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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Victor quia victima

"Cristo venceu a violência; venceu-a não lhe opondo uma violência maior, mas suportando-a e mostrando toda a injustiça e a inutilidade que ela encerra. Inaugurou um novo género de vitória que Santo Agostinho resumiu em três palavras: «Victor quia victima» («vencedor, porque vítima»)".

Raniero Cantalamessa, Páscoa, uma passagem para aquilo que não passa (Ed. Paulinas, 2006), pág. 81

terça-feira, 6 de abril de 2010

Fim-de-semana fértil em informação religiosa

O fim-de-semana passado foi fértil em informação religiosa na imprensa generalista. Não só por ser o fim-de-semana de Páscoa, embora a quadra ajudasse. E para lá dos abusos sexuais.

Vou fazer aqui um elenco do que saiu no "Diário de Notícias" de sábado e de domingo (e não falo de droga traficada em ovos de Páscoa, da “operação Páscoa”, da indústria dos folares, etc.). Com links, no caso de encontrar os textos on-line.


DN de sábado, 3 de Abril

No caderno principal

* “Os dias da passagem”. Reportagem de Fernanda Câncio (texto) e Jorge Amaral (fotos) sobre a Páscoa judaica e as Páscoas cristãs.

* “Cardeal-patriarca pede perdão por pecados da Igreja”. Texto de Filipa Ambrósio de Sousa sobre as celebrações de Sexta-feira Santa em Lisboa.

* “O papa guardião do terceiro segredo de Fátima”. Texto de Paula Carmo, sobre a vinda de Bento XVI a Portugal, seguido de entrevista a Manuel Morujão, porta-voz dos bispos portugueses, que diz: “A ligação de Bento XVI à mensagem da Cova da iria é muito forte”.

* “A fé na Via Sacra dá lugar ao turismo”. Texto de Susana Salvador sobre a recriação de crucifixões pelo mundo.

* “A cruz do mundo”. Opinião de Anselmo Borges.

* “Abriu a caça aos padres (III)”. Opinião de Ferreira Fernandes.

No "DN Gente"

* “O monge que teve mais fé na história” (na capa). Entrevista de João Céu e Silva a José Mattoso (fotos de Gonçalo Vilaverde). (Excelente entrevista e muita imprecisão geográfica. Do Carvoeiro, lugar de Valemaior, Albergaria, que não é recôndito, é impossível ver a auto-estrada Lisboa/Porto. Vê-se é a A25, que liga Aveiro a Espanha.)

* “Óscar Romero. O Bispo da América morto há 30 anos pela ditadura de El Salvador”. Texto de Susana Salvador


DN de domingo, 4 de Abril

No caderno principal

* “Num caso de abuso, com certeza iria à polícia”. Entrevista, confusa, a D. Januário Torgal Ferreira, por João Marcelino (DN) e Paulo Baldaia (TSF)

* “Um quarto dos portugueses não crê na vida eterna”. Texto de Rita Carvalho sobre a crença na ressurreição, na qual 10 por cento dos que vão à missa com regularidade não acreditam.

* “Muitas paróquias deixaram para depois da Páscoa os preparativos da visita do Papa”. Texto de vários sobre a forma como paróquias menos e mais crentes preparam a visita de Bento XVI.

* “Críticas judaicas abrem nova crise para o Vaticano”. Texto de Abel Coelho Morais sobre a polémica desencadeada pelas afirmações de Raniero Cantalamessa.

* “O túmulo de Cristo na Caxemira”. Texto de Patrícia Viegas sobre o túmulo de um pregador muçulmano medieval que tem sido publicitado como sendo o de Jesus.

* “As outras vítimas da Igreja”. Opinião de Alberto Gonçalves.

Na "Notícias Magazine"

* “Mulheres na religião”. Texto de Ana Catarina Pereira e fotografias de Rui Coutinho. Como cinco mulheres vivem as suas religiões: Ana Vivente (católica), Míriam Lopes (metodista), Esther Mucznick (judia), Faiza Erraoui (muçulmana) e Tsering Paldron (budista).

