quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Bento XVI triste por desconfiarem do seu amigo Gotti Tedeschi


A revista "Sábado" de hoje, reportando-se a uma entrevista do secretário de Bento XVI, diz o que ouvi alguns jornalista mais avisados dizerem: "Que Bento XVI já não tinha mão naquilo". Provavelmente nunca teve. Ele era mais livros e menos política. 

O que disse mesmo o secretário a 23 de outubro:

É verdade que o Papa Ratzinger foi mantido às escuras sobre a expulsão de Gotti Tedeschi do IOR?
 
Eu me lembro bem desse momento. Era o dia 24 de maio. Naquele dia, houve também a prisão do nosso mordomo Paolo Gabriele. Ao contrário do que se pensa, não houve nenhum nexo entre os dois eventos, mas sim apenas uma infeliz coincidência, até mesmo diabólica. Bento XVI, que tinha chamado Gotti para o IOR, para levar adiante a política da transparência, ficou surpreso, muito surpreso pelo ato de desconfiança para com o professor. O papa o estimava e o queria bem, mas, por respeito às competências de quem tinha responsabilidade, ele optou por não intervir naquele momento. Depois da desconfiança, o papa, por motivos de oportunidade, embora nunca tenha recebido Gotti Tedeschi, manteve os contatos com ele de modo adequado e discreto. (Ler a entrevista toda aqui.) 
Como o nome de Ettore Gotti Tedeschi já por este blogue andou várias vezes, fui ver o que escrevi sobre ele. Já não me lembrava e não me imaginava tão informado em 25 de novembro de 2010:

Que as suspeitas tenham surgido após a visita ao Reino Unido, quando Ettore Gotti Tedeschi (...), um homem da confiança do Papa alemão, tem feito um trabalho notável à frente do IOR, leva a pensar no que já tem sido adiantado mais à boca fechada do que às claras: mais uma tentativa para atingir Bento XVI.

(Ler tudo aqui.)

Google Earth apanha Jesus e Maria


O Google Earth apanhou isto e dizem que é (leia-se: parece) "Jesus e Maria" (aqui). Jesus e Maria? Ou antes José e Maria?

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Deserto


O teólogo norte-americano Adam Kotsko diz que “Zisek ainda não encontrou um interlocutor teológico que possa desafiá-lo de uma maneira produtiva”. E ainda: “Espero que alguém se levante para preencher esse papel, porque é muito raro que um filósofo contemporâneo tenha qualquer interesse na teologia contemporânea”. Pois. Mas quem? Com Milbank, anglicano, a coisa foi mais dois monólogos paralelos do que diálogo. Com o reformado Moltmann? E os teólogos católicos da contemporaneidade? Onde estão eles? Entrevista dom Adam Kotsko aqui.

Sobre Zizek, ainda muito na moda, há algumas coisas por aqui.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Bento Domingues: "Não fechar o futuro"

Texto de Bento Domingues no "Público" de ontem.

Qual o conhecimento que mais implica o conhecedor?

Andando e ler a "Lumen Fidei", intermitentemente e ao sabor de outras intenções que não o puro gosto em ler o documento do princípio ao fim, encontro este ponto que responde àquela velha questão de se se pode ser teólogo sem ser crente (negrito meu):
36. Como luz que é, a fé convida-nos a penetrar nela, a explorar sempre mais o horizonte que ilumina, para conhecer melhor o que amamos. Deste desejo nasce a teologia cristã; assim, é claro que a teologia é impossível sem a fé e pertence ao próprio movimento da fé, que procura a compreensão mais profunda da autorrevelação de Deus, culminada no Mistério de Cristo. A primeira consequência é que, na teologia, não se verifica apenas um esforço da razão para perscrutar e conhecer, como nas ciências experimentais. Deus não pode ser reduzido a objeto; Ele é Sujeito que Se dá a conhecer e manifesta na relação pessoa a pessoa. A fé reta orienta a razão para se abrir à luz que vem de Deus, a fim de que ela, guiada pelo amor à verdade, possa conhecer Deus de forma mais profunda.
Esta passagem beneditino-franciscana levou-a a reler um texto de 1989, de grande Martín Descalzo (1930-1991):
Conhecê-lo não é uma curiosidade. É muito mais do que um fenómeno de cultura. É algo que põe em jogo a nossa existência. Porque com Jesus não ocorre como com outras personagens da história. Que César passasse o Rubicão ou não, é um feito que pode ser verdade ou mentira, mas que nada muda o sentido da minha vida. Que Carlos V fosse imperador da Alemanha ou da Rússia, nada tem que ver com a minha salvação como ser humano. Que Napoleão morresse derrotado em Elba ou que tivesse chegado imperador ao fim dos seus dias, não moverá um único ser humano a deixar a sua casa, a sua comodidade e o seu amor e pôr-se a falar dele numa aldeola no coração de África. 
Mas Jesus não, Jesus exige respostas absolutas. Ele a assegura que, crendo nele, o ser humano salva a sua vida e, ignorando-o, a perde. Este homem apresenta-se como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Portanto – se isto for verdade –, o nosso caminho e a nossa vida mudam segundo a nossa resposta à pergunta sobre a sua pessoa. 
E como responder-lhe sem conhecê-lo, sem se ter aproximado da sua história, sem contemplar os segredos da sua alma, sem ter lido e relido as suas palavras?

domingo, 27 de outubro de 2013

Bento Domingues: "Qual o papel das mulheres numa Igreja onde são a maioria?"

