sábado, 17 de abril de 2010

"As pessoas com fé precisam de ter melhor educação científica"


Entrevista da "New Scientist" a Francisco Ayala vencedor do Prémio Templeton pelo seu contributo para o diálogo Ciência / Religião. Ayala (Madrid, 1934), antigo padre dominicano, biólogo e geneticista na Universidade da Califórnia, em Irvine, vive nos EUA desde 1961. Foi conselheiro do presidente Bill Clinton. Entrevista em inglês, aqui.

Foi-lhe atribuído o prémio por dizer que não há contradição entre ciência e religião. Muitos discordam.
Ciência e religião são duas janelas através das quais olhamos para o mundo. A religião lida com a relação com o nosso Criador, de uns com os outros, com o sentido e a finalidade da vida e os valores morais. A ciência lida com o surgir da matéria, a expansão das galáxias, a evolução dos organismos. Lidas com formas diferentes e conhecimento. Eu sinto que a ciência é compatível com a fé religiosa num Deus pessaol, omnipotente e bondoso.

Contudo, existem conflitos. Porquê?
A religião e a ciência não são adequadamente compreendidas por algumas pessoas, particularmente cristãos. Alguns pretendem interpretar a Bíblia como se fosse um manual. É um livro para nos ensinar verdades religiosas. Ao mesmo tempo, alguns cientistas reivindicam que sabem usar a ciência para provar que Deus não existe. A ciência não deve fazer nada desse género de coisas.

Fala do mútuo respeito entre ciência e religião. Como é que podemos apoiar esta ideia?
As pessoas com fé precisam de ter melhor educação científica. Quanto aos cientistas, não sei o que podem fazer: alguns defendem de forma racional e sustentada que a religião e a ciência são incompatíveis.

Por que diz que o criacionismo é má religião?
O criacionismo e o design inteligente não são compatíveis com a religião porque implicam que o designer é um mau designer, permitindo crueldade e sofrimento. A evolução explica estas coisas como o resultado de um processo natural, da mesma forma que explicamos terramotos, tsunamis ou erupções vulcânicas. Não devemos atribuí-los a uma acção de Deus.

Uma área em que a religião e a ciência parecem estar em desacordo é a homossexualidade. Quem tem razão?
Há agora provas de que a predisposição para a homossexualidade é geneticamente determinada, por isso há uma componente biológica e negá-la não é correcto. Algumas religiões condenam como imorais as relações sexuais entre pessoas do mesmo género. Tal pode ser julgado enquanto matéria moral. Temos de destrinçar o que pertence à esfera da moralidade.


O que diria a pessoas como Richard Dawkins, que defendem que não precisam de religião para terem uma vida moral?
Pode-se aceitar valores morais sem se ser religioso. Contudo, em grande medida, as pessoas têm os seus valores morais por associação à sua religião.

Acredita em Deus?
Não respondo a questões sobre as minhas crenças pessoais.

Há milhares de religiões, muitas mutuamente contraditórias. Não podem estar todas certas.
Correcto. É uma questão de fé. Não há maneira de demonstrar a superioridade de uma religião. Verdadeira religião é a que nos calha acreditar.

Sou ateu. Estou a perder alguma coisa?
Não, porque pode ter uma vida cheia de sentido sem fé em Deus. Mas muitas pessoas vivem na pobreza e na miséria. É a fé que lhes dá alguma esperança e sentido. Eu não quero roubar-lhes isso.

1 comentário:

Unknown disse...

Me preocupo ao ver um comentário assim: "O criacionismo e o design inteligente não são compatíveis com a religião porque implicam que o designer é um mau designer, permitindo crueldade e sofrimento".

O fato de haver um Criador e, portanto, uma fonte de inteligência superior (uma vez que do nada, nada provém) que estabeleceu ORDEM, mas também não criou robôs. Deus deu ao seres humanos um nível racional superior que permitiriam escolher manter o equilíbrio ou implantar entropia.

O argumento apresentado por Ayala é um desserviço aos que procuram encontrar a chave harmônica entre ciência e fé. Não posso culpar a chevrolet pelo estrago que eu cometi ao meu carro.

Parabéns pelo blog. Graça e Paz!

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