sábado, 31 de março de 2012

Mais duas do Millôr



"Deus é realmente um ser superior. Não há nada nem parecido no Governo Federal".

"Os ateus têm um Deus em que nem eles acreditam".

As outras aqui e aqui.

Crises do capitalismo na "Visão História"

Uma revista sobre capitalismo, política, crises económicas, dívida, pobreza... com análises e opiniões, gráficos e imagens. Quantas referências tem à DSI (doutrina social da Igreja)? Na meia dúvida de artigos e opiniões que li até agora, nem uma. Ignorância dos analistas? Insignificância do ensino social católico? Desconhecimento? Vou ler mais e se houver alguma referência, cá voltarei.

Anselmo Borges: "O Apocalipse, São Malaquias e o fim do mundo"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje (tirado daqui)


O anúncio delirante do fim do mundo no próximo dia 21 de Dezembro, traz consigo, sempre de novo, o Apocalipse, o último livro da Bíblia.

Quem nunca viu um filme referente ao Apocalipse? Quem nunca ouviu falar da besta, do dragão, da mulher do Apocalipse, do número 666? Quando se quer aludir a catástrofes, horrores, guerras, fim do mundo, lá vem o adjectivo tenebroso "apocalíptico".

Quem quiser uma informação rápida, científica e séria, consulte as páginas que lhe dedica o padre Carreira das Neves, o nosso melhor exegeta, na obra que escreveu a meu pedido sobre a Bíblia: O que é a Bíblia. A título de exemplo, lá encontrará a explicação para os números: 3 é um número perfeito e o número de Deus; 3+4=7 ou 3x4=12, para simbolizar a plenitude (os dias da criação ou a aliança de Deus, respectivamente), os 144000 assinalados são o múltiplo de 3x4x12x1000 - 1000 é o símbolo da universalidade - e simbolizam o novo povo de Deus. Em sentido contrário, a metade destes números só pode significar o não--tempo de Deus e a sua não-aliança, como é o caso de três e meio e de seis. Assim, 666 é o número da besta, um símbolo numérico do nome e título de Domiciano como imperador. A mulher pode designar a Igreja perseguida, a prostituta ou a noiva do cordeiro.

O decisivo é compreender que o livro do Apocalipse tem o sentido exactamente contrário do vulgarizado. Trata do combate entre o Império romano e a Igreja de Deus, para animar os cristãos perseguidos, dando-lhes esperança: Deus e o seu Cristo triunfarão. Aliás, hoje os estudiosos pensam que a verdadeira estrutura do Apocalipse reside numa grande liturgia terrestre e celeste ao cordeiro, que representa Cristo.

Num contexto esotérico, lá vem também a profecia de São Malaquias, segundo a qual Bento XVI seria o penúltimo papa. O texto da profecia aparece pela primeira vez em 1595 num volume - Lignum vitae, ornamentum et decus ecclesiae - publicado pelo beneditino veneziano Arnold de Wyon, onde são recolhidas 111 divisas em latim, correspondentes cada uma a um papa desde Celestino II (1143-1144), e que, segundo Wyon, seriam obra de São Malaquias, do século XII. No documento, cuja autenticidade e paternidade são postas em causa pelos especialistas, ao actual papa é consagrada a 111.ª divisa: "a glória da oliveira". Depois, segundo a última divisa, vem a perseguição da Igreja e "passadas as tribulações, a cidade das sete colinas será destruída e o Juiz terrível julgará o seu povo".


A divisa atribuída a Bento XVI está na quinta linha da terceira coluna

Superando agora o esotérico da coisa, encontramos, claro, o fim do mundo enquanto fim de um mundo, sempre que um homem ou uma mulher morrem. De facto, a morte de um ser humano é sempre o fim de um mundo. Ali, acaba um mundo. Nas mudanças radicais da História, assistimos igualmente ao fim de um mundo. Constatando hoje o desaparecimento acelerado de línguas, podemos e devemos dizer que, sendo cada língua um mundo, vários fins de mundo estão infelizmente a acontecer.

Quando nos apercebemos das crises e catástrofes em curso, económicas, ecológicas, sociais em curso e do armamento nuclear existente no mundo, tomamos consciência de que podemos pôr termo à Humanidade e pôr fim à vida sobre a Terra.

E os cientistas? Há hoje dois modelos principais entre os cosmólogos. O primeiro - o modelo oscilante - afirma que a expansão do universo um dia se deterá, seguindo-se uma contracção, que poderá dar lugar a uma nova grande explosão. Na segunda hipótese, a expansão avançará, sem contracção, desembocando o processo na morte, no silêncio e na noite total. Mas isso daqui a muitos milhares de milhões de anos.

E as religiões? Já os maias, ao falar do fim do mundo, pensavam num dualismo de fim e novo começo, no quadro do eterno retorno. Também as religiões indianas se situam dentro de uma visão cíclica: o fim do mundo inclui a emergência de outro novo mundo. Na perspectiva bíblica e das religiões monoteístas, espera-se um "céu novo e uma terra nova". O Deus Criador do princípio é também o Deus do fim, o Consumador da perfeição: o Alfa e o Ómega.

Evitei-te

Separei-me de ti; evitei-te, renunciei, crucificado.
Que nunca eu seja separado dele.


Blaise Pascal (1623-1662)

sexta-feira, 30 de março de 2012

Livro para harmonizar fé e trabalho


Foi este o livro que os leitores de About Catholicism escolheram como o melhor do ano passado. "The Catholic Briefcase: Tool for integrating faith and work" ("A pasta do católico: Ferramentas para integrar fé e trabalho"), de Randy Hain, fala principalmente do testemunho cristão no trabalho, do tempo para a oração, do exemplo e dos sinais da fé. Ver aqui.


