quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
L’origine du monde
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
A primeira profissão referida na Bíblia
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Um médico, um advogado e um matemático discutem sobre qual a profissão a que se alude em primeiro lugar na Bíblia.
“Deus criou Eva a partir de uma costela de Adão”, diz o médico. “Isso envolveu cirurgia, o que prova que os médicos foram os primeiros a aparecer”.
“Alto lá”, diz o matemático. “Antes que Deus fizesse isso, ele criou a ordem a partir do caos, o que requer muita matemática. A minha profissão é, sem dúvida, a primeira a figurar na Bíblia”.
“Calma! Estou surpreendido com vocês”, diz o advogado, com um sorriso de orgulho. “Quem é que vocês acham que criou o caos?”
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Ladrão generoso
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Um herético diz ao rabi Galamiel:
- O teu Deus é um ladrão! Não está escrito no livro do Génesis que ele fez adormecer Adão e lhe roubou uma das suas costelas para criar Eva?
A filha de Gamaliel respondeu prontamente:
- Vou chamar a polícia porque os ladrões roubaram um vaso de prata de dentro de casa e no seu lugar deixaram um em ouro.
O herético ainda afirma, antes de perceber o alcance da comparação:
- Eu não teria nada contra tais ladrões em minha casa.
História da tradição rabínica
sábado, 21 de agosto de 2010
Anselmo Borges: Encostar os feriados
Anselmo Borges, no DN de hoje, volta ao tema do trabalho. Texto da semana passada aqui.
É um paradoxo. As pessoas que trabalham, ali pela quinta-feira, já começam, aliviadas, a desejar umas às outras bom fim-de-semana. Cá está a constatação do trabalho como maçada e sofrimento. Mas, por outro lado, de vez em quando, lá volta o debate sobre a diminuição do número dos feriados e a necessidade de encostá-los à segunda ou à sexta-feira. Porque é preciso trabalhar e produzir mais. Por causa da concorrência e da crise.
É sobre isso que queria reflectir hoje, começando por esclarecer que até posso ser favorável à diminuição do número de feriados, mas não concordo com que passem automaticamente para a segunda ou para a sexta-feira. A razão dessa oposição não está propriamente na defesa dos dias santos da Igreja Católica, mas essencialmente na antropologia e na simbólica dos feriados.
É verdade que o trabalho tem essa dimensão de esforço e sacrifício. Só quem nunca trabalhou é que o não sabe. Por isso, os gregos associavam-no aos escravos - daí, a expressão "trabalhos servis". A palavra deriva de tripalium (três paus), instrumento romano de tortura. O livro do Génesis põe na boca de Deus: "Ganharás o pão com o suor do teu rosto."
Mas, por outro lado, também se não pode esquecer que o homem se realiza pelo trabalho. É pelo trabalho que o homem arranca à natureza aquilo de que precisa e a torna habitável, domina a natureza hostil, dá-lhe rosto humano e, ao transformá-la, transforma-se a si mesmo e humaniza-se. Pelo trabalho, participamos no esforço comum de realização da sociedade, disciplinamo-nos e configuramos, concretamente numa profissão, a identidade própria, e a humanidade vai erguendo a sua história.
Aqui, surge o feriado e a festa, cujo sentido originário se esbateu ou perdeu na actualidade. O nosso feriado e festa têm a sua raiz no latim feria e (dies) festus (dia festivo). Os dois termos têm a ver com a interrupção das actividades quotidianas e profanas, para entregar--se às festividades em honra do deus. O tempo estruturava-se à volta das festas religiosas, que ritmavam o calendário, com a distinção do tempo sagrado e do tempo profano. Ninguém aprofundou melhor esta questão do que Mircea Eliade: a festa faz mergulhar no tempo sagrado, reactualizando o tempo originário e fundante e, assim, regenerando e dando sentido ao tempo quotidiano.
É certo que hoje, por causa da secularização e do ritmo do trabalho, com excepção das pessoas muito religiosas ou ligadas à política, se esqueceu o sentido dos dias feriados, religiosos ou civis, de tal modo que o tempo aparece, assim, homogeneizado ou então a festa não ultrapassa a simples celebração do aniversário, do final do curso... ou a suspensão do trabalho para ter tempo livre, relaxar, dormir, estar com a família e os amigos.
