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segunda-feira, 15 de abril de 2019

Bento XVI e os abusos sexuais

Programa para a breve folga da Páscoa, um destes dias: ler o que escreveu o bispo emérito de Roma, Bento XVI, sobre os abusos sexuais.

As primeiras impressões: parece-me que erra profundamente nas suas intuições, perceções, convicções. Bastará pensar nos abusos pré-revolução sexual ou pré-Vaticano II.

O lamento: não haver, ainda, que eu conheça, uma versão do escrito em português.

Posto isto, admirando Ratzinger pelo tempo em que foi Papa (não pelo tempo antes de ser Papa), acho que seria da maior prudência ele não publicar nada. Se renunciou ao papado, deveria ter também renunciado à palavra pública, porque ele não é qualquer um.

Por outro lado, este poderia ser um caso para se publicar com pseudónimo. As suas palavras valeriam pela sua própria força e não por virem de um ex-papa que, para alguns, ainda é o papa legítimo.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Bento Francisco: Fé como ilusão de luz

Elisabeth Nietzsche

Diz Bento Francisco (e ficamos a saber que o pastor luterano deu nome bíblico à filha mais nova) no número 2 de "Lumen Fidei":

Nos tempos modernos, pensou-se que tal luz poderia ter sido suficiente para as sociedades antigas, mas não servia para os novos tempos, para o homem tornado adulto, orgulhoso da sua razão, desejoso de explorar de forma nova o futuro. Nesta perspectiva, a fé aparecia como uma luz ilusória, que impedia o homem de cultivar a ousadia do saber. O jovem Nietzsche convidava a irmã Elisabeth a arriscar, «percorrendo vias novas (…), na incerteza de proceder de forma autónoma». E acrescentava: «Neste ponto, separam-se os caminhos da humanidade: se queres alcançar a paz da alma e a felicidade, contenta-te com a fé; mas, se queres ser uma discípula da verdade, então investiga». O crer opor-se-ia ao indagar. Partindo daqui, Nietzsche desenvolverá a sua crítica ao cristianismo por ter diminuído o alcance da existência humana, espoliando a vida de novidade e aventura. Neste caso, a fé seria uma espécie de ilusão de luz, que impede o nosso caminho de homens livres rumo ao amanhã.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Belo texto

Estou a ler, aos pouquinhos, como quase tudo ultimamente, a "Lumen fidei", a encíclica de Bento XVI, perdão, Francisco. Só agora. Devido à dupla paternidade, está a passar despercebida, parece-me. Não me recordo de Francisco a ter citado, como costumava ser normal nos discursos papais. Nem se vêm por aí grandes incentivos à sua leitura. Nem os bispos a citam como costumam citar outros documentos papais recém-aparecidos. Mas é um belo texto. (Vou entrar no terceiro capítulo.) Indispensável para quem pensa sobre fé, razão, verdade, teologia, Igreja. Para pôr bem juntinho à "Fides et ratio". Que, afinal, teve como principal redator o mesmo Ratzinger.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A resposta de Bento XVI a Odifreddi no "La Repubblica"


Esta é a resposta de Bento XVI a Odifreddi, no "La Repubblica" de ontem. (Que bom! Um texto emeritopapal para pensar). O texto será publicado na íntegra num novo livro do matemático ateu. Vale a pena ler. Há muito mais - e mais interessante - do que o que ontem aqui referi, como comentou um leitor. Copiei-o do Unisinos (Brasil). Parece que não sabem que Magellan é Magalhães e acrescentei uns subtítulos para identificar os assuntos.
Ilustríssimo Senhor Professor Odifreddi, (...) gostaria de lhe agradecer por ter tentado até o último detalhe se confrontar com o meu livro e, assim, com a minha fé; é exatamente isso, em grande parte, que eu havia intencionado com o meu discurso à Cúria Romana por ocasião do Natal de 2009. Devo agradecer também pelo modo leal como tratou o meu texto, buscando sinceramente prestar-lhe justiça. 
O meu julgamento acerca do seu livro, no seu conjunto, porém, é em si mesmo bastante contrastante. Eu li algumas partes dele com prazer e proveito. Em outras partes, ao invés, me admirei com uma certa agressividade e com a imprudência da argumentação. (...)
Teologia não é ficção científica 
Várias vezes, o senhor me aponta que a teologia seria ficção científica. A esse respeito, eu me admiro que o senhor, no entanto, considere o meu livro digno de uma discussão tão detalhada. Permita-me propor quatro pontos a respeito de tal questão:

1. É correto afirmar que "ciência", no sentido mais estrito da palavra, só a matemática o é, enquanto eu aprendi com o senhor que, mesmo aqui, seria preciso distinguir ainda entre a aritmética e a geometria. Em todas as matérias específicas, a cientificidade, a cada vez, tem a sua própria forma, segundo a particularidade do seu objeto. O essencial é que ela aplique um método verificável, exclua a arbitrariedade e garanta a racionalidade nas respectivas modalidades diferentes.