Os outros do top-5 (ordem decrescente):
"Catholicism: A Journey to the Heart of the Faith", de Fr. Robert Barron;
"Motherhood Matters", de Dorothy Pilarski;
"The Father's Tale", de Michael O'Brien;
"A Book of Saints for Catholic Moms: 52 Companions for Your Heart, Mind, Body and Soul", de Lisa M. Hendey.

Adivinhe quem disse que o papa deveria transformar o Vaticano num museu e transferir-se para a entrada de Roma

Quem escreveu isto?

Para acabar com o “escândalo inútil” seria bom que o papa “transformasse o Vaticano num museu e se transferisse para a entrada de Roma”.

a) Leonardo Boff, quem mais?
b) Hans Urs von Baltahasar, certamente num momento de pouca lucidez
c) Hans Kung, do interior do seu descapotável
d) Pedro Casaldáliga, no meio da selva

Resposta: Hans Urs von Baltahasar, que aconselhou também que os padres, bispos e papas deveriam abandonar títulos “envelhecidos e cristãmente incompreensíveis” como padre, abade e papa.

Miguel Esteves Cardoso: "Dá-lhes forte, Papa"

No "Público" de hoje. Também o MEC acha que há algo de orwelliano em Bento XVI (como aqui).

Mensageiros


Cada criança que nasce traz a mensagem de que Deus ainda não se esqueceu dos homens.

Rabindranath Tagore

quinta-feira, 29 de março de 2012

29 de março de 1058. Morre o Papa Estêvão IX

Frederico de Lorena foi eleito Papa no dia 3 de agosto de 1057 e pontificou até 29 de março do ano seguinte como Estêvão IX.

Orwell em Cuba? Ou ignorância religiosa no "i"?


No "i" de hoje.


À primeira vista, diria que a ignorância é atrevida.


À segunda, também, até porque o autor diz que foi poupado a uma educação católica, dando a presumir que é ignorante no tema (não o é necessariamente, mas em Portugal é improvável uma educação na cultura católica sem uma educação católica).


À terceira, diria que há um desfasamento de mundovisões entre Ratzinger (e a dos católicos) e a de Ricardo Alves. E isso é sintomático. Por isso, leio este texto mais na perspetiva do humor (que não é dada pelo autor), do que na da tragédia, que de facto seria se o que o autor diz em relação ao Papa tivesse alguma correspondência com a realidade (por exemplo: que Maria ao dizer que é escrava fosse pretexto para defender a escravidão, ainda que a fé seja uma dependência, mas que liberta).


Por outro lado, se o Papa tem obrigação de conhecer Orwell (e é provável que conheça), não tem o opinador o dever de conhecer a linguagem religiosa?

Millôr com Deus



Millôr Fernandes (16-08-1923 – 27-03-2012) reuniu as suas sentenças e aforismos na “Bíblia do Caos”. Não sei se as seguintes vêm lá, mas são exemplos de uma inspiração religiosa do seu humor.

 "O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde".

"O pão que o diabo amassou. Expressão incompreensível pois em nenhum lugar da Bíblia ou da História se diz que o Diabo era padeiro."

"Comunismo é uma religião igualzinha às outras. Pra quem acredita, não precisa explicação. Pra quem não acredita, não adianta explicação".

quarta-feira, 28 de março de 2012

Humor de luto

Morreu Millôr Fernandes, que disse que Noé terá exclamado um dia: Cambada de animais!

Souto Moura não desenha para seitas

O dinheiro não compra tudo. Resposta do arquiteto Souto Moura numa entrevista da "Visão" de 1 de março deste ano:


O Bloco de Esquerda recorda-nos o jubileu bíblico (mas mal)

"Na Bíblia há o jubileu: o cancelamento da dívida que acontecia de seis em seis anos. As terras eram restituídas, os servos voltavam às suas casas, ficavam livres".


Mariana Mortágua no "Dinheiro Vivo" de sábado passado (24 de março de 2012).


A dirigente do Bloco de Esquerda recorda-nos um dado bíblico, ainda que me pareça que confunde o ano sabático (de sete em sete, com o descanso das terras de cultivo e, segundo Ex 21, a libertação dos escravos) com o ano jubilar (no final de uma sequência de sete anos sabáticos, ou seja, de 49 em 49 anos), em que se perdoavam as dívidas e eram restituídos os terrenos. Duvida-se é que o ano jubilar tenha sido alguma vez posto em prática. Mas o princípio é lindo. Ver Levítico 25.

O Livro das Igrejas Abandonadas



Na minha partilha sobre Tonino Guerra, que morreu no dia 21 de março, cinco dias após completar 92 anos, um leitor, Rui Almeida, comentou que (pelo menos) dois dos seus livros foram traduzidos por um padre, Mário Rui de Almeida, que exerce funções de Oficial no Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, em Roma.


Entretanto, vi que está publicado em português, também na Assírio&Alvim uma recolha de contos com um título irresistível: "O Livro das Igrejas Abandonadas" (original de 1988, em português desde 1997).

A maior fonte de esperança

O meu amigo e eu falámos muito de Jesus e, quando nos separámos, ele disse:
 - Gostei que tivesses vindo. Neste bairro poucos são os que proferem o seu nome abertamente, porque está associado a tantas coisas negativas e, no entanto, é a maior fonte de esperança.


Henri Nouwen, "A caminho de Daybreak", Paulinas, pág. 317

terça-feira, 27 de março de 2012

Morreu Moebius. Morreu Tonino Guerra. Morreu Tabuchi


Morreu Moebius. Morreu Tonino Guerra. Morreu Tabuchi. Não sei se algum deles era católico. Ou cristão. Mas encontrava em todos eles, de vez em quando, um vislumbre de transcendência. Talvez não seja possível ser artista sem lidar, ou pelo menos sem pretender lidar com o sublime. E o sublime abre para o infinito.


Moebius desenhou uma vez um ser intemporal que tinha traços da representação tradicional de Deus-Pai. Durante uns tempos usei a imagem como marcador de livros.

