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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Os católicos O'Neill

Lendo sem método nem objetivos a biografia literária de Alexandre O'Neill (quase todos os adolescentes nos anos 80 tiveram uma fase o'neillista), de Maria Antónia Oliveira, vejo que o poeta ateu era descendente de uma família católica irlandesa que fugiu para Portugal, no séc. XVIII, por causa das perseguições contra católicos no Ulster. O'Neill morreu há 30 anos, a 21 de agosto de 1986. E é por isso que estou a ler, com gosto, a biografia.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Só com grandeza

Dizia R. M. Rilke a F. X. Kappus:

Mas se notar que ela é grande, alegre-se, pois o que seria uma solidão (faça esta pergunta a si mesmo) sem grandeza?

sábado, 2 de novembro de 2013

Anselmo Borges: "Os dias da memória e da interrogação"

Erich Fried (1921-1988), poeta

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje.

O escritor Erich Fried escreveu de forma provocatória: "Um cão/que morre/e sabe/que morre/ e pode dizer/que sabe/que morre/como um cão/é um homem." Na história gigantesca do universo, com 13 700 milhões de anos, sabemos que há ser humano, diferente dos outros animais, quando aparecem rituais funerários: eles revelam a presença de alguém que sabe que é mortal, que põe a questão da morte e do seu para lá.

A morte, aparentemente uma realidade tão simples e evidente - tudo o que vive morre, como diz a palavra portuguesa "nada", do latim res nata (coisa nascida) -, é o enigma e o mistério. Platão colocou aí uma das bases do filosofar, como também Pascal, Schopenhauer, Heidegger, entre muitos outros. Sim, a morte é natural, do ponto de vista biológico. Mas o homem não se reduz a biologia. Tem consciência de si enquanto eu, e, assim, abalado pela morte, protestava Unamuno: "Ai que me roubam o meu eu!" Na morte, o homem é confrontado com o nada e angustia-se. Face a algo de concreto que nos ameaça, temos medo; face ao abismo insondável do nada, o que surge é a angústia.

Perante a morte, as palavras falham. Ninguém sabe o que é morrer, esse passar de vivo a morto, já cá não estar. Ninguém sabe o que é estar morto, nem sequer para o próprio morto, como reflectiu o filósofo Levinas. Dizemos, diante do cadáver do pai, da mãe, do irmão, do filho, da filha, do amigo, da amiga: o meu pai, a minha mãe, o meu filho, a minha filha, o meu amigo, a minha amiga, está aqui morto, está aqui morta. Mas isso não faz sentido, pois o que falta é precisamente o meu pai, a minha mãe, o meu filho, a minha filha, o meu amigo, a minha amiga. O que ali está é um resto e o que falta é precisamente o sujeito, alguém. Como se não pode dizer que os levamos ao cemitério, pois ninguém se atreveria a enterrar o pai, a mãe, o amigo, a amiga ou a cremá-los. Também dizemos que vamos visitá-los ao cemitério. Ora, com excepção dos vivos que lá vão, nos cemitérios não há ninguém; apenas lixo biológico, "ossos e podridão", segundo o Evangelho. Pergunta-se então: o que há nos cemitérios, para que a sua profanação seja, em todas as culturas, um crime hediondo? Nos cemitérios, o que há não é senão esta pergunta infinita: o que é o homem, o que é um ser humano?

Nas nossas sociedades tecnocientíficas e citadinas, a morte tornou-se tabu, o último tabu. Tabu já não é o sexo, mas a morte. Não se pode dar sinais de luto, mente-se às crianças e da morte pura e simplesmente não se fala ou, pelo menos, é de mau gosto e de mau tom falar dela.