2. O senhor deveria ao menos reconhecer que, no âmbito histórico e no do pensamento filosófico, a teologia produziu resultados duradouros.
Teologia e razão 
3. Uma função importante da teologia é a de manter a religião ligada à razão, e a razão, à religião. Ambas as funções são de essencial importância para a humanidade. No meu diálogo com Habermas, mostrei que existem patologias da religião e – não menos perigosas – patologias da razão. Ambas precisam uma da outra, e mantê-las continuamente conectadas é uma importante tarefa da teologia.
Ficção nas ciências 
4. A ficção científica existe, por outro lado, no âmbito de muitas ciências. Eu designaria o que o senhor expõe sobre as teorias acerca do início e do fim do mundo em Heisenberg, Schrödinger, etc., como ficção científica no bom sentido: são visões e antecipações para chegar a um verdadeiro conhecimento, mas são, justamente, apenas imaginações com as quais tentamos nos aproximar da realidade. Além disso, existe a ficção científica em grande estilo, exatamente dentro da teoria da evolução também. O gene egoísta de Richard Dawkins é um exemplo clássico de ficção científica. O grande Jacques Monod escreveu frases que ele mesmo deve ter inserido na sua obra seguramente apenas como ficção científica. Cito: "O surgimento dos vertebrados tetrápodes (...) justamente tem sua origem do fato de que um peixe primitivo 'escolheu' ir a explorar a terra, sobre a qual, porém, ele era incapaz de se deslocar, exceto saltitando desajeitadamente e criando, assim, como consequência de uma modificação do comportamento, a pressão seletiva graças à qual se desenvolveriam os membros robustos dos tetrápodes. Entre os descendentes desse audaz explorador, desse Magellan da evolução, alguns podem correr a uma velocidade de 70 quilômetros por hora..." (citado segundo a edição italiana de Il caso e la necessità, Milão, 2001, p. 117ss.).
Clero e pedofilia 
Em todas as temáticas discutidas até agora, trata-se de um diálogo sério, para o qual eu – como já disse repetidamente – sou grato. As coisas são diferentes no capítulo sobre o sacerdote e a moral católica, e ainda diferentes nos capítulos sobre Jesus. Quanto ao que o senhor diz sobre o abuso moral de menores por parte de sacerdotes, eu só posso reconhecer – como o senhor sabe – com profunda consternação. Eu nunca tentei mascarar essas coisas. O fato de que o poder do mal penetra a tal ponto no mundo interior da fé é para nós um sofrimento que, por um lado, devemos suportar, enquanto, por outro, devemos, ao mesmo tempo, fazer todo o possível para que casos desse tipo não se repitam. Também não é motivo de conforto saber que, segundo as pesquisas dos sociólogos, a porcentagem dos sacerdotes réus desses crimes não é mais alta do que a presente em outras categorias profissionais semelhantes. Em todo caso, não se deveria apresentar ostensivamente esse desvio como se se tratasse de uma imundície específica do catolicismo.
Mal e bem na Igreja 
Se não é lícito calar sobre o mal na Igreja, também não se deve silenciar, porém, sobre o grande rastro luminoso de bondade e de pureza, que a fé cristã traçou ao longo dos séculos. É preciso lembrar as figuras grandes e puras que a fé produziu – de Bento de Núrsia e a sua irmã Escolástica, Francisco e Clara de Assis, Teresa de Ávila e João da Cruz, aos grandes santos da caridade como Vicente de Paulo e Camilo de Lellis, até a Madre Teresa de Calcutá e as grandes e nobres figuras da Turim do século XIX. Também é verdade hoje que a fé leva muitas pessoas ao amor desinteressado, ao serviço pelos outros, à sinceridade e à justiça. (...)
O método histórico-crítico, Jesus e a sua historicidade 
O que o senhor diz sobre a figura de Jesus não é digno do seu nível científico. Se o senhor põe a questão como se, no fundo, não soubesse nada de Jesus e como se d'Ele, como figura histórica, nada fosse verificável, então eu só posso lhe convidar de modo decidido a tornar-se um pouco mais competente do ponto de vista histórico. Recomendo-lhe, para isso, sobretudo os quatro volumes que Martin Hengel (exegeta da Faculdade de Teologia Protestante de Tübingen) publicou juntamente com Maria Schwemer: é um exemplo excelente de precisão histórica e de amplíssima informação histórica. Diante disso, o que o senhor diz sobre Jesus é um falar imprudente que não deveria repetir. O fato de que na exegese também foram escritas muitas coisas de escassa seriedade é, infelizmente, um fato indiscutível. O seminário norte-americano sobre Jesus que o senhor cita nas páginas 105ss. só confirma mais uma vez o que Albert Schweitzer havia notado a respeito da Leben-Jesu-Forschung (Pesquisa sobre a vida de Jesus), isto é, que o chamado "Jesus histórico" é, em grande parte, o espelho das ideias dos autores. Tais formas mal sucedidas de trabalho histórico, porém, não comprometem, de fato, a importância da pesquisa histórica séria, que nos levou a conhecimentos verdadeiros e seguros sobre o anúncio e a figura de Jesus. 
(...) Além disso, devo rejeitar com força a sua afirmação (p. 126) segundo a qual eu teria apresentado a exegese histórico-crítica como um instrumento do anticristo. Tratando o relato das tentações de Jesus, apenas retomei a tese de Soloviev, segundo a qual a exegese histórico-crítica também pode ser usada pelo anticristo – o que é um fato incontestável. Ao mesmo tempo, porém, sempre – e em particular no prefácio ao primeiro volume do meu livro sobre Jesus de Nazaré – eu esclareci de modo evidente que a exegese histórico-crítica é necessária para uma fé que não propõe mitos com imagens históricas, mas reivindica uma historicidade verdadeira e, por isso, deve apresentar a realidade histórica das suas afirmações de modo científico também. Por isso, também não é correto que o senhor diga que eu estaria interessado somente na meta-história: muito pelo contrário, todos os meus esforços têm o objetivo de mostrar que o Jesus descrito nos Evangelhos também é o Jesus histórico real; que se trata de história realmente ocorrida. (...)
Deus, liberdade, amor e mal 
Com o 19º capítulo do seu livro, voltamos aos aspectos positivos do seu diálogo com o meu pensamento. (...) Mesmo que a sua interpretação de João 1, 1 seja muito distante da que o evangelista pretendia dizer, existe, no entanto, uma convergência que é importante. Se o senhor, porém, quer substituir Deus por "A Natureza", resta a questão: quem ou o que é essa natureza. Em nenhum lugar, o senhor a define e, assim, ela parece ser uma divindade irracional que não explica nada. Mas eu gostaria, acima de tudo, de fazer notar ainda que, na sua religião da matemática, três temas fundamentais da existência humana continuam não considerados: a liberdade, o amor e o mal. Admiro-me que o senhor, com uma única referência, liquide a liberdade que, contudo, foi e é o valor fundamental da época moderna. O amor, no seu livro, não aparece, e também não há nenhuma informação sobre o mal. Independentemente do que a neurobiologia diga ou não diga sobre a liberdade, no drama real da nossa história ela está presente como realidade determinante e deve ser levada em consideração. Mas a sua religião matemática não conhece nenhuma informação sobre o mal. Uma religião que ignore essas questões fundamentais permanece vazia.
Franqueza que ajuda o conhecimento a crescer 
Ilustríssimo Senhor Professor, a minha crítica ao seu livro, em parte, é dura. Mas a franqueza faz parte do diálogo; só assim o conhecimento pode crescer. O senhor foi muito franco e, assim, aceitará que eu também o seja. Em todo caso, porém, avalio muito positivamente o fato de que o senhor, através do seu contínuo confronto com a minha Introdução ao cristianismo, tenha buscado um diálogo tão aberto com a fé da Igreja Católica e que, apesar de todos os contrastes, no âmbito central, não faltem totalmente as convergências.

