sábado, 11 de janeiro de 2014
Anselmo Borges: "O que dizem de Francisco"
Não há dúvida de que o Papa Francisco é hoje uma figura de impacto global, talvez a figura mais popular no mundo, na qual se põe mais esperança e confiança. Foi proclamado como personalidade do ano 2013 pela revista Time, que escolhe, desde 1927, a pessoa que considera ter tido mais influência nas notícias em todo o mundo no respectivo ano. Designou-o como "o Papa das pessoas", concretizando que "o que o torna tão importante é a rapidez com que captou a esperança de milhões de pessoas que tinham abandonado toda a esperança na Igreja". "É raro um novo actor internacional da cena mundial suscitar tanta atenção tão rapidamente, tanto entre os jovens como entre os mais velhos, entre os crentes ou os mais cépticos", declarou Nacy Gibbs, directora da redacção da revista.
Também o diário francês Le Monde o escolheu como personalidade do ano 2013, afirmando que "não é absurdo falar de "papamania"", exaltando a mensagem que Francisco encarna e acrescentando: "Entre os crentes, está presente sem dúvida a alegria de recuperar as origens da mensagem cristã. Os outros estão seduzidos por algo que se parece com a modernidade, pelo menos no discurso". Após um pontificado "crepuscular e quase depressivo" de Bento XVI, com Francisco chegou um homem que "suscita uma simpatia quase universal", que dá a impressão de devolver ao seu cargo autoridade moral e credibilidade, tão urgentes para a Igreja e para um mundo melhor.
Diz-me um grande professor de Medicina, racional e não beato: em 2013, a eleição de Francisco foi o acontecimento que mais alegria me trouxe. E gente que andava afastada da prática religiosa voltou. As estatísticas dizem-no: na Grã-Bretanha, Estados Unidos, França, Itália, América Latina, constata-se um aumento de fiéis nas missas, chegando esse aumento a uns 20%, segundo o The Sunday Times.
Sobre o Papa Francisco grandes figuras se têm pronunciado. O nobel de Literatura Mário Vargas Llosa declarou recentemente: "Tenho muito boa opinião do Papa. Está a fazer um esforço que oxalá se traduza em reformas reais para modernizar a Igreja, para lhe devolver a força moral que teve nalgumas épocas e que foi muito importante."
Para The Guardian, Francisco poderia substituir Barack Obama como o rosto da esquerda. "É o homem com maior número de buscas na internet em 2013." Para ele, "o que conta não é a instituição, mas a missão". "Poderá não ter um exército nem batalhões, mas tem um púlpito e neste momento está a usá-lo para ser a voz mais clara e contundente do mundo contra o statu quo."
O próprio Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou estar "muito impressionado com os pronunciamentos" do Papa Francisco, com a sua "humildade", "empatia com os pobres", apoiando o que diz com obras. "Creio que, primeiro e sobretudo, pensa em acolher as pessoas e não em rejeitá-las, procura o que nelas é bom, em vez de condená-las", sublinhou Obama.
"Um novo animal político está a impor-se na cena mediática mundial", escreveu Sylvie Kaufmann, directora editorial do Le Monde. "Visibilidade óptima, sorriso cálido, verbo hábil, mensagem com impacto, o Papa Francisco conquistou, em poucos meses, uma audiência que supera amplamente a dos seus fiéis. Aos 77 anos, tem inquestionavelmente isso que os profissionais norte--americanos das relações públicas chamam o star power. Fala muito e livre. Beija, acaricia, diz piadas, escreve cartas, chama ao telefone, tuíta, o mais importante, surpreende." Nenhum tema o assusta. "Será Francisco o Papa do renascimento da comunidade católica?"
