quinta-feira, 30 de junho de 2011

30 de Junho de 1968. Paulo VI profere e publica o Credo do Povo de Deus

Paulo VI e Jacques Maritain, no encerramento do Concílio (8 de Dezembro de 1965)


No dia 30 de Junho de 1968, encerrando o "Ano da Fé", que celebrava o 19.º centenário do martírio dos apóstolos Pedro e Paulo, Paulo VI publicou uma carta apostólica que concluía com o Credo do Povo de Deus. Começa assim:
Cremos em um só Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - Criador das coisas visíveis - como este mundo, onde se desenrola nossa vida passageira -, Criador das coisas invisíveis - como são os puros espíritos, que também chamamos anjos -, Criador igualmente, em cada homem, da alma espiritual e imortal.
Hoje já não se fala deste Credo, ao contrário de há uma ou duas décadas. Será pelas concepções teológicas e antropológicas (anjo, alma espiritual, pecado de Adão...). Ou porque Paulo VI é um Papa esquecido? O Credo pode ser lido aqui. E sabe-se que o Credo segue basicamente uma proposta do filósofo Jacques Maritain. A história é relatada na revista "30 Dias", em 2008:
Em 14 de dezembro de 1967, o cardeal suíço [Charles Journet] é recebido novamente por Paulo VI, e aproveita para renovar a sugestão que recebera de Maritain no início do ano. Conta o cardeal Cottier: “Journet perguntou a Paulo VI se, no final do Ano da Fé, tinha intenção de publicar algum grande documento, para orientar aqueles que queriam permanecer na Igreja. O Papa lhe respondeu que alguém já havia sugerido uma perspectiva como aquela no final do Concílio, e lembrou expressamente o projeto – deixado de lado – de Congar. Depois, fez a Journet um pedido surpreendente e difícil. Disse ao cardeal: ‘Prepare-me o senhor um esquema do que pensa que deva ser feito’”. 
Diante do pedido do Papa, Journet não perde tempo e, tão logo volta a Friburgo, dirige-se a Maritain. Na carta de 17 de dezembro, escreve ao amigo filósofo: “Assim, Jacques, como eu poderia não pensar em pedir logo a sua ajuda? A questão é o tom que devemos usar, como também as coisas que devem ser ditas, o que é difícil de resolver. Dizem que um novo Sílabo não adiantaria. [...] Você pode pensar um pouco nessas coisas e me dizer o que acha apropriado para o esclarecimento das almas? Quanto maior for a sua precisão, mais me ajudará”. Conta o cardeal Cottier: “No início de janeiro, durante um período que passou em Paris, Maritain redige um projeto de professio fidei. Termina-o em 11 de janeiro, e no dia 20 envia o texto a Journet. Na carta que o acompanha, escreve: ‘Fiquei contente por fazê-lo, e ansioso, ao mesmo tempo, por saber o que você pensará disso; mas também mortificado e confuso, pelo fato de, para redigir estas páginas, ter tido, por alguns instantes, usando a imaginação, de pôr um pobre diabo como eu no lugar do Santo Padre! Não há situação mais idiota’. Depois, acrescenta: ‘Charles, faça o que quiser, jogue-o no fogo se quiser. Estou num estado mais miserável que nunca; mesmo assim, o documento que o Papa lhe pediu para preparar parece-me cada vez mais de importância capital’”. 
Journet, na carta com que lhe responde, diz-se “desconcertado de gratidão” ao ler as páginas de Maritain. No dia seguinte, envia o texto a Paulo VI, sem modificar uma vírgula: “A questão é tão difícil, dado o estado atual dos espíritos”, escreve Journet ao Papa para justificar o envolvimento do amigo comum filósofo, “que pensei em falar dela a Jacques Maritain, que há muito tempo prega nesse sentido, e cuja experiência do mundo é muito grande. Acabo de receber dele uma resposta que Lhe repasso integralmente”. Acrescenta ao material enviado ao Papa dois trechos da carta que recebera de Maritain em 20 de janeiro. Num deles, Maritain sugere que a nova profissão de fé se baseie “nos Credos antigos, mas com um estilo mais simples”. 
Pelas cartas, fica muito claro que o texto elaborado por Maritain queria ser apenas um esboço experimental, como uma ajuda ao amigo Journet. Journet, tomando uma iniciativa que não combinara com o filósofo, é que “repassa” o texto sine glossa a Paulo VI. E não o faz para “promover” o amigo Maritain aos olhos do Papa, mas, sim, porque o texto preparado por Maritain parece-lhe realmente a resposta superabundante às expectativas do momento. “O milagre”, escreve Journet a Maritain em 24 de janeiro, “é que todos os pontos difíceis foram tocados e evidenciados novamente”. Acrescenta o cardeal Cottier: “Os dados essenciais da fé que precisavam ser confessados diante da confusão teológica daqueles tempos tinham sido sublinhados claramente pelo próprio Journet, no relatório que enviara a Roma em 21 de setembro de 1967, no qual enumerava os pontos em que o catecismo holandês parecia, a seu ver, ter-se distanciado da doutrina da Igreja: ‘A queda original, o sentido da Redenção, a natureza do sacrifício da missa, a presença corporal de Cristo na Eucaristia, a criação ex nihilo do mundo e de cada alma humana, o primado de Pedro [...]. A doutrina do batismo e dos sacramentos da Nova Lei [...]; o papel da Virgem Maria, sua maternidade virginal [...], sua ciência das coisas divinas, sua Imaculada Conceição e sua Assunção’”.
(...)
Em 30 de junho, Paulo VI proclama em São Pedro oCredo do povo de Deus. Só em 2 de julho, lendo o jornal como qualquer outro cristão, Maritain encontra, nas sínteses publicadas, amplos trechos do texto que havia enviado a Journet no início do ano. 
Credo do povo de Deus coincide substancialmente com o esboço preparado por Maritain (ver box, à p. 53). O estudioso beneditino Michel Cagin, que está para publicar a sinopse dos textos, confirma, numa nota preparada para o sexto volume da Correspondance, que a professio fidei assinada pelo Papa toma, do texto de Maritain, “sua concepção de fundo – completando a trama do Símbolo de Nicéia-Constantinópolis com os desenvolvimentos homogêneos do dogma que vieram depois dele –, e também sua formulação, algumas vezes literalmente, outras condensando-a um pouco, omitindo certas ampliações, certas explicações, para dar ao texto o estilo conciso de um Símbolo”. Mas, então, trata-se doCredo de Paulo VI ou do Credo de Maritain? 
Padre Cottier não tem dúvidas. Qualquer tentativa de liquidar a professio fidei de Paulo VI, considerando-a o exercício intelectual de um velho filósofo amigo do Papa, está fora de cogitação: “O papa Montini já havia descartado outros projetos, como o preparado por Congar. O texto que vê em suas mãos, segundo as intenções do autor, não se destinava a ele, mas ao cardeal Journet. Paulo VI simplesmente reconheceu, no conteúdo e na formulação daquele esboço, aquilo que era sua tarefa confessar como pastor, em nome de todos os sacerdotes e de todos os fiéis. Ao redigir seu texto, Maritain apenas seguira, quase instintivamente, o sensus fidei, o mesmo que se expressava em todos os pedidos provenientes do Sínodo dos Bispos, e que inspirara Paulo VI a proclamar o Ano da Fé.
Artigo da "30 Dias" aqui.

