Mostrar mensagens com a etiqueta Católicos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Católicos. Mostrar todas as mensagens
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Henrique Raposo: O pós-verdade e o pós-pecado
Vale a pena ganhar uma hora a ler o texto de Henrique Raposo no Observador. O texto tinha sido proferido em Coimbra, nas jornadas do CUMN, no dia 1 de abril.
quarta-feira, 10 de maio de 2017
Leituras católicas
No meio de tantos livros sobre Francisco e Fátima e Fátima e Francisco é difícil saber qual ou quais valem a pena ler, de facto. Há tanta coisa para ler, que é pecado perder tempo com maus livros. O difícil é saber quais os bons, no campo católico. Não há uma crítica católica em Portugal. E até compreendo porquê. Uns possíveis críticos estão a escrever livros. E outros possíveis críticos não querem criticar livros de amigos. Todos se conhecem.
domingo, 18 de setembro de 2016
Duas de David Lodge
Um fim de semana com duas entrevistas de David Lodge para ler nunca pode ser mau. Uma é no Observador (lida ontem), outra é no público (a ler em papel lá pelo fim da tarde, que hoje é dia de trabalho).
Da do Observador retiro isto:
Era um católico praticante, como viveu tudo isso?
Fui um católico fiel por muito tempo, casei-me com uma católica. Mas éramos católicos liberais e tivemos a nossa revolução contra a Igreja Católica. Queríamos libertar o catolicismo, opúnhamo-nos à proibição – ridícula — da contracepção. Foram as nossas causas dos anos 60 e 70 e, de certa forma, foram bastante interessantes e enriquecedoras. Mas, gradualmente, perdi a fé. Continuei a ser praticante, ia à missa por motivos familiares, mas deixei de me confessar. Deixei de aceitar a doutrina. E acabei por deixar de ir à missa. Fico em casa e leio livros de filosofia, religião e história eclesiástica. Já não sou um católico praticante.
Aqui a do Público.
David Lodge neste blogue.
quarta-feira, 24 de agosto de 2016
Os católicos O'Neill
Lendo sem método nem objetivos a biografia literária de Alexandre O'Neill (quase todos os adolescentes nos anos 80 tiveram uma fase o'neillista), de Maria Antónia Oliveira, vejo que o poeta ateu era descendente de uma família católica irlandesa que fugiu para Portugal, no séc. XVIII, por causa das perseguições contra católicos no Ulster. O'Neill morreu há 30 anos, a 21 de agosto de 1986. E é por isso que estou a ler, com gosto, a biografia.
domingo, 25 de outubro de 2015
Comer ciancinhas
Pedro Bidarra, no DN de hoje:
Comer criancinhas não começou como prática comunista. Foi, sim, consequência da política bolchevique de confisco de grão e cereais aos agricultores russos, que, com a guerra civil e a seca, levou à grande fome de 1921. Desesperados e famintos, os russos tiveram de recorrer a extremos desumanos: foi a fome, o canibalismo e a morte de seis milhões de russos que estiveram na origem da expressão "os comunistas comem criancinhas". Uma reputação de que nunca se livraram.
Na realidade, o "comer criancinhas" não é um exclusivo dos comunistas. Julgo que os cristãos foram os primeiros a serem acusados de comer criancinhas, logo no primeiro século, talvez por comerem um "corpo de Cristo". Se era o corpo de alguém, devia ser o de um tenrinho.
Um outro exemplo de comer criancinhas vem na imagem a seguir. Na propaganda anticatólica da Guerra dos 30 anos, os croatas (católicos) também comiam criancinhas.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
A prova da catolicidade de Bento Domingues
De vez em quando dizem cá pelos lados do blogue que Bento Domingues é pouco católico, tal como este blogue (Jacob é judeu, ainda não repararam?). Pois esta foto saída na "Sábado", há semanas, mostra que o dominicano é profundamente católico. Está aqui toda a exuberância e universalidade do catolicismo. Nada de puritanismo, calvinismo, jansenismo. Desarrumação imensamente católica.
sábado, 12 de julho de 2014
Anselmo Borges: "Família em crise, desejo de família. 2"
Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:
Há questões cruciais para a Igreja na actualidade. Uma delas, no quadro da concepção cristã da família e da sexualidade, é a da pastoral da família em crise. Sobre o carácter urgente e decisivo do tema falam a importância essencial da família como célula fundamental da sociedade e da Igreja, a sua crise e o cisma na Igreja por causa da moral sexual.