Um bocadinho do texto de Bento Domingues no "Público" de hoje:

O que o Papa procura é centrar as suas preocupações na reconstrução de uma Igreja que seja um nós aberto ao mundo. Herdou, porém, uma questão gritante que papas anteriores, com argumentos duvidosos, afirmaram estar definitivamente encerrada. A pergunta sempre adiada é clara: qual o papel das mulheres numa Igreja onde são a maioria? O sinal inequívoco de que entrámos num tempo novo será dado pela resposta que se encontrar, com as mulheres, para esta questão.

sábado, 26 de outubro de 2013

Anselmo Borges: "O mal e Deus: com Valter Hugo Mãe"

Valter Hugo Mãe, Nuno Camarneiro e Anselmo Borges

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:

1. Foi um convite amável e insistente. Para uma conversa com Valter Hugo Mãe. Na Universidade de Aveiro, no dia 8 de Outubro. O tema: Mal.

O que é que se diz sobre o mal? Comecei por recordar que há muitos tipos de mal: o mal físico, o mal moral, o mal metafísico, o mal fora de nós, o mal em nós..., chamando sobretudo a atenção para o facto de, se estávamos ali para essa conversa-debate, é porque nos sentíamos razoavelmente, com algum conforto e sem grandes aflições. Porque, quando o mal se abate sobre nós - um cancro, um terramoto, um tsunami, um filho que se nos morre desfeito em dores e perante a nossa impotência total, quando nos destruímos mutuamente, quando tudo se afunda sob os nossos pés, quando o futuro todo se apaga... -, aí gritamos, choramos, blasfemamos, rezamos..., não debatemos.

Ao longo do tempo, houve tentativas várias de solução para o mal, sobretudo quando nos confrontamos com Deus. Como é que Deus é compatível com todo o calvário do mundo? Lá está Epicuro: ou Deus pôde evitar o mal e não quis; então, não é bom. Ou quis e não pôde; então, não é omnipotente. Ou quis e pôde; então, donde vem o mal? Na sua justificação de Deus, Leibniz concluiu que este é o melhor dos mundos possíveis. Schopenhauer contrapôs: este mundo não passa de uma arena de seres torturados, que sobrevivem devorando-se uns aos outros, ele "é o pior dos possíveis". A solução gnóstica e dualista coloca o mal no interior da Divindade. Há quem pense que devíamos despedir-nos do Deus omnipotente e ir ao encontro do Deus sofredor e crucificado. Segundo Kant, toda a tentativa de teodiceia teórica fracassa.

Penso que é o teólogo A. Torres Queiruga que abre para uma correcta reflexão, ao exigir uma ponerologia (de ponerós, mau): tratar do mal, antes de qualquer referência a Deus, pois o mal atinge todos, crentes e não crentes. Aí, percebe-se que a raiz do mal é a finitude. O mundo é finito e, por isso, não podendo ser perfeito, tem falhas e carências, choques.

Assim, Deus é omnipotente e infinitamente bom. Mas pretender que poderia acabar com o mal no mundo, criando-o perfeito, mas não quer, é uma contradição. Não tem sentido perguntar por que é que Deus não criou um mundo perfeito, pois Deus não pode criar outro Deus. Não se diz que há algo que Deus não pode fazer, apenas se nega uma contradição. Se o mundo inevitavelmente finito não pode ser perfeito, não podemos pretender que Deus o faça.

A pergunta é outra: se o mal é inevitável, porque é que Deus o criou? Aqui começa a pisteodiceia (de pistis: justificação da fé). Há diferentes pisteodiceias, pois todos têm de enfrentar-se com o mal e cada um encontra a sua resposta. O crente religioso também tem a sua: crê em Deus como Amor e anti-Mal e espera a salvação definitiva e plena para lá da morte. Sem Deus, fica-se com o mal e sem esperança, também para as vítimas inocentes.

2. Poucos dias depois, uma jovem senhora, com uma tese académica já pronta, que acabara de sepultar o pai ainda relativamente jovem, telefona-me e eu sinto e ouço as lágrimas a correr e a voz embargada, a tremer e a suplicar, porque também uma irmã acabava de ter um AVC: "É de mais; por favor, reze, por favor reze, a razão não sabe nada, não pode nada..."

E eu lembrei-me das palavras do início em Aveiro: que, perante o sofrimento atroz, as pessoas não debatem, mas choram, gritam, blasfemam, rezam (talvez tudo isto ao mesmo tempo).

E também me lembrei do que escreveu o filósofo agnóstico J. Habermas sobre o último encontro com o filósofo ateu H. Marcuse, que tinha citado: ele "estava na sala de cuidados intensivos de um hospital de Frankfurt, rodeado de aparelhos nos dois lados da cama. Nesta ocasião, que foi o nosso último encontro filosófico, Marcuse, em conexão com a nossa discussão de dois anos atrás, disse-me: "Sabes? Agora sei em que é que se fundamentam os nossos juízos de valor mais elementares: na compaixão, no nosso sentimento pela dor dos outros"".