Eu paguei um suborno

10 mandamentos contra a corrupção.
O último quer dizer "agir segundo os ideais de Ganhi".

O pagamento de subornos de todas as espécies e feitios tornou-se uma prática tão corrente na Índia que é quase possível dizer que toda a gente, de uma forma ou outra, é ou um perpetrador, uma vítima ou um beneficiário. Assim, a Jannagraha decidiu lançar um website, com o simples nome de I paid a bribe (IPAB) incitando as pessoas, anonimamente, a descreverem as suas experiências de suborno e a partilharem informações sobre a mesma temática com cidadãos de todo o país. E ao imprimir esta possibilidade de transparência no mercado ilícito da corrupção em grande escala, o website já permitiu um mapeamento de quais as cidades, departamentos e outros organismos que mais corruptos são.
Ler o resto no portal VERPor estas e outras é que a Índia vai ser a nação mais importante da segunda metade do séc. XXI. E não a China.

É bom não esquecer

Santo Agostinho dizia isto da Igreja e da salvação. É bom nunca esquecer em tempos propensos a estigmas:
"Muitos que parecem estar dentro estão fora, e muitos que parecem estar fora estão dentro".

Aparições marianas. O que aconteceu em Medjugorje?


As aparições de Medjugorje começaram a acontecer há 30 anos, sejam o que for que tenham sido. Há dias o "Vatican Insider" (um dos sítios mais bem informados sobre a Igreja católica, do jornal La Stampa) publicou uma entrevista do vaticanista Andrea Tornielli, aqui. Na verdade, não percebo se é Tornielli que faz as perguntas, se responde ou se as duas coisas (mais provável). A tradução em português apareceu no sempre atento ihu.unisinos (aqui).

No dia 25 de junho, completam-se os 30 anos das aparições marianas em Medjugorje. Do que se trata?
As aparições de Medjugorje começaram em 1981, quando alguns jovens do pequeno país da Bósnia-Herzegovina disseram ter visto Nossa Senhora. Alguns deles, 30 anos depois, afirmam ainda ter uma aparição diária. A característica totalmente nova dessas aparições está no fato de que a visão não está ligada a um lugar, mas ocorre em todos os lugares em que os videntes se encontram.

