terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Nós, os judeus, isto é, os únicos europeus



Todos os membros da minha família – de parte paterna e de parte materna – eram europeus devotos. Na verdade, eram grandes amantes da Europa. Conheciam os idiomas, as histórias, as culturas de cada país, estavam incondicionalmente afeiçoados à Europa. Infelizmente, nos anos 20 e 30, sucedeu que os Judeus, como os meus pais e a minha família, eram os únicos europeus da Europa. Todos os outros eram pangermanistas ou pan-eslavistas ou talvez apenas algum patriota português. O meu pai costumava dizer-me na brincadeira que na Checoslováquia havia três nacionalidades: Checos, Eslovacos e Checoslovacos, que somos nós, os Judeus. Na Jugoslávia, havia nove nacionalidades: Sérvios, Croatas, Montenegrinos, etc., e os Jugoslavos, que somos nós, os Judeus. E, naturalmente, na Grã-Bretanha, há os Ingleses, os Galeses, os Escoceses e os Britânicos, que, de novo, somos nós. Mas, entretanto, o amor pela Europa transformou-se em amor não correspondido. Se tinham sorte, eram expulsos a pontapé, caso contrário, não abandonavam a Europa com vida.

Amos Oz, Contra o Fanatismo, p. 69-70

Guy Fawkes recordado no "Público"



No "Público" de hoje. Sobre o católico Guy Fawkes e movimento Occupy,ler aqui.

Queriam um doodle para D. Bosco mas atravessou-se-lhes Cabeça de Vaca

Hoje é dia de João Bosco, que morreu no dia 31 de janeiro de 1888. Fundador dos Salesianos, Giovanni Bosco, “pai e mestre da juventude”, como o apodou João Paulo II, foi um grande pedagogo juvenil na cidade de Turim, em plena efervescência industrial.

Por ser dia de uma das pessoas que mais fez pela juventude nos tempos modernos, os salesianos da América Latina tentaram que a Google criasse um doodle (versão modificada do logo do motor de busca) inspirado em D. Bosco (li aqui). Não seria este, com certeza. Mas seria uma boa forma de chamar a atenção para a pessoa do santo italiano.


Os senhores Larry Page e Sergey Brin, no entanto, não foram em conversas. Aliás, parece até que brincaram com a situação, recordando outros feitos nos dois maiores países da América Latina.


No Brasil, o Google recorda que neste dia de 1542 o espanhol Cabeça de Vaca descobriu as Cataratas do Iguaçu.


Na Argentina, o Google recorda o 104.º aniversário do músico Atahualpa Yupanqui. Nas restantes países (vi no México, Chile, Venezuela e Colômbia) o doodle do Google é o mesmo de sempre.

Curiosidade e liberdade intelectual

Guilherme Valente

A maior dificuldade para uma editora como a nossa é a morte da escola, o domínio do analfabetismo e do iletrismo, a perda do desejo de saber, da curiosidade e da liberdade intelectual. Por isso é tão relevante publicar livros que façam leitores. Para acompanharmos um espírito livre em permanente inquietação e indagação intelectual — esse é um intelectual! — e, já agora, para nos apercebermos da miséria da nossa realidade intelectual dominante de hoje, leiam-se as cartas de António José Saraiva para Luísa Dacosta, um livro que acabámos de publicar, de que os especialistas em livros não irão falar, claro. Um bálsamo para quem o ler.


Entrevista a Guilherme Valente, editor da Gradiva, sobre a atividade da edição, reproduzida no Rerum Natura. Não muito longe das preocupações de Bento Domingues no domingo passado.

Como lidar com uma vaga cultural? - João César das Neves responde



Como lidar com uma vaga cultural? Esbracejar face à onda é tolice e fugir cobardia. Devem evitar-se a atitude apática e facilitista, que escamoteia a gravidade do tema em nome da paz podre, e o fanatismo intolerante, que transforma essa gravidade em agressão. Nestas discussões vitais existem três exigências básicas. Primeiro ter ideias claras e opiniões firmes, ao nível da importância do assunto, com argumentos sólidos e elaborados para as suportar. Depois respeitar sempre os opositores, por mais chocantes que sejam as suas posições, procurando um diálogo sereno e profundo. Acima de tudo, deve reinar a certeza que no fim a verdade triunfará.


João César das Neves no DN de ontem (aqui).

Providência



Providência é o Verbo de Deus que se cumpre a si próprio e dá forma à substância que constitui este mundo.

Santo Antão citado por Cristina Campo na pág, 227 de "Os imperdoáveis"

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Uma bela frase de Agostinho


Li num blogue e até me admirei que não estivesse em latim:
Fora da Igreja é possível tudo, exceto a salvação. É possível ter honras, é possível ter sacramentos, é possível cantar aleluias, é possível responder «amen», é possível possuir o Evangelho, é possível ter fé no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e pregar; mas em nenhum lugar, senão na Igreja Católica, é possível encontrar a salvação. (Santo Agostinho Doutor da Igreja, Epístola 53,1).
Mas isto foi escrito no séc. V. Pensaria o autor do blogue que "Igreja Católica" se refere à Igreja Católica atual? É que os protestantes também se sentem herdeiros da Igreja Católica de Agostinho de Hipona.