Não se julgue que isso acontece, porque a morte já não é problema. Pelo contrário, de tal modo é problema, o único problema para o qual uma sociedade que se julga omnipotente nos meios não tem resposta nem solução que a única solução é ignorá-la, como se não existisse. Trata-se de uma sociedade centrada na produção e consumo, no ter, no êxito, no cálculo, no espectáculo, no poder. Ora, a morte interrompe toda esta lógica. Perdeu-se o sentido da morte e, consequentemente, o sentido da vida ou, talvez melhor, perdeu-se o sentido da vida e, consequentemente, o sentido da morte. Mas, então, também se perdeu o sentido ético: de facto, sem a consciência do limite no tempo, não se ergueria a problemática ética na sua urgência da liberdade na definitividade. É o pensamento sadio da morte que, como mostrou Heidegger, obriga à distinção entre existência autêntica e existência inautêntica, entre bem e mal, entre o justo e o injusto, o que verdadeiramente vale e o que não vale. E que dá o horizonte da fraternidade: à beira de morrer, disse H. Marcuse ao amigo Habermas: Sabes, Jürgen? Agora, sei onde se fundamentam os nossos juízos morais: na compaixão.

Mas até a Igreja Católica, na negociação dos feriados, preferiu a Senhora da Assunção aos dias de Todos-os-Santos e dos Finados. Um erro. De facto, estes são os dias da memória (lembrar todos os que partiram) e da interrogação essencial: o que é o homem?, viver para quê?, qual o sentido da existência? Nestas perguntas, transcende-se a morte como facto biológico e abre-se outra dimensão.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Linhas tortas

Deus escreve direito por linhas tortas
E a vida não vive em linha recta

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Humanidade versus pessoas



Wisława Szymborska, a polaca Nobel da Literatura que morreu no dia 1 de fevereiro deste ano, dizia que tinha sido comunista devido a um equívoco.

“Era por amor à humanidade. Depois entendi que não se deve amar a humanidade, mas sim as pessoas”.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Segunda parte da entrevista a José Tolentino Mendonça

Segunda parte da entrevista da "2" a José Tolentino Mendonça. Dois leitores disseram, e agradeço-lhes a indicação, que a entrevista pode ser lida no sítio do SNPC, aqui.




Primeira parte da entrevista a José Tolentino Mendonça



Primeira parte da entrevista de Anabela Mota Ribeiro (esteve no Átrio dos Gentios nortenho) a José Tolentino Mendonça. Na "2" de domingo, 9 de dezembro. (Dá para ler bem se tiver um computador de grande ecrã ou se fizer um "salvar como / save as").

domingo, 2 de dezembro de 2012

Tu me redimes de ideologias

Tu me redimes de ideologias
que apenas se explicam a si mesmas,
e de conceções
que apenas são inventadas,
e do mundo virtual
que se assume a si mesmo como realidade.

Excerto de uma oração de Paul Claudel (adaptada no "Youcat", pág. 112)

sábado, 19 de maio de 2012

19 de maio de 1890. Nasce Mário de Sá-Carneiro



Mário de Sá-Carneiro, o grande amigo de Fernando Pessoa, nasceu em Lisboa, no dia 19 de maio de 1890.  Suicidou-se em Paris, no dia 26 de abril de 1916.

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

Adriana Calcanhoto canta Mário de Sá-Carneiro.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

17 de fevereiro de 1856. Morre o poeta que disse que a religião é ópio


Heinrich Heine (13 de dezembro de 1797 – 17 de fevereiro de 1865), alemão de ascendência judaica, um dos últimos poetas românticos, foi um crítico da religião. Escreveu em 1840: “Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança”.

Marx inspirar-se-ia nesta frase para cunhar a expressão “religião ópio do povo”, na “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, de 1844.

Heine deixou também uma frase frequentemente citada, quase sempre sem o autor: “Aqueles que queimam livros, acabam cedo ou tarde por queimar homens”.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Compreender um cão


Compreender um texto é como compreender um cão, uma previsão de tempo,
ou seja,
é aceitar que não se fala,
que se não compreende, excepto pela companhia.

Maria Gabriela Llansol

domingo, 18 de dezembro de 2011

Repouso



No sétimo dia que fizeste, Senhor?
Qual é o teu repouso, se não for no meu coração?


Paul Claudel (1868-1955)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

23 de Novembro de 1221. Nasce Afonso X, rei de Leão e Castela, poeta e sábio


Imagem num dos códices das Cantigas de Santa Maria

Afonso X nasceu no dia 23 de Novembro de 1221, em Toledo, e morreu no dia 4 de Abril de 1284, em Sevilha. Grande poeta da língua galaico-portuguesa, a mais usada na lírica ibérica no séc. XII, deixou, entre outras obras, as “Cantigas de Santa Maria”, um conjunto de 420 poemas dedicados a Nossa Senhora, compostos por ele ou recolhidos de outros.