Tabucchi, que em Portugal chegou a apoiar políticas radicais, escreveu um dia sobre de Zanotelli, missionário que admirava e que, com a facilidade da Internet, também eu quis conhecer (António Marujo entrevistou-o; ver volume I de “Deus vem a Público”).

De Tonino Guerra li as “Histórias Para uma noite de calmaria” (na Assírio&Alvim) antes de saber que foi professor da primária durante a II Guerra Mundial, que esteve preso num campo de concentração, que foi argumentista de Antonioni e Fellini. Numa das suas histórias, diz um camponês a um caçador atormentado – e a frase vale por si, embora feche um conto: “É preciso respeitar o mistério quando se tem a sorte de o encontrar”.

Do livro acima referido, deixo aqui, na íntegra, o magnífico “A Cor do Tempo”.
O convento tinha a forma de uma margarida. Desprendendo-se de uma torre cilíndrica, cada cela formava uma pétala. Entre uma e outra cela, no pouco espaço de muro da torre que permanecia descoberto, havia uma fenda, fechada por um vitral colorido. Conforme a deslocação do sol em redor do convento, no interior do quarto cilíndrico, havia uma luz com a cor que jorrava do vitral que protegia a fenda atingida pelos raios do sol. Se a luz era azul era meio-dia, cor de laranja era já hora da ceia e assim para todas as outras horas do dia. De noite, a lua substituía o sol. No Inverno, com o céu encoberto, os monges passavam dias e dias sem saber a hora exacta e eram felizes porque as suas vidas caminhavam de modo desordenado, especialmente no momento do encontro para o canto nocturno. Ou o levantar era demasiado cedo ou demasiado tarde e cada um acabava, assim, por cantar sozinho e os outros depois ou antes dele. Os cânticos solitários inundavam o céu até ao amanhecer.

Abismo infinito

Não é por causa das condições específicas da época atual que a fé parece ser uma coisa problemática ou quase impossível; ela significou sempre, mesmo sob formas por vezes menos nítidas e menos visíveis, um salto sobre um abismo infinito, ou seja, sobre o mundo tangível que se impõe ao ser humano: desde sempre,a fé teve uma conotação de ruptura e de salto arriscado, porque representa, em qualquer época, o risco de aceitar como verdadeira realidade e verdadeiro fundamento aquilo que é invisível por natureza.


Jospeh Ratzinger in "Introdução ao Cristianismo" (ed. Princípia), pág. 36


Se assim é, como não se tolerante com a descrença, magnânimo com "os que não pensam como nós"?

Dante e Giotto: Duplo retrato de Francisco de Assis



Saiu em Itália um livro sobre Francisco de Assis a partir das imagens (pintadas e escritas) que dele fazem Giotto e Dante: “Doppio ritratto. San Francesco in Dante e Giotto” [“Duplo retrato. São Francisco em Dante e Giotto”] (Ed. Adelphi, 86 páginas), do político e filósofo Massimo Cacciari (em baixo).


O texto que Pierluigi Panza escreveu no Corriere della Sera (22-03-2012) a propósito deste livro é muito elucidativo sobre como diferem as interpretações sobre alguém que deixa um legado inconfundível. Vem mesmo a calhar, quando por estes dias andou por aqui uma discussão sobre santos e santidade, entre o uniformismo e a autoridade, de um lado, e a pluralidade e subjetividade, do outro. Eu continuo pelo outro.

O texto de Pierluigi Panza (ler tudo aqui):
Giotto e Dante são ambos católicos, nascidos cerca de 40 anos depois da morte do Santo (1226). E o fato de se ocuparem de Francisco já é um testemunho de como a figura do santo era percebida como coesa pela Igreja. Mas os dois artesãos não conseguem dar razão totalmente ao "crucificado de Assis", porque a sua força é muito vasta: ambos o traduzem e o traem.

Giotto representa Francisco nos afrescos da Basílica Superior de Assis, referindo-se à Legenda Maior de Boaventura de Bagnoregio, e, em Florença, na Capela Bardi de Santa Cruz. Dante o coloca nos Céu dos espíritos sábios (Paraíso, Canto XI) e confia a ele o elogio a São Tomás de Aquino.

"A visão giottesca parece ser mais ingênua e nova; na realidade, é uma operação política precisa", destaca Cacciari. No ciclo de afrescos da Basílica Superior de Assis, de fato, falta o encontro de Francisco com os leprosos, o dom dos estigmas, e a cena do manto doado ao pobre é adoçada, parece uma troca entre cavaleiros. O episódio da morte também não mostra Francisco nu sobre a terra nua da Porciúncula. "Em síntese, uma representação homogênea com as exigências do primeiro papa franciscano (Nicolau IV): Francisco está em perfeita harmonia com a Igreja e se inclina a ela".

Em Dante, a perspectiva é diferente. Francisco é o alter Christus, que recebe os estigmas no Monte Alverne. Não se prostra, mas submete realmente ao papa a sua Regra. Não faz milagres, mas é o serafim de uma religião quase solar ("não diga Assis, que pouco e mal diria / Mas diga Oriente, por melhor falar"). Em Dante, Francisco está em guerra com as forças que transformaram o sólio de Pedro em uma Babilônia e morre pobre e nu como um "profeta" de uma nova ordem. Na Comédia, ele é tratado ao lado de São Domingos, porque Dante busca no cristianismo uma concórdia de opostos e aprecia tanto a força regeneradora da pobreza, quanto a da sabedoria dominicana.

Mas a preferência do poeta é por Francisco e pela sua loucura profética, embora nem Dante nem Giotto parecem compreender até as extremas consequências a força da revolução da pobreza: "Pobreza é a violência de quem quer o Reino. Somente o pobre é verdadeiramente poderoso", escreve Cacciari. Francisco vive um "esvaziamento de si mesmo" semelhante ao desejado por Deus para criar o universo.

Promessas




Vem de Espanha. A lição serve para todos os cristãos.