O trecho é bonito. Mas o "fora da Igreja não há salvação" é uma charada. É preciso distinguir o que é "fora", o que é "Igreja" e o que é "salvação". As variáveis são tantas que é melhor não ter certezas.

Como é que é verdade aquilo que a Igreja confessa ser verdade?



No texto de Bento Domingues de ontem, no número 2, ficou expressa uma preocupação sobre o atual panorama teológico na igreja católica. Sublinho:
(…) A partir dos anos 80, começou um eclipse da liberdade teológica que está a levar demasiado tempo a passar. Às interrogações sucedeu o clima das certezas cegas a propor e a defender. As ciências e as filosofias passaram a ser muito evocadas nos slogans da relação entre fé e cultura e razão e fé, mas a sua prática desertou, em muitos casos, dos cursos de Teologia. Tende-se a privilegiar um positivismo bíblico-patrístico com pinceladas literárias e espiritualistas, a que falta o foco da razão e os dinamismos do Espírito.
Lembrou mais à frente que Tomás de Aquino descartou os argumentos de autoridade que “apenas documentam a fé, mas não explicam como é que é verdade aquilo que a Igreja confessa ser verdade”.

Esta última frase é pertinente, por exemplo, para aqueles que se apoiam em argumentos de autoridade para dizer que não se pode ordenar mulheres. “João Paulo II declarou que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres”, logo…

Falta muito disto na comunidade católica: como é que é verdade aquilo que a Igreja confessa ser verdade?

Bispo confrade dos rojões

No JN de hoje. É curioso que por todo o lado surjam confrarias gastronómicas. Da broa, das migas, do bacalhau, dos rojões, da chanfana, do vinho desta e daquela região. E as confrarias implicam ritos e fardas. Pensava eu que os homens e as mulheres seriam cada vez mais alheios a este tipo de coisas.


Agora parece que  D. Manuel Clemente vai ser confrade dos rojões. Vai ter que comer e, provavelmente, vestir o gabão ou lá o que é e pôr um secular e ridículo chapéu. O que um bispo tem de sofrer.

Como Jesus comunicava

Como mestre, Jesus é eloquente, mas sucinto; raramente usa duas palavras quando lhe basta uma. As ideias e a intensidade das mesmas, que comunica com a sua catequese e as suas parábolas, são de uma extraordinária economia de palavras, sem contudo darem a impressão de ser abruptas ou breves; o estilo é invariavelmente descontraído, os pormenores são os necessários. Mas os silêncios também são uma componente essencial do seu ministério.

Paul Jonhson, "Jesus" (Alêtheia), pág. 98.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Clemente XIV no conclave e as influências



Durante o conclave que elegeria Clemente XIV (Papa de 1769 a 1774; pontificado em que os jesuítas foram extintos - por uns tempos), quatro cardeais abordaram o futuro Papa dizendo que, para o bem da Igreja, deveria ser ele o eleito.

Giovanni Vincenzo Antonio Ganganelli, que era franciscano, olhou-os com ironia e, sacudindo a cabeça, disse-lhes: “Se vieram aqui para me subornar, são demasiados. Se vos anima uma intenção realmente séria, são muito poucos”.

Amos Oz e o gene comum do fanatismo



Dizem que Jerusalém tem um estranho poder sobre quem a visita. Um pouco como Florença em relação à arte, com a síndrome de Stendhal. Amos Oz descreve num magnífico ensaio - “Contra o Fanatismo” - como é a reconhecida doença mental chamada “síndrome de Jerusalém”: “Uma pessoa chega, inala o ar puro e maravilhoso da montanha e, de repente, inflama-se e pega fogo a uma mesquita, a uma igreja ou a uma sinagoga. Ou então, tira a roupa, sobe a um rochedo e começa a fazer profecias. Já ninguém escuta”.

Reli o ensaio de Oz porque há dias o suplemento “Q” (DN de 21 de janeiro de 2012) dizia que, “ainda hoje, são internados no asilo da cidade cem paciente por ano sofrendo de síndrome de Jesusalém, uma demênca devido à «excitação religiosa provocada pela proximidade dos locais religiosos» da cidade”.

A releitura foi elucidativa a outro título. Abordando o fanatismo político e religioso da questão Isreal-Palestina, deixa uma dicas úteis para construir desas contra o “gene fanático que todos temos dentro de nós”: “sentido de humor, a capacidade de imaginar o outro, e capacidade de reconhecer a capacidade peninsular que existe em cada um de nós”.

Estes itens mereceriam ser mais explicados. Imagino que, na Igreja, muita da intolerância, algum do fanatismo e um certo anquilosamento teológico resultam precisamente da falta humor e da incapacidade de imaginar o outro.