* “São José e as Três Irmãs”. Texto de Alice Vieira suplemento infantil “Terra do Nunca”.

* “A consciência tranquila”. Opinião de Manuel António Pina.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Como cair no recurso ao estereótipo sem se dar conta


A homilia de Raniero Cantalamessa na Sexta-Feira Santa (2 de Abril) provocou aquilo que ela própria queria evitar: violência. Verbal, mas violência.
No Domingo, o “Diário de Notícias” titulava “Críticas judaicas abrem nova crise para o Vaticano” (4 de Abril). E o “Público”: “Rabis e vítimas indignadas com comparação ao anti-semitismo”. Na entrada, este último (texto de Ana Fonseca Pereira) afirma: “Padre Cantalamessa equiparou ataques à Igreja com perseguição aos judeus. Polémica adensa uma crise que ensombra esta Páscoa”.
Comparou mesmo? Talvez. Mas quem fez primeiro a comparação foi um judeu.
Se eu me sentisse perseguido, como muitos responsáveis da Igreja se dizem sentir, e se tivesse recebido um carta de alguém que pertence a um povo que foi a maior vítima do século XX, julgo que a usaria, como fez Cantalamessa. Não reivindicaria para mim tal estatuto de vítima – nem ele o fez. O Holocausto, o cúmulo do anti-semitismo, foi algo inominável e não é invocável para autodefesa por quem nele não participou. Mas se um elemento do povo judeu adverte para mecanismos semelhantes aos do anti-semitismo, de “recurso ao estereótipo” e de “passagem da responsabilidade pessoal para a colectividade”, nos tempos de hoje, em relação à Igreja, não poderei eu usar essas palavras?
O melhor é ler que o pregador do Papa disse (versão brasileira da Zenit, aqui):

«Por uma rara coincidência, neste ano nossa Páscoa cai na mesma semana da Páscoa judaica, que é a matriz na qual esta se constituiu. Isso nos estimula a voltar nosso pensamento aos nossos irmãos judeus. Estes sabem por experiência própria o que significa ser vítima da violência coletiva e também estão aptos a reconhecer os sintomas recorrentes. Recebi nestes dias uma carta de um amigo judeu e, com sua permissão, compartilho um trecho convosco. Dizia:
“Tenho acompanhado com desgosto o ataque violento e concêntrico contra a Igreja, o Papa e todos os féis do mundo inteiro. O recurso ao estereótipo, a passagem da responsabilidade pessoal para a coletividade me lembram os aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo. Desejo, portanto, expressar à ti pessoalmente, ao Papa e à toda Igreja minha solidariedade de judeu do diálogo e de todos aqueles que no mundo hebraico (e são muitos) compartilham destes sentimentos de fraternidade. A nossa Páscoa e a vossa têm indubitáveis elementos de alteridade, mas ambas vivem na esperança messiânica que seguramente reunirá no amor do Pai comum. Felicidades a ti e a todos os católicos e Boa Páscoa”».

A citação no final de um belíssimo texto contra a violência (de como com a morte de Jesus se ultrapassa a violência que é alma de um certo tipo de sagrado) transformou-se em mais um episódio de violência mediática. Chamou-se “obsceno”, “inapropriado” e “moralmente errado” ao sermão de Cantalamessa (via “Público”), quando as palavras são de um judeu. Foi imprudente Cantalamessa? Dizer que sim é admitir que a pressão mediática nos priva de liberdade.
A reacção ao sermão por parte de judeus e de vítimas de abusos, apesar de o porta-voz do Vaticano ter vindo dizer que havia palavras que podiam ser mal interpretadas, revela que a violência verbal está latente na nossa sociedade. Como já nem se olha aos factos e aos contextos, como já nada se distingue e muito se confunde, começo a pensar que a Igreja está mesmo a ser perseguida (mas nada desculpa os abusos). Ou pelo menos é um alvo fácil para quem quer fazer pontaria.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...