Estou convicto de que, nisto, quanto à compaixão, Valter Hugo Mãe estará totalmente de acordo comigo.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Belo texto

Estou a ler, aos pouquinhos, como quase tudo ultimamente, a "Lumen fidei", a encíclica de Bento XVI, perdão, Francisco. Só agora. Devido à dupla paternidade, está a passar despercebida, parece-me. Não me recordo de Francisco a ter citado, como costumava ser normal nos discursos papais. Nem se vêm por aí grandes incentivos à sua leitura. Nem os bispos a citam como costumam citar outros documentos papais recém-aparecidos. Mas é um belo texto. (Vou entrar no terceiro capítulo.) Indispensável para quem pensa sobre fé, razão, verdade, teologia, Igreja. Para pôr bem juntinho à "Fides et ratio". Que, afinal, teve como principal redator o mesmo Ratzinger.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ouro, incenso e mitra

O bispo do luxo, li na "Sábado", gostava de brocados de ouro e de celebrações com incenso. Tem mitra, mas falta a mirra.

Será verdade?

Porque é que os ateus não conseguem inspirar-se na cultura com as mesma espontaneidade e rigor que os religiosos aplicam aos seus textos sagrados?

Alain de Botton, pág. 109 de "Religião para Ateus"

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Adeus, bispo gastador. Olá, equipa de críquete

O bispo de Limburgo (Alemanha), que gastou 31 milhões de euros na sua residência episcopal, foi afastado temporariamente da sua diocese. Li aqui. O "Dinheiro vivo" há tempos escreveu sobre este senhor. Ler aqui.


Entretanto, diz uma notícia que o

Vaticano funda equipa de críquete e desafia Igreja de Inglaterra

Assim de repente, a gente lê e não acredita. Mas a notícia explica e lá se compreende.
Irá realizar-se um campeonato que será disputado por equipas de padres e seminaristas de instituições católicas em Roma. Depois de jogarem entre si num torneio “Twenty20”, os melhores jogadores são seleccionados para o “Vatican XI”, a equipa do Vaticano, e vão desafiar a Igreja de Inglaterra para que também forme uma equipa para disputar um jogo no Lord’s, o estádio mais célebre da modalidade, em Londres. Ler aqui.
É algo tão ridículo como a Clericus Cup. É desporto universitário e mais nada. Não sei por que é que o país do Papa se mete nestas coisas.

Uma teologia que não seja eclesial é...

Uma teologia que não seja eclesial é de aventureiros da inteligência, não de servidores do Altíssimo preocupados com a salvação dos homens...

Bruno Forte

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Bónus de pinças e chapa elétrica

A verdade é que somos frágeis a manter os nossos compromissos e sofremos de uma fraqueza de vontade em relação aos contos da sereira da publicidade, sejamos a criança irascível de três anos encantada com a visão de uma quinta de brincar com um canil insuflável, sejamos um adulto de 42 anos cativado pelas possibilidades de um grelhador com um bónus de pinças e chapa elétrica.

Alain de Botton, pág. 89  de "Religião para Ateus"

Bento Domingues: "De quem é a doutrina social da Igreja?"

No "Público" de ontem.

domingo, 20 de outubro de 2013

Bento Domingues: "De quem é a doutrina social da Igreja?"

Conclusão do texto de Bento Domingues no "Público" de hoje:

Ao regressar à eclesiologia do Vaticano II, o Papa Francisco não se cansa de repetir que a Igreja somos todos nós. Sendo assim, a DSI terá de resultar das respostas que a pluralidade das comunidades cristãs, situadas em culturas diferentes, souberem dar a antigas e novas perguntas: que fizeste do teu irmão? Que economia é essa que tem no centro o culto idolátrico do dinheiro e exclui os doentes, os idosos, os jovens e as crianças? Que religião é esta que reza o Pai-Nosso e tem uns irmãos à mesa e outros à porta? 
E se trocássemos umas ideias sobre isto? 

sábado, 19 de outubro de 2013

Anselmo Borges "Ateísmo, agnosticismo, teísmo"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:


A modernidade tem como característica fundamental a nova visão científica da realidade. A problemática é de tal modo decisiva que o filósofo e teólogo Javier Monserrat advoga a convocação de um Concílio para confrontar a fé com esse novo dado - ver "Hacia el Nuevo Concilio", de onde partem as reflexões que se seguem.

Alguns resultados estão alcançados. 1. Para a ciência actual, o universo todo, incluindo a consciência, "produziu-se pelas propriedades ontológicas e dinâmicas da matéria que foi produzida no big bang com altíssima densidade e energia". 2. Estamos em presença de um mundo real e aberto. 3. Este mundo aparece-nos ordenado finalisticamente. Trata-se de uma "ordem viva" e "ordem antrópica". De qualquer modo, apresenta-se como um mundo enigmático, sendo possíveis três conjecturas metafísicas: ateísmo, agnosticismo, teísmo.

Os autores ateus "mostraram que entender a consistência eterna de um universo sem Deus é possível". A ciência pode, segundo algumas teorias, conceber a auto-suficência do universo, "a sua consistência e estabilidade dinâmica num tempo eterno, sem fim".

Perante a impossibilidade de a ciência resolver com certeza as questões últimas, de ordem metafísica, o agnosticismo assume a ausência de resposta: trata-se de "um incompromisso filosófico". Respeita tanto o ateísmo como o teísmo. Provavelmente a percentagem de agnósticos é hoje muito mais elevada do que a dos ateus.

O ateísmo não pode ser excluído como "teoria possível". Mas o ateísmo não é evidente. Se o fosse, não haveria teístas, do mesmo modo que, se o teísmo fosse uma evidência, não haveria ateus. Perante um mundo obscuro e enigmático, tanto o ateísmo como o teísmo constituem uma "fé filosófica", uma "crença".

