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sábado, 4 de janeiro de 2014

Anselmo Borges: "Qualquer coisinha, tenho fome"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:


Não sei se há humilhação maior do que ter de estender a mão suja, que salta de um corpo e uma roupa também sujos, pedindo, com o corpo inclinado e o olhar perdido e suplicante: "Qualquer coisinha, tenho fome." Se é uma criança, com uma mãozinha pequenina, um velho, um deficiente, suplicando "por caridade, por caridade", parte-se-me a alma. Sinto-me muito envergonhado por mim e pela sociedade, e dou, numa indizível atrapalhação, pois precisaria de dizer-Ihes que não é por caridade, mas por dever. E desaparecer.

Dar generosamente. Nem a mão deveria aparecer, para não ser vista. Um grande amigo que já morreu - porque é que os amigos mor-rem?! - repetia constantemente: a mão que dá esconde-se. A partir daí, perguntei-me sempre: será por isso que não vemos Deus? Porque dá - Deus é Dar, o Dar Originário, Criador -, escondendo-se?

Eu sei que é uma vergonha que se dê e se receba por esmola aquilo a que se tem direito, de tal modo que há mesmo quem pense e argumente que o exercício da caridade é um modo de desacelerar a transformação social que deveria conduzir a uma sociedade justa. Ouve--se isso, por vezes injustamente e de modo irresponsável, também por ocasião das campanhas do "banco alimentar".

É evidente que é uma exigência empenharmo-nos todos, com energia e lucidez, pela justiça no mundo, mediante a transformação das estruturas sociais. Mas também é evidente que seria intolerável, a pretexto de agudizar as contradições para acelerar a revolução, não dar de comer à criança esfomeada, não ajudar o pobre na sua necessidade imediata.

Confrontada pelos jornalistas, Madre Teresa de Calcutá argumentou que é urgente que os poderosos discutam nos Fóruns Internacionais os problemas da organização da justiça no mundo e a distribuição da riqueza, mas, enquanto se alcançam ou não acordos eficazes, as missionárias da caridade dedicar-se-ão a recolher das ruas, um a um, os moribundos e os enfermos que já ninguém ampara nem cuida.

Na sua exortação "A Alegria do Evangelho", o Papa Francisco denuncia o mero assistencialismo: "Os planos de assistência, que acorrem a determinadas emergências, deveriam considerar-se apenas como respostas provisórias. Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum. A desigualdade é a raiz dos males sociais". Mas não deixa de sublinhar que se deve entender o pedido de Jesus aos discípulos, no Evangelho segundo São Marcos: "dai-lhes vós mesmos de comer", como envolvendo "tanto a cooperação para resolver as causas estruturais da pobreza e promover o desenvolvimento integral dos pobres como os gestos mais simples e diários de solidariedade para com as misérias muito concretas que encontramos".

Também Bertolt Brecht, o famoso dramaturgo marxista que se fazia acompanhar da Bíblia, escreveu estes admiráveis versos sobre a necessidade de não desvincular a justiça da caridade nem esta daquela: "Contaram-me que em Nova Iorque,/na esquina da Rua Vinte e Seis com a Broadway,/nos meses de inverno, há um homem todas as noites/ /que, suplicando aos transeuntes,/procura um refúgio para os desamparados que ali se reúnem./ /Não é assim que se muda o mundo,/as relações entre os seres humanos não se tornam melhores./Não é este o modo de encurtar a era da exploração./No entanto, alguns seres humanos têm cama por uma noite./Durante toda uma noite estão resguardados do vento/e a neve que lhes estava destinada cai na rua.//Não abandones o livro que to diz, homem./ Alguns seres humanos têm cama por uma noite,/durante toda uma noite estão resguardados do vento/e a neve que lhes estava destinada cai na rua./Mas não é assim que se muda o mundo,/as relações entre os seres humanos não se tornam melhores./Não é este o modo de encurtar a era da exploração."

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A caridade verdadeira

A verdadeira caridade não consiste em chorar ou simplesmente e,m dar, mas em agir contra a injustiça.