Com cordiais saudações e com todos os melhores votos para o seu trabalho.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Quem pode responder?

Olhando retrospectivamente, podemos dizer que a forma que transformou o cristianismo numa religião mundial consistiu na sua síntese entre razão, fé e vida; esta síntese condensou-se precisamente na expressão religio vera. Impõe-se, por isso, cada vez mais a questão: porque é que, hoje, esta síntese já não convence? Porque é que, hoje, ao invés, surgem contraditórios e até reciprocamente exclusivos a racionalidade e o cristianismo? Que é que mudou na racionalidade? Que é que mudou no cristianismo?


Joseph Ratzinger na pág. 84 do livro "Existe Deus? Um confronto sobre verdade, fé e ateísmo", de Joseph Ratzinger e Paolo Flores d'Arcais, ed. Pedra Angular.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Baptista-Bastos é capaz de ir à missa de Francisco

Mais um franciscólogo instantâneo, Baptista Bastos, no DN de hoje.

Comecei a contar as asneiras - factuais, teológicas, de interpretação, ideológicas - e desisti na dezena. É ler para ver. E rir. Lá para o fim há coisas mais acertadas.

Ele até regressou ao "Por que não sou cristão", de Bertrand Russell, um livro (sim, li-o em adolescente e foi das primeiras obras que me fez tomar consciência de que para ser ateu culto é preciso estar informado sobre religião) que tem argumentos contra o cristianismo deste calibre: O cristianismo não pode ser divino porque Jesus disse aos discípulos que voltaria antes de eles chegarem aos confins de Israel. Ora, eles demorariam quando muito um mês a cumprir tal tarefa e Jesus ainda não voltou.