Também o teísmo apresenta razões para argumentar a favor da existência de Deus. Já não se trata de "demonstrar", mas de mostrar que a razão científico-filosófica torna verosímil a existência de Deus: "uma certeza moral livre da existência de Deus". 1. A hipótese de um Deus transcendente e criador enquanto fundamento da consistência, estabilidade e suficiência de "um universo que começa no tempo (a grande explosão) e que previsivelmente acabará numa morte energética e na sua dissolução final" surge como a mais verosímil. É defensável a hipótese de que "o fundamento do ser, a verdadeira realidade auto-suficente em si mesma e eterna, seja um ser divino transcendente que - com intencionalidade - "cria", "funda" o universo visível no seu fluir temporal finito". 2. O universo que autonomamente produziu a ordem física e biológica, conducente à liberdade, torna verosímil um desígnio racional de Deus enquanto criador. O teísmo actual não aceita o Deus tapa-buracos, mas, precisamente ao reflectir sobre a ordem "quase-racional" constatável, e, portanto, sobre as propriedades da matéria e as leis evolutivas que permitem produzir autonomamamente a ordem psicobiofísica e a sua orientação antrópica - porquê estas propriedades e leis e não outras? - ,constata que esta ordem, congruente com um fim inteligível, "torna verosímil a hipótese de que poderia estar causada pelo "desígnio" racional de uma Inteligência Criadora." 3. Esta verosimilhança é confirmada e aprofundada, quando se constata que o processo evolutivo dá origem no seu termo a seres humanos enquanto pessoas autoconscientes e livres. Não é mais razoável e inteligível o processo, se na sua raiz e como sua Causa está o Deus transcendente e pessoal, que cria livremente por amor? O teísmo actual "assumiria a superação do dualismo e identificar-se-ia com a lógica do emergentismo, incluindo a emergência do psiquismo humano, da razão e da sua especial abertura à Divindade", "que abarca o universo e o contém criativamente no seu interior". Este universo é um "universo para a liberdade", a partir de um "desígnio para a liberdade" e, portanto, do "princípio antrópico cristão", embora não se imponha como inevitável a "solução divina".

Tanto o ateísmo como o teísmo têm na base uma crença ou uma fé, com razões, devendo, portanto, ateus, agnósticos e teístas respeitar-se e dialogar.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Banksy de inspiração católica

Banksy anda a fazer arte nas ruas de Nova Iorque. A polícia não gostou e quer apanhá-lo. A aventura pode ser acompanhada aqui. Nas ruas de NI, também há obras de inspiração católica.





(Veja aqui uma das obras do artista inglês de identidade incógnita - mas genial -, o "Cardeal Sin")

O Papa não trocou nada os sapatos Prada. Não eram Prada. Eram de um sapateiro de uma esquina romana


Ok, frei Ventura. Mas tinha obrigação de saber que os sapatos de Bento XVI não eram nada Prada. Isto saiu no DN de 4 de outubro de 2013. Só li agora. E achei que pode ser partilhado. Em baixo, o tal sapateiro peruano em Roma.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Motivos para atender a Francisco

O chefe dos lefebvrianos, D. Bernard Fellay, diz que a “situação da Igreja é um verdadeiro desastre. O Papa atual está piorando 10.000 vezes a situação”.

E acrescenta:

“No início do pontificado do papa Bento XVI, disse, a Igreja continuava (piorando), mas o Papa estava procurando frear. É o mesmo que dizer: a Igreja continuava declinando, mas com um paraquedas. Já com o início do papa Francisco, disse, ele corta as cordas e coloca um foguete para ir para baixo”.

Se o tradicionalista assim argumenta, mais motivos temos para atender ao que Francisco diz, quer e faz. Li aqui.

Já nos EUA (o lefebvriano também falou no EUA), alguns católicos pedem ao Papa prudência (julgo que não é só lá; lá para os lados da Rua Ivens já pediram o mesmo; e alguns blogues pensam que o Papa ainda é Bento XVI)

...Francisco é um homem notável, ninguém pode negar isto. Contudo, não acredito que se preocupe em ser prudente”, destacou Robert Royal, presidente do “think tank” Fé e Razão. Em sua opinião, a dinâmica do Papa, orientada para a evangelização, “de alguma maneira provoca ansiedade nas pessoas”.

...enquanto outros sentem-se como o irmão do filho pródigo (e eu também já estive na pele de qualquer dos filhos do homem rico e misericordioso):

Gregory Popcak, assessor matrimonial católico em Ohio, ficou sem palavras quando alguns casais refutaram suas afirmações, citando palavras do papa Francisco. Primeiro, sentiu-se frustrado, depois ficou envergonhado, porque após ter refletido e rezado, percebeu-se como o irmão bom do filho pródigo, “o jovem bom que está no fundo e que obedece ao pai”.

Li aqui.

- O que dá o cruzamento de um ateu com uma testemunha de Jeová?

- Alguém que nos bate à porta sem motivo nenhum.

Ter Francisco na equipa não chega


Notícia do "Público" de hoje. Quanto ao último parágrafo, o San Lorenzo perdeu a final da Taça da Argentina com o Arsenal de Sarandí por 3-0. E apesar de o Papa ter feito recentemente uns comentários positivos sobre a teologia da libertação, o San Lorenzo não vai à Taça dos... Libertadores.

O rouxinol e a rosa

(...) Mas o espinho ainda não atingira o seu coração, e assim o coração da rosa continuava branco, pois somente o sangue do coração de um rouxinol pode tornar vermelho o coração de uma rosa.