Abbé Pierre, 1994

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Igualitarismo versus Honestidade

O igualitarismo abstrato de que se pode falar, como se uma reivindicação dos pobres, eles sabem que é uma farsa. Os que sofrem reclamam, sim, a honestidade.

Abbé Pierre, 1970

domingo, 21 de outubro de 2012

sábado, 6 de outubro de 2012

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Revista "Visão": Quando dar é receber



A "Visão" de ontem é uma excelente publicação sobre voluntariado. É uma revista que habitualmente não leio, mas esta vou guardar. Cerca de 100 páginas, quase toda a edição, sobre sobre voluntariado, solidariedade, economia social, mecenato social, histórias inspiradoras.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Camilo Lourenço: A Igreja está distraída?

No "Jornal de Negócios" de hoje. Comentário a destoar com a crítica habitual, a que diz que quando um governo de centro-direita está no poder a Igreja fala menos.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

É isto o progresso

A justiça de hoje é o amor de ontem. O amor de hoje é a justiça de amanhã.


Étienne-Michel Gillet (1758-1792)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Transparência nos dinheiros do Vaticano

Moeda de 50 cêntimos de euro com Bento XVI, cunhada em Julho de 2010


O Papa criou uma Autoridade de Informação Financeira (AIF) para evitar as trapalhadas que têm sucedido no Banco do Vaticano (IOR).

Na notícia do Público, afirma-se: “No documento, o Papa refere mesmo que apoia o compromisso da comunidade internacional na prevenção e na luta contra aqueles fenómenos e que a Santa Sé «entende fazer suas» as regras das organizações internacionais sobre a matéria” (ver aqui).


Um comentário. Isto é verdadeiramente um sinal dos tempos. O Vaticano reconhece que, em matéria de dinheiro, não é exemplo de transparência para ninguém. Mas devia ser. Para isso, tem de seguir as regras das organizações internacionais.

Um desejo. Falta agora que as organizações eclesiais locais (paroquiais, diocesanas, nacionais) façam suas as regras das melhores organizações locais em campos de acção similares. Poderiam começar por práticas tão simples quanto estas: Divulgação de quanto dão os ofertórios e outros peditórios; em que são aplicados; quanto recebem da consignação do IRS; justiça nos salários; aplicação dos princípios da doutrina social da Igreja nas organizações eclesiais…

Na realidade há algumas paróquias (e outras instituições) que prestam contas publicamente, mas por vezes de forma incompleta e quase sempre apenas fixando uma tabela nos expositores paroquiais. E são claramente uma minoria.

E uma nota. Para ilustrar este texto procurei uma imagem escrevendo "Vatican money" no google. Apareceu uma moeda com Bento XVI na cara da moeda. No Vaticano, segue-se o euro, mas são cunhadas umas quantas moedas com a cara do pontífice. Dirão que é simbólico, que é por tradição, que é para coleccionadores, que... Mesmo assim, não compreendo como é que, numa fé fundada por quem disse que "não se pode servir a Deus e ao dinheiro" e que um dia perguntou "Quem está na moeda? É César? Então...", ainda persistem estes contra-simbolismos.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

D. Januário Torgal Ferreira ao JN: "A Igreja deve ser fábrica de justiça"

D. Januário Torgal Ferreira em declarações do JN. Uma maneira de estar e palavras optimistas. Provavelmente do desagrado de alguns sectores, como é típico quando este bispo fala. Pode ser lida no sítio do JN. O texto saiu no JN do dia de Natal. No dia seguinte, falou ao DN o Cardeal-Patriarca (aqui). Mas há mais.


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ninguém teme a justiça

Bráulio se Saragoça e Isidoro de Sevilha

Um texto com 14 séculos de actualidade:

A avareza passou a ser senhora, e a lei a ser apenas a da ganância e do lucro. Os direitos ficaram sem valor, os prémios e as “cunhas” foram aumentando até virem a substituir a própria lei e o próprio direito. Onde venceram o poder e o dinheiro, aí ficou corrompida a justiça. Ninguém teme a justiça, porque os vícios continuam sem castigo, ninguém censura os criminosos, e aos malvados nada de mau lhes acontece. Os maus arranjam-se bem e até sobem a postos de governo e são sacrificados os inocentes, a quem não se dá a oportunidade de falar ou de se defender. Os honestos vivem na pobreza e os maus na abundância, podendo os criminosos fazer tudo o que lhes apetece.

