sexta-feira, 23 de agosto de 2013
sábado, 29 de setembro de 2012
Anselmo Borges: Assim está o mundo
quinta-feira, 10 de março de 2011
Sermão para mim próprio: Tentações intemporais
* Mateus conta como se lá tivesse estado. Ora esta é das poucas passagens em que não há testemunhas, só protagonistas. Como é que Mateus soube? Teria Jesus contado? Ou será um relato que condensa tudo o que o evangelho significa, já que está precisamente no início dos trabalhos de Jesus?
* Jesus vai para o deserto conduzido pelo Espírito Santo, o que quer dizer que nem sempre o Espírito Santo leva por bons caminhos.
* O deserto tanto é o lugar da comunidade e da solidariedade (foi no deserto que nasceu o Povo de Israel) como lugar de tentação, o que desmonta os que diabolizam a cidade. Todos os lugares podem ser bons ou maus. Os lugares não têm moral.
* As tentações acontecem após 40 dias e quarenta noites de jejum, uma quaresma. O 40 aparece imensas vezes na Bíblia (40 dias de chuva, de pregação, de jejum, de mediação, de ultimato) para significar mudança, preparação, introdução, nova vida.
* O Diabo tenta, cumprindo o que diz o que seu próprio nome, já que "diábolos", em grego, quer dizer “o que separa” (opõe-se a símbolo, “o que junta”). Há tentações. Não há possessões diabólicas.
* O Diabo tenta usando frases da Bíblia, o que quer dizer, como há muito foi observado, que o Diabo conhece a Bíblia, ou seja, conhecer a Bíblia, mesmo de cor, não é garantia de nada. O Diabo é um bom exegeta.
* As tentações acontecem “no deserto” (quem diria que lá não há nada), no “templo” (cuidado com a religião) e num “monte muito alto” (mania das grandezas) e são, respectivamente, sobre pão, espectáculo, poder. Ou então, consumo, magia, fama. Ou então, satisfação, êxito, audiências. Ou então… (é uma questão de reler Mt 1,11-11 e encontrar novos sentidos).
* Jesus responde com frases bíblicas, todas elas ditas ou remetidas para Deus. Usa o ás de trunfo, ou o Joker (por vezes parecem diabinhos), e sai-se bem. A humildade derrota a magia.
* As tentações são de Jesus, no início da chamada “vida pública”, mas nelas revêem-se os cristãos, a Igreja, o mundo em geral. Por isso é que Mateus as conta, mesmo não tendo estado lá.
sábado, 1 de janeiro de 2011
Se me envolve a noite escura
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Se me envolve a noite escura
E caminho sobre abismos de amargura,
Nada temo porque a Luz está comigo.
Se me colhe a tempestade
E Jesus vai a dormir na minha barca,
Nada temo porque a Paz está comigo.
Se me perco no deserto
E de sede me consumo e desfaleço,
Nada temo porque a Fonte está comigo.
Se os descrentes me insultarem
E se os ímpios mortalmente me odiarem,
Nada temos porque a Vida está comigo.
Se os amigos me deixarem
Em caminhos de miséria e orfandade,
Nada temo porque o Pai está comigo.
Hino da Liturgia das Horas
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Mostrai-me, meu Senhor, em que deserto
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Mostrai-me, meu Senhor, em que deserto,
Em que ribeira, vale, monte ou serra,
Em quanto me deixais andar na terra,
Do ceo me deixareis andar mais perto.
Que pois, ou coberto ou desencoberto,
Me faz cruel imigo cruel guerra,
De quanto dentro de mim mesmo se encerra
Lugar de defensão tenha mais certo.
Mas como, onde posso defender-me,
Enquanto for de mim acompanhado,
com tanta experiência de perder-me,
Senão sendo metido em vosso lado
Para todo de mim mesmo esquecer-me,
E só de vós, meu Deus, ser alembrado?
Agostinho da Cruz (1540-1619)
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Dom de si mesmo
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São Jerónimo (347-420), num comentário ao Salmo 102, disse: “Sou como um pelicano do deserto, que fustiga o peito e alimenta com o próprio sangue os seus filhos”.
O pelicano alimenta os filhos, mas não chega a picar o peito até deitar sangue, como pensavam os medievais, seguindo os comentários de Jerónimo. Mas por esta doação de si mesmo, sacrifício de si mesmo, ficou como símbolo da Eucaristia.
O Salmo, uma oração do aflito, em concreto, diz: "Tornei-me semelhante ao pelicano no deserto". É uma imagem bela para falar de qualquer dor. A ave aquática torturada pelo deserto.
Já não temos a condição torturada de viver num "vale de lágrimas" (pelo menos alguns - para a maioria da humanidade, a condição normal é o sofrimento, ainda que não sem alegria), mas continuamos a precisar do Maná caído do céu, do Pão da Vida, da luz na noite, da água no deserto, ainda que estas imagens sejam lugares-comuns. Talvez porque sejam sentimentos universais.
Ontem foi dia do Corpo de Deus.
Sinodalidade e sinonulidade
Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...