Miguel Esteves Cardoso no "Público" de 2 de março:
Já não me lembro do proprietário de uma empresa americana
que anunciou que se demitia perante um administrador que o avisou: "You
can"t do that - you"re the boss".
Em inglês, lido por um português, resign tem mais força:
tanto parece resignar-se (ao destino) como voltar a assinar (uma vez para
entrar; outra para sair).
Joseph Alouisus Ratzinger, que terá 86 anos no dia 16 de
Abril, foi o Papa Benedito XVI que, por vontade própria, deixou de ser,
voltando a ser, com todas as responsabilidades e obrigações que acarreta, o
bispo de Roma. Foi um bom Papa - todos os Papas desde João XXIII têm sido bons
e, julgando pela lentidão necessária às subtis mudanças para melhor da Igreja
Católica, até nem foi o menos progressista.
Dizem, erradamente - até os inimigos - que era um
intelectual. Não era. Gostava de ler livros com que estava de acordo e era
justo na avaliação dos pseudo-inimigos de outrora (os judeus, por exemplo), mas
não tinha, nem podia ter, por causa do espírito (muito provavelmente santo,
dentro da corrente do catolicismo e da ética católica), uma atitude minimamente
céptica ou desconfiada. Atacava o relativismo - com razão para quem defende
qualquer religião - sem pensar no relativismo como verdade possível e potente.
Ou seja: não sentia a necessidade real de se defender dele.
Demitindo-se, revelou e admitiu a humanidade dos Papas.
Continuando a trabalhar encoraja toda a gente.
Adeus, Papa Bento: continuamos a contar consigo.
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