O famoso escritor Umberto Eco definiu-o como "o Papa da globalização", dizendo numa entrevista: "Estou convencido de que Francisco está a representar um facto absolutamente novo na história da Igreja e, talvez, na história do mundo." Como semiólogo, considera que "é um homem moderno, é o Papa da internet".O Papa Francisco levará a bom termo o seu desígnio? No próximo sábado, reflectirei sobre "A síndrome de Obama ou efeito Francisco?"
sábado, 22 de dezembro de 2012
Anselmo Borges: "Natal da dignidade humana"
domingo, 16 de dezembro de 2012
Mais listas de Eco
No século quinto, Enódio escreveu que Cristo era a «fonte, caminho, direita, pedra, leão, portador da luz, cordeiro; porta, esperança, virtude, palavra, sabedoria, profeta; vítima, rebento, pastor, montanha, laço, pomba; chama, gigante, águia, cônjuge, paciência, verme».Há muitas listas do género na literatura cristã, mas... "verme"? Cristo, o verme?
sábado, 15 de dezembro de 2012
Como Umberto Eco começou com as listas
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Deus para as falhas
Umberto Eco
quarta-feira, 7 de março de 2012
Cristão e maçon: desmistificação de uma contradição
No "Público" de hoje, talvez respondendo a posições como a do advogado Ricardo Sá Fernandes. No entanto, 598 declarações não fazem a declaração ser infalível. Mas também eu penso que não faz sentido os cristão andarem pela maçonaria. Se é por uma questão de clubes e fraternidades, há outros menos ridículos. Se há coisa que a maçonaria é, a julgar pelos seus costumes e aparências, é risível e ridícula. Por isso mesmo, tenho de admitir que lá dentro deve haver coisas bem mais interessantes para exercer tanta atração.
Por outro lado, o afã antimaçónico papal também levou a que algumas vezes se metesse o pé na argola. Leão XIII deixou-se levar pelas patranhas antimaçónicas de Léo Taxil (a Wikipedia conta o essencial e Umberto Eco, no "Cemitério de Praga", romanceia sobre o assunto, aqui, o que lhe mereceu críticas do "L'Osservatore Romano"). No fundo, o grande Papa da "Rerum Novarum" acreditou no que desejava acreditar.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
Eco: "Só lamento que não exista um ensino da história das religiões"
Nas escolas italianas, Homero é obrigatório, César é obrigatório, Pitágoras é obrigatório, só Deus é facultativo. Se o ensino religioso se identificar com o do catecismo, católico, no espírito da Constituição deve ser facultativo. Só lamento que não exista um ensino da história das religiões. Um jovem termina os seus estudos e sabe quem era Poséidon e Vulcano, mas tem ideias confusas acerca do Espírito Santo, pensando que Maomé é o deus dos muçulmanos e que os quacres são personagens de Walt Disney.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
O medieval João do Bosque Sagrado dizia que a Terra é esférica
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Eco do eco que Eco faz de Tomás
sábado, 23 de abril de 2011
Anselmo Borges: O penúltimo e o último
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Appleísmo vs Googleísmo - novas religiões
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O appleísmo é um “modo de vida”, um “modo de ser”, quase uma religião. “Não é bem uma religião mas tem como protagonista um líder que é quase um deus, Steve Jobs”, escreve Robert Lane Greene no artigo “Appleísmo vs Googleísmo”, na “Intelligent Life” de Inverno. “Também ele ressuscitou dos mortos – despedido pela administração em 1985, foi de novo contratado em 1997, tendo desde então dado a volta aos destinos da Apple”, acrescenta.
“Appleísmo vs Googleísmo” fala de duas fés, a dos fãs dos produtos Apple (iPod, iPad, iPhone, Safari, Mac, etc.) e a dos que preferem serviços Google (telemóveis com sistema operativo Android, motor de busca, mapas, etc.). A disputa lembra um célebre artigo de Umberto Eco (não é nomeado no texto). O semiótico afirmava que o sistema operativo dos Mac era católico, enquanto o MS-DOS era protestante, talvez calvinista.
O artigo da “Intelligent Life” (pode ser lido aqui em inglês) começa com uma história que vale a pena registar:
Quando a Apple abriu a sua nova loja na Quinta Avenida de Manhattan [na imagem], em Nova Iorque, em 2006, foi alvo de uma queixa um pouco estranha. Não a habitual queixa dos nova-iorquinos – está a tapar a vista pela qual eu paguei ou está a tornar elitista o bairro onde acabei de me instalar. Não, nada disso, esta loja-bandeira foi criticada por um website islâmico. O cubo de vidro e aço, queixavam-se os puristas, estava ali para evocar o cubo de obsidiana na Kaaba de Meca e, assim, insultar o Islão.