As aparições de Medjugorje são aprovadas pela Igreja?
Não, o julgamento desses aparições ainda está pendente. O papa, dado o porte internacional do fenômeno e a discordância de pareceres entre o bispo local e outros bispos do país, nomeou uma comissão internacional, confiando-lhe a liderança ao cardeal Camillo Ruini, para avaliar os testemunhos e manifestar um julgamento. Esse também é um fato totalmente excepcional: o reconhecimento de uma aparição cabe ao julgamento do bispo local.

Quantas são as aparições marianas e quais são as principais entre as que são reconhecidas oficialmente pela Igreja Católica?
Nos 20 séculos de história cristã, contam-se cerca de duas mil indicações relativas a aparições marianas que tiveram uma certa relevância histórica. As que são reconhecidas pela Igreja nos últimos dois séculos são apenas uma dezena. As mais importantes entre as reconhecidas são: Guadalupe, no México (1531); Rue du Bac, em Paris (1830);La Salette, na França (1846); Lourdes, na França (1858); Fátima, em Portugal(1917); Banneux, na Bélgica (1933); Amsterdã, na Holanda (1945); Akita, noJapão (1973); Kibeho, em Ruanda (1981).

Qual é a atitude da Igreja diante desses fenômenos?
Muito prudente, ou melhor, muito prudente mesmo. Antes de se pronunciar, a autoridade eclesiástica procede com pés de chumbo. O bispo do lugar, se considera que há pressupostos, geralmente institui uma comissão teológica, que interroga os videntes e avalia os testemunhos, avaliando também eventuais mensagens ligadas à aparição.

Quais são os critérios utilizados pela Igreja para apurar a autenticidade de uma aparição?
A credibilidade dos videntes: jamais devem se contradizer, seus relatos devem ser coerentes, devem ser reconhecidos saudáveis do ponto de vista mental. Em segundo lugar, a ortodoxia das eventuais mensagens, que devem estar de acordo com a mensagem evangélica e também com o magistério da Igreja. Finalmente, os frutos, ou seja, as conversões e as eventuais graças ligadas ao lugar da aparição.

Que julgamento o bispo pode dar no fim do processo?
Estão previstas três fórmulas para três diferentes tipos de julgamento. Se a autoridade eclesiástica chega a verificar que se tratou de uma fraude ou até da fantasia de algum visionário, o julgamento é "constat de non supernaturalitate", isto é, consta a não sobrenaturalidade. Se, ao contrário, o julgamento é interlocutório e não foi possível apurar a veracidade, mas nem desmenti-la, se adota a fórmula "non constat de supernaturalitate", isto é, não consta a sobrenaturalidade, mas isso não exclui que possa ser verificada em um segundo momento. Esse último julgamento foi utilizado para Medjugorje.

Qual foi a aparição mariana que durou mais tempo?
A poucas dezenas de quilômetros da fronteira com o Piemonte, nos Alpes Marítimos de Dauphiné, em Laus, entre 1664 e 1718, Nossa Senhora apareceu por 54 anos a uma pobre pastora analfabeta, Benoite Rencurel. As aparições de Laus foram reconhecidas oficialmente no dia 13 de junho de 2008 pelo bispo de Gap etd'Embrun, Dom Jean-Michel di Falco-Leandri.

Um fiel católico deve acreditar nas aparições marianas reconhecidas oficialmente pela Igreja?
Não, o fiel católico não é obrigado a acreditar nas aparições marianas, embora reconhecidas oficialmente. A Igreja considera concluída a revelação pública com a morte dos apóstolos e, portanto, todas as aparições, todas as mensagens posteriores, mesmo que tenham um valor universal, são consideradas revelações "privadas", as quais o fiel não é obrigado a acreditar, porque não acrescentam nada à mensagem evangélica e ao magistério da Igreja.

Por que, de acordo com os teólogos católicos, Nossa Senhora se revelaria em tantas aparições?
O significado é o da ajuda, do apoio, às vezes da advertência, sempre acompanhado pelo convite à oração e à conversão: em Fátima, Nossa Senhora apareceu às vésperas da Revolução de Outubro e falou sobre a Rússia. Em Kibeho, em Ruanda, com dez anos de antecedência, ela apresentou aos videntes a visão de lagos e rios de cor vermelho como sangue, cenários que se verificariam por ocasião dos tremendos confrontos entre as etnias hutu e tutsi.

O perigo da religião


Não há nada tão perigoso como a religião. Pode cristalizar-se num legalismo e num ritualismo.