Consciente da situação, o Papa Francisco lançou, de forma inédita, um inquérito aos católicos do mundo inteiro, com 39 perguntas, pertinentes, lúcidas e sem tabus, sobre o tema. O resultado das respostas acaba de ser publicado num Intrumentum laboris (instrumento de trabalho) sobre os desafios pastorais da família no contexto da evangelização, que servirá de ponto de partida para a reflexão do sínodo dos bispos em Outubro próximo, seguido de um outro em 2015. Este deixará linhas de força para uma exortação pastoral do Papa.
Embora dirigido aos católicos, a sua leitura pode ser de enorme vantagem para quem se interessa por questão tão importante como complexa: a família. Já aqui deixei na semana passada alguns dos seus dados, referentes precisamente à importância da família e às razões da sua crise. Acrescento alguns pontos mais para a reflexão.
1. Começo por sublinhar que no documento, como aliás em todos os textos eclesiásticos, nunca se fala em casamento, mas em matrimónio. Atendendo ao étimo de casamento: casa, e de matrimónio: mater, matris, mãe, percebe-se que a designação não é arbitrária.
2. Trata-se de uma síntese das respostas vindas de todo o mundo. Assim, faz-se eco da variedade da concepção de família e das suas dificuldades, segundo a diversidade de culturas. É dito, por exemplo, que várias conferências episcopais de África, Oceânia e Ásia oriental referem que "nalgumas regiões é a poligamia que se considera natural", o mesmo sucedendo com o repúdio de uma mulher que não pode ter filhos. Pense-se igualmente no "feminicídio", no casamento por etapas, na promiscuidade sexual em família e no incesto.
3. Há uma tomada clara de consciência da cisão entre a doutrina oficial da Igreja e a prática dos fiéis em temas como a contracepção, a participação dos divorciados recasados nos sacramentos, as relações pré-matrimoniais, a própria homossexualidade e a adopção.
4. Uma linha de fundo perpassa o texto: mesmo mantendo, no essencial, a doutrina tradicional católica, há uma nova atitude pastoral de compreensão e misericórdia para quem está em situação de irregularidade canónica: "A família encontra-se objectivamente num momento muito difícil, com realidades, histórias e sofrimentos complexos que requerem um olhar compassivo e compreensivo". Isso também é válido para os homossexuais: "Não existe qualquer fundamento para assemelhar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família. Não obstante, os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos com respeito, compaixão, delicadeza. Evitar-se-á a seu respeito todo o sinal de discriminação injusta." Todas as crianças, seja qual for a situação dos pais, serão acolhidas com carinho pela Igreja.
5. Numa análise crítica, penso que há concretamente dois pontos que precisam de mais reflexão. Não sendo o ser humano uma essência fixada, será preciso aprofundar toda a questão da "lei natural". O que é a natureza? Dever-se-á ir também mais fundo no referente à chamada gender theory.
Assim, e a partir de uma nova hermenêutica da "paternidade responsável", a contracepção será vista a nova luz. Também será necessário rever o acesso dos divorciados recasados aos sacramentos.
6. Last but not least, dito com cautela e imenso respeito: apresentar a Sagrada Família de Nazaré, tal como é comummente idealizada pela Igreja institucional e pela piedade popular, como modelo de família cristã é inadequado, para não dizer contraproducente.
Ler aqui o Família em crise, desejo de família. 1
sábado, 22 de fevereiro de 2014
As mãos do filho de Philip Seymour Hoffman
Philip Seymour Hoffman morreu no dia 2 de fevereiro (ver aqui) e teve funeral católico. Agora, por causa do consumo de droga, o seu funeral católico tem estado a ser discutido, muito à americana. Ler aqui.
Se volto a este assunto (dei com ele ao procurar umas coisas sobre o vaticanista John Allen, que deixou o NCR) é simplesmente por causa da fotografia. O choro de uma das filhas. A oração do filho mais velho, que é a cara do pai. Dor e fé.
Anselmo Borges: "O que pensam os católicos sobre a Igreja?"
Texto de Anselmo Borges no "DN" de hoje.
1- A Bendixen & Amandi realizou, entre Dezembro de 2013 e Janeiro de 2014, com 12 038 fiéis adultos de 12 países maioritariamente católicos dos cinco continentes, para a Univisión, a principal televisão em espanhol dos Estados Unidos, uma sondagem sobre temas importantes na e para a Igreja. Fiabilidade: 95%.