Bento Domingues: Regressam as interrogações fundamentais

Texto de Bento Domingues no "Público" deste domingo, 29 de janeiro. Um elogio a Anselmo Borges.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Francisco de Sales, pacífico até ver



O dia 24 de janeiro foi dia de Francisco de Sales (1567-1622), o prolífico bispo de Genebra que é patrono dos jornalistas e escritores cristãos. Nesse dia o Papa deu a conhecer a mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais 2012 (este ano a 20 de maio), “Silêncio e palavra: caminho de evangelização”. Pode ser lida aqui.
Na cidade reformada de Genebra, um dia Francisco de Sales viu a sua mansidão ser confrontada por um pastor protestante: 
- Se recebesse uma bofetada, o que faria?
O bispo respondeu: 
- Sei perfeitamente o que deveria fazer, mas não sei se o faria.

Falar ao coração

Para falar ao vento bastam as palavras, para falar ao coração são necessárias obras.

Padre António Vieira

Anselmo Borges: A espada de Dâmocles


"A espada de Dâmocles" de Feliz Auvray (1800-33)

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje.

1. Esta - a da espada de Dâmocles - é uma estória sábia. Cícero também se lhe referiu nas Tusculanae Disputationes.
Conta-se que Dionísio, tirano de Siracusa, que vivia num luxuoso palácio, com o poder todo e servos às ordens para tudo, tinha um amigo invejoso e bajulador. Que sorte a tua!, repetia-lhe.
O rei, cansado de o ouvir, propôs-lhe que o substituísse por um dia. E Dâmocles viu-se com uma coroa de ouro na cabeça e, cercado de honras, de luxo e de prazeres, julgou-se o homem mais feliz do mundo. Sentado à mesa, onde se servia um banquete lauto, com vinhos raros, perfumes e música, inebriado, levantou os olhos. E o que viu? Uma enorme espada flamejante, afiada e pontiaguda, presa ao tecto apenas por um fio, que pendia sobre a sua cabeça. Aterrado, todo o entusiasmo se esvaiu e o rosto empalideceu. Era essa espada pendente que Dionísio via todos os dias, na ameaça constante de algo ou alguém cortar o fio.
Não é sob a espada de Dâmocles que nos encontramos todos? Nós, os portugueses; nós, os europeus; nós, os habitantes do planeta - sete mil milhões?

2. Estamos num cotovelo da História: até aqui chegámos, e, agora, o que se segue? Pela primeira vez, vivemos verdadeiramente num mundo globalizado, cujo centro se desloca para o Oriente. E quem manda? Quem vai deter o poder?
De qualquer modo, é como se a Humanidade tivesse perdido o controle. "De facto", escreve Frédéric Lenoir, da École des Hautes Études en Sciences Sociales, "já nenhuma instituição, nenhum Estado parece à altura de pôr freio à corrida no sentido do desconhecido - e talvez do abismo - para a qual nos precipitam a ideologia consumista e a mundialização sob a égide do capitalismo ultraliberal: acentuação dramática das desigualdades; catástrofes ecológicas que ameaçam o conjunto do planeta; especulação financeira descontrolada que fragiliza a economia mundial tornada global. Depois, há as transformações dos nossos modos de vida que fizeram do homem ocidental um desenraizado amnésico, mas igualmente incapaz de se projectar no futuro. Não há dúvida de que os nossos modos de vida mudaram mais durante o século passado do que durante os três ou quatro milénios anteriores."
Quando se está atento, percebe-se que, para encontrar algo de semelhante à revolução por que passamos, será necessário recuar até ao neolítico (uns 10. 000 anos antes da nossa era), quando se deu a sedentarização e os homens se dedicaram à agricultura e à criação de animais, ou até à primeira revolução industrial. Face aos novos desafios e à crise ampla e profunda, com catástrofes ecológicas, económicas e sociais que se anunciam, precisamos daquele "suplemento de alma" de que falou Bergson e que pode levar à "chance de um sobressalto, de uma renovação humanista e espiritual, mediante um acordar da consciência e um sentido mais agudo da responsabilidade individual e colectiva".

3. Seja como for, a História não está pré-escrita em lado nenhum. Só para dar um exemplo: quando se deu a queda do muro de Berlim, quantos não pensaram que estava iminente a chegada da paz perpétua? No entanto, é num mundo dramaticamente perigoso que nos encontramos. A própria democracia não é uma conquista definitivamente adquirida.
Mesmo entre nós, o recente primeiro grande estudo sobre a percepção da democracia não dá como consolidado o sistema democrático: só 56% dos portugueses dizem acreditar que o melhor sistema é a democracia e 15% vão declarando que, nalgumas circunstâncias, um governo autoritário é preferível a um sistema democrático.
E se, após tanta austeridade inevitável e a que ainda vai chegar, o país não arrancar para o crescimento económico e se acabarmos por ter de sair do euro e se se entrar em convulsões sociais e se for preciso um Governo de salvação nacional, a que reserva moral e institucional recorrer?
Aí está mais uma razão para considerar as recentes declarações do Presidente da República, que diz não ganhar para as suas despesas, desgraçadas e injustificáveis.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Jesus, o bom, e Cristo, o patife

No "Público" de hoje ("Ípsilon"). Sobre este autor e o seu livro, ler mais aqui.