Estou a citar de cor, mas não estou a inventar. O argumento vem lá, em Russell, matemático de grande nível, sem dúvida, e insólito Nobel da Literatura. Mas o melhor é ler o senhor do laço.


domingo, 28 de julho de 2013

Bento Domingues: "Os trabalhos do Papa Francisco"

Início do texto de Bento Domingues no "Público" de hoje:

Para muita gente, o que parece é e, ao que parece, temos dois papas. Vestem-se ambos de branco, usam ambos um solidéu branco, os sapatos são diferentes. Um escreve a encíclica para o outro a publicar com a sua assinatura, mas declarando que não foi ele que a escreveu. O seu a seu dono, sem se saber quem é o dono. Os meios de comunicação informaram que, para a viagem ao Rio de Janeiro, o Papa Francisco foi-se aconselhar com o ex-Bento XVI. Quem andava assustado com o desembaraço deste Papa, gosta de saber que ele se aconselha com a sisudez de Ratzinger. Para os tempos que correm e para enfrentar os lobos do Vaticano, dois papas não são de mais.
Esta parece conversa de quem não quer que se toque no poder da Cúria, nas vergonhas do Banco do Vaticano e se distrai com um regime de indulgências a bom preço e de fácil acesso, a qualquer hora e lugar: basta ver, escutar e twittar.

sábado, 8 de junho de 2013

Abriu a época das transferências

Partindo das frequentes críticas do Papa Francisco ao carreirismo eclesiástico, Sandro Magister escreveu há dias um texto pertinente sobre as transferências de bispos de umas dioceses para as outras. Na realidade, duvido que as críticas franciscanas se dirijam especificamente aos bispos que mudam de diocese, porque, e julgo que não sou ingénuo por pensar assim, tal mudança deve-se mais à vontade do Vaticano do que aos desejos dos próprios.

Vale a pena ler o texto aqui. Em todo o caso, quando tanto se houve falar de transferências (não só para a Diocese do Porto), há citações relevantes que merecem ser meditadas:

- Vincenzo Fagiolo, cardeal, em 1999: “A dignidade do episcopado está no ‘munus’ que comporta, e este por si mesmo prescinde de toda hipótese de promoção e transferência, que deveriam ser, quando não eliminadas, cada vez mais raras. O bispo não é um funcionário, um interino, um burocrata, que se prepara para outros cargos mais influentes”.
- Bernardin Gantin, cardeal, em 1999: “Quando é nomeado, o bispo deve ser um pai e um pastor para o povo de Deus. E pai é para sempre. Do mesmo modo, um bispo, uma vez nomeado numa determinada sede, em linhas gerais e por princípio, deve permanecer nela para sempre. Sejamos claros: o que existe entre o bispo e a diocese é representado como um matrimônio; e um matrimônio, segundo o espírito evangélico, é indissolúvel. O novo bispo não deve ter outros projetos pessoais. Podem existir motivos graves, gravíssimos, por razão dos quais a autoridade pode decidir que o bispo saia, para passar de alguma maneira, de uma família para outra. Fazendo isto, a autoridade tem presente inúmeros fatores e, entre estes, não se encontra, é claro, o possível desejo de um bispo mudar de sede”.
- Joseph Ratzinger, cardeal, em 1999: “Especialmente, na Igreja não deveria existir nenhum sentido de carreirismo. Ser bispo não deve ser considerado uma carreira com diversos escalões, de uma sede para outra, mas, um serviço muito humilde. Penso que também o debate sobre o acesso ao ministério seria mais sereno, caso fosse visto no episcopado um serviço e não uma carreira. Também uma sede humilde, com poucos fiéis, é um serviço importante na Igreja de Deus. É claro, pode haver casos excepcionais: uma sede muito grande para a qual é necessário ter experiência do ministério episcopal; neste caso, pode se dar... Porém, não deveria ser uma práxis normal; somente em casos muito excepcionais”.
- Timothy Radcliffe, frade dominicano, em 2013:  “Pergunto-me também se é um bem para os bispos ser deslocados de uma diocese para outra. Carregam um anel que é um sinal de que estão ‘casados’ com a diocese, mas, muitas vezes, são separados de suas dioceses originais e casados com outras dioceses. Se soubessem, ao contrário, que permaneceriam em suas dioceses, então poderiam prestar-lhe sua completa atenção. É verdadeiramente estranho que seja permitido aos bispos se divorciarem de sua diocese, mas não as pessoas unidas em matrimônio!”

A acrescentar a isto, deveria desaparecer os bispos auxiliares, que são sempre bispos titulares de dioceses defuntas, como Mitilene ou Luperciana. Que ficção. E claro que as dioceses teriam de ser mais pequenas e muitas mais em número.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Quem escreveu que "Ele é a meta antecipada"?

Quem escreveu isto?

Não podemos mais contentar em analisar o mundo a partir da criação in illo tempore, mas devemos compreendê-lo a partir da escatologia, do futuro presente em Jesus ressuscitado. Nele realizou-se no tempo o que para nós só se dará no fim do tempo. Ele é a meta antecipada. A partir do fim, devemos entender o começo.

a) W. Kasper
b) J. Ratzinger
c) L. Boff
d) J. Bergoglio

Resposta: Leonard Boff, na página 225 de "Jesus Cristo Libertador" (ed.Vozes). Na realidade, penso que qualquer um dos outros três subscreveria estas palavras.

sábado, 16 de março de 2013

Anselmo Borges: "O maior afrodisíaco"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje.