Afonso X, avô de D. Dinis, criou em Toledo uma escola de tradutores que juntava cristãos, judeus e muçulmanos.

Muito foi noss’amigo Gabriel

(Festa da Virgem 6)

De loor de Santa Maria.

Muito foi noss’ amigo
Gabriel, quando disse:
«Maria, Deus é tigo.»

Muito foi noss’ amigo u diss’: «Ave Maria»
aa Virgen beita, e que Deus prenderia
en ela nossa carne con que pois britaria
o inferno antigo.
Muito foi noss’ amigo...

E nunca nos podia ja mayor amizade
mostrar que quand’ adusse mandado, con verdade,
que Deus ome seria pola grand’ omildade
que ouv’ a Virgen sigo.
Muito foi noss’ amigo...

Quen viu nunc’ amizade que esta semellasse
en dizer tal mandado per que Deus s’ensserrasse
eno corpo da Virgen e que nos amparasse
do mortal emigo?
Muito foi noss’ amigo...

E esto non fezera Deus, sse ante non visse
a bondade da Virgen, que per ela comprisse
quanto nos prometera, segund’ el ante disse;
gran verdade vos digo.
Muito foi noss’ amigo...

E Gabriel por esto, o angeo, devemos
amar e onrrar muito, ca per que nos salvemos
este troux’ o mandado, e por que sol non demos
pelo demo un figo.
Muito foi noss’ amigo...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

8 de Novembro de 1877. Nasce Teixeira de Pascoais

"Teixeira de Pascoais", por Columbano Bordalo Pinheiro 

Teixeira de Pascoais nasceu no dia 8 Novembro de 1877, em Amarante, e morreu no dia 14 de Dezembro de 1952, em Gatão, Amarante.

Poeta do saudosismo e escritor, que alguns dizem estar ao nível de Pessoa (com uma diferença, teve tempo para separar a sua boa da má poesia e não o fez – o pensamento não é meu, mas não sei onde o li), deixou títulos como “Jesus e Pan” (1903, poesia), “Jesus Cristo em Lisboa” (1926, teatro em colaboração com Raul Brandão),  “S. Paulo” (1934, biografia romanceada), “S. Jerónimo e a trovoada” (1936, biografia romanceada), “Santo Agostinho” (1945, biografia romanceada), só para referir os títulos mais nitidamente religiosos.

Tomas Tranströmer: Decifrando o Grande Enigma


Diz um texto de José Riço Direitinho, na “Ler” deste Novembro (n.º 107), que Tomas Tranströmer, o Nobel da Literatura deste ano, “estuda história, religião e literatura a tentar decifrar o Grande Enigma”. Não conhecia nada do poeta, mas simpatizei com ele só por causa desta finalidade existencial.

Este blogue, com história, religião, literatura e alguma ciência e filosofia, se não pretende decifrar o Enigma, quer pelo menos aproximar-se dele.

Na mesma revista, José Mário Silva cita alguns poemas do poeta Nobel. Aqui um deles, traduzido, diz o cronista, a partir de uma versão castelhana:

[…] Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:

Não há vazios por aqui.

É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.

Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.

O poema é magnífico. Mas intriga-me o verso “Um coro da Palestina”. Não será antes “Um coro de Palestrina”?


Acrescento às 23h14. Nos comentários, um leitor deixou que, em inglês, de facto, está "coro de Palestrina". Agradeço-lhe.
"...Through a back door in the landscape
comes the magpie
black and white.
And the blackbird darting to and fro
till everything becomes a charcoal drawing,
except the white clothes on the washingline:
a Palestrina chorus..."

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Deixai-me limpo

Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio.


Sophia de Mello Breyner Andresen


Hoje parece realmente domingo. Não há celebração dominical, mas também não há trabalho. E o não haver é a outra metade do que devia ser um domingo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pranchas e pontes

Cada dia nos obriga
a vacilar sobre pranchas que
esperamos
se irão tornar pontes


Kevin Hart

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Responsabilidade

O caminho para a meta começa no dia em que assumes a total responsabilidade pelo teu agir.


Dante Alighieri (1265-1321)

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...