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terça-feira, 10 de abril de 2012

Os meios ricos da Igreja e os pobres, segundo Maritain



Jacques Maritain (na foto) dizia que a Igreja tem, para os fins espirituais, meios ricos e meios pobres ou humildes. Os ricos não se resumem ao dinheiro, mas, em grande medida, não existem sem ele: as organizações, as reuniões, a arquitetura, a comunicação social, a decoração das Igrejas. Os meios pobres são os que estão marcados pela cruz e não contêm em si a menor necessidade de um triunfo temporal. Li em "Meditações sobre a Fé", de Tadeusz Dajczer, que acrescenta, já sem remeter para Maritain, julgo eu, que os meios pobres são "os joelhos doridos durante a oração, a anulação da vontade própria, a vida em recolhimento, no silêncio e na contemplação", coisas que não cabem nas estatísticas, mas valem muito mais do que os grandes ajuntamentos dos meios ricos. Não vivemos sem os dois. Mas os meios ricos serão ocos se não tiverem por detrás os meios pobres.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

30 de Junho de 1968. Paulo VI profere e publica o Credo do Povo de Deus

Paulo VI e Jacques Maritain, no encerramento do Concílio (8 de Dezembro de 1965)


No dia 30 de Junho de 1968, encerrando o "Ano da Fé", que celebrava o 19.º centenário do martírio dos apóstolos Pedro e Paulo, Paulo VI publicou uma carta apostólica que concluía com o Credo do Povo de Deus. Começa assim:
Cremos em um só Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - Criador das coisas visíveis - como este mundo, onde se desenrola nossa vida passageira -, Criador das coisas invisíveis - como são os puros espíritos, que também chamamos anjos -, Criador igualmente, em cada homem, da alma espiritual e imortal.
Hoje já não se fala deste Credo, ao contrário de há uma ou duas décadas. Será pelas concepções teológicas e antropológicas (anjo, alma espiritual, pecado de Adão...). Ou porque Paulo VI é um Papa esquecido? O Credo pode ser lido aqui. E sabe-se que o Credo segue basicamente uma proposta do filósofo Jacques Maritain. A história é relatada na revista "30 Dias", em 2008:
Em 14 de dezembro de 1967, o cardeal suíço [Charles Journet] é recebido novamente por Paulo VI, e aproveita para renovar a sugestão que recebera de Maritain no início do ano. Conta o cardeal Cottier: “Journet perguntou a Paulo VI se, no final do Ano da Fé, tinha intenção de publicar algum grande documento, para orientar aqueles que queriam permanecer na Igreja. O Papa lhe respondeu que alguém já havia sugerido uma perspectiva como aquela no final do Concílio, e lembrou expressamente o projeto – deixado de lado – de Congar. Depois, fez a Journet um pedido surpreendente e difícil. Disse ao cardeal: ‘Prepare-me o senhor um esquema do que pensa que deva ser feito’”. 
Diante do pedido do Papa, Journet não perde tempo e, tão logo volta a Friburgo, dirige-se a Maritain. Na carta de 17 de dezembro, escreve ao amigo filósofo: “Assim, Jacques, como eu poderia não pensar em pedir logo a sua ajuda? A questão é o tom que devemos usar, como também as coisas que devem ser ditas, o que é difícil de resolver. Dizem que um novo Sílabo não adiantaria. [...] Você pode pensar um pouco nessas coisas e me dizer o que acha apropriado para o esclarecimento das almas? Quanto maior for a sua precisão, mais me ajudará”. Conta o cardeal Cottier: “No início de janeiro, durante um período que passou em Paris, Maritain redige um projeto de professio fidei. Termina-o em 11 de janeiro, e no dia 20 envia o texto a Journet. Na carta que o acompanha, escreve: ‘Fiquei contente por fazê-lo, e ansioso, ao mesmo tempo, por saber o que você pensará disso; mas também mortificado e confuso, pelo fato de, para redigir estas páginas, ter tido, por alguns instantes, usando a imaginação, de pôr um pobre diabo como eu no lugar do Santo Padre! Não há situação mais idiota’. Depois, acrescenta: ‘Charles, faça o que quiser, jogue-o no fogo se quiser. Estou num estado mais miserável que nunca; mesmo assim, o documento que o Papa lhe pediu para preparar parece-me cada vez mais de importância capital’”. 