Ainda Papa, J. Ratzinger disse o que é decisivo: "Nós somos a Igreja; a Igreja não é uma estrutura; nós, os próprios cristãos juntos, todos nós somos o Corpo vivo da Igreja. Naturalmente, isto é válido no sentido de que o 'nós', o verdadeiro 'nós' dos crentes, juntamente com o 'Eu' de Cristo, é a Igreja."

Mas, de facto e desgraçadamente, quando se pensa e fala e escreve sobre a Igreja, no que se pensa e fala e sobre que se escreve é, em primeiro lugar, a Igreja enquanto instituição e concretamente a organização central - em que se pensa, quando se diz o Vaticano? -, com o Papa, o cortejo de cardeais, arcebispos, bispos, monsenhores da Cúria e o Banco do Vaticano e regras e normas e escândalos e intrigas que se diz aninharem-se por lá e, evidentemente, também o espectáculo nem sempre edificante, e o folclore. Aliás, quem se não quiser enganar, mesmo dentro da Igreja, que se pergunte: o que juntou os mais de 5000 jornalistas estrangeiros em Roma para a eleição do novo Papa? Foi verdadeiramente a Igreja viva, constituída pelos discípulos de Jesus, que procuram real e verdadeiramente segui-lo no amor de Deus e do próximo?

Seja como for, acima de tudo e em primeiro lugar, é preciso voltar a Jesus Cristo, ao que ele foi, é, quis e quer. Realmente, em síntese, como escreveu o teólogo Hans Küng, a Igreja é a comunidade dos que acreditam em Jesus Cristo: "A comunidade dos que se entregaram e entregam a Jesus e à sua causa e a testemunham com energia como esperança para o mundo. A Igreja torna-se crível se disser a mensagem cristã, não em primeiro lugar aos outros, mas a si mesma, e, portanto, não pregar apenas, mas cumprir as exigências de Jesus."

A Igreja não pode entender-se como uma gigantesca empresa multinacional religiosa ou um aparelho de poder. Ela é povo de Deus espalhado pelos diferentes lugares do mundo. O Papa não pode ser visto como um "autocrata espiritual", mas como bispo que tem o primado pastoral, vinculado ao colégio dos bispos. E as funções nucleares da Igreja são oferecer aos homens e às mulheres de hoje a mensagem cristã, de modo compreensível, sem arcaísmos nem dogmatismos escolásticos, e celebrar os sacramentos, sem esquecer o dever de assumir as suas responsabilidades sociais, apresentando à sociedade, sem partidarismos, opções fundamentais, orientações para um futuro melhor para a Humanidade, na paz, no respeito pelos direitos humanos, na preservação da natureza.

O novo Papa tem pela frente missões gigantescas. A credibilidade da Igreja-instituição bateu no fundo. Impõe-se, pois, uma conversão de fundo. A pedofilia tem de acabar definitivamente. Tolerância zero igualmente para os escândalos intoleráveis do Banco do Vaticano. Os direitos humanos têm de valer também no seio da Igreja: liberdade de investigação, de opinião, de expressão. A quem tem medo da democracia e da participação lembra-se o que diz o Vaticano II: "É perfeitamente conforme com a natureza humana que se constituam estruturas jurídico-políticas que ofereçam a todos os cidadãos, sem discriminação alguma e com perfeição crescente, possibilidades de tomar parte livre e conscientemente na eleição dos governantes." As mulheres não podem ser discriminadas. A moral sexual pede revisão, bem como a lei obrigatória do celibato, que deve ser opcional. Decisiva é a reforma da Cúria, verdadeiro cancro da Igreja: "Impõe-se reformar a Cúria Romana", exige o cardeal W. Kasper. A Cúria só se compreende enquanto serviço da autoridade eclesiástica, que não reside na Cúria, mas no colégio dos bispos com o Papa à cabeça, como lembra o teólogo J. I. González Faus, que quer também que desapareçam do círculo do Papa "todos os símbolos de poder e de dignidade mundana": "príncipes da Igreja" é "título quase blasfemo".

Mas não haverá reforma sem conversão no que se refere àquela que foi a única tentação com que Jesus também foi confrontado: a tentação do poder, disso que é - disse-o quem sabe (Henry Kissinger) - o maior afrodisíaco. Jesus deixou a palavra decisiva: "Não vim para ser servido, mas para servir."

No próximo sábado escreverei sobre o Papa Francisco, que, estou convicto, veio para servir.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Pedro Casaldáliga e outros: "Deixa a Cúria, Pedro"


Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinédrio e as muralhas,
Ordena que todos os pergaminhos impecáveis
sejam alterados
pelas palavras de vida e amor.

Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos e de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos pobres.

A túnica/roupa é essa humilde carne desfigurada,
tantos gritos de crianças sem resposta,
e memória bordada dos mortos anónimos.

Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.

O povo é apenas um "resto",
um resto de esperança.
Não O deixes só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos pobres
e erguer a Cruz, nua de certezas,
e quebrar a construção - lei e selo - do túmulo romano,
e amanhecer
a Páscoa.

Diz-lhes, diz-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.

Não te conturbes mais!

Como tu O amas,
ama-nos a nós,
simplesmente,
de igual a igual, irmão.

Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas,
o peixe da alegria,
o pão da palavra,
as rosas das brasas...
... a clareza do horizonte livre,
o mar da Galileia,
ecumenicamente, aberto para o mundo.

Pedro Casaldáliga, bispo emérito de S. Félix do Araguaia (Brasil), para reflexão pós-renúncia papal.




Texto enviado por F.M., a quem agradeço. Não pude confirmar se é original.

Já o apelo de deixar a cúria, em si, não é absolutamente original. O insuspeito Hans Urs von Balthazar sugeriu que o Papa fosse viver para os subúrbios de Roma e transformasse todo o Vaticano em museus (aqui; ver comentários). Karl Rahner, escrevendo como se fosse o Papa em 2020, pediu um "downsizing" no estatuto do Papa, tão ao contrário do que se tem visto, pois o Papa não precisa de ser, em todos os aspetos,
o maior da Igreja, um ponto de referência para todos os impulsos, um mestre superior a todos os pensadores e teólogos, um santo e um profeta, um homem que conquista todos os corações com a sua personalidade fascinante, um grande líder que molda o seu século e empalidece estadistas e outras grandes personalidades na insignificância, um pontífice a quem todos os bispos se referem respeitosamente, como pequenos oficiais perante o seu rei, a fim de ouvir obedientemente as suas palavras e ordens (ler tudo aqui).
E o próprio Bento XVI recordou, com S. Bernardo (p. 77 do livro-entrevista “Luz do Mundo”), que o Papa é “não é um sucessor do imperador Constantino, mas sim o sucessor de um pescador”.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Miguel Esteves Cardoso também escreve sobre o Papa Benedito



Miguel Esteves Cardoso no "Público" de 2 de março:

Já não me lembro do proprietário de uma empresa americana que anunciou que se demitia perante um administrador que o avisou: "You can"t do that - you"re the boss".

Em inglês, lido por um português, resign tem mais força: tanto parece resignar-se (ao destino) como voltar a assinar (uma vez para entrar; outra para sair).

Joseph Alouisus Ratzinger, que terá 86 anos no dia 16 de Abril, foi o Papa Benedito XVI que, por vontade própria, deixou de ser, voltando a ser, com todas as responsabilidades e obrigações que acarreta, o bispo de Roma. Foi um bom Papa - todos os Papas desde João XXIII têm sido bons e, julgando pela lentidão necessária às subtis mudanças para melhor da Igreja Católica, até nem foi o menos progressista.

Dizem, erradamente - até os inimigos - que era um intelectual. Não era. Gostava de ler livros com que estava de acordo e era justo na avaliação dos pseudo-inimigos de outrora (os judeus, por exemplo), mas não tinha, nem podia ter, por causa do espírito (muito provavelmente santo, dentro da corrente do catolicismo e da ética católica), uma atitude minimamente céptica ou desconfiada. Atacava o relativismo - com razão para quem defende qualquer religião - sem pensar no relativismo como verdade possível e potente. Ou seja: não sentia a necessidade real de se defender dele.

Demitindo-se, revelou e admitiu a humanidade dos Papas. Continuando a trabalhar encoraja toda a gente.

Adeus, Papa Bento: continuamos a contar consigo.

domingo, 3 de março de 2013

Considerações papais de Bento Domingues e José Diogo Quintela

Bento Domingues diz que interessa mais o perfil da Igreja do que o do Papa. Escreve no "Público" de hoje:
Será preciso deitar água fria nas preocupações acerca do perfil do futuro eleito. Não porque não sejam importantes, mas ainda é mais importante passá-las para segundo plano. A insistência na configuração do novo Pontífice leva, facilmente, a pensar que basta um bom Papa para ficarem resolvidos todos os problemas.
O texto todo estará por aqui amanhã.

José Diogo Quintela, por seu turno, no mesmo jornal, mas na revista, também faz algumas considerações papais:
Ainda não decidi quem gostaria de ver como próximo Papa. Ou faço como os católicos e analiso os currículos dos candidatos, tento saber o que pensam sobre os temas fundamentais da Igreja e escolho o cardeal mais qualificado - o que me vai dar imenso trabalho - ou faço como os ateus e opto por um preto. 
 É a solução predilecta da esquerda europeia para preencher qualquer vaga que surja no mundo. É preciso um novo Presidente dos EUA? Escolham um preto. Vagou o lugar do Papa? Ponha-se lá um preto. O Le Pen saiu da Front National? Dêem o lugar a um preto. A Miss Universo foi desclassificada por ter implantes mamários? É substituí-la por um preto. Resulta sempre. 
 Face ao benchmarking, é a escolha ideal. Permite um reposicionamento da marca. De uma maléfica multinacional chefiada por um europeu oriundo de uma cultura historicamente colonialista, passa-se para uma simpática ONG liderada por um representante do Terceiro Mundo oprimido. Automaticamente, atacar a Igreja passa a ser racismo.
O texto todo talvez esteja por aqui amanhã.