Adivinhe quem disse (4)

"A fé leva à esperança e consegue ultrapassar o medo. A fé deu aos nossos antepassados a resistência de que precisavam para lidar com os mistérios (da presciência) do mundo. A fé é a linha que separa os humanos da maioria das outras espécies. Temos fé que o sol vai nascer amanhã, fé que as leis de Newton continuem a governar a forma de uma bola viajar, e fé que o tempo passado na universidade de medicina compensa daqui a 20 anos, porque a sociedade nessa altura vai continuar a precisar de médicos".


De quem são estas frases?
a) Walter Kasper, o teólogo
b) Anselm Grun, o monge empresário
c) Seth Godin, o marketeiro
c) George Weigel, o jornalista papista


Resposta: Seth Godin, na página 76 de "Tribos" (ed. Lua de Papel).

segunda-feira, 26 de março de 2012

Ainda o Padre Marcelo, agora no "i"

 Ainda o P.e Marcelo Rossi. No jornal "i" de 10 de março.


O sombrero de Bento XVI



No "Diário de Notícias" de sábado. Porém, Bento XVI usou outro chapéu. Para todos os efeitos, a sua coleção de chapéus creche a bom ritmo. 


Humor de Deus

O humor é a atitude que deixa o homem ser humano e simplesmente humano, porque também só ele deixa Deus ser Deus, e transfere todas as outras pretensões para a absoluta dignidade e para o reconhecimento da sua risibilidade. "Aquele que está sentado nos céus, ri-se deles" (Sl 2,4).


Walter Kasper, Introdução à fé, pág.126.

domingo, 25 de março de 2012

Religião e fé, regras e ações

Se a religião tem a ver com as regras que seguimos, a fé demonstra-se através das nossas ações.


Não foi um teólogo que escreveu isto. Foi Seth Godin, que tem tem um blogue aqui. É um marketeiro muito apreciado.

Bento Domingues: O grande sermão desta Quaresma

Texto de Bento Domingues no "Público" de hoje. Sobre as propostas de Serge Latouche, ler aqui.

Preguiça e pontualidade

A preguiça da vontade é muito maior do que a dos ossos. Daí provém a arte universal do atraso. A pontualidade em decidir-se é uma virtude rara.


Carlos G. Vallés, Saber escolher, A.I., pág. 112

sábado, 24 de março de 2012

Os "mea culpa" de João Paulo II


Quando num comentário falei dos pedidos de perdão de João Paulo II, em nome da Igreja, que culminaram no grande pedido do Jubileu 2000, pareceu-me que falava de uma novidade, a julgar pelas respostas ao meu comentário.


Para que não haja dúvidas, aqui fica um livro de 1997 (1998 em Portugal), quando os pedidos de João Paulo II já iam em 94 sobre 21 questões. Evidentemente, em algumas das questões, das Cruzadas a Galileu, da Inquisição à relação com os ortodoxos e protestantes, houve intervenções diretas dos papas.

Lembro-me bem de que no final do milénio passado alguns sectores da Igreja não aceitaram bem estes pedidos – como hoje, pelos vistos. Não era possível pedir perdão pelos erros do passado sem pensar que alguns deles foram cometidos com o consentimento e mesmo com a liderança do papado. Isso só causa problemas a quem tem uma ideia errada da identidade da Igreja. João Paulo II pediu perdão para purificar a memória. A de alguns ficou tão purificada que se esqueceram desta história recente.

Curiosamente, ao reler o prefácio desta obra, também me lembrei de algumas coisas de que já tinha esquecido. Esta, por exemplo: Paulo VI também pediu perdão. E, antes dele, o último a confessar os pecados da Igreja foi Adriano VI (1522-1523), o último papa não italiano antes de João Paulo II. Entre Adriano VI e Paulo VI (do séc. XVI ao séc. XX) sabemos bem o que aconteceu e qual a eclesiologia dominante. Aconteceu Trento, por exemplo, e o Vaticano I, entre outras coisa boas e más. Em Trento e no Vaticano I a eclesiologia dominante foi a da Igreja como sociedade perfeita. Numa sociedade perfeita por definição como poderia ter lugar um pedido de perdão? Os perfeitos não erram.

Não há santidade sem pedagogia nem sem tolerância


Confesso que, para mim, essa santidade imperfeita da Igreja é um consolo infinito. Não deveríamos desesperar diante de uma santidade que fosse imacula­da e que só pudesse manifestar-se julgando-nos e queimando-nos? E quem po­derá afirmar que não precisa de ser apoiado e sustentado pelos outros? E como poderia alguém que vive da tolerância dos outros recusar o exercício da tolerân­cia da sua parte? Não será ela a única retribuição que ele tem para oferecer? Não será esse o único consolo que lhe resta: apoiar tal como ele próprio é apoiado? A santidade da Igreja começa com o apoio e leva à sustentação; quando já não há apoio, deixa de existir também a sustentação, e uma existência sem sustentá­culos só pode cair no vazio.

Joseph Ratzinger in "Introdução ao cristianismo"

Catalina Pestana: "Rezar" sobre o leite derramado

No "Sol" de ontem.

Agostinho lido por atores


Agostinho e o seu mestre, Ambrósio de Milão

O ator e encenador Júlio Martin lê hoje textos de Santo Agostinho, a partir das 16h, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Rua Camilo Castelo Branco, perto da rotunda do Marquês).  Com música de Rão Kyao. «Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!». Ler mais aqui.


Anselmo Borges: Fim do, de/um mundo

John Eric Thomson 


Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:

A final, já "se sabe" quando é o fim do mundo: no dia 21 de Dezembro deste 2012! Como se chegou a esta data fatal, cuja notícia invade muitos sítios da Rede?