Cardeal Martini escreveu um livro sobre o que é ser bispo

O cardeal Carlo Maria Martini escreveu um livrinho (92 páginas, Ed. Rosenberg & Sellier) intitulado “Il vescovo”, (“O Bispo”). O “Correio da Tarde” transalpino publicou um excerto que pode ser lido aqui em português.


É responsabilizante que todos os católicos pensem nos seus bispos, já que não há Igreja católica sem bispos. É isso que é ser apostólica. A editora, de Turim, com obras como esta, quer “curar palavras” doentes para que voltem ao seu significado mais pleno. “Bispo” é uma delas.

No excerto lido há dias, três assuntos ficaram a pulsar ma minha mente e por isso trago-os hoje para aqui.

1. A pergunta de Montini (Paulo VI) que toda a Igreja, em todos os níveis, tem constantemente de fazer.
O arcebispo Montini, que ocupou a cátedra de Santo Ambrósio por mais de oito anos e depois se tornou o Papa Paulo VI, constantemente se fazia a pergunta: "O que o homem moderno pensará ou entenderá do que eu digo?" Importava muito a impressão que o seu discurso e a sua ação podiam criar sobre os não crentes e os não praticantes. 
2. A ressalva de Martini: Freiras e pessoas “da paróquia” não, por favor.
Pessoalmente, em Milão, eu instituí a Cátedra dos Não Crentes, com a qual eu entendia que também poderia pôr em cátedra os não crentes e aprender a escutá-los, mesmo que com uma escuta crítica. Uma das coisas as quais eu estava mais atento era que não se fizesse apenas uma lição acadêmica, mas que o relator soubesse escutar dentro de si as palavras que um rabino disse a alguém que o assediava com argumentos contra a existência de Deus: "Mas talvez seja verdade". 
É claro que a Cátedra dos Não Crentes pressupõe um ouvinte atento e qualificado, que exerça um juízo crítico sadio. O bispo julgará se se sente apto a propor um tal exercício um pouco "inquietante". Também por isso eu pedia que as irmãs, assim como as pessoas chamadas "da paróquia", não fossem.
3. A ilicitude de renunciar à arte e a dificuldade de pagar aos sacristães
Entre as acusações mais frequentemente dirigidas contra a Igreja há aquela de ser rica ou pelo menos ávida por dinheiro. As pessoas logo se dão conta se um padre é apegado ao dinheiro. Infelizmente, na Itália, a Igreja possui muitas obras de arte, igrejas e palácios importantes, embora, todos os dias, ela custe a encontrar o dinheiro necessário para pagar os seus colaboradores leigos, por exemplo os sacristães. Vendendo algumas dessas obras, se poderia obter muito dinheiro. Mas nós somos considerados como conservadores e responsáveis por todo esse tesouro: portanto, não é lícito renunciar a eles.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Espera

Disse Gilbert Cesbron (1913-1979), escritor francês de quem nunca tinha ouvido falar:

É-nos possível viver sozinhos, desde que seja à espera de alguém.

Aplico a frase à humanidade e mesmo à Igreja e vejo que faz sentido neste tempo de presença/ausência.

Bento XVI governa a meio gás?



