quinta-feira, 9 de abril de 2015

Fé e política

De férias em Cuba, um português conversa com um cubano. A certa altura pergunta-lhe o cubano: "Você vem de um país muito católico, até lá apareceu Nossa Senhora... Fátima. É católico?"
"Mais ou menos", responde o português. "Acredito, mas não pratico. Já agora, deixe-me fazer-lhe uma pergunta", continua o português. "Você vive num país oficialmente comunista. É comunista?"
"Mais ou menos", responde o cubano. "Pratico, mas não acredito".

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Teilhard entrou na grande missa cósmica há 60 anos


Está quase a fazer 60 anos que morreu Teilhard de Chardin. É na sexta-feira. Li um texto sobre o assunto aqui.

As suas relações com os seus superiores nem sempre foram fáceis e, com alguns dicastérios da Santa Sé, foram bastante problemáticas e não poucas vezes ameaçadoras e punitivas, porém, dois papas – Paulo VI e Bento XVI –, sobre o pensamento de Teilhard de Chardin, expressaram juízos de elogio e de alto interesse e apreciação.

Miguel Esteves Cardoso: Duvidar é bom

Miguel Esteves Cardoso no "Público" de hoje:

A educação é o que acontece quando se põem em causa a verdade e as verdades. Aprende-se a distinguir os factos (ou as observações) das verdades.

É um facto observado que alguém tirou um pão sem pagá-lo. Mas é a partir daí que não conseguimos impedir-nos de pensar mais; mais longamente; mais tarde. Será que a pessoa tinha fome? Será que a pessoa é contra o roubo? Será que é assim que se define o roubo e, por conseguinte, o ladrão?

O relativismo é muito atacado: por alguma razão é. Talvez seja porque é a maneira de o mundo sustentar muitas verdades adversárias ao mesmo tempo. É como os vários estilos do jazz: é por serem vários que são (ou, mais convincentemente ainda, não são) jazz.

A educação é a edificação da incerteza informada, curiosa e divertida. Só funciona se formos ambivalentes: se eu, por exemplo, não for capaz de suspeitar que têm valor estético as obras de arte (ou coisas) que me repugnam e afastam, torno-me num apreciador fanático e obstruído.

O relativismo é a única maneira inteligente de reconciliar verdades concorrentes que se deixam vitimar pelo desejo comum de vencer.

É a curiosidade — e a abertura solidária para se provar que estamos errados — que nos salva de termos certezas estúpidas.

A educação é o que nos prepara para não estarmos preparados. A certeza é a feição mais atraente da ignorância. Também a estupidez convencida e inviolável é o melhor antídoto para o remédio da sempre angustiada e céptica inteligência.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Laicidade, o que é?, por Claudio Magris


"Laicidade não é um conteúdo filosófico, mas sim um âmbito mental, a capacidade de distinguir o que é demonstrável racionalmente do que, pelo contrário, é objeto de fé - independentemente da adesão ou não a essa fé - e de distinguir as esferas e os âmbitos das diferentes competências, por exemplo, as da Igreja e as do Estado, o que - precisamente conforme o dito evangélico - se deve dar a Deus e o que se deve dar a César."

Claudio Magris, na pág, 24 do admirável "A História não acabou. Ética, Política, Laicidade", Quetzal

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Crónica de Páscoa 2 - Portocarrero de Almada: "São Judas Iscariotes?"

O padre Portocarrero de Almada diz que Judas Iscariotes está a ser reabilitado por uma ética relativista. Supondo que sim, essa ética relativista que não quer condenar um mau não terá algo de cristão? O amor cristão não é justicialista, é relativista pelo menos num sentido, no sentido dos mais desprotegidos, frágeis, esquecidos, ofendidos, atormentados, sofredores. E pelo menos nestas duas últimas categorias Judas poderá caber. O amor cristão pode ser justicialista a priori, mas é relativista a posteriori. O pai ameaça o filho com o chicote antes de ele partir. Mas depois vai a correr para ele, quando ele regressa, mostrando os tornozelos e não se importanto por ser motivo de chacota.

Ler aqui.



Um bocadinho:

"Não é inocente a devoção a “São” Judas Iscariotes: a ética relativista tudo reduz à ambiguidade do propósito do sujeito e, neste sentido, até a traição de Judas se justificaria. Pelo contrário, a moral cristã está fundada na lei de Deus, que Cristo não veio abolir, nem alterar, mas dar pleno cumprimento, na expressão misericordiosa do mandamento novo do seu amor".

Crónica de Páscoa 1 - E se não houvesse religiões?

Crónica de Páscoa de Paulo de Almeida Sande no "Observador". Realço isto:


Na troca de argumentos entre crentes e não-crentes que ocorre no grupo [um grupo de ateus no Facebook] o que mais impressiona é a parte de violência que contém (há excepções, claro): são violentos os argumentos dos não-crentes, violentas as respostas dos crentes de qualquer religião (nele “postam” cristãos, evangélicos, muçulmanos, judeus e muitas outras denominações religiosas). Recorre-se a filmes (de actualidade, como os linchamentos no Estado Islâmico ou declarações mais ou menos caricatas de pastores de distintos cultos), caricaturas – sim, lá está o traço inconfundível do Charlie Hebdo no seu pior -, citações das escrituras ou do Corão, fotografias e muito mais, em defesa do sim e do não. O maniqueísmo é absoluto, a já descrita violência (verbal ou, neste caso, escrita e visual) servida a rodos e com generosidade.

Vida

Páscoa. Vida nova. Mesmo nova.

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...