A noiva e o monstro, que é a mesma, ou seja, nós

Um texto ratzingeriano para reflexão no primeiro domingo sem papa.

Os séculos de história da Igreja estão tão cheios de todo o tipo de falhas humanas que até podemos compreender a visão horrenda de Dante que viu sentada no carro da Igreja a meretriz da Babilónia, ou julgar compreensíveis as terríveis palavras do bispo de Paris, Guilherme de Auvérnia, que no século XIII achava que qualquer um devia ficar horrorizado diante da selvajaria reinante na Igreja: «Já não é uma noiva, mas antes um monstro terrivelmente deformado e feroz […]».

Ler tudo aqui.

sábado, 2 de março de 2013

Anselmo Borges: O testamento do Papa Bento XVI



Texto de Anselmo Borges no DN de hoje.

Agora, é apenas Papa emérito. Mas que ninguém se preocupe com os dois Papas vivos, pois Ratzinger retirou-se, para rezar, meditar, ouvir e tocar música, investigar, "desaparecendo" para o mundo.

Joseph Ratzinger também teve o seu momento de rebeldia e de progressismo, no Concílio Vaticano II. Chegou a dizer nas aulas, em Tubinga: "em Roma, como sabem, não se faz boa Teologia." Durou pouco tempo esse tempo. A sua orientação teológica agostiniana - Santo Agostinho não tinha em muito boa consideração o mundo - inclinava-o mais para uma visão conservadora. A mudança teve como ponto decisivo os excessos de 1968, com o radicalismo ateu dos estudantes de Teologia.

Reconhecido pela sua inteligência brilhante e uma rara cultura - dialogou com grandes intelectuais, incluindo Jürgen Habermas -, é mais um intelectual e um professor do que um pastor. As circunstâncias quiseram que este homem afável, tímido, "honesto, íntegro e encantador no trato pessoal", como reconhece também o teólogo J. I. González Faus, deixasse a vida académica, se tornasse arcebispo de Munique, seguisse para Roma como "inquisidor", condenando muitas dezenas de teólogos e a Teologia da Libertação, e se tornasse Papa - quando aconteceu a eleição, lembrou-se da guilhotina.

Deixa três encíclicas: a primeira, para dizer que a verdadeira "definição" de Deus é que é Amor; a segunda, para convocar os cristãos e todos os homens à esperança; a terceira é sobre "a caridade (o amor) na verdade". Nela, condena as posições neoliberais, cujo único objectivo é o lucro; reafirma a doutrina essencial de que a economia e o desenvolvimento só são verdadeiros se estiverem ao serviço do homem todo e de todos os homens; que, em ordem ao seu correcto funcionamento, a economia precisa da ética, "uma ética amiga da pessoa"; que, para conseguir o governo da economia mundial, o desarmamento, a segurança alimentar e a paz, a salvaguarda do meio ambiente e a regulação dos fluxos migratórios, "urge a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial, que deverá ser reconhecida por todos, gozar de poder efectivo para garantir a cada um a segurança, a observância da justiça, o respeito dos direitos".

Ideia nuclear é a do diálogo entre a fé e a razão. A fé, sem a razão, é cega e intolerante; a razão, sem a abertura à transcendência, pode enlouquecer. No cristianismo, acolhe-se a fé, dando lugar à descoberta do "Deus que é Razão criadora e ao mesmo tempo Razão-amor". Aí está o vínculo indissolúvel entre Razão, Verdade e Bem.

Na Sexta-Feira Santa de 2005, ainda cardeal, disse aquelas palavras: "quanto sujidade na Igreja! A traição dos discípulos fere mais Jesus." Referia-se certamente ao escândalo da pedofilia, à figura sinistra do padre Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, ao que se passava na Cúria. Quando assumiu funções, foi exemplar, pondo Maciel fora da vida pública, pedindo perdão às vítimas da pedofilia e tomando medidas drásticas e consistentes, para que os crimes se não repitam.

Não conseguiu reformar a Cúria nem pôr termo às intrigas, ao carreirismo, às lutas pelo poder, aos escândalos, desde a corrupção à lavagem de dinheiro no Banco do Vaticano e ao Vatileaks. Sem forças "no corpo e no espírito", renunciou, "em consciência e plena liberdade", para que outro lhe suceda.

Foi talvez a lição maior de Joseph Ratzinger enquanto Papa. Houve quem o criticasse, também dentro da Igreja e pensando em João Paulo II: que não se desce da Cruz e que dessacralizou o papado. Mas, afinal, o Papa é mais do que um homem? Não se trata tão-só de um cristão que leva consigo a específica missão gigantesca de ser sinal e promotor de unidade entre os cristãos e a Humanidade?