Cardeal Walter Kasper (1933-...)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

29 de Junho de 1900. Nasce Antoine de Saint-Exupéry



Antoine de Saint-Exupéry nasceu no dia 29 de Junho de 1900 e morreu no dia 31 de Julho de 1944, abatido por um piloto alemão, na II Guerra Mundial, quando colaborava com a resistência francesa.


Este aluno de jesuítas e aviador por não ter conseguido entrar na marinha, escreveu, entre outras obras, "Vol de nuit" ("Voo nocturno"), em 1931, e "O Principezinho", em 1943. Neste último caso, escreveu e desenhou.

Quem quer escrever o discurso do Papa?

Notícia no "Página 1", jornal digital da Rádio Renascença.

Sem Buda, Paul Knitter não poderia ser cristão



“Senza Buddha non potrei essere cristiano” ("Sem Buda não poderia ser cristão"), obra do teólogo norte-americano Paul Knitter, é o
testemunho pessoal e convincente de quem atravessou a fronteira do budismo para abraçá-lo e depois a atravessou novamente para voltar à própria religião: "O meu diálogo com o budismo – pergunta-se o autor – tornou-se um cristão budista? Ou um budista cristão? Sou um cristão que compreendeu mais profundamente sua própria identidade com a ajuda do budismo? Ou me tornei um budista que ainda conserva vestígios cristãos?"
Foi o budismo que constituiu um dos dois recursos mais úteis (o outro é a teologia da libertação), que lhe permitiram continuar desenvolvendo a sua tarefa pessoal de cristão e de teólogo, permitindo-lhe rever, reinterpretar e reafirmar as doutrinas cristãs sobre Deus (capítulos 1-3), sobre a vida após a morte (capítulo 4), sobre Cristo como Filho único de Deus e Salvador (capítulo 5), sobre a oração e o culto (capítulo 6) e sobre o compromisso para conduzir o mundo rumo à paz e à justiça do Reino de Deus (capítulo 7), na consciência de que, como admite o teólogo na Conclusão, "no final da jornada, a casa para onde eu volto é Jesus" (retirado daqui).
Este segundo título da colecção "Campo dei Fiori", dirigida por Elido Fazi e Vito Mancuso parece estimulante. O primeiro título da colecção foi “In principio era la gioia” (no princípio era a alegria), de Matthew Fox. Haja editoras que os traduzam.


Paul Knitter

Por quem os sinos já não dobram

Notícia do "Correio da Manhã" de hoje. Roubavam os fios de cobre, as tampas do saneamento, as grades movíveis. E agora os sinos. Um dia destes, as estátuas nas praças públicas. Consequência da cotação alta das matérias primas. Ou então, consequência da fome de metais da Índia e China, cujas indústrias estão a produzir... para nós, ocidentais.

News.va

O novo sítio das notícias do Vaticano, news.va, já está online. Por enquanto ainda só em inglês e italiano. Espera-se em português (os brasileiros justificam o investimento) e mais algumas línguas depois do Verão.

Uma das primeiras notícias recorda a ordenação do padre Ratzinger há 60 anos (29 de Junho de 1951). Foram ordenados 43 jovens na catedral de Freising. No momento da ordenaçao de Joseph Ratzinger, um passarinho cantou. E foi como se ele ouvisse de Deus: "Isto é bom. Estás no caminho certo". Ler aqui.

terça-feira, 28 de junho de 2011

28 de Junho de 1577. Nasce o pintor Rubens

O holandês Peter Paul Rubens nasceu no dia 28 de Junho de 1577 e morreu no dia 30 de Maio de 1640. Pintor maior do barroco, deu ênfase ao movimento, à cor e à sensualidade. Foi um dos mestres da Contra Reforma, com os seus retábulos nos altares das igrejas barrocas. Consta que um dia afirmou: “A minha paixão vem dos céus, não das musas terrenas”.

 "Elevação da Cruz", na catedral de Antuérpia

"Massacre dos inocentes", na Galeria de Ontário

"Virgem Maria e o Menino adorado pelos anjos", na Igreja de Santa Maria in Vallicella, em Roma. Copiei as três imagens da Wikipedia.

Angelo Scola, novo arcebispo de Milão

D. Angelo Scola é o da esquerda

Já se dizia há vários dias, mas agora é oficial (ver aqui). O cardeal Angelo Scola, 69 anos, patriarca de Veneza, ligado ao movimento Comunhão e Libertação e à revista “Communio”, é o novo arcebispo de Milão. Sucede ao cardeal Dionigi TettamanziE, acrescento, torna-se o mais forte candidato à sucessão de Bento XVI.

São Pedro também é santo popular

São Pedro celebrado pelo mundo. É hoje à noite e amanhã. Textos do DN de 28 de Junho. Neste 29 de Junho comemoram-se os 60 anos da ordenação de padre de Bento XVI. O Papa ordenado no dia de Pedro. Na realidade, os finais de Junho são dias muito comuns para as ordenações. Amanhã também é dia de São Paulo, mas este já não é tão popular, pelo menos entre os católicos.