O arqueólogo britânico Sir John Eric Thomson, um eminente mesoamericanista do século XX, mostrou as correlações entre um dos calendários maias e o nosso calendário. Segundo certos cálculos, a partir de um texto breve, descoberto nos anos 50 do século passado em Torturego, no México - quem quiser aprofundar a questão de modo breve e sério consulte o dossiê dedicado ao tema por "Le Monde des Religions", Nov.-Dez. de 2011 -, a contagem longa dos maias teria começado no dia 11 de Agosto de 3114 antes da nossa era e acabaria no solstício do Inverno do ano em curso, 21 de Dezembro de 2012.


Tanto bastou para que se desse, nos anos 80 do século passado, o começo de um movimento apocalíptico planetário, iniciado por José Argüelles, "maianista" americano convicto, isto é, partidário do maianismo, termo que designa as crenças New Age, apoiadas na mitologia maia. Em Le Facteur maya, publicado em 1987, afirmava que o dia 21 de Dezembro determinará uma transformação na consciência mundial bem como o início de uma nova era. Rapidamente percebeu que a aldeia global era um alvo ideal e o que é facto é que os sítios esotéricos e apocalípticos consagrados à "profecia maia" invadiram a Internet, e o cinema e a televisão associaram-se na difusão do rumor planetário desta catástrofe "profetizada" pelos maias e pretensamente confirmada por astrólogos e cientistas.


No entanto, se alguns incidem na angústia colectiva do fim do mundo, explorando uma certa depressão planetária, outros são menos alarmistas, informando que o que os maias sabiam é que o 21 de Dezembro será um "renascimento" e o "início de uma nova era mundial". "O fenómeno 2012 é totalmente indissociável da Web. É essencialmente por esse meio que se desenvolveu desse modo", explica Laure Gratias, jornalista e autora de La Grande Peur de 2012. "Em todos os sítios da Internet e em todas as obras consagradas a 2012, encontra-se esta afirmação categórica: as ideologias, as religiões e as filosofias mais diversas convergem no sentido de designarem 2012 como data do apocalipse".

É inevitável perguntar como é que se instala tanta crendice na mente das pessoas que aceitam como indubitável o fim do mundo no dia 21 de Dezembro próximo. Como diz Éric Taladoire, especialista das civilizações pré-colombianas, tentarmos repor a verdade sobre um falso fim do mundo é uma tarefa árdua, pois, por definição, "os que crêem nisso consideram-nos precisamente como mentirosos ou dissimuladores, participantes num vasto complô."

De facto, os maias não falavam tanto do fim do mundo como do fim de um mundo e da sua reciclagem, segundo um princípio de alternância e um movimento cíclico perpétuo: a vida acaba na morte e a morte dá lugar à vida, o termo de um ciclo é seguido de um renascimento. Os Livros de Chilam Balam não são a profecia delirante do fim do mundo, pois referem-se ao fim de um mundo, precisamente ao desabamento do seu mundo, no contexto da conquista feroz espanhola. Mas essa "catástrofe cultural e demográfica sem precedentes" não impediu um renascimento: os maias continuam vivos, mesmo se a sua cultura mudou.

É assim também no fim de um mundo que nos encontramos hoje. Vivemos num mundo aparentemente à deriva e sem controle e é como se caminhássemos inexoravelmente para o abismo. Como escreve É. Taladoire, "A nossa época atravessa uma crise de amplidão planetária. Ela manifesta-se em todos os domínios e é amplificada pela aceleração da informação: daí, a multiplicação dos rumores, das informações incontroláveis. A dúvida instala-se, dando lugar a teorias de maquinação. É neste terreno que prosperam os rumores apocalípticos, difundidos por gente sincera ou verdadeiros escroques. Os investigadores desenvolvem uma análise rigorosa, lógica, mas os 'crentes' refugiam-se no acto de fé. Os desmentidos científicos podem por vezes convencer os hesitantes, mas os partidários do complô só verão nisso a prova da amplidão das manipulações".

sexta-feira, 23 de março de 2012

Fé e religião

Desafiem a religião e as pessoas vão ficar a pensar que estão e pôr em causa a sua fé.


Seth Godin, "Tribos", Ed. Lua de Papel, pág. 78

Opinião sobre a liberdade de opinião

Na revista "Tabu" (jornal "Sol") de hoje. Uma opinião sobre o ter opiniões - que subscrevo.

Raridade de Evangelho no Vaticano I

D. António Couto, na apresentação do livro “Nova Evangelização”, de Rino Fisichella (no fundo, no fundo, diz que é fraquinho, já que o capítulo III, sobre “o contexto”, é “frágil”, e quanto ao capítulo IV, sobre a “centralidade de Jesus Cristo”, gostava o bispo de Lamego de o ver “tratado com mais ousadia e grandeza”), disse o seguinte:
Recordemos que, em termos de vocabulário, o Concílio I do Vaticano (1869-1870) usou uma única vez o termo «Evangelho», e nenhuma os termos «Evangelizar» e «Evangelização». O Concílio II do Vaticano (1962-1965), por sua vez, empregou o termo «Evangelho» por 157 vezes, «Evangelizar» por 18vezes, e «Evangelização» por 31 vezes.
Os meus amigos mais papistas saberão por que é que o Vaticano I fala tão pouco de Evangelho. Onde está a infalibilidade não há lugar para o Evangelho.

A causa dos incêndios


Gerard W. Hughes, padre jesuíta, conta em “Deus de Surpresas” (ed. AO) como o moralismo católico (também o haverá noutras fés e religiões) pode fazer mal às pessoas sensíveis e imaginativas, o que, além de trágico, é uma perversão do Evangelho. E relata:
Após ter escutado, de modo especial, uma pessoa que sofrera uma tortura interior devido a tais ensinamentos, não fiquei nada surpreendido quando, em resposta à minha pergunta «Se estivesse completamente livre de todas as obrigações morais, o que é que mais gostaria de poder fazer?», ela respondeu: “Incendiar Igrejas”.

quinta-feira, 22 de março de 2012

22 de março de 1312. Clemente V extingue os Templários




Foi há 700 anos que o Papa Clemente V extinguiu a Ordem dos Templários – que em Portugal daria origem à Ordem de Cristo. Note-se que o Papa extinguiu a ordem militar por meio de um decreto. Não a condenou. A data é recordada na Rádio Renascença (aqui).