Este é o seu testamento: abandona pacificamente o poder. Porque na Igreja, como aliás no mundo em geral, é preciso escolher entre o poder como dominação e a força do serviço. O Deus cristão não se revela como Poder-Dominação, mas Força Infinita de criar no Amor. Bento XVI leu e recomendou que todos os Papas lessem a famosa carta de São Bernardo ao Papa Eugénio III: "Não pareces um sucessor de Pedro, mas de Constantino".

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sobre as revelações do "La Repubblica"


As revelações do jornal "La Repubblica" - em síntese, o Papa teria renunciado por causa do relatório de 300 páginas elaborado por três cardeais na sequência do "Vatileaks" onde se pode ler que há corrupção e um "lobby gay" no Vaticano - podem ser falsas. Ou não. Um leitor, no post anterior, desconsidera a peça por ter sido escrita por uma jornalista comunista, Concita de Gregorio.

Para conhecer mais o processo, que foi precedido por um artigo de Ignazio Ingrao na "Panorama" (mas o "La Repubblica" é que deu internacionalidade à coisa), vale a pena ler o blogue de Robert B. Monihan (um bem conhecido do Cardeal Saraiva Martins), que é editor da revista "Inside the Vatican". Eu espero arranjar um tempinho para ler este texto e os anteriores.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Santo Padre, renuncie à renúncia

Enrico Maria Radaelli

Um leitor escreveu: "Já coloquei no meu carro um autocolante a dizer: «Reelejam Bento XVI»" (nos comentários daqui). Não era ironia. Não é o único triste, inconformado, sei lá se desorientado com a renúncia de Bento XVI. Tem havido uma ou outra manifestação nesse sentido. Eu imaginava que seriam mais em vez do coro de aplausos.

O apelo mais contundente vem de Itália. Enrico Maria Radaelli pede, em 13 páginas, que o Papa renunciE à renúncia. "Por que o Papa Ratzinger-Bento XVI deveria retirar a sua renúncia. Ainda não é o tempo de um novo Papa porque seria um anti-papa". Ler em italiano aqui.

Das notícias Unisinos retirei alguns parágrafos da antirrenúncia.

A renuncia “não é permitida metafísica e misticamente, porque na metafísica está ligada ao núcleo do ser, que não permite que uma coisa, simultaneamente, seja e não seja, e na mística está ligada ao núcleo do Corpo místico que é a Igreja, para a qual a vicariedade assumida [pelo sucessor de Pedro] com o juramento da eleição coloca o ser do eleito em um plano ontológico substancialmente diferente do deixado para trás: no plano mais alto metafísica e espiritualmente do Vigário de Cristo”. 
“Não considerar estes fatos é, na minha opinião, um golpe mortal ao dogma. Renunciar é perder o nome universal de Pedro e retroceder ao ser privado de Simão, mas isto não pode acontecer, porque o nome de Pedro, de Cefas, de Rocha, é dado em um plano divino a um homem que, recebendo-o, já não faz só a si mesmo, mas ‘faz Igreja’. Sem contar que ao o papa que renunciou não poder na realidade renunciar, o papa que o sucede, apesar disso, só poderá ser um antipapa. E quem reinará será ele, o antipapa e não o verdadeiro papa”. 
“A consideração final é, portanto, a seguinte: o papa Joseph Ratzinger-Bento XVI não deveria renunciar, mas desistir de sua suprema decisão reconhecendo o caráter metafísica e misticamente irrealizável e, por conseguinte, também legalmente inconsistente. Deste modo, não é a renúncia, mas a retirada da mesma, que se converte em um ato de sobrenatural coragem, e só Deus sabe o quanto a Igreja necessita de um papa sobrenaturalmente, e não humanamente, corajoso. Um papa que seja aclamado não pelos ‘liberais’ de toda a terra, mas pelos anjos de todos os céus. Um papa mártir, além disso, um jovem leão do Senhor, leva mais almas ao céu que cem papas que renunciaram”.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Quem disse que a síntese razão, fé e vida já não convence?

Quem escreveu isto?

Olhando retrospectivamente, podemos dizer que a forma que transformou o cristianismo numa religião mundial consistiu na sua síntese entre razão, fé e vida; esta síntese condensou-se precisamente na expressão religio vera. Impõe-se, por isso, cada vez mais a questão: porque é que, hoje, esta síntese já não convence? Porque é que, hoje,ao invés, surgem contraditórios e até reciprocamente exclusivos a racionalidade e o cristianismo? Que é que mudou na racionalidade? Que é que mudou no cristianismo?

a) Hans Kung
b) Leonard Boff
c) Joseph Ratzinger

Resposta (selecione para ver): c) Joseph Ratzinger na pág. 84 do livro "Existe Deus? Um confronto sobre verdade, fé e ateísmo", de Joseph Ratzinger e Paolo Flores d'Arcais, ed. Pedra Angular.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...