O sentido das nossas vidas pertence às...

Não é nem no individual nem o Estado que descobrimos quem somos e porquê. O sentido das nossas vidas pertence às comunidades e às tradições que as moldaram.


Jonathan Henry Sacks (Londres, 8 de Março de 1948), rabi-chefe das Congregações Hebraicas Unidas da Commonwealth

Uma inteligível expressão de Deus, pelo menos

Inácio de Antioquia, no princípio do séc. II, perto do martírio, pediu aos cristãos de Roma que não tentassem salvá-lo. Morrendo, queria ser "uma inteligível expressão de Deus".


De entendimento embotado, com diz Jesus em relação aos apóstolos, numa certa passagem dos evangelhos, todos precisamos - falo por mim - de inteligíveis expressões de Deus. São isso os milagres. As provas. Os sinais. Mas a questão talvez esteja mais no entendedor.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

27 de Junho de 1350. Nasce Manuel II Paleólogo, antepenúltimo imperador de Bizâncio


Manuel II Paleólogo nasceu no dia 27 de Junho de 1350 e morreu no dia 21 de Julho de 1425. Foi o antepenúltimo imperador do Império Romano do Oriente. Depois da sua morte, subiu ao trono João VII Paleólogo (1392-1448), o filho mais velho, que já era co-imperador desde os 20 anos de idade. O último imperador foi Constantino XI Paleólogo, que governou de 1449 a 1453, quando o sultão Maomé II conquistou Constantinopla.

Nos tempos recentes, Manuel II Paleólogo tornou-se mais conhecido por ter sido nomeado no discurso de Bento XVI na Universidade de Ratisbona (ou Regensburg), no dia 12 de Setembro de 2006. O discurso incendiou a “rua árabe” por causa desta frase proferida pelo imperador bizantino numa altercação com um “persa erudito”:
“Mostra-me também o que trouxe de novo Maomé, e encontrarás apenas coisas más e desumanas tais como a sua norma de propagar, através da espada, a fé que pregava”.
Para que a frase dita por Manuel II de um modo “tão brusco que para nós é inaceitável”, segundo expressão do Papa, não seja tomada isoladamente, leia-se o discurso tudo aqui.

Marcha para Jesus e parada gay em São Paulo

Concentração inicial da "Marcha para Jesus" (23 de Junho)

No dia 23 de Junho, quando ainda em muitos países se celebra o Corpo de Deus, a cidade de São Paulo acolheu uma “marcha para Jesus”. No domingo, 26, foi a vez da “parada gay”. São os maiores eventos de massas do Brasil. Cinco milhões no dia 23. Quatro milhões no dia 26. A parada gay teve maiores cobertura noticiosa, pelo menos a julgar pela busca que fiz na Internet. Mas as fotos do primeiro evento (em menor quantidade), parecerem revelar maior número de participantes. 

Os primeiros diziam, contra a recente aprovação do casamento homossexual, que “o verdadeiro Supremo é Deus”, numa alusão, penso, à decisão do Supremo Tribunal considerar nula a negação de um casamento homossexual por parte de um juiz que não concorda com a lei recentemente aprovada. Dizia uma notícia: “Na Marcha para Jesus, na quinta-feira, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em favor da união estável homoafetiva foi ferozmente atacada”.

Os gays responderam com o mandamento “Amai-vos uns aos outros” – tema da parada escolhido pela organização. Alguns católicos ficaram ofendidos com o uso do slogan e de imagens de santos católicos nos postes da Avenida Paulista.

Eu não iria nem a uma marcha nem a outra. Mas fico contente que se possam manifestar sem grandes incidentes. E desde que li a pergunta de Timothy Radliffe op, “os homossexuais estão condenados para sempre à solidão?” [como consequência do posicionamento católico sobre o assunto], se já era tolerante, mais compreensivo me torno. Com ou sem casamento. 

Parada gay na Avenida Paulista (26 de Junho)

Desenhos grandes e chocantes



A redenção não tem qualquer sentido se não tiver uma razão de ser... Temos de fazer com que a perspectiva se torne visível pelo choque. Aos que têm dificuldade de ouvir temos de gritar, e aos que são quase cegos temos de lhes fazer desenhos grandes e chocantes.


Flannery O'Connor (1925-1964)

Oração de Paulo VI ao Espírito Santo


Ó Espírito Santo
dai-me um coração grande,
aberto à vossa silenciosa e forte palavra inspiradora,
fechado a todas as ambições mesquinhas,
alheio a qualquer desprezível competição humana,
compenetrado do sentido da santa Igreja!