Lido ontem. Do conto "O rouxinol e a rosa", de Oscar Wilde, que é impossível ler sem encontrar paralelos com o sacrifício e autossacrifício cristão, ainda que "amor" possa ter sentidos diferentes no conto e na mensagem cristã.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Dá Deus nariz a quem não tem...

(...) E tenho um excelente nariz que é uma dádiva de Deus. Ainda bem que ele me deu o nariz antes de descobrir que não sou a melhor católica do mundo.

Stephanie Plum no início "Perseguição escaldante", policial de Janet Evanovich.

Galeria da Compaixão

Os museus têm de ser mais do que espaços para expor objetos belos. Devem ser lugares que usam objetos belos para tentar tornar-nos bons e sábios. Só então os museus poderão afirmar que cumpriram devidamente a nobre mas ainda elusiva ambição de se tornarem as novas igrejas.

Alain de Botton, página 238, "Religião para ateus". No capítulo VII, "Arte", o filósofo defende que os museus, na sua pretensão moderna de substituir os templos religiosos, deveriam ter as obras de arte dispostas por temas (tipo "Galeria da Compaixão", "Galeria do Autoconhecimento", "Galeria do Amor") e não por escolas (tipo "Escola de Veneza", "O século XIX").

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Bento Domingues: "O perdoado que não perdoa"

Texto de Bento Domingues no "Público" de ontem.

Acontece aos mejhores


Onde está "LESUS" devia estar "JESUS". A Casa da Moeda italiana fez asneira. 5996 moedas foram retiradas passado 24 horas. Quatro foram foram vendidas. E quem as comprou tem agora uma fortuna no bolso. Li no JN (de onde copiei a imagem) e no RD.


Nota, uns dias depois: Como nota um leitor, nos comentários, onde está um L deve estar um I, de Iesus, que é como se escreve Jesus em latim.

Rouco compara la persecución religiosa española con la de la Unión Soviética?

O título diz que...

...Rouco compara la persecución religiosa española con la de la Unión Soviética


Mas não é bem isso. O que diz o cardeal é:
Hemos celebrado esta mañana en Tarragona la beatificación de 522 mártires de la persecución religiosa en España del siglo XX. Se trata de Obispos, sacerdotes, consagrados y laicos, unidos a otros muchos que por odio a su fe fueron perseguidos, torturados y asesinados en la Europa del siglo XX. Lo que ocurrió en España y en muchos otros lugares, como la antigua Unión Soviética, sigue teniendo lugar hoy a diferente escala en muchos países donde no se respeta la libertad religiosa y el carácter sagrado de cada persona humana.
También el pueblo judío sufrió el siglo pasado la espantosa desgracia del holocausto, la Shoah, -¡un verdadero genocidio!- cuya causa profunda, junto al antisemitismo que hemos de luchar por erradicar en todas sus formas, hay que buscarla en la negación radical de Dios que conduce a un no disimulado desprecio del hombre, que es siempre su criatura independientemente de su condición social, raza y religión.

Aponta mais exemplos do que faz comparações. Não se pode comprarar a perseguição em Espanha com o Gulag ou o Holocausto. Mas também é verdade que o mal não se mede pelo número de mortos. Ler notícia e discurso aqui.

Chão com cheiro a limão versus fortaleza

Se tendemos a pensar tantas vezes em cera para o chão com cheiro a limão ou em aperitivos estaladiços de pimenta preta, mas relativamente pouco acerca da persistência ou da justiça, a culpa não é apenas nossa. O problema é que estas duas virtudes cardeais não estão geralmente em posição de se tornarem clientes da Young & Rubicam.

Alain de Botton, pág. 91 de "Religião para ateus"

Nota: As virtudes cardeais ou cardinais são a justiça, a fortaleza, a prudência e a temperança. Com "persistência" suponho que se pretende dizer fortaleza.

domingo, 13 de outubro de 2013

Anselmo Borges: "Deus ainda tem futuro?"

Texto de Anselmo Borges no DN de ontem:

Perguntar: "Deus ainda tem futuro?" não é contraditório? (Para os crentes terá até sabor a blasfémia). De facto, se Deus não existir, a pergunta não tem sentido. Mas também não tem sentido se Deus existir, pois faz parte do conceito de Deus ser Presença eternamente presente. A pergunta supõe, pois, um acrescento implícito: Deus ainda tem futuro na e para a Humanidade?

Com razão, perguntava Karl Rahner, talvez o maior teólogo católico do século XX: O que aconteceria, se a simples palavra "Deus" deixasse de existir? E respondia: "A morte absoluta da palavra "Deus", uma morte que eliminasse até o seu passado, seria o sinal, já não ouvido por ninguém, de que o Homem morreu."

Václav Havel, o grande dramaturgo e político, pouco tempo antes de morrer, surpreendeu muitos ao declarar que "estamos a viver na primeira civilização global" e "também vivemos na primeira civilização ateia, numa civilização que perdeu a ligação com o infinito e a eternidade", temendo, também por isso, que "caminhe para a catástrofe".