Marco Politi, que tem em português pelo menos um livro, “Adeus a Wojtyla” (Gráfica de Coimbra) escreveu uma obra crítica para Bento XVI (há tempos aqui referido). Diz que o Papa governa a meio gás porque está demasiado interessado nos seus livros.
Sabendo que não se pode ao mesmo tempo ser líder religioso-político e ficar concentrado em problemas teóricos tão importantes como o de explicar Jesus Cristo ao homem contemporâneo. Isso significa que a mente do papa, em algumas partes do dia, está concentrada em sua atividade de estudioso. Um jornalista também sabe que é difícil ser cronista e também escrever um livro. Imagine um papa.
O Papa está isolado:
Não só já não vê frequentemente os núncios – somente no início e no fim de suas missões: ele também não vê, um a um, os bispos em visita ad limina. Vê apenas as delegações, mas não fala com cada um. Falta-lhe muita informação sobre o que acontece no chão da Igreja. E isso o fecha em uma espécie de torre de marfim, em que predominam os problemas teóricos sobre a capacidade de enfrentar as questões concretas de modo inovador.
E a Igreja está numa tripla crise:
Vaticano e a Igreja estão atravessando uma crise tripla: de visão geopolítica – o Vaticano perdeu muito peso na cena internacional –, de relações ecumênicas. Há uma paralisia em todas as direções. Com os protestantes, o papa vai à Alemanha, faz um belo discurso sobre Lutero, mas depois não há novidades. Com os anglicanos, está tudo parado. O mesmo também acontece com os ortodoxos, que estão próximos e, no entanto, não houve progressos significativos. E há uma terceira crise interna: continua a grande falta de sacerdotes, razão pela qual muitas paróquias no primeiro mundo não têm pároco. E houve uma forte queda na presença das mulheres nas congregações femininas. Entre 2004 e 2009, perderam-se 40 mil freiras, o que significa um enfraquecimento da infantaria da Igreja.
Há então algum aspeto positivo neste pontificado? Politi responde o seguinte:
Conta muito a imagem de sobriedade que esse pontífice dá e, sobretudo, a sua pregação de um cristianismo simples, que não deve ser considerado como um pacote de proibições, mas sim como uma verdadeira identificação com a mensagem de Cristo e, portanto, ter uma fé consciente, mas também fortemente caracterizada pela solidariedade com o próximo e com o gênero humano. Frequentemente, há estereótipos sobre Ratzinger como o cardeal panzer. Mas, visto de perto, ele é uma personalidade muito calorosa, muito sensível, também com senso de humor. Ele acredita verdadeiramente que no mundo moderno o importante é um cristianismo testemunhado com simplicidade e convicção. Essa é uma grande mensagem. Ainda desde a sua primeira encíclica, ele enviou a mensagem de que o cristianismo, em seu núcleo, é uma religião de amor, justamente em uma fase em que há muito fundamentalismo religioso.
Os negritos são meus. Parece-me que o diagnóstico faz sentido. Ler tudo aqui.

José Luis Cortés conta o Concílio

O Hermano Cortés tem vindo a fazer uns "dibujos" sobre o II Concílio do Vaticano, de que se comemoram 50 anos do seu início neste 2012.


É curioso que só fala do concílio quem acha que a Igreja tem muito a caminhar e a mudar para ser mais Igreja. Digamos que o concílio soube a pouco, mas melhor isso do que nada. O Concílio é um "pelo menos".


Para alguns, pelo silêncio e omissão, ou, quando muito, pela "hermenêutica da continuidade", o Concílio foi a maior desgraça do catolicismo do séc. XX. O Concílio é um "apesar de".


Ver mais desenhos aqui.



Como alcançar a felicidade – II


Carlos Vallés sentiu que o seu caminho para a felicidade ficou a descoberto com a objeção do ouvinte. Defendeu, por isso, que se havia quatro pilares para a felicidade (a liberdade, o trabalho, os afetos e a fé), haveria que apontar mais quatro pilares para cada um dos primeiros – e assim sucessivamente “numa interminável torre de Babel”.

O pessoal da conferência rio e, diz Vallés, “o riso final contribuiu mais para a alegria de todos os presentes do que o discurso que o precedeu”.

Conclusão: “Menos teoria e mais alegria. Praticar a alegria é a melhor maneira de pregar a alegria. Sentir a alegria é comunicá-la”.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Como alcançar a felicidade



Carlos Vallés conta num dos seus livros que um dia deu uma conferência sobre como alcançar a felicidade. Falou dos quatro pilares da felicidade: 1) Liberdade interior; 2) Satisfação afetiva; 3) Gosto pelo trabalho; 4 ) Energia da fé.

No diálogo que se seguiu, um ouvinte levantou a mão e interrogou o jesuíta: “Você disse que a felicidade consegue-se com a liberdade interior, a satisfação afetiva, o gosto pelo trabalho e a energia da fé. Poderia agora dizer-me como se conseguem a liberdade interior, a satisfação afetiva, o gosto pelo trabalho e a energia da fé?”

Milão e Roma, duas polaridades na Igreja Católica

Mons. Montini (Paulo VI)

Num texto sobre Paulo VI, no “Il Sole 24 Ore”, diz-se que há um dualismo na Itália, entre Milão e Roma, que é também religioso e perpassa pela comunidade dos católicos. A Milão católica e a Roma pontifícia. “Um dualismo reconhecível subterraneamente”. É curioso que o autor usa o termo “polaridade”. No texto de T. Radcliffe a partir do qual fiz o esquema dos católicos do Reino e da Comunhão (aqui), falava-se em "tensões" e “polarizações” (termo que não usei no resumo).

Milão e a polaridade ambrosiana
Catolicismo mais social
Mais secular
Mais dialogante

Roma e a polaridade romana
Catolicismo mais temporal
Mais burocrático
Mais intransigente
Papal e curial por definição
Jesuítico e antimoderno

Mas o texto é mesmo é sobre Paulo VI, acerca do qual saiu um livro, “Mons. Montini”. Aqui.

O dever de ajudar a compreender

Claude Dagens, bispo de Angoulême, num artigo sobre as razões cristãs para fazer teologia ("Communio" n.º 3 de 2009), cita de Jean-Luc Marion um trecho interessantíssimo sobre a presença cristã na sociedade e os dinamismos internos das igrejas:
O bem comum exige que proponhamos a todos o que a Revelação nos deu - e deu a compreender. A inteligência torna-se hoje um dever de caridade. A luz que dizemos ter recebido - em vasos de argila, mas recebêmo-la - cabe-nos a nós, e não a outros, transmiti-la. Quando uma igreja, numa nação, morre, não é nunca em razão primeiramente dos seus adversários, mas dos seus membros que perdem a coragem e a fé, portanto, a inteligência.