Cardeal português dobrado perante um alemão

Vinha no "Inimigo Público" de 24 de fevereiro de 2012. Eu ri-me.

Para compreender a "nova evangelização"


A nova evangelização. Um desafio para sair da indiferença
Rino Fisichella
Paulus
176 páginas

No dia 29 de março de 2010 – estão quase a completar-se dois anos – o arcebispo Rino Fisichella foi convocado para uma audiência privada com Bento XVI. Ao contrário das outras vezes, D. Fisichella não foi avisado quanto ao assunto da reunião, o que lhe causou alguma intranquilidade, até pelos inevitáveis “rumores”, “desporto largamente praticado em alguns ambientes”, que muitas vezes se ouvem acerca de transferências, como relata no início deste livro.

D. Fisichella conta como foi o encontro com Bento XVI: “Nunca poderia ter pensado, ao sentar-me à frente de Bento XVI sorridente e contante, que ele textualmente me dissesse: «Andei a pensar muito nos últimos meses. Desejo instituir um dicastério para a nova evangelização e peço-lhe que aceite ser o presidente. Posso passar-lhe alguns apontamentos que tenho feito. O que é que pensa?» Estava muito surpreendido e apelas lhe disse: «Santo Padre, é um grande desafio». O colóquio continuou com uma troca de considerações sobre o assunto, até se esboçar a estrutura do novo dicastério. Saí da audiência muito contente. O temor que levava comigo transformara-se em entusiasmo” (pág. 6).

O autor acrescenta que, tendo andado nos últimos trinta anos a estudar, ensinar e escrever sobre como apresentar o cristianismo ao homem de hoje, sentiu o convite de Bento XVI como uma prova: “Andaste tantos anos a estudar, agora prova-me que não é só teoria”.

Este livro é uma leitura pessoal de como o presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização entende a “nova evangelização” e serve, no fundo, para preparar o sínodo dos bispos convocado para outubro de 2012. Como é sabido, o sínodo tem com tema de fundo precisamente a nova evangelização.

D. Rino Fisichella começa por dizer que prefere a expressão “nova evangelização” ao termo “reevangelização”. Fazendo uma breve história da expressão, popularizada por João Paulo II, termina o segundo capítulo apresentando o que pode ser uma definição: “Uma forma mediante a qual o Evangelho de sempre é anunciado com novo entusiasmo, novas linguagens e novas metodologias capazes de transmitir o sentido profundo que permanece inalterado”.

Nos capítulos seguintes, o arcebispo escreve sobre o contexto de secularismo, desorientação e crise no mundo ocidental em que a nova evangelização há de se posta em prática (cap. III), afirma a centralidade de Jesus Cristo no processo (IV), aponta os lugares da nova evangelização (a liturgia, a caridade, o ecumenismo, a imigração e a comunicação, cap. V), fala das perspetivas (o cenário da cultura, a nova antropologia e a missão da Igreja, cap. VI), dos novos evangelizadores (que são os de sempre: o clero, os consagrados e os leigos, cap. VII). Os dois últimos capítulos antes da síntese final do cap. X são dedicados à beleza e à arte (cap. VIII) e ao autêntico "ícone da nova evangelização" que é a Basílica da Sagrada Família, em Barcelona.

Consagrado pelo Papa no dia 17 de novembro de 2010, o templo, ainda em construção, sendo um “catecismo de pedra”, “provoca-nos para ir mais além”, “obriga ao sentido da transcendência”, “traça o percurso essencial para decifrar o enigma da nossa condição pessoa”. E isso também é nova evangelização.

Breve história da “nova evangelização”
1979 – No documento de Puebla (dos bispos da América Latina reunidos nesta cidade mexicana), afirma-se que há “mudanças socioculturais que exigem uma nova evangelização”.
1979 – João Paulo II, na segunda visita à Polónia, usa pela primeira vez a expressão.
1983 – João Paulo II, no Haiti, falando aos bispos da América Latina, convida-os a empenharem-se numa nova evangelização: “Nova no seu ardor, nos seus métodos e nas suas expressões”.
1990 – Na encíclica “Redemptoris missio”, João Paulo II afirma que é necessária uma nova evangelização “onde grupos inteiros de batizados perderam o sentido vivo da fé”.
2010 – É instituído no dia 21 de setembro o Conselho Pontifício para a Promoção da nova Evangelização.

Banco encerra conta do Vaticano

Notícia do "Correio da Manhã" de hoje. Realmente, é estranho uma conta ficar a zero todos os dias. Mas se alguém quisesse "lavar" dinheiro procederia desse modo? Em todo o caso, na generalidade, a Igreja, do Vaticano à mais pequena paróquia, nunca foi transparente ao lidar com o dinheiro. Este é que é o pecado original eclesial.

Deus criou vários povos e quis oferecer-lhes os mandamentos...

Deus criou vários povos e quis dar-lhes os mandamentos. Ofereceu-os aos egípcios, que perguntaram:
- E o que temos de fazer?
 - Adorar um único Deus.
- Então, não queremos.
Ofereceu-os aos persas, que perguntaram:
- O que preceituam esses mandamentos?
- Que não podem mentir.
- Então, não queremos.
Ofereceu-os aos árabes, que perguntaram:
- E o que implicam os mandamentos?
- Implicam que cada homem só se pode casar com uma única mulher.
- Então, não queremos.
- Por fim, Deus ofereceu-os aos judeus, que perguntaram:
- E quanto custa essa tábua com os mandamentos?
 - Não custa nada. É de graça.
- Então, dê-nos duas.

Infinito em nós


Existe um infinito presente em todos os nossos atos voluntários, e este infinito não o podemos conter por nós mesmos na nossa reflexão, nem reproduzi-lo com o nosso esforço humano.