Embora, no domínio religioso, as estatísticas exijam enormes precauções, são sempre uma indicação. Ora, há uma série de estudos que mostram o crescimento em todo o mundo do ateísmo e da descrença - ver Philosophie Magazine, Setembro de 2013. Constata-se um declínio da religiosidade entre 2005 e 2012: no mundo, 77% contra 68%, portanto menos 9%; na França, 58% contra 37%: menos 21%; na África do Sul, 83% contra 64%, nos Estados Unidos, 73% contra 60%; no Vietname, 53% contra 30%. Embora minoritário, o ateísmo cresce por toda a parte. Considerando a descrença, alguns números, a título de exemplo: no mundo, ateus convencidos: 13%; não religiosos: 23%; religiosos: 59%; na China, as percentagens são respectivamente: 47%, 30%, 14%; Japão: 31%, 31%, 16%; República Checa: 30%, 48%, 20%; Alemanha: 15%, 33%, 51%; Holanda: 14%, 42%, 43%; Irlanda: 10%, 44%, 47%. A crise da fé acentua-se particularmente entre os jovens. Outro dado significativo: a perda de crédito das crenças instituídas anda ligada à prosperidade material. Esta referência às crenças instituídas é importante, pois, como faz notar o filósofo Jean-Marc Ferry, o ateu actual é diferente do ateu clássico, pois já não se opõe frontalmente ao crente pela afirmação da inexistência de Deus: "Pode--se ser religioso prescindindo da existência de Deus e pode-se postular Deus como ideia necessária sem crer que Deus existe." Há dois tipos de relação com o mundo e duas atitudes existenciais: "O ateu não pretende saber que Deus não existe. Recusa antes viver sob a ideia de Deus. Dito de modo positivo: prefere viver sob a ideia da sua finitude temporal sem apelo", enquanto a fé leva à "resolução de confiar no real, no ser, na vida".

Há uma correlação íntima entre a concepção de Deus e a concepção do Homem. Com o eclipse de Deus é o sentido do mundo que desaparece e o próprio Homem perde orientação. George Minois conclui a sua História do Ateísmo: se, independentemente da sua resposta, positiva ou negativa, o Homem já não vir necessidade de colocar a questão de Deus, isso significa que, pela primeira vez na sua História, a Humanidade sucumbe ao imediatismo, a uma visão fragmentária do aqui e agora e "abdica da sua procura de sentido".

No contexto de uma crise global - crise financeira, económica, social, política, moral -, é preciso perguntar se a crise de Deus não ocupa lugar central.

Hoje e amanhã, no Seminário da Boa Nova, Valadares, Gaia, realiza-se um Colóquio Internacional, subordinado precisamente à pergunta: "Deus ainda tem futuro?" Nele, serão tratados por especialistas de renome internacional, crentes e não crentes - "a existência de Deus é um assunto demasiado sério para ser confiado exclusivamente aos crentes", escreveu o filósofo Paul Clavier -, problemas decisivos neste domínio: a situação religiosa do mundo actual, questões relacionadas com a genética, o animalismo, as neurociências, o transumanismo, o naturalismo, a ética, a mulher e o divino, Ocidente e Oriente, fé, ciência e razão, o Deus de Jesus.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Da importância da ciência

A ciência devia ser importante para nós não apenas porque nos ajuda a controlar partes do mundo,mas também porque nos mostra coisas que nunca dominaremos.

Alain de Botton, pág. 197 de "Religião para ateus"

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O que nos resta?


Se removermos Deus desta equação, que é que nos resta? Humanos aos berros a apelar em vão a um céu vazio.

Alain de Botton na pág. 187 de "Religião para ateus"

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Morreu D. António Marcelino, bispo emérito de Aveiro

Notícia na Ecclesia: Aveiro: Morreu D. António Marcelino, bispo emérito

Um novo animal político impõe-se na cena mediática mundial. Chama-se Francisco

Um novo animal político impõe-se na cena mediática mundial. Chama-se Francisco, diz Sylvie Kauffmann, no "Le Monde". A peça chama-se "La perestroika selon le Pape François". (Os franceses gostam muito do nome Francisco, desde que um comerciante de panos, em homenagem ao país, decidiu chamar Francisco ao seu filho. Aliás, é a esse primeiro Francisco que o Papa se remete). Ler aqui. O início. Ou o texto todo, se pagar.

Estava a falar das universidades

Nós construímos um mundo intelectual cujas instituições mais famosas raramente permitem fazer as perguntas mais sérias da alma, e muito menos responder-lhes.

Alain de Botton, pág. 121 de "Religião para ateus"

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Hoje, em Aveiro: “Mal” é tema de conversa entre Valter Hugo Mãe e padre Anselmo Borges


“Mal” é tema de conversa entre Valter Hugo Mãe e padre Anselmo Borges

É uma frase que vamos repetindo, “Havíamos de falar disso...” e fica sempre para outro dia, porque temos mais que fazer, porque agora não, e os dias correm, e adiam-se as perguntas e as conversas. Desta vez não há desculpas. O Centro de Investigação em Materiais Cerâmicos e Compósitos (Laboratório Associado da Universidade de Aveiro) e a Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro vão receber alguns dos mais notáveis cientistas, artistas e pensadores portugueses para conversas mensais sobre diferentes áreas do saber.

O primeiro desses encontros é já dia 8 de outubro, às 18h15, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro. O escritor Valter Hugo Mãe e o padre Anselmo Borges vão discutir o “Mal”, numa conversa moderada por Nuno Camarneiro, e aberta à participação do público.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Inimigo Público: O que já aprendeu com este Papa?

No "Inimigo Público" de sexta-feira passada

Bento Domingues: "Perdão da dívida"

Texto de Bento Domingues no "Público" de ontem.