Capela perto de Davos


Capela da aldeia de Jenisberg, perto da instância de Davos. Pode ser que algum líder mundial entre ali, já que nesta altura está em curso o Fórum de Davos. Começa hoje. Foto de Arno Balzarini / AP / SIPA.

Reflexão

Diz Bergson e tento pensar nisso como ele sugere:

Reflete como um homem de ação, age como um homem de reflexão.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Ordenar mulheres é uma questão biológica?

O arcebispo metropolitano de Tarragona, Jaume Pujol, diz que as mulheres não podem presidir à Eucaristia tal como ele não pode ter filhos. O que ele disse mesmo a um programa da TV3 foi: “Uma mulher não pode oficiar porque cada um tem a uma função. Eu também não posso assumir algumas funções das mulheres. Não posso trazer filhos ao mundo”. Li aqui.

Ficamos assim a saber que a presidência da Eucaristia é uma coisa biológica. Ou será cultural, na medida em que muitos dos papéis homem / mulher são dessa base? Quando ouço opiniões destas, mais compreendo as feministas radicais.

Mas não me admiro por o Sr. Bispo falar assim, pois ainda há pouco, uns anos, discutindo com alguém sobre o significado da Encarnação de Jesus, ouvi uma opinião do mesmo teor. Basicamente, defendia eu que aí estava em causa a humanidade de Deus, Deus tornar-se humano em Jesus. O meu interlocutor, credenciado, defendia que não, que o que acontece na Encarnação é Deus tornar-se homem em Jesus. Macho.

Eu até compreendi que procurava realçar o facto de Jesus ser homem, circuncidado, tal como Jesus escolheu pão para a Eucaristia e não, por exemplo, batata ou tâmaras. Mas que valor teológico tem a masculinidade em si de Jesus? Se tiver algum, reconheço, ou mudo de opinião ou mudo de religião.

O desejo de Merton



Creio que te agrada o meu desejo de te agradar.
Espero ter este desejo no coração em tudo o que faço
e nunca, no futuro, fazer nada sem este desejo.


Thomas Merton (1915-1968)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Anjinhos por detrás do padre gestor que é economista-chefe (Gestão 3)

  

Há pouco copiei para cá a capa do "Dinheiro Vivo". Olhando melhor para a capa, intrigou-me, no fundo, a imagens dos "anjinhos de Rafael", provavelmente os anjinhos mais conhecidos do mundo. Como por vezes ignoramos a origem das coisas mais comuns, procurei o quadro original dos anjinhos.


Foi pintado por Rafael, para estar junto ao túmulo do Júlio II, que era sobrinho de Sisto IV. O quadro é conhecido por "Madona sistina" e está atualmente no Museu de Dresden, Alemanha. Pintado por volta de 1514, mede 2,65 por 1,96 metros.


Dificilmente haverá pormenor da história da arte que revele mais o ser humano do que este. Os dois olham para outra criança, de quem se diz que é o salvador do mundo, e não conseguem evitar um certo ar de tédio.

Padre-gestor no Dinheiro Vivo (Gestão 2)

O suplemento "Dinheiro Vivo" (do DN e JN; no DN, juntamente com o suplemento "Q" e os textos de Anselmo Borges, é um excelente motivo para comprar o DN aos sábados, por meros 1,5 euros; ainda não percebi bem os que, sem assinatura digital, dizem que leem tudo on-line. Perdem muito) entrevistou o P.e Lino Maia.



Moisés, o gestor, e Jetro, o consultor (Gestão 1)


Aprende-se muita religião e Bíblia com os livros de gestão. E o contrário: aprende-se gestão com a Bíblia.
Diz-se que a primeira metade da viagem do êxodo dos hebreus do Egipto para Israel demorou cerca de 35 anos. Então Moisés aconselhou-se com Jetro, sogro dele e talvez o primeiro consultor de gestão do mundo, acerca do modo de reorganizar os israelitas. E seguiu as suas recomendações. A Bíblia reconta a descoberta que Moisés fez de um organograma: "Escolheu em Israel homens capazes e colocou-os como chefes do povo: chefes de mil, de cem, de cinquenta e e dez" (Ex 18,15). A segunda metade da viagem demorou cinco anos.
Lido em "Capitalismo Karaoke. Gestão para a humanidade", de Jonas Ridderstrale e Kjell A. Nordstrom (autores na foto em cima, mas não sei qual é qual), Ed. Público, p. 141.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Oração de Kepler



Kepler, que fazia astrologia para poder dedicar-se à astronomia, escreveu:


"Depois de ter falado das obras do Criador, nada mais me resta senão desviar os meus olhos e as minhas mãos do quadro das demonstrações, para os elevar em direcção ao céu, para dirigir a minha humilde oração ao Autor de toda a luz".