Maurice Blondel citado por Rino Fisichella em "A Nova Evangelização", Paulus, pág. 159

quarta-feira, 21 de março de 2012

Sonhos para a Igreja católica



Excerto de uma entrevista a Dolores Aleixandre, que é religiosa do Sagrado Coração e pioneira dos estudos bíblicos e teológicos em Espanha.

¿También te duele la situación de la mujer en la Iglesia actual? 
Sí que me duele, pero, más que dolerme, estoy cansada. Tengo la impresión de que llevamos con el mismo discurso demasiado tiempo. Muy anclado, por una parte y por otra, en sus posturas. Hay un temor en la Conferencia Episcopal, como si cualquier mujer que defiende sus derechos estuviera reclamando la ordenación. Y no se trata de eso, sino de que el Evangelio empuja de abajo a arriba, porque habla de una comunidad circular en la que alguien tiene la presidencia, pero en la que todos somos hermanos y hermanas. Un día le pregunté al cardenal Rouco, en una conferencia en Santiago: "Don Antonio, si el matrimonio es indisoluble porque el Evangelio dice "lo que Dios ha unido, no lo separe el hombre", también dice el Evangelio: "No llaméis padre y madre, maestro ni señor, porque sólo hay un Padre". Y sin embargo tenemos la Iglesia llena de padres, abades y monseñores. ¿Es que es apócrifo este texto?
Me pregunto por qué tenemos tanto miedo al sueño circular y fraterno de Jesús y creo que tenemos mucha confusión entre autoridad y poder. 
¿Es el poder, al final, la gran tentación de toda institución, también de la eclesiástica? 
Pienso que sí y que forma parte de nuestro pecado original. 
¿Ves alguna salida a corto plazo? ¿Un Concilio, la decisión de un Papa por la igualdad, contra el escándalo de que la Iglesia sea prácticamente la única institución a nivel internacional donde no se admita la presencia de la mujer en igualdad de condiciones? 
Hay una novela que me ha gustado muchísimo y recomiendo: se llama Vaticano 2035. El autor, Pietro di Paoli, parece que es un pseudónimo, y hay quien piensa, por lo bien que conoce la Iglesia, que es alguien de la Curia. Es una novela llena de amor a la Iglesia pero haciendo propuestas diferentes. En ella, Benedicto XVI dimite al llegar a los 80 años y uno de los papas que le suceden es un viudo con dos hijas y ha sido premio Nobel de la paz por haberla conseguido entre israelíes y palestinos. Y lo primero que hace cuando accede al papado es nombrar cardenales a algunas mujeres: una teóloga feminista para la Congregación para la Doctrina de la Fe y una monja de la madre Teresa, que está en Calcuta de médico, para todo lo que es Caritas en la Iglesia . Mientras leía el libro, iba asintiendo internamente: "Son cosas normales". Y al acabarlo pensaba ¡pero si lo raro es lo otro! Raro es lo que ahora estamos viviendo.
Ler tudo aqui.

Padre Marcelo Rossi no "Sol"

Na revista "Tabu" do jornal "Sol" da sexta-feira passada. Quem diria que a teologia da libertação se uniu a Bento XVI para tramar o P.e Rossi? (Acho simpático o P.e Rossi. A Igreja precisa deste e doo outros, de todos os tipos).



Eles andam por aí, mas caladinhos


Ontem, uma notícia do “Público” ["Maçonaria e espiões na direcção do Obserbatório de Segurança", assinada por Maria José Oliveira] dizia que não havia qualquer referência na Internet e que poucos queriam falar do assunto. Qual assunto? As eleições que decorriam ontem para os órgãos sociais do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo.

Quem liderava a lista única? Rui Pereira, ex-ministro, ex-diretor dos Serviços de Informações de Segurança (SIS) e maçon. E sucedia a quem? A José Manuel Anes, também ele membro da maçonaria. Tudo em família? Pelo menos tudo muito secreto. Como haveria de haver publicidade? O treino agiliza a discrição.

Religião e verbo «ser», religião e criação



A religião poderia ser definida como uma resposta narrativa à interrogação: «Porque há alguma coisa em vez de nada?», como um esforço estruturado visando demonstrar que esta interrogação não poderá esquivar dentro dela a presença contraditória do verbo «ser».


George Steiner, Gramáticas da Criação, Relógio d'Água, pág. 28

terça-feira, 20 de março de 2012

D. Rowan Williams: Os cristãos têm de aprender a viver na democracia argumentativa

Rowan Williams é o de óculos

Por estes dias, tem sido amplamente divulgada a reforma de Rowan Williams da liderança da Comunhão Anglicana, no final de 2012  - algo que já se dizia há meio ano. O arcebispo de Cantuária deu uma entrevista em que faz um balanço da sua atividade, aponta as razões da renúncia, antevê o que poderá fazer nos noves meses que faltam e diz o que espera ao  retomar da carreira académica.