Num país em que não há a cultura do trabalho, julgo ser fundamental mentalizarmo-nos para a necessidade de responsabilidade no trabalho - não é emprego e não trabalho que se procura?, de educação e formação excelentes - o nosso problema não é tanto o número de horas de trabalho, pois andaremos na média europeia, mas a produtividade, de iniciativa, de boa gestão - porque somos melhores a trabalhar no estrangeiro do que em Portugal?, de justiça, de estímulos salariais.
Mas o ser humano não se esgota no trabalho e na produção. E um dia feriado é isso mesmo: um dia festivo que tem a sua finalidade em si mesmo, valendo, portanto, por si mesmo, e não para restaurar as forças para voltar a trabalhar. É da sua essência ser um acontecimento não programado: é um "luxo", algo que surge como uma "graça" inesperada. Para que o homem se lembre de que é criador festivo e livre e não besta de carga.
Seja como for, não se pode esquecer que o homem está sujeito a ser dominado pelo que Ionesco chamava a contradição - como Adriano Moreira, penso que não há contradição - entre "a inutilidade do útil", que é a sociedade do trabalho e consumista, e "a utilidade do inútil", que são as artes e os valores, o exercício da liberdade de se ser humano.
segunda-feira, 8 de março de 2010
"Time" 10/16 - Bíblia e e figuras bíblicas na capa
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009
No princípio, foi assim
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Segundo James Ussher, Adão e Eva foram criados no dia 28 de Outubro, uma sexta-feira, antes do descanso de sábado.
Adão e Eva foram expulsos do paraíso no dia 10 de Novembro de 4004 a.C., numa segunda, que é o dia adequado para despejos.
A Arca de Noé volta a tocar em terra seca no dia 5 de Maio de 2348, uma quarta-feira.
A obra principal de James Ussher é “ Annales veteris testamenti, a prima mundi origine deducti”, de 1650 (edição em latim, posterior à original aqui). Nela podemos ler que o chamamento de Abraão foi no ano 1921 a.C., o Êxodo no ano 1491 a.C., a fundação do templo de Jerusalém no ano 1012 a.C., a destruição de Jerusalém pelo Babilónios em 586 a.C. Com esta última data os estudos bíblicos recentes concordam.
O interesse da obra de Ussher não está hoje na datação de episódios que obviamente não são históricos, pelo menos alguns deles (os relativos aos primeiros 11 capítulos do Génesis são os mais flagrantes), mas na concatenação de toda a história bíblica. A ideia da história, do tempo que não volta atrás, mesmo que os erros se repitam, é tipicamente cristã.
sábado, 3 de outubro de 2009
Por que razão o conhecimento tem de vir de uma árvore?
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“Na minha ideia, esta progressão da ruína para a correcção está intimamente relacionada com a natureza do próprio conhecimento, que é, quanto muito, um processo: da ignorância para a consciência, da «ruína» intelectual para a sua «correcção», do caos indistinto para um estudo ordenado. O conhecimento, portanto, engloba ao mesmo tempo o ponto inicial, que é vazio, prejudicial, doloroso, e o ponto final, que é prazer. Na minha ideia, é esta qualidade do processo, do desenvolvimento, que só pode ocorrer ao longo do tempo, que responde, finalmente à pergunta por que razão o conhecimento tem de vir de uma árvore. Porque uma árvore é uma coisa que cresce; e o crescimento, como a aprendizagem, só pode acontecer ao longo e através do próprio tempo. De facto, fora do meio que é o tempo, palavras como «crescer» e «aprender» não podem ter qualquer significado”.
Daniel Mendelsohn, in "Os Desaparecidos", pág. 77.
sábado, 26 de setembro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
E Deus criou a luz
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No sítio do Sr. Crumb (aqui) diz-se que o livro está a ser traduzido para francês, holandês, português (suponho que do Brasil), alemão, finlandês e italiano.
O artista segue a Bíblia do Rei Jaime (King James), integralmente, para o texto. Li que à "New Yorker" afirmou que suspeita que Deus exista, mas que não procura orientação no Génesis.
O que diz Robert Crumb
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Na entrevista, Robert Crumb diz: «Não sou estudioso da Bíblia, ainda não conheço bem o resto dela, mas de certo me tornei estudioso do Gênesis. Li de perto para ter certeza de que tinha feito os desenhos direito. Vi meu trabalho como o de um ilustrador, não o de alguém que estaria tirando sarro do texto. Queria, como dizer, revelar o texto tanto quanto possível».
