Partindo das frequentes críticas do Papa Francisco ao carreirismo eclesiástico, Sandro Magister escreveu há dias um texto pertinente sobre
as transferências de bispos de umas dioceses para as outras. Na
realidade, duvido que as críticas franciscanas se dirijam especificamente aos
bispos que mudam de diocese, porque, e julgo que não sou ingénuo por pensar assim, tal
mudança deve-se mais à vontade do Vaticano do que aos desejos dos próprios.
Vale a pena ler o texto aqui. Em todo o caso, quando tanto se
houve falar de transferências (não só para a Diocese do Porto), há citações
relevantes que merecem ser meditadas:
- Vincenzo Fagiolo, cardeal, em 1999: “A dignidade do episcopado está no ‘munus’ que comporta, e este por si mesmo prescinde de toda hipótese de promoção e transferência, que deveriam ser, quando não eliminadas, cada vez mais raras. O bispo não é um funcionário, um interino, um burocrata, que se prepara para outros cargos mais influentes”.
- Bernardin Gantin, cardeal, em 1999: “Quando é nomeado, o bispo deve ser um pai e um pastor para o povo de Deus. E pai é para sempre. Do mesmo modo, um bispo, uma vez nomeado numa determinada sede, em linhas gerais e por princípio, deve permanecer nela para sempre. Sejamos claros: o que existe entre o bispo e a diocese é representado como um matrimônio; e um matrimônio, segundo o espírito evangélico, é indissolúvel. O novo bispo não deve ter outros projetos pessoais. Podem existir motivos graves, gravíssimos, por razão dos quais a autoridade pode decidir que o bispo saia, para passar de alguma maneira, de uma família para outra. Fazendo isto, a autoridade tem presente inúmeros fatores e, entre estes, não se encontra, é claro, o possível desejo de um bispo mudar de sede”.
- Joseph Ratzinger, cardeal, em 1999: “Especialmente, na Igreja não deveria existir nenhum sentido de carreirismo. Ser bispo não deve ser considerado uma carreira com diversos escalões, de uma sede para outra, mas, um serviço muito humilde. Penso que também o debate sobre o acesso ao ministério seria mais sereno, caso fosse visto no episcopado um serviço e não uma carreira. Também uma sede humilde, com poucos fiéis, é um serviço importante na Igreja de Deus. É claro, pode haver casos excepcionais: uma sede muito grande para a qual é necessário ter experiência do ministério episcopal; neste caso, pode se dar... Porém, não deveria ser uma práxis normal; somente em casos muito excepcionais”.
- Timothy Radcliffe, frade dominicano, em 2013: “Pergunto-me também se é um bem para os bispos ser deslocados de uma diocese para outra. Carregam um anel que é um sinal de que estão ‘casados’ com a diocese, mas, muitas vezes, são separados de suas dioceses originais e casados com outras dioceses. Se soubessem, ao contrário, que permaneceriam em suas dioceses, então poderiam prestar-lhe sua completa atenção. É verdadeiramente estranho que seja permitido aos bispos se divorciarem de sua diocese, mas não as pessoas unidas em matrimônio!”
A acrescentar a isto, deveria desaparecer os bispos
auxiliares, que são sempre bispos titulares de dioceses defuntas, como Mitilene
ou Luperciana. Que ficção. E claro que as dioceses teriam de ser mais pequenas e muitas
mais em número.
Sem comentários:
Enviar um comentário