Bento Domingues: Que fazer para vencer a crise?

Bento Domingues no "Púbico" deste domingo, 22 de janeiro de 2012.

Joseph Moingt: "Ficai" na Igreja, apesar de tudo



Joseph Moingt, 96 anos, jesuíta, escreveu o livro “Croire quand même” (algo como “Acreditar apesar de tudo”, já aqui referido) e diz que a Igreja ainda é o melhorzinho lugar para se estar. Por isso, se Hessel diz “Indignai-vos”, Moingt afirma: “Ficai”.


O livro tem merecido amplo debate em França e levou muitas pessoas a agradecerem a este teólogo que foi aluno de Henri de Lubac e de quem o espanhol Olegario González de Cardedal (este recentemente homenageado pelo Papa) diz que é dos poucos cuja obra, na actualidade, oferece uma visão sistemática da teologia (quem são os outros? Em breve neste blogue).


Há dias surgiu um artigo no “La Croix” sobre Moingt. Ler aqui. Copio um bocadinho:
Para Joseph Moingt, não é se concentrando na instituição eclesial que se poderá realizar uma reforma radical do catolicismo, mas sim voltando ao Evangelho. "Há a urgência de repensar toda a fé cristã para dizer 'Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem' na linguagem de hoje e em continuidade com a Tradição", repete, baseando-se na sua imensa cultura teológica e bíblica para confirmar que a Igreja não poderá mais seguir em frente com respostas dogmáticas e que é preciso que, dentro dela, os teólogos "façam coisas novas sem ser serem ameaçados de excomunhão". Quanto a ele, a sua prudência nunca foi motivada pelo medo de uma sanção eclesial, mas sim pelo desejo de escrever de acordo com a sua fé. E, depois, "na minha idade, já não se corre muito risco".

sábado, 21 de janeiro de 2012

Ator meditativo


Tento meditar todos os dias, em qualquer momento.

Jeff Bridges

ABC das igrejas e das confissões cristãs


De Giovanni Cereti, um padre genovês que ensina em Veneza e Roma e que criou em 1996 a Fraternidade dos Anawin (palavra hebraica para "Pobres de Deus"), a Paulus acaba de publicar "ABC das igrejas e das confissões cristãs", uma brochura de 64 sobre o ecumenismo.

Pelas informações de carácter histórico e teológico, mais do que pela utilidade prática em contexto português, na linha do que ontem aqui escrevi, é útil e elucidativo.

Os primeiros vocábulos - como se pode ver pela imagem em baixo - falam do desígnio de Deus sobre a unidade dos cristãos, o segundo conjunto aborda as desordens provocadas pelos homens, o terceiro centra-se na situações atual e o quarto aponta perspetivas para o futuro próximo.

Agostinho e o povo

Agostinho de Hipona, um dos três ou quatro génios universais, o intelectual mais influente do Ocidente e que também era bispo, dizia: "Prefiro falar sem gramática e fazer-me entender pelo povo do que falar com elegância e não me fazer entender".

Anselmo Borges: O Ecumenismo e Assis



Texto de Anselmo Borges no DN de hoje.

Não creio que haja guerras exclusivamente religiosas, já que estão sempre presentes outros interesses: económicos, políticos, geoestratégicos, instinto de sobrevivência e expansão. De qualquer forma, é uma vergonha que em nome de Deus se tenha derramado e continue a derramar tanto sangue, a exercer tanta violência e a espalhar tanto sofrimento. Esta é a verdadeira blasfémia.

Esta vergonha vem à consciência concretamente nestes dias (18-25 de Janeiro) dedicados ao diálogo ecuménico entre as diferentes Igrejas e confissões cristãs, na chamada Semana da Unidade dos Cristãos.

O ecumenismo - a palavra vem do grego oikuméne, com o significado de Terra habitada: o Homem é, por natureza, ecuménico, universal -, enquanto movimento para alcançar a união dos cristãos, teve início no princípio do século XIX, mas, oficialmente, inaugurou-se com a Assembleia de Edimburgo em 1910. No entanto, só em 1948 se realizou em Amesterdão a primeira Assembleia Geral do Conselho Ecuménico das Igrejas, e a Igreja Católica só fez a sua conversão ecuménica profunda no Concílio Vaticano II (1962-1965), cujo cinquentenário se celebra este ano.

Há hoje um arrefecimento no movimento ecuménico. As razões são múltiplas, mas talvez uma das mais pertinentes esteja no facto de já se não ver motivo para que os cristãos continuem a considerar-se "irmãos separados". Não estão eles unidos no fundamental? O fundamental, como diz São João, é acreditar em Deus, que é Amor, e no seu enviado Jesus Cristo, que deu testemunho desse Amor até à morte. Unidos no essencial, por que não se reconhecem mutuamente?