E sobre a história em si: «É uma história poderosa. A coisa toda, antes de ser escrita, foi mantida pela voz do homem. Algumas das histórias, com isso, perderam todo o sentido. Como a de Abraão, sendo um tipo de cafetão da própria mulher para o faraó do Egito. Isso é estranho. Minha conclusão é que eu não usaria o Gênesis como um guia moral [risos]».
E sobre Deus: «É duro, severo, patriarcal e tribal. Cuida de sua tribo, os hebreus, que pressionam os outros. Diz: "Essa terra será sua, podem pegá-la". E eles a tiram das pessoas que já estavam lá, os cananeus. Isso é uma coisa tribal. Naqueles tempos, cada tribo tinha seu "deus mais alto". Quando conquista outra tribo, impõe ao outro povo esse "deus mais alto". Era comum».
O Génesis do Sr. Crumb
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Fernando Correia de Oliveira (da Estação Chronographica) chama-me a atenção para o Livro do Génesis em banda desenhada de Robert Crumb (obrigado!). A entrevista deste autor à Folha de S. Paulo é citada no blogue Rerum Natura e pode ser lida na íntegra aqui.
O autor é muito popular no Brasil. O seu estilo não me era estranho (na MAD? Em revistas satíricas brasileiras?), mas desconhecia o nome do autor, as suas ligações à contracultura, o seu exílio dourado no sul de França.
De notar que é o terceiro autor em pouco tempo que se dedica ao Génesis, depois de Daniel Mendelsohn e antes de Saramago.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
A figueira de Adão e Eva
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A exegese sobre a árvore bíblica do Conhecimento do Bem e do Mal que Daniel Mendelsohn segue (do rabi Rashi) diz que a árvore era uma figueira porque as vestes são feitas de folhas de figueira. “Pela própria coisa que os conduziu à ruína foram corrigidos”, diz Rashi. Emendem-se as pinturas todas.
(Um cristão diria que o instrumento de suplício é sinal de salvação. E há uma lenda que diz que a cruz de Cristo foi feita da árvore de Adão.)
Mendelsohn e Mendelssohn
Interrogava-me há dias (aqui) se Daniel Mendelsohn era da família do compositor Felix Mendelssohn. Não é. Há um “s” a mais no nome do músico que ajudou a redescobrir Bach (já emendei o erro).
O autor de “Desaparecidos. À procura de seis em seis milhões” esclarece a propósito do livro “The Memoirs of Ber of Bolechow”, de 1922, que encontrou nas edições Oxford University Press, que Ber de Bolechow encarnava as “energia liberais mundanas” que ajudaram a criar o Haskalah, “o grande movimento de Iluminação Judaico, no século XVIII, um movimento que florescera, de facto, com o filósofo Moses Mendelssohn, o avô do compositor”.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
No princípio da criação dos céus e da terra
Daniel Mendelsohn intermedeia a narrativa da “procura de seis em seis milhões” de “Os desaparecidos” com páginas de comentários bíblicos ao Génesis (pelo menos até ao ponto onde estou a ler). No primeiro comentário, sobre o primeiro versículo da Bíblia, afirma:
“Ao contrário da crença de milhões que têm lido a Bíblia do Rei Jaime, o versículo não significa «No princípio, Deus criou os céus e a terra», mas sim algo como (…): «No princípio da criação dos céus e da terra por Deus…»”
A tradução correcta do hebraico deve ser:
“No princípio da criação dos céus e da terra por Deus – quando a terra era informe e disforme e as trevas estavam sobre a face do abismo, e o espírito de Deus se movia sobre a superfície da água – Deus disse: «Faça-se luz».”
A Bíblia portuguesa mais popular, a da Difusora Bíblica, traduz assim:
“No princípio, quando Deus criou os céus e a terra, a terra era informe e vazia, as trevas cobriam o abismo, e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas”. Deus disse: «Faça-se a luz».
A tradução portuguesa aproxima-se da de Raschi / Friedman. Por que é que Mendelsohn escreve sobre isto? É muito importante traduzir bem o princípio não só porque “se captares erradamente os pequenos pormenores, então também o quatro geral estará errado”, mas também porque “muitas vezes são as pequenas coisas, e não o grande plano, que a nossa mente consegue confortavelmente apreender”.
“É, de facto, mais apelativo para os leitores absorverem o significado de um acontecimento histórico mais vasto através da história de uma única família”. É disso que fala “Os desaparecidos”. “À procura de seis em seis milhões”.
Sinodalidade e sinonulidade
Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...