Um coração grande,
desejoso de tornar-se semelhante
ao Coração do Senhor Jesus!

Um coração grande e forte
para amar todos,
para servir a todos,
para sofrer por todos!

Um coração grande e forte
para superar todas as provações,
todo o tédio, todo o cansaço,
toda a desilusão, toda ofensa!

Um coração grande e forte,
constante até o sacrifício, quando for
necessário! Um coração cuja felicidade
é palpitar com o Coração de Cristo
e cumprir humilde, fiel e virilmente
a vontade do Pai.
Amém.

Papa Paulo VI

domingo, 26 de junho de 2011

26 de Junho de 1892. Nasce Pearl S. Buck, escritora



Pearl S. Buck, norte-americana, nasceu no dia 26 de Junho de 1892 e morreu no dia 6 de Março de 1973. Na China é conhecida por Sai Zhen Zhu, porque viveu lá durante várias temporadas desde os três anos de idade. Os seus pais eram missionários presbiterianos.


Escreveu mais de 100 romances, novelas e livros de contos, num estilo que imitava a prosa bíblica e a saga chinesa. Em Portugal, parte da sua obra está publicada na editora Livros do Brasil. 


Um dos seus livros, também em português, intitula-se precisamente “A História da Bíblia”. Foi escrito no final da vida, em 1971, já depois do Pulitzer, em 1932, e do Nobel da Literatura, em 1938.

Alegria com cordão de seda



O Homem foi feito para Alegrias e Desgraças
E quando isto bem sabemos
Pelo mundo vamos em segurança
Alegria e Desgraça são tecidas numa excelente
Roupagem para a divina Alma
Por debaixo de todo o desgosto e aflição
Corre uma alegria com cordão de seda.


Poema e imagem de William Blake (1757-1827)

Bento Domingues: Carta de Einstein a uma criança



Texto de Bento Domingues no "Público" deste domingo (com grafismo retocado, menos assuntos, mas mais desenvolvidos - apetece ler) . Sugestão de leitura complementar: entrevista a Francisco Ayala, biólogo referido no texto, aqui.

Deus e deuses

Os deuses alimentam-se em segredo da ideia de Deus para impedir que o verdadeiro Deus apareça.


Henri de Lubac

sábado, 25 de junho de 2011

25 de Junho de 253. É eleito o Papa Lúcio I

Lúcio I foi eleito no dia 25 de Junho de 253 e morreu no dia 5 de Março de 254, sendo o 22.º Papa. O seu pontificado ficou marcado pela recusa dos novacianos, isto é, os que negavam que os cristãos baptizados e que tivessem renegado a fé durante as perseguições (os "lapsi", que por vezes até ofereciam sacrifícios aos deuses) pudessem voltar à comunhão com a Igreja. Lúcio, tal como mais tarde Santo Agostinho, achava que os "lapsi" arrependidos podiam voltar à Igreja.

Gramáticos que ignoram o alfabeto


Hugo de São Vítor (séc. XII) dizia que há quatro maneiras de interpretar o texto bíblico. Começa-se pelo histórico-literal, passa-se ao alegórico, segue-se para o anagógico ou místico e termina-se com o moral. Alguns põem o moral antes do místico. Mas começa-se sempre pelo literal. Caso contrário, dizia o beneditino da Abadia de São Vítor, em Paris, corre-se o risco de ser como um estudioso da gramática que ignora o alfabeto.


Em certo sentido, Saramago, dizendo que não se devia fugir da literalidade, era um gramático que conhecia o alfabeto. Mas ficar na literalidade é desconhecer, sabe-se lá com que intenção, os imensos usos da linguagem.


Não exactamente a propósito, Francisco de Assis dizia: usa tudo para evangelizar. Até palavras, se necessário for.

Anselmo Borges: As 'sopas' do Espírito Santo

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje (aqui):