A história era ridícula – tratava-se de um website extremista (apesar de ser grande) e os espertinhos que o administravam apenas tinbham visto uma cobertura preta sobre o cubo quando ainda estava em contrução. Um membro da organização New York Muslims levantou a sua voz para afirmar que eles gostavam imenso da nova loja. Mas não é de todo descabido classificar as lojas da Apple como as novas «mecas». Lindas por dentro e geralmente também por fora são so tempos de reunião dos devotos dos fantásticos produtos da Apple.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Eu voto Ravasi para Papa
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domingo, 26 de setembro de 2010
O mundo é um navio numa viagem efémera e não completa
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Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, na conversa de “A obsessão do fogo” (edição Difel), dizem a certa altura que há clássicos que nunca leram. E falam de uma das obras de Tolstoi. Talvez “Guerra e Paz” ou “Ana Karenina”. Não sei qual deles não leu o quê. Li o livro deles Verão do ano passado. Tal episódio acicatou o desejo de ler os clássicos. De ver chegar o dia em que me possa gabar: “Falta-me ler «Os Miseráveis»”.
Por isso, peguei num clássico da literatura. Aquele que começa assim: “Chamem-me Ismael”. Não foi por gostar da música de Moby (ou antes, de um disco em especial, “Play”, de "Why Does My Heart Feel So Bad?"), que é bis-bis-bisneto do autor desse livro, Herman Melville, que iniciei a leitura de “Moby Dick”. O desejo por este em concreto vinha de longe. Agustina Bessa-Luís despertara-me para este título, arrancando-lhe o rótulo "literatura juvenil". Gonçalo M. Tavares inspirou-se nele para umas histórias. E até há uma editora com o nome do capitão Ahab. Demasiados aconselhamentos, mesmo que involuntários.
Ora, a leitura de “Moby Dick” é um poço de surpresas. Naquilo que interessa a este blogue, devo dizer que são imensas as referências religiosas, bíblicas, cristãs, nas 60 páginas que já li. Tenho-as assinalado nas bordas das páginas. Deve dar uma média de duas por páginas. Um exemplo. O capítulo VIII (nos dias prévios ao embarque, Ismael entra numa capela) termina assim: “O que poderia com mais significado que isto? O púlpito é de facto a parte mais avançada da terra, tudo o resto vem depois, enquanto o púlpito precede o mundo. É no púlpito que surge a ira de Deus, é também na proa que se deve enfrentar os primeiros assaltos. É dele que, na esperança de monções favoráveis, se invoca o senhor dos ventos. Sim, o mundo é um navio numa viagem efémera e não completa. O púlpito é a proa desse navio”.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Ecos de humor entre judeus e jesuítas
Nos célebres diálogos entre Umberto Eco e o Cardeal Martini, depois mimetizados por D. José Policarpo e Eduardo Prado Coelho, a certa altura o autor de “O Nome da Rosa” alude àquele dito segundo o qual um jesuíta responde sempre a uma pergunta com outra, deixando o antigo cardeal, arcebispo de Milão, com algum desconforto.
Na realidade, existe a anedota, que é mais ou menos assim:
Perguntam ao jesuíta:
- Por que é que os jesuítas respondem sempre a uma pergunta com outra pergunta?
Responde o jesuíta:
- E porque não?
Outras versões para a resposta do jesuíta:
- Quem te disse isso?
- Por que é que queres saber?
- Pode-se responder de outra forma?
Ora, hoje li que responder a uma pergunta com outra também é tido como típico dos judeus. Às tantas é típico de todos aqueles de quem se contam anedotas, sejam alentejanos, galegos, belgas ou portugueses.
sábado, 7 de novembro de 2009
7 de Novembro de 1913. Nasce Camus
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Albert Camus, que com Nietzsche e Dostoiévski, formavam uma trindade de existencialistas (ou pré) que, estudantes, gostávamos de ler ou de dizer que líamos, nasceu no dia 7 de Novembro de 1913, um dia depois de Gandhi ter sido preso na África do Sul, quatro anos precisos antes de Lenine depor Kerenski, na Revolução que para o calendário ortodoxo (juliano) foi em Outubro.
Camus, no estudo da Filosofia/Teologia, era um existencialista aberto, não-cristão, ao contrário de Gabriel Marcel ou Karl Jaspers, mas representando um humanismo ateu dialogante, diferente do de Sartre.
A tese de doutoramento de Camus foi sobre Santo Agostinho. Nobel da Literatura em 1957 (três anos antes de morrer), escreveu “O estrangeiro”, “O mito de Sísifo. Ensaio sobre o absurdo”, “A peste”, “O homem revoltado”, entre outras obras.