Os justos passam dificuldades e os maus têm todas as honras; os justos são desprezados e os maus passeiam contentes na vida. Os justos levam uma vida triste e os ímpios amesquinham os justos com o seu poder.

Os bons são prejudicados pelos maus, enquanto os malvados são elogiados. Tantas vezes, os inocentes morrem como culpados por sentenças injustas, julgados por testemunhas e juízes sem escrúpulos, enquanto se arquivam impunemente os processos forenses daqueles réus que são tidos como criminosos pela opinião pública.

Isidoro de Sevilha (560 - 636)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mário Contumélias concorda com D. Carlos Azevedo

Mário Contumélias, autor da letra da canção do camelo "Areias" e de muitas outras, agradece a voz do bispo D. Carlos Azevedo, no Jornal de Notícias de hoje, 30 de Julho.

domingo, 21 de março de 2010

Texto de Bento Domingues no "Público" de hoje. "O amor de pura gratuidade situa-se na órbita do divino". "Deus não faz negócio com os seus dons". "S. Francisco de Assis é sempre apontado como o grande poeta cristão. Há outros, mas o maior de todos é português: S. João de Deus. Cada um descubra porquê".

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

12 propostas de Bento XVI na "Caritas in veritate"

Entre ontem e hoje reli a "Caritas in veritate". Na verdade, menos do que reli. Li pela primeira vez de uma ponta à outra. Antes disso, tinha lido alguns números, aos saltos, consoante as conveniências, as necessidades, os alertas. E a ideia que me ficou do tom geral deste documento é que tem muito mais a ver com a economia de mercado (vulgo capitalismo) do que com o apregoado novo sistema económico que, obviamente, ninguém sabe o que é. As ideias de Bento XVI são de reforma, não de revolução. A economia de mercado pode ser má, mas ainda é a menos má que se conhece. Ou seja, é a melhor. Há é que fazer ajustes.

Sintetizo as propostas de Bento XVI em 12 pontos. Há algumas ideias importantes que não são explicitadas nestes pontos (como a da subsidiariedade fiscal, que permitiria aos cidadãos decidirem o destino de parte dos impostos). Mas há mais marés.

1. Gratuidade e dom nas relações económicas e políticas
2. Genuíno espírito empresarial precisa-se
3. Orientar a globalização em termos de relacionamento, comunhão e partilha
4. A partilha dos deveres recíprocos mobiliza muito mais do que a mera reivindicação de direitos.
5. São necessárias políticas que promovam a centralidade e a integridade da família
6. Correcto relacionamento do ser humano com o ambiente natural
7. O desenvolvimento dos povos depende sobretudo do reconhecimento que são uma só família
8. A razão tem necessidade de ser purificada pela fé
9. O princípio da subsidiariedade há-de ser mantido estritamente ligado com o da solidariedade e vice-versa
10. Coligação mundial em favor do trabalho decente
11. Desenvolvimento é questão de técnica e de espírito
12. O desenvolvimento tem necessidade de cristãos com os braços levantados para Deus.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Justiça e Caridade, segundo Bento XVI

A caridade supera a justiça, porque amar é dar, oferecer, ao outro do que é «meu»; mas nunca existe sem a justiça, que induz a dar ao outro o que é «dele», o que lhe pertence em razão do seu ser e do seu agir.

Excerto do n.º 6 da encíclica "Caritas in veritate", de Bento XVI, que faz lembrar aquela quase-anedota contada por Hannah Arendt sobre João XXIII e a precedência da justiça sobre a caridade (aqui).

quinta-feira, 9 de julho de 2009

DSI 8 - Da "Rerum novarum" à "Caritas in veritate" - A "Quadragesimo anno" de Pio XI


Nem liberalismo absoluto, nem socialismo, ainda que moderado

Pio XI afirma claramente o porquê de uma encíclica social em 1931, a “Quadragesimo anno” (QA). No n.º 15 aponta três motivos: assinalar os 40 anos da “Rerum Novarum” (“Quadragesimo anno” significa “No quadragésimo aniversário”, as primeiras palavras da encíclica); responder a algumas dúvidas deixadas pela RN; e “chamar a juízo o regime económico moderno”, “instaurando processo ao socialismo” (que entretanto atingira grande grau de desenvolvimento, quer sob a forma de partidos comunistas na Europa Ocidental, quer sob a forma de regime, na URSS) e “apontando a raiz do mal-estar da sociedade contemporânea”.

