sábado, 19 de junho de 2010

Sobre o argumento da aposta

Na Internet pululam variantes e simplificações do "argumento da aposta", de Pascal, que nasceu num dia 19 de Junho. No geral, concentram-se na existência / não existência de Deus, embora o argumento diga mais do que isso. É tanto para a vida actual como para a vida depois desta vida. Eis uma das simplificações:

Deus ou existe ou não existe. Temos que fazer uma aposta:
Se aposto por ele e ele existir: lucro máximo.
Se aposto por ele e ele não existir: nenhuma perda.
Se aposto conta ele e ele existir: perda máxima.
Se aposto contra ele e ele não existir: nem perda, nem lucro.

Ainda mais do que apresentações do argumento há tentativas de refutação. Em resumo, diz-se que é um argumento utilitarista, que infunde a hipocrisia, que depois da aposta restam mil religiões para seguir e que só uma ou nenhuma poderá estar certa, que, se existir, Deus compreenderá a aposta no não e, entretanto, ganhou-se uma vida...

William James (1842-1910) disse que se estivesse na posição de Deus, teria grande prazer em impedir a entrada no Céu às pessoas que acreditassem nele com base neste processo pouco sincero e algo egoísta – o que vem na linha de um pensamento de Santo Agostinho, segundo o qual quem acredita em Deus com medo do inferno é cobarde.

Também do lado da teologia católica há quem o recuse, argumentando que esse Deus da aposta não pode ser o Deus pessoal da Revelação cristã.

Acontece que o argumento de Pascal é apenas um início. É, como explica o próprio autor, para quem tem dúvidas (o “Pensamento” 233 é bem extenso; pode ser lido aqui, em inglês). É um pontapé de saída. Na realidade, a fé é sempre uma aposta. Mesmo a fé mais convicta do mundo será sempre fé, terá sempre algo de obscuro (não de irracional), de difícil, e não sei se de dúvida (embora dissesse John Henry Newman que “mil dificuldades não fazem um dúvida”).

Quanto a mim, é um argumento interessante, porque a fé exige a coragem do risco ao longo da vida. Isso está bem patente no argumento. Pascal sustenta que vale a pena o risco. No limite, a aposta da fé significa: não sei se existe ou não, mas creio que sim e aposto-me nisso.

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