Como isto anda tudo ligado, li ontem em “A Vertigem das Listas” (p. 309-310):
Eu lembro-me de que o protagonista de “O Estrangeiro” é Antoine (?) Meursault: foi frequentemente observado que ninguém se recorda do seu nome.
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Relíquias 6 - O crânio do jovem Baptista está numa catedral alemã
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Relíquias 5 - O estranho fascínio por Santa Teresinha
Esta aparente fixação nas relíquias, que é uma curiosidade antiga, deve-se a dois motivos.
O primeiro, mais recente, é a edição em português do “A vertigem das listas”, de Umberto Eco. Livros com este, que é um livro de muitos livros, fazem pensar que nunca a Internet, a electrónica e seus derivados acabarão com a edição impressa de livros. À falta de adjectivos que digam o espanto com que o folheio, saiba-se que ele tem controlado o meu tempo para lá das estritas obrigações profissionais e familiares. É um livro esponja. Absorve tudo.
O segundo prende-se com a visita das relíquias de Santa Teresinha a Inglaterra e Gales. O facto não foi referido na imprensa portuguesa generalista, nem tal merecia, por si mesmo, mas talvez não devesse ter sido ignorado pela imprensa católica lusa.
Ora, em Inglaterra, as relíquias de Santa Teresinha (ou Teresa de Lisieux, ou Teresa do Menino Jesus) fizeram o que fazem em qualquer outro país por onde passam (Portugal inclusive, em 2006): arrastam multidões. Diz-se que provocam conversões, mas isso é difícil de contabilizar. Já as multidões notam-se.
Em Inglaterra, as relíquias visitaram pela primeira vez uma igreja não-católica, em York, e provocaram filas de horas em York e Oxford e em mais 26 cidades, de Cardiff, a Manchester, de Birmingham a Portsmouth. São os exemplos que refere a BBC: em York, onde as relíquias estiveram 18 horas, a catedral esteve aberta pela noite dentro, de modo a que pudessem venerá-las – ou simplesmente vê-las; visitaram uma prisão londrina (como em Portugal, com presidiários a transportarem o relicário).
As relíquias terminaram o “tour” em Westminster, onde passaram 2000 fiéis por hora. Os serviços da catedral prepararam cerca de 100.000 velas e 50.000 rosas. A digressão inglesa terminou no dia 15 de Outubro. Foto-reportagem da BBC, no dia 13 de Outubro, aqui.
(Foi Fernando Correia de Oliveira, da Estação Cronográfica, que me deu a notícia, por na altura estar em Inglaterra. Agradeço-lhe.)
Relíquias 4 - O crânio do jovem João Baptista
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As relíquias não são um exclusivo dos cristãos (principalmente católicos e ortodoxos). E na verdade muitos católicos e ortodoxos pouco ou nada ligam a tais objectos, se é que podemos generalizar em “objectos” um conjunto de coisas que vai dos objectos propriamente ditos de santos, da Virgem e de Jesus a elementos corporais.
Os budistas guardam as cinzas da cremação de Sidarta Gautama, o Buda. E já os gregos, diz Umberto Eco, reportando-se a Plínio, tinham um certo culto por objectos como a lira de Orfeu, a sandália de Helena ou os ossos do monstro que tinha assaltado Andrómeda.
De todas as relíquias espantosas da Idade Média, há duas particularmente curiosas: o crânio de São João Baptista aos 12 anos e a pedra que Jesus não teve para reclinar a cabeça, como diz o evangelho. Quem as tinha/tem? Se encontrar as referências, aqui voltarei.
Relíquias 2 - O anel de noivado de São José
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Relíquias 1 - Catedral de Praga
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“Na Catedral de São Victor, em Praga, é possível encontrar os crânios de São Adalberto e São Venceslau, a espada de Santo Estêvão, um fragmento da cruz, a toalha da Última Ceia, um dente de Santa Margarida, um fragmento da tíbia de São Vital, uma costela de Santa Sofia, o queixo de São Eobano, o bastão de Moisés e o vestido da Nossa Senhora.
Umberto Eco in "A Vertigem das Listas", ed. Difel, pág. 173.
Sinodalidade e sinonulidade
Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...