Numa resposta, em especial, nota-se a sensatez que caracteriza o arcebispo (apesar do mau português do texto), que é alguém que passei a apreciar principalmente após a leitura dos livros do dominicano Timothy Radcliffe. 
O senhor acha que o cristianismo está perdendo a batalha contra a secularização na Grã-Bretanha? 
Eu não acho que o cristianismo está perdendo a "batalha contra a secularização". Eu certamente não tenho essa impressão quando estou com as congregações, quando estou nas escolas da Igreja ou em muitos ambientes como esses – nem mesmo quando estou falando sobre essas coisas em um grupo muito misto, digamos, de estudantes do Ensino Médio. 
Eu acho que ainda há um grande interesse pela fé cristã e, embora eu ache que há também muita ignorância e um preconceito bastante simplista sobre as manifestações visíveis do cristianismo, o que às vezes obscurece a discussão, eu não acho que há, de alguma forma, um único grande argumento de que a Igreja está perdendo. 
Eu penso que as pessoas voltaram a debater, muito apropriadamente, com Richard Dawkins, com Philip Pullman, com Tony Grayling e outros – esse argumento continua de forma muito robusta. O que eu acho que obscurece levemente tudo isso é essa sensação de que há uma enorme quantidade de pessoas de uma certa geração, agora, que realmente não sabem como a religião funciona, e muito menos o cristianismo em particular. E isso leva a confusões e sensibilidades nas áreas erradas – você sabe, usar uma cruz ofende as pessoas que não têm fé ou são não cristãs? Eu não acho que ofende, mas as pessoas se preocupam que ofenderá, e isso, em parte, porque há uma leve surdez sobre como a crença religiosa funciona. 
Então, sim, há um desafio, e, sim, o papel público da Igreja é mais contestado do que costumava ser, e, sim, temos que conquistar o nosso direito de falar talvez mais do que antigamente. Mas isso provavelmente será bom para nós. Eu tenho dito algumas vezes que eu acho que deveríamos viver naquela que eu gosto de chamar de "democracia argumentativa", um pluralismo argumentativo. E, para o cristianismo, ser capaz de responder clara e energicamente nesse ambiente é extremamente importante. Eu espero que eu possa continuar contribuindo com essa discussão pública na nova função. 
Lido aqui.

Queridos feriados

No JN de hoje.


A dificuldade em eliminar feriados, civis ou religiosos (ao contrário do que se diz, que todos os feriados são civis, penso que só os religiosos têm realmente significado), deixa-me perplexo. Os portugueses, salvo duas ou três exceções, não querem trabalhar mais meia hora, não querem ganhar menos, não querem ter menos feriados, não querem perder privilégios, pensam que podem pagar dívidas sem dor, querem manter os mesmos padrões de consumo. 


E estão todos, agora, concentrados no aumento da produtividade. Tivemos o tempo todo para aumentá-la e não o fizemos. Mas agora toda a gente tem ideias estupendas para aumentar a produtividade e tudo continuar como antes. Ou seja, todos querem, salvo duas ou três exceções, que tudo continue como antes. A produtividade é uma questão de conversa. 

O esquecimento, esse inimigo

Esquecer, que é peculiar ao homem, torna-se dramático quando é posto em confronto com a fé. Já o antigo israelita era posto de sobreaviso para não se esquecer das obras do Senhor, sob pena de se desagregar da sua própria vida.


Rino Fisichella, "A Fé como resposta de sentido" (Paulinas), pág. 120.

segunda-feira, 19 de março de 2012

19 de março de 1882. Lançamento da primeira pedra da Sagrada Família de Barcelona

A primeira pedra da igreja da Sagrada Família, em Barcelona, foi posta no dia 19 de março de 1882, dia de S. José,  por Josep Maria Bocabella, sob orientação do arquiteto Francisco de Paula del Villar. Nesta altura, pretendia-se fazer uma igreja inspirada na do Loreto. Só no ano seguinte, a 18 de março, Antoni Gaudí começaria a trabalhar no projeto, alterando-o radicalmente para o que conhecemos hoje.

Decrescimento contra a religião do crescimento

No "Público" de hoje vem uma entrevista a Serge Latouche, economista francês que tem vindo a defender o decrescimento económico, que consiste em trabalhar menos, produzir menos, gastar menos e ter o mesmo nível de vida. Parece-me salutar.


Diz o professor da Universidade de Paris XI a certa altura:
O decrescimento é um slogan que fomos forçados a utilizar para romper com o "ramerrão" do discurso desenvolvimentista, que fala em crescimento, crescimento, crescimento e que nos conduzirá a uma catástrofe. Claro que é uma palavra provocadora, polémica... e até blasfema, porque temos uma relação quase religiosa com o crescimento. Podemos mesmo falar de uma religião, um culto do crescimento. Falar de decrescimento cria um efeito de estupefação. Decrescer por decrescer seria absurdo. Mas crescer por crescer é absurdo e ninguém se dá conta disso, porque estamos envolvidos nessa religião.
Aqui encontra-se uma entrevista on line ao professor francês. E aqui um caderno em PDF em que o próprio expõe as suas ideias. Mais estimulante do que simplesmente dizer mais do capitalismo.


Leonardo Boff, no seu blogue, por estes dias, propões algo em consonância:

Há uma ética subjacente à cultura produtivista e consumista (…), a da maximização de tudo o que fazemos: maximizar a construção de fábricas, de estradas, de carros, de combustíveis, de computadores, de celulares; maximizar programas de entretenimento, novelas, cursos, reciclagens, produção intelectual e científica. A roda da produção não pode parar, caso contrário ocorre um colapso no consumo e nos empregos. No fundo, é sempre mais do mesmo e sem o sentido dos limites suportáveis pela natureza. 
(…) Devemos caminhar na direção de uma ética diferente, a da otimização. Ela se funda numa concepção sistêmica da natureza e da vida. Todos os sistemas vivos procuram otimizar as relações que sustentam a vida. O sistema busca um equilíbrio dinâmico, aproveitando todos os ingredientes da natureza, sem produzir lixo, otimizando a qualidade e inserindo a todos. Na esfera humana, esta otimização pressupõe o sentido de auto-limitação e a busca da justa medida. A base material sóbria e decente possibilita o desenvolvimento de algo não material que são os bens do espírito, como a solidariedade para com os mais vulneráveis, a compaixão, o amor que desfaz os mecanismos de agressividade, supera os preceitos e não permite que as diferenças sejam tratadas como desigualdades. 
Talvez a crise atual do capital material, sempre limitado, nos enseje viver a partir do capital humano e espiritual, sempre ilimitado e aberto a novas expressões. Ele nos possibilita ter experiências espirituais de celebração do mistério da existência e de gratidão pelo nosso lugar no conjunto dos seres. Com isso maximizamos nossas potencialidades latentes, aquelas que guardam o segredo da plenitude, tão ansiada.
Ler tudo aqui.

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...