Quando Pio XI escreve, o mundo ainda não conhece a real dimensão da crise iniciada com o “crash” bolsista de 1929. A crise teria consequências tão profundas que, ao chegar à Europa, principalmente à Alemanha (que no rescaldo da I Guerra Mundial vivia a crédito dos EUA) provocaria a ascensão de Hitler e, por fim, a II Guerra Mundial.

Muitos vêem na depressão económica iniciada em 1929 o cumprimento das profecias de Karl Marx: a implosão do capitalismo sobre si próprio. E na actualidade, são várias as vozes que dizem que a presente crise financeira é semelhante à de 1929 e terá consequências igualmente drásticas.

Mas o que aconteceu em 1929? Na origem está a famosa “quinta-feira negra”, o dia 24 de Outubro de 1929, com a queda a pique dos títulos da Bolsa de Nova Iorque porque a especulação bolsista já não tinha correspondência com o valor real das empresas cotadas. A seguir, todo o sistema financeiro norte-americano desmorona. Os bancos ficam sem liquidez quando milhares de portadores vendem os seus títulos ao desbarato. Sem liquidez, deixam de conceder crédito e retiram os seus investimentos do estrangeiro (sendo a Alemanha o país mais afectado). Refreia-se o investimento e o consumo e a economia cai a pique. A crise era financeira (o Dow Jones cai 79% num curto espaço de tempo), mas torna-se económica (quebra das actividades económicas), social (subida do desemprego, que chega aos 22% nos EUA e 17% na Alemanha) e política (ascensão das ditaduras).

Pio XI não antevia as consequências do “crash” bolsista (ninguém antevia) e a QA detém-se mais nos perigos da “solução socialista” no que dos do “liberalismo absoluto”. Mas a especulação financeira e o poderio dos grandes grupos económicos são notados:

“Nos nossos tempos não só se amontoam riquezas, mas acumula-se um poder imenso e um verdadeiro despotismo económico nas mãos de poucos, que as mais das vezes não são senhores, mas simples depositários e administradores de capitais alheios, com que negoceiam a seu talante. Este despotismo torna-se intolerável naqueles que, tendo nas suas mãos o dinheiro, são também senhores absolutos do crédito e por isso dispõem do sangue de que vive toda a economia, e manipulam de tal maneira a alma da mesma, que não pode respirar sem sua licença. Este acumular de poderio e recursos, nota característica da economia actual, é consequência lógica da concorrência desenfreada, à qual só podem sobreviver os mais fortes, isto é, ordinariamente os mais violentos competidores e que menos sofrem de escrúpulos de consciência” (QA 105-108).


As últimas consequências deste espírito individualista no campo económico são essas que (…) vedes e lamentais : a livre concorrência matou-se a si própria; à liberdade do mercado sucedeu o predomínio económico; à avidez do lucro seguiu-se a desenfreada ambição de predomínio; toda a economia se tornou horrendamente dura, cruel, atroz” (QA 109).


Para evitar o despotismo do capitalismo será aceitável a via comunista ou a “facção mais moderada” do socialismo, com “princípios tendentes para as verdades que a tradição cristã sempre solenemente ensinou”?


Pio XI vai dizer que não. “A regeneração social” só se alcançará com a “profissão franca e sincera da doutrina evangélica” (QA 136). E apontará alguns princípios cristãos que devem dar forma à vida económica, na linha do seu lema, “Pax Chisti in regno Christi”, como veremos em artigo seguinte. Pio XI é o Papa da solenidade de Cristo Rei, da Acção Católica, da reconquista cristã da sociedade…

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...