Etsi Eden daretur

Devíamos tentar adotar a perspetiva perspicaz daqueles que acreditam no paraíso, mesmo que vivamos as nossas vidas segundo o preceito ateu fundamental de que este é o único mundo que jamais conheceremos.

Alain de Botton, pág. 183 de "Religião para ateus"

domingo, 6 de outubro de 2013

Como reformar o Vaticano

Thomas J. Reese

Por estes dias em que se tem falado da reforma da cúria vaticana, veio-me à memória um artigo que li há uns tempos sobre “Reformar o Vaticano”. O autor do artigo é Thomas J. Reese, um jesuíta.

Em português, o padre norte-americano que já foi diretor da revista “America” tem publicado o livro “No interior do Vaticano”, nas edições Europa-América, que é de longe o melhor livro em português, mesmo que haja outros sérios (conheço mais dois ou três, mas são panfletários) para perceber como funciona a organização vaticana (funções papais, sínodos, colégio dos cardeais, cúria romana, finanças do Vaticano, etc.).

E agora a nota de humor. Conta Reese, na página 197:
“O consultor de uma congregação organizou os cinco «não» para se sobreviver na Cúria:
Não penses.
Se pensas, não fales,
Se pensas e falas, não escrevas.
Se pensas e falas e escreves, não assines o teu nome.
Se pensas e falas e escreves e assinas o teu nome, não fiques surpreendido.”
Ele sabe do que fala. Ora, no tal artigo - não está no livro citado -, Reese explica seis propostas concretas para a reforma do Vaticano. São elas:

1. Transformação do Vaticano de uma corte real para uma burocracia.
2. Fortalecimento dos grémios legislativos na igreja.
3. Transformação das congregações em comissões sinodais eleitas.
4. Criação de um poder judicial independente.
5. Eleição dos bispos.
6. Fortalecimento das conferências episcopais.

Antes de estranhar ou contrariar algumas destas proposições, convém ler o que Reese escreve em concreto. O artigo, condensado, pode ser lido aqui (formato PDF).

Tenho quase a certeza de que o Bispo de Roma – uma vez jesuíta, jesuíta para sempre – conhece o artigo.

Thomas J. Reese termina assim:
¿Qué oportunidades reales tenemos de que estas reformas se produzcan? Como sociólogo debo contestar: prácticamente nulas. La iglesia está regida actualmente por grupos que se refuerzan unos a otros y que saben perfectamente que esta reforma restringiría su poder. Y esto es exactamente lo contrario de su teología de la iglesia. Pero como cristiano católico debo seguir esperando.
Há tempos, no rescaldo das congregações gerais e da eleição papal, o jesuíta voltou ao tema no "National Catholic Reporter". Escreveu, entre outras coisas, o que quase já me pareceu ouvir da boca de Francisco:
My own prescription for reforming the Curia is based on the supposition that it should be in service to the pope as head of the college of bishops. It should be organized as a civil service and not part of the hierarchy of the church. 
Ler tudo (no NCR) aqui.

Bento Domingues: "Perdão da dívida"

Terceiro e último ponto do texto de Bento Domingues no "Público" de hoje:


Não seria eticamente aceitável fazer despesas com o propósito de as não pagar. Mas o "perdão da dívida", desde as épocas mais recuadas até aos tempos mais recentes, nada tem de insólito. A própria Alemanha, depois de guerras criminosas, beneficiou largamente desse gesto ancestral. 
Há 60 anos, 20 países, entre eles a Grécia, Irlanda e Espanha, decidiram perdoar mais de 60% da dívida da Alemanha Ocidental. Segundo uma análise de Éric Toussaint - historiador e presidente do Comité para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo -, a dívida antes da guerra ascendia a 22,6 mil milhões de marcos, com juros. A dívida do pós-guerra foi estimada em 16,2 mil milhões. No acordo assinado, em Londres, estes montantes foram reduzidos para 7,5 mil e 7 mil milhões respectivamente. Isto equivale a uma redução de 62,6%. O historiador alemão, Albrecht Ritschl, confirmou que existiu um perdão de dívida gigantesco ao país, que no caso do credor Estados Unidos foi quase total. Em 1953, os Estados Unidos ofereceram à Alemanha um haircut, reduzindo o seu problema de dívida a praticamente nada (Cf. Dinheiro Vivo 28/02/2013). 
Pedir o perdão da dívida pode ter inconvenientes. Não lutar por ele é continuar com o país estrangulado. Na Eucaristia, os cristãos confessam que é no perdão que Deus manifesta o seu poder. Demos essa oportunidade a Angela Merkel.


Amanhã porei o texto todo aqui. Mas desde já digo que não concordo de maneira nenhuma com o perdão da dívida portuguesa. Invocar a situação da Alemanha do pós-guerra para exigir ou pelo menos sugerir um perdão da dívida portuguesa não faz qualquer sentido. E nem sei se não será uma afronta ao povo alemão, destroçado, ainda que por vezes convivente, com o poder totalitário. Em Portugal, não houve guerra, o país não está destruído, não tem de começar do zero. A dívida foi feita livremente pela democracia e o país vive em democracia, apesar de tudo.