Journet, na carta com que lhe responde, diz-se “desconcertado de gratidão” ao ler as páginas de Maritain. No dia seguinte, envia o texto a Paulo VI, sem modificar uma vírgula: “A questão é tão difícil, dado o estado atual dos espíritos”, escreve Journet ao Papa para justificar o envolvimento do amigo comum filósofo, “que pensei em falar dela a Jacques Maritain, que há muito tempo prega nesse sentido, e cuja experiência do mundo é muito grande. Acabo de receber dele uma resposta que Lhe repasso integralmente”. Acrescenta ao material enviado ao Papa dois trechos da carta que recebera de Maritain em 20 de janeiro. Num deles, Maritain sugere que a nova profissão de fé se baseie “nos Credos antigos, mas com um estilo mais simples”. 
Pelas cartas, fica muito claro que o texto elaborado por Maritain queria ser apenas um esboço experimental, como uma ajuda ao amigo Journet. Journet, tomando uma iniciativa que não combinara com o filósofo, é que “repassa” o texto sine glossa a Paulo VI. E não o faz para “promover” o amigo Maritain aos olhos do Papa, mas, sim, porque o texto preparado por Maritain parece-lhe realmente a resposta superabundante às expectativas do momento. “O milagre”, escreve Journet a Maritain em 24 de janeiro, “é que todos os pontos difíceis foram tocados e evidenciados novamente”. Acrescenta o cardeal Cottier: “Os dados essenciais da fé que precisavam ser confessados diante da confusão teológica daqueles tempos tinham sido sublinhados claramente pelo próprio Journet, no relatório que enviara a Roma em 21 de setembro de 1967, no qual enumerava os pontos em que o catecismo holandês parecia, a seu ver, ter-se distanciado da doutrina da Igreja: ‘A queda original, o sentido da Redenção, a natureza do sacrifício da missa, a presença corporal de Cristo na Eucaristia, a criação ex nihilo do mundo e de cada alma humana, o primado de Pedro [...]. A doutrina do batismo e dos sacramentos da Nova Lei [...]; o papel da Virgem Maria, sua maternidade virginal [...], sua ciência das coisas divinas, sua Imaculada Conceição e sua Assunção’”.
(...)
Em 30 de junho, Paulo VI proclama em São Pedro oCredo do povo de Deus. Só em 2 de julho, lendo o jornal como qualquer outro cristão, Maritain encontra, nas sínteses publicadas, amplos trechos do texto que havia enviado a Journet no início do ano. 
Credo do povo de Deus coincide substancialmente com o esboço preparado por Maritain (ver box, à p. 53). O estudioso beneditino Michel Cagin, que está para publicar a sinopse dos textos, confirma, numa nota preparada para o sexto volume da Correspondance, que a professio fidei assinada pelo Papa toma, do texto de Maritain, “sua concepção de fundo – completando a trama do Símbolo de Nicéia-Constantinópolis com os desenvolvimentos homogêneos do dogma que vieram depois dele –, e também sua formulação, algumas vezes literalmente, outras condensando-a um pouco, omitindo certas ampliações, certas explicações, para dar ao texto o estilo conciso de um Símbolo”. Mas, então, trata-se doCredo de Paulo VI ou do Credo de Maritain? 
Padre Cottier não tem dúvidas. Qualquer tentativa de liquidar a professio fidei de Paulo VI, considerando-a o exercício intelectual de um velho filósofo amigo do Papa, está fora de cogitação: “O papa Montini já havia descartado outros projetos, como o preparado por Congar. O texto que vê em suas mãos, segundo as intenções do autor, não se destinava a ele, mas ao cardeal Journet. Paulo VI simplesmente reconheceu, no conteúdo e na formulação daquele esboço, aquilo que era sua tarefa confessar como pastor, em nome de todos os sacerdotes e de todos os fiéis. Ao redigir seu texto, Maritain apenas seguira, quase instintivamente, o sensus fidei, o mesmo que se expressava em todos os pedidos provenientes do Sínodo dos Bispos, e que inspirara Paulo VI a proclamar o Ano da Fé.
Artigo da "30 Dias" aqui.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Anti-semitismo e anticristianismo a pretexto de uma viagem de Saul Bellow

