impensável que obriga a pensar.
Claro que se pode sempre dizer que a morte é o mais natural - aliás, a língua portuguesa é pessimista: a palavra nada vem de res nata (coisa nascida) -, tudo o que nasce morre. A vida é como uma vela que se apaga. Mas lá está o ateu religioso Ernst Bloch, protestando: o ser humano não é uma vela. A morte humana não é redutível à morte biológica, pois o Homem é uma existência, autoconsciência, que antecipa, que pergunta ilimitadamente, também para lá da morte. Outra vez Bloch: o cadáver é a evidência, mas ninguém se contenta com o cadáver (por isso, reflectiu permanentemente sobre o enigma da morte, para dizer que o núcleo do humano é extraterritorial à morte - o que isso possa querer dizer é discutível).
Pedro Laín Entralgo, médico e filósofo, não se cansou de repetir: o saber científico é certo, mas refere-se ao que é penúltimo. O último (porque há algo e não nada?, porque existo precisamente eu?, há Deus?, há vida para lá da morte?, com a morte, acaba tudo?) é saber de crença, razoável, mas incerto. É imbecil dizer: eu sei que há Deus, eu sei que há vida para lá da morte; mas é igualmente imbecil dizer: eu sei que não há Deus, eu sei que tudo acaba na morte. Perante o último, está-se no domínio da crença razoável, não no domínio do saber racional. Há razões para acreditar e razões para não acreditar. De qualquer forma, o crente deve compreender o não crente, mas este também não pode atirar os crentes todos para o asilo da ignorância e da superstição.
Perante o último, fica-se na perplexidade. Porque lá está Wittgenstein: "Sentimos que, mesmo que todas as possíveis questões científicas tivessem recebido resposta, os nossos problemas vitais não teriam ainda sequer sido tocados". E: "Acreditar num Deus quer dizer compreender a questão do sentido da vida. Crer num Deus quer dizer ver que os factos do mundo não são, portanto, tudo. Crer em Deus quer dizer ver que a vida tem um sentido." Mas Pascal já advertira: "Incompreensível que haja Deus, e incompreensível que não haja; que a alma seja com o corpo, que não tenhamos alma; que o mundo seja criado, que não o seja, etc." Umberto Eco disse recentemente a João Céu e Silva [do DN]: "Creio que o homem é um animal religioso, que tem medo da morte e das coisas terríveis. É mais conveniente acreditar em Deus, e só os filósofos podem suportar a sua ausência". Será assim? Jürgen Habermas, talvez o maior filósofo vivo, confessou num discurso subordinado ao tema "Glauben und Wissen" ("Crer e saber"), pronunciado já depois do trágico Setembro de 2001: "A esperança perdida na ressurreição deixa atrás de si um vazio manifesto". Há aquela pergunta infinita: quem fará justiça às vítimas inocentes?
Habermas
Nestes dias de Páscoa, o que os cristãos celebram é que Jesus crucificado e morto não ficou encerrado no nada da morte, pois foi encontrado pela vida plena e eterna de Deus. Como confessou há pouco Bento XVI, muitos cristãos já não acreditam e andam confusos. Mas também é verdade que o cristianismo se mantém em pé ou se afunda segundo seja verdade ou não que Jesus é o Vivente em Deus.
Nisto, que é essencial e decisivo, o polémico teólogo Hans Küng está de acordo. Pergunta na obra recente "Was ich glaube" ("A minha fé"): "E se me tivesse enganado e na morte entrasse não na vida eterna de Deus, mas no nada? Se assim fosse - já o disse muitas vezes e estou convencido disso -, de qualquer modo teria vivido uma vida melhor e com mais sentido do que sem esta esperança".

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

24 de Janeiro de 1656. Pascal defende o jansenismo


Blaise Pascal começa a escrever as 18 "Cartas provinciais" no dia 24 de Janeiro de 1656. Nelas defende o jansenista Antoine Arbauld, de Port-Royal, que havia sido condenado por heresia  na Faculdade de Teologia da Sorbnone, Paris. Pascal assina as missivas com o pseudónimo Louis de Montalte.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Jesus no dicionário dos ateus

Sylvain Maréchal

Sylvain Maréchal (1750-1803), no seu "Dictionnaire des athées anciens et modernes" (“Dicionário dos ateus antigos e modernos”), de 1800, incluiu artigos sobre Pascal, Santo Agostinho e Jesus Cristo, entre outros, naturalmente.

No dicionário cabiam também os anticlericais e os críticos das religiões. Jesus, em certo sentido, sem dúvida que pode ser contado como membro dos dois grupos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Véus

Pascal morreu há 348 anos. Precisamente. Recordo-o com esta frase:

Todas as coisas são véus que cobrem Deus.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...