Se a dívida portuguesa se fez com consumo (entre outras coisas, certamente), tem de ser paga com menos consumo e mais produção. Além do mais, o discurso de Bento Domingues é contraditório com outro das mesmas bandas que diz que "os ricos paguem as dívidas" ou "a crise". Se os ricos deveriam pagar as dívidas e se agora se pede para que ela seja perdoada, deseja-se que seja perdoada aos ricos? Também me custa, mas eu quero pagar a dívida. Todos devem pagá-la, segundo o princípio cristão-marxista de "cada um segundo as suas capacidades".

sábado, 5 de outubro de 2013

Anselmo Borges: "Ratisbona, laicidade e laicismo"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:


Quando, após o que parecia a "Primavera Árabe", surgiu um inverno, igrejas são destruídas e cristãos mortos - o Grande Mufti da Arábia Saudita, Abdul Aziz bin Abdullah, acaba de declarar que "é necessário destruir todas as igrejas da região" -, não falta quem se lembre do famoso discurso de Bento XVI em Ratisbona, no dia 12 de Setembro de 2006. Tratou-se de uma lição universitária na Aula Magna da universidade na qual tinha ensinado. A reacção de alguns sectores muçulmanos foi violenta.

Bento XVI começou por dizer que tinha acabado de ler a parte editada pelo professor Th. Khoury, de Münster, do diálogo que o douto imperador bizantino Manuel II, o Paleólogo tivera em 1391 com um persa culto sobre o cristianismo e o islão e a verdade de ambos. A um dado momento, o imperador toca o tema da jihad, guerra santa. Certamente, ele sabia que na sura (capítulo) 2, 256, talvez uma das suras do início, quando Maomé ainda não tinha poder e era ameaçado, se lê: "Não deve haver coacção na religião." Mas conhecia também as disposições posteriores acerca da guerra santa. Ora, "de modo surpreendentemente brusco, a ponto de ser para nós inaceitável, dirige-se ao seu interlocutor simplesmente com a pergunta central sobre a relação entre religião e violência em geral, dizendo: "Mostra-me o que é que Maomé trouxe de novo e encontrarás apenas coisas más e desumanas, como a sua directiva de difundir por meio da espada a fé que pregava"." O imperador explica em seguida as razões por que a difusão da fé através da violência é um comportamento irracional. A violência é contra a natureza de Deus e a natureza da alma. "A Deus não agrada o sangue, diz o imperador. Não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus".

É esta a ideia que Bento XVI queria sublinhar: "A afirmação decisiva nesta argumentação contra a conversão através da violência é: não agir segundo a razão é contrário à natureza de Deus." Para o imperador, formado na filosofia grega, esta afirmação era evidente. Na compreensão muçulmana, porém, porque Deus é absolutamente transcendente, a Sua vontade não está ligada a nenhuma das nossas categorias, nem sequer à racionalidade, de tal modo que, se fosse essa a Sua vontade, "o Homem deveria praticar também a idolatria".

Aqui, para Bento XVI, abre-se um dilema que nos desafia: "A convicção de que agir contra a razão está em contradição com a natureza de Deus é só um pensamento grego ou vale sempre e por si? Eu penso que neste ponto se manifesta a profunda concordância entre o que é grego no melhor sentido e o que é fé em Deus com o fundamento na Bíblia." Lá está o prólogo do Evangelho de São João: "No princípio, era o Logos", que significa ao mesmo tempo razão e palavra, "uma razão que é criadora e capaz de comunicar-se, mas precisamente como razão".

Ainda nesse ano, Bento XVI visitou a Turquia. No regresso, declarou que o mundo muçulmano se encontra hoje, "com grande urgência", perante uma tarefa semelhante à dos cristãos a partir do Iluminismo e que o Vaticano II levou a bom termo. "É necessário acolher as verdadeiras conquistas do Iluminismo, os direitos humanos e especialmente a liberdade da fé e do seu exercício, reconhecendo neles elementos essenciais também para a autenticidade da religião." Mas, por outro lado, não deixou de prevenir para os perigos do laicismo, que quer retirar a religião do espaço público, cortando a relação com a Transcendência. Não é aceitável "uma ditadura da razão positivista que exclui Deus da vida da comunidade e dos ordenamentos públicos, privando assim o Homem de critérios específicos seus de medida".

Por mim, penso que este diálogo, que foi tão difícil para Igreja Católica, o será ainda mais para o mundo islâmico. De facto, enquanto Jesus disse que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, mandou Pedro meter a espada na bainha, e os cristãos nunca entenderam a Bíblia como ditado de Deus; o Alcorão, para lá de um livro sagrado, vindo directamente de Deus, é um código civil e penal, e Maomé, para lá de fundador religioso, foi também um líder político e militar.

7:19 "Sem ritual, sem sentido, sem seriedade, sem solenidade"

Não se fala nem de Deus, nem de Jesus Cristo, nem da Igreja no vídeo seguinte - e é dessas realidades que costumo falar neste espaço. Mas acho que é precisamente "isso" (Deus, Jesus Cristo e Igreja), ou a ausência deles, que explica a sociedade do vídeo a seguir. Bom proveito a todos os que são pais. Ou, se não for o caso, filhos.




sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Colóquios Igreja em Diálogo: "Deus ainda tem futuro?"


No próximo fim de semana. Programa, organização e inscrições aqui. Eu espero estar lá. Em 2011, estas jornadas foram o melhor encontro teológico em que participei (é certo que já não participo em muito, mas sei do que falo).

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Comunicar em ambiente digital

Hoje e amanhã (3 e 4), em Fátima, há as jornadas de comunicação social promovidas pela Igreja Católica sobre "Comunicar no ambiente digital". Eu vou estar lá. E conto dar conta de algumas coisas aqui. Mas não em direto. Gosto de ouvir sem as distrações do ambiente digital. Mais tarde, cá porei algumas coisas.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...