Nas suas impressões sobre uma viagem a Jerusalém, na década de 1970, Saul Bellow (1915-2005) escreve, citando Ben-Gurion, que “os judeus desconhecem quase por completo a ideia de um inferno onde possam ir parar. O inferno dos judeus é um descontentamento consigo mesmos quando sentem que foram medíocres”.
As frases aplicam-se bem a Portugal e aos portugueses neste momento.
Escreve também que “Jacques Maritain caracterizou o anti-semitismo europeu do século XX como uma tentativa de os europeus se livrarem do fardo moral do cristianismo”, o que é uma ideia estimulante, quando na Europa dos inícios de XXI surgem sinais de facto de intolerância cristã. Cristofobia (ou cristianofobia) sucedâneo do anti-semitismo?
Antes desta ideia, Saul Bellow deixa uma outra: “Por vezes, suspeito que o mundo ficaria contente se visse o fim do cristianismo, e que é perseverança dos judeus que impede isso mesmo”. Ele não explica este seu pensamento para além da frase de Maritain, mas há aqui muito por onde pensar. Destinos ligados.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A maldição de Jacques Maritain


Jacques Maritain escreveu no seu “Carnet de notes”, no dia 5 de Outubro de 1910:
Enlouquecedora influência da teoria do agrupamento. Lema da hierarquia de França: «Agrupemo-nos!» – Agrupemos as almas, os cães, os porcos! Agrupemos os mortos! Agrupemos os proprietários cristãos! – «A união faz a força». Este lema só pode ter um sentido para o cristão: a união com Deus faz a força.
E no entanto seremos mais fortes se estivermos unidos. Mas se pensarmos, por exemplo, no que seria uma união católica, rapidamente chegaremos à conclusão de que estamos unidos no desacordo.


Os católicos não votam num único partido, quando votam. Não acreditam todos na vida depois desta vida, quando não acreditam, por exemplo, na reencarnação. Não sabem, na sua maioria, que há um pensamento, uma doutrina, sobre as questões sociais, políticas e económicas. Não estão unidos na defesa da vida no seu princípio e fim. Uns querem latim, outros nem ouvi-lo. Uns são todos pró social, outros, se pudessem, não saiam de dentro do templo. Uns são marianos e papistas; outros, bíblicos e proféticos.


Na sociedade portuguesa, dita maioritariamente católica, exceptuando a conferência episcopal (e mesmo ela com tensões interiores entre norte e sul, opositores declarados às políticas oficiais e moderados, tradicionalistas e progressistas), não há grupos que falem e actuem como católicos. Vive-se como na anedota que diz que se Deus tivesse nomeado uma comissão em vez de mandar Moisés libertar o povo de Israel, ainda hoje lá estariam (no Egipto). Ou então é a maldição de Maritain.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Amizade e desejo de Deus em duas frases de Jacques Maritain

Não existe nada de melhor no mundo do que as maravilhosas amizades que Deus desperta e que são como o reflexo da gratuidade e da generosidade do seu amor.

...

Renunciar a guardar no coração o desejo de santidade, mesmo que ela só seja desejada muito longe, excessivamente longe, mesmo que ela esteja no mal, seria uma última traição para com Deus e para com o mundo.

Jacques Maritain (1882-1973)

28 de Abril de 1973. Morre Jacques Maritain

Jacques Maritain nasceu no seio de uma família protestante, em 18 de Novembro de1882 e cresceu num ambiente republicano, liberal e anticatólico. Converteu-se ao catolicismo em 1906. Teve como padrinho de baptismo Léon Bloy (1846 – 1917), poeta e polemista católico. Morreu no dia 28 de Abril de 1973.

Maritain é um dos renovadores do tomismo no século XX. Defensor do “humanismo integral” (Humanisme integral” é uma obra de 1936), que inclui a dimensão espiritual – contra os humanismos seculares, inevitavelmente anti-humanos –, o seu pensamento está na origem da Democracia Cristã.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...