Várias vezes Natália Correia me desafiou para as festas do Divino Espírito Santo, nos Açores - ela era espírito-santista. Então, não foi possível. Mas este ano aconteceu.
É capaz de ser a festa mais humanista do mundo. Ah!, aquela coisa dos "impérios"! Chegue quem chegar, senta-se e come e bebe fartamente, sem que alguém lhe pergunte quem é, donde é, o que faz. De graça. No "império" a que me acolhi, lá estava o espírito: "A hora de repartir/Que a gente tanto gosta./Pão, carne, massa e vinho/Temos sempre a mesa posta." Ali, foram servidas mais de 600 "sopas" (um ensopado de carne excelente).
Se formos à procura da origem destas festas, encontraremos um monge célebre do século XII, Joaquim de Fiore, que deu o joaquimismo. Segundo ele, a História do mundo está dividida em três Idades: a Idade do Pai ou da Lei, que é a idade da servidão e do medo; a Idade do Filho, que é a idade da submissão filial; a Idade do Espírito Santo, na qual se ia entrar, e que é a idade do Amor, da Liberdade e da Fraternidade.
Houve sempre, ao longo da história da Igreja, um conflito entre os que acentuam o lado visível, institucional, hierárquico, e os que sobrepõem à Igreja visível uma Igreja espiritual, carismática, fraterna. O joaquimismo constituía uma mensagem revolucionária de contestação de uma Igreja pecaminosamente mundana; os franciscanos "espirituais" - fraticelli (irmãozinhos) -, desgostados com os Papas que abafavam o Espírito, aderiram à inspiração carismática, espírito-santista do joaquimismo.
Em 1282, D. Dinis casa com D. Isabel de Aragão, a futura Rainha Santa. O casamento realizou-se em Trancoso, que, significativamente, havia de ser a terra do sapateiro Bandarra, profeta do Quinto Império, tão querido do Padre António Vieira e Fernando Pessoa. Toda a família da nova rainha de Portugal era partidária dos frades espirituais, e a própria rainha possuía um conceito franciscano da vida: simplicidade, desapego dos bens terrenos, amor aos pobres e fracos. Santa Isabel protegia os franciscanos, e foi por seu intermédio que entrou um culto especial ao Espírito Santo. Fundaram-se confrarias do Espírito Santo, irmandades de socorro mútuo, e instauraram-se as Festas do Império do Espírito Santo, nas quais se celebrava o Pentecostes, comemorando a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos.
A principal cerimónia desse culto, durante a semana do Pentecostes, realizada por um franciscano, constava da coroação com três coroas, uma imperial e duas reais, do Imperador e dois Reis, geralmente na pessoa de uma criança e dois homens do povo pertencentes à Confraria do Espírito Santo. O Imperador, um menino, símbolo da humanidade renovada, religada às verdades básicas da pobreza evangélica e do amor ao próximo, empunhava o ceptro com que, tocando na fronte, se significava a bênção do Espírito Santo, e, depois de ter recebido as homenagens da população e das autoridades civis, militares e religiosas "fora" da igreja, procedia à libertação dos presos e à distribuição do pão, não como esmola, mas como preâmbulo da instauração na Terra da era da fraternidade profetizada.
Esta Festa dos Imperadores generalizou-se e encontramo-la em muitos pontos do País, mas de modo especial em Tomar e a sua Festa dos Tabuleiros ou do Divino Espírito Santo. Aqui, no fim da procissão, há a distribuição do bodo aos pobres.
Mas as festas do Divino Espírito Santo enraizaram sobretudo nos Açores e, por causa da emigração, em vários núcleos portugueses dos Estados Unidos e do Canadá. Nos Açores, temos as chamadas Igrejas "paralelas", de que ainda hoje é possível encontrar vestígios. No quadro das celebrações religiosas, continuam com lugar destacado as Festas do Divino Espírito Santo e do "Império", procedendo-se à coroação de uma criança, que segue na procissão com o ceptro, sendo igualmente de destacar as referidas "sopas". A soçobrar na crise, é bom lembrar estas Festas da Fraternidade universal. A utopia tem duas funções essenciais: criticar o presente e obrigar a transformá-lo. Outro mundo é possível.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

24 de Junho de 1842. Nasce o autor do “Dicionário do Diabo”


Ambrose Bierce nasceu no dia 24 de Junho de 1842 e morreu no dia 26 de Dezembro de 1913. Jornalista e escritor, é autor do “Dicionário do Diabo” (1911), um conjunto de definições sobre o ser humano cheias de ironia, cinismo, sarcasmo e sardonismo. Algumas dizem respeito a temas religiosos, como estas que aqui recolho (mesmo que não se concorde nada com elas, fazem pensar):

Um santo é um pecador morto, revisto e corrigido.

Nada é mais lógico do que a perseguição. A tolerância religiosa é uma espécie de falta de fé.

Orar. Pedir que as leis do universo sejam anuladas em favor de um único postulante, que se confessa indigno.

Cristão. Alguém que acredita que o Novo Testamento seja um livro inspirado por Deus, admiravelmente adaptado às necessidades espirituais do seu próximo.

A morte não é o fim. Resta sempre a luta pelo espólio.

Pedir perdão é assentar o terreno para futuras ofensas.

Arrependimento: um sentimento que raramente incomoda as pessoas antes de começarem a sofrer.

Diabo: o autor de todos os nossos infortúnios e proprietário de todas as coisas boas deste mundo.

Esquecimento: um dom concedido por Deus aos devedores, para compensar o facto de serem destituídos de consciência.

: crença, não baseada em provas, no que é contado por alguém que fala sem conhecimento de coisas sem paralelo.