Logo no início, houve, entre os cristãos, conflitos de interpretações, dizendo os Actos dos Apóstolos que chegaram a "altercações violentas". Reuniu-se então uma assembleia, e é interessante que a facção mais "conservadora" confiou na ala mais "liberal", impondo uma só condição: "Que não se esquecessem dos pobres." Como acentua o teólogo catalão J. I. González Faus, a causa dos pobres passou assim a ser critério da verdadeira liberdade e factor de unidade para a Igreja.

Recentemente, os cristãos foram despertando para uma consciência ecuménica global e, consequentemente, para a urgência do diálogo inter-religioso. Neste contexto, fez história o encontro entre 130 líderes religiosos mundiais, há 25 anos, em Assis, a convite do papa João Paulo II. Lembrando esse acontecimento, Bento XVI juntou, de novo em Assis, em Outubro passado, 300 líderes das principais religiões, numa "jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e pela justiça no mundo". Tema central: precisamente a paz e a justiça. Não foi por acaso que nessa semana o Conselho Pontifício Justiça e Paz publicou um documento, pedindo a criação de uma autoridade financeira mundial e criticando asperamente "o liberalismo económico sem regras e sem controlo". "A situação actual é como uma guerra por causa da injustiça no mundo".

Entre os responsáveis religiosos, de mais de 50 países, havia shintoístas, sikhs, budistas, confucianos, hindus, taoístas, jainistas, baha'is, zoroastrianos, iorubas, animistas, judeus, muçulmanos, católicos, ortodoxos, luteranos, anglicanos, baptistas... A novidade: também agnósticos e ateus.

Neste autêntico mosaico das religiões, todos se comprometeram a trabalhar pela paz no mundo e a acabar com a violência, a guerra e o terrorismo. Um dos quatro intelectuais agnósticos, o filósofo G. Hurtado, sublinhou que "estão comprometidos na busca da verdade e dispuseram-se a participar na jornada como um sinal do seu desejo de trabalhar juntos para construir um mundo melhor". E Julia Kristeva lembrou que as palavras de João Paulo II - "não tenhais medo" - não foram dirigidas só a crentes, mas a todos, e insistiu na necessidade de procurar cumplicidades entre o humanismo cristão e o que surgiu do Iluminismo e da Revolução Francesa. "Para que o humanismo possa desenvolver-se e refundar-se, chegou o momento de retomar os códigos morais do curso da História, renovando-os para as novas situações".

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A falsa questão do ecumenismo português

Estamos na semana da oração pela unidade dos cristãos. Ao catolicismo português isto pouco diz, porque as confissões protestantes e ortodoxas, em Portugal, quase sempre eram e são formadas por ex-católicos ou então por imigrantes: os ingleses anglicanos do Vinho do Porto, os alemães luteranos da Linha e de um ou outro sítio onde havia minas de volfrâmio e agora os ucranianos ortodoxos um pouco por todo o país.

Verdadeiro ecumenismo não é necessário. Podemos não nos darmos com o vizinho do lado, mas tanto ele como eu, mais ou menos crentes, mais ou menos ateus, somos católicos. Para mais, por muito que digam, o verdadeiro ecumenismo é uma questão de cúpulas, não de povo. O povo dá-se bem. Se as cúpulas quisessem, a união fazia-se. Uma questão das hierarquias.

Mariano Perrón, delegado de Ecumenismo da Arquidiocese de Madrid, diz isso mesmo:  "Las diferencias entre cristianos las establecen las jerarquías eclesiásticas más que los mismos fieles" (aqui).

Por outro lada cá da minha base, bem junto ao chão, é com tristeza que vejo que há mais aproximação real aos ortodoxos do que aos luteranos, calvinistas (presbiterianos) e metodistas, com quem tanto aprendemos como católicos. E em relação aos anglicanos, há mais aproximação aos anglicanos em dissensão com o anglicanismo do que ao anglicanismo moderado. Num Concílio Vaticano III, se não regressarmos a Trento e ao dogmatismo, voltaremos a aprender com as tendências moderadas das atuais igrejas reformadas.

O sindicalista fala da fé

O ainda líder sindical Manuel Carvalho da Silva, da CGTP, deu uma entrevista à "Visão" de ontem. Registo o que ele disse da fé e do catolicismo.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Cogumelos e lunáticos de Deus

Na revista "Sábado" de hoje, uma entrevista a Michael Largo, nova-iorquino que escreveu "God's Lunatics" ("Lunáticos de Deus"; em  subtítulo surge algo como: "Almas vadias, falsos profetas, santos martirizados, cultos assassinos,  freiras demoníacas e outras vítimas da eterna procura humana do divino").

O livro é capaz de ser muito instrutivo não em teologia, mas em matéria de almanaque, pelo que vi na Amazon. Eu próprio coleciono notícias que lá teriam cabimento. E uma ou outra passou por este blogue. A entrevista, essa, é hilariante. Deve ser dos cogumelos.






Capa e contracapa do livro:

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...