Mortalidade: a parte da imortalidade que já conhecemos.

Ócio: uma quinta-modelo na qual o Diabo experimenta as sementes de novos pecados e cultiva os vícios de primeira necessidade.

Proibido: dotado de um novo e irresistível encanto.

Religião: uma filha da Esperança e do Medo, que explica à Ignorância a natureza do Desconhecido.

Religiosidade: reverência pelo Ser Supremo, baseada na Sua suposta semelhança com o Homem.

Bola de neve em tempo de calor

A mentira é como uma bola de neve. Quando mais rola, mais aumenta.


Martinho Lutero (1483-1546)

Ordenação de mulheres só se "Deus quiser"

Notícia no JN de hoje, 24 de Junho de 2011. A ordenação das mulheres. Com uma série de contradições.

A maior ameaça à liberdade religiosa: o preconceito

A Lei da Liberdade Religiosa foi aprovada há 10 anos. Artigo de André Folques no "Público" de hoje. "A maior ameaça da liberdade religiosa é hoje o preconceito. Preconceito que insiste em depurar o espaço púbico da expressão da fé, como se a separação entre Estado e as Igrejas ditasse o acantonamento destas a um estatuto de ranchos etnográficos a quem ocasionalmente se pede que exibam o colorido e exotismo dos seus hábitos".

O velhinho do Muro das Lamentações


Uma jornalista da CNN ouviu falar de um judeu muito velhinho que ia todos os dias ao Muro das Lamentações para rezar, duas vezes por dia, e lá ficava por muito tempo.
Decidiu verificar.
Foi para o Muro e lá estava ele, andando trôpego, em direção ao local sagrado.
Observou-o rezando por uns 45 minutos e quando ele resolveu sair, vagarosamente, apoiado em sua bengala, aproximou-se para a entrevista.
- Desculpe-me, sou Rebecca Smith, do CNN. Como se chama?
- Morris Feldman.
- Há quanto tempo o senhor vem ao Muro orar?
- Bem, há uns 60 anos.
- 60 anos! Isso é incrível! O que pede?
- Peço que os cristãos, os judeus e os muçulmanos vivam em paz. Peço que todas as guerras e todo o ódio terminem. Peço que as crianças cresçam em segurança e se tornem adultos responsáveis. Peço por amor entre os homens.
- E como o senhor se sente, pedindo isso por 60 anos?
- Sinto-me como se estivesse a falar com uma parede...

(Sugestão de FCO)

Desejo e oração

O desejo reza sempre, mesmo se a língua se cala. Se desejas sempre, rezas sempre. Quando é que a oração dormita? Quando arrefece o desejo.


Agostinho de Hipona (354-430)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

As 10 viagens papais mais importantes da História

João Paulo II e líderes religiosos em Assis, em 1986

John L. Allen Jr., no “National Catholic Reporter”, responde a:
De todas as viagens papais que vimos ao longo dos anos, quais foram verdadeiramente memoráveis?
O jornalista norte-americano aponta as “dez viagens papais mais importantes da História", ou seja, as que serviram para mudar a História, para recalibrar as impressões do público e/ou para deixar uma marca na igreja local, as que mais impressionaram por terem sido desagradáveis, tristes, ou por perderem oportunidades.

Nestas viagens, Portugal e Brasil não aparecem nenhuma vez, o que será injusto, pelo menos quanto à viagem de João Paulo II, em 1982, a Fátima, um ano após o atentado, e mesmo em 2000, quando foi revelado o terceiro segredo de Fátima e beatificados os Pastorinhos.

Eis a lista:

10. João XXIII, Loreto-Assis, Itália, 4 de Outubro de 1962
9. João Paulo II, Denver (Estados Unidos), 12 a 15 Agosto de 1993
8. Bento XVI, Turquia, 28 de Novembro a 1 de Dezembro de 2006
7. João Paulo II, Manila, Filipinas, 12 a 16 Janeiro de 1995
6. Empate entre: João Paulo II, Nicarágua, 4 de Março de 1983;
     e João Paulo II, Cuba, de 21 a 26 Janeiro de 1998
5. João Paulo II, México, 26 a 31 Janeiro de 1979
4. Paulo VI, Terra Santa, 4 a 6 Janeiro de 1964
3. João Paulo II, Assis, 27 de Outubro de 1986
2. João Paulo II, Terra Santa, 20 a 26 de Março de 2000
1. João Paulo II, Polónia, 2 a 10 de Junho de 1979

John L. Allen Jr. aponta ainda mais oito que decidiu "não cortar" e alerta para o perigo, por questões de segurança, de uma viagem às Filipinas. Nas anteriores três, houve duas tentativas de assassinar o Papa.

Ler tudo aqui (o mais interessante são as explicações) em português e aqui em inglês.

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...