Alguns resultados, com dissonâncias entre a doutrina e a opinião e vivência dos fiéis. a) Anticonceptivos: 78% a favor; 19% contra; 3% não responderam. b) Ordenação sacerdotal das mulheres: 45% a favor; 51% contra; 4% não responderam. c) Casamento dos padres: 50% sim; 47% não; 3% não responderam. d) Aborto: 8% deve permitir-se sempre; 65% nalguns casos; 33% nunca; 2% não responderam. e) Quanto ao casamento homossexual, há acordo com a doutrina: 66% contra; 30% a favor; não responderam 4%. f) Como avalia o trabalho do Papa Francisco? 41% excelente; 46% bom; 5% medíocre; 1% mau; 7% não responderam.
2- "Agora, o Papa Francisco, no confronto com os reaccionários da Cúria, pode apelar para as respostas da maioria dos fiéis sobre temas tão importantes. O Papa emérito Bento XVI escreveu-me há pouco, a mim eterno rebelde, uma carta afectuosa na qual mostra empenho em apoiar Francisco, esperando que ele tenha todo o êxito - "a minha única e última tarefa é apoiar Francisco", escreve." Quem isto revelou foi Hans Küng, o famoso teólogo crítico, condenado por João Paulo II e um dos poucos peritos do Vaticano II vivos, numa entrevista ao La Reppublica, no dia 10 deste mês, sobre a sondagem, na qual é manifesta a distância entre a Igreja oficial e os fiéis.
Para ele, o mais importante nela é a maioria esmagadora de vozes favoráveis a Francisco, que também já lhe escreveu pessoalmente: 87% dos católicos interrogados em todo o mundo e 99% dos italianos estão de acordo com ele. É "um pequeno milagre" Francisco ter conseguido, em menos de um ano, inverter a tendência dos fiéis e não só quanto à crise de confiança na Igreja.
Interrogado sobre o significado dos resultados da sondagem para a hierarquia, Küng dá uma resposta sensata: "Para os bispos preparados para reformas, e eles existem em todo o mundo, eles significam um grande encorajamento. Quanto aos conservadores, que têm as suas reservas: deveriam reflectir sobre as suas reservas e escutar os argumentos dos renovadores. Os bispos reaccionários, presentes não só no Vaticano mas em todo o mundo, deveriam abandonar a sua resistência obstinada e optar pela razoabilidade."
E o Papa Francisco? "Se me é permito dar-lhe um humilde conselho, deveria avançar com coragem no caminho iniciado e não ter medo das consequências." Em concreto, "espero que use a arte do "Distinguo" que aprendemos na Universidade Gregoriana: onde, na sondagem, há consenso na Comunidade eclesial, deveria propor uma solução positiva ao Sínodo. Onde há dissentimento, deveria permitir e suscitar um debate livre na Igreja. Onde ele próprio tem uma opinião diferente da da maioria dos católicos, como quanto à ordenação das mulheres, deveria nomear uma task force de teólogos e outros peritos, homens e mulheres, para enfrentar o tema."
Está contente? "Não me considero vencedor, não travei batalhas para mim, mas para a Igreja. Tenho a alegria de ver, ainda vivo, o êxito das ideias de reformas da Igreja pelas quais tanto combati."
3- A Igreja Católica é a única instituição verdadeiramente global. Assim, um problema maior será o da convivência com a variedade de posições.
Exemplos, a partir desta sondagem global, após a apresentação dos dados totais. Os divorciados recasados não podem comungar: na Europa, não concordam com esta proibição 75%, mas a não concordância é de 46% nas Filipinas. Ordenação das mulheres: na Europa estão a favor 64%, mas, nas Filipinas, 76% são contra. Casamento homossexual: em Espanha, 64% são favoráveis, mas na África 99% opõem-se-lhe. Na Europa, 50% pronunciam-se a favor do casamento dos padres, mas na África só 28%.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
É daqui a pouco, na Bertrand do Chiado: Biblista católico e pastor evangélico falam sobre Jesus
O padre Joaquim Carreira das Neves, biblista e antigo
professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, e o
pastor evangélico Tiago Cavaco vão juntar-se para uma conversa pública
intitulada "Ler Jesus".
Contando também com a participação de António Marujo,
jornalista especializado em temas religiosos, o encontro organizado pela
revista “Ler” e Livrarias Bertrand decorre a 13 de fevereiro, em Lisboa.
«Ler Jesus, como ler Jesus?, que palavras dizem Jesus?, Ele
está sempre no meio de nós?, existe um antes e um depois na vida de Jesus?» são
algumas das questões que motivam o debate moderado pela jornalista Anabela Mota
Ribeiro.
António Marujo é o autor de uma entrevista recente ao
religioso franciscano, publicada no livro “O coração da Igreja tem de bater”
(ed. Paulinas), volume que inclui textos inéditos do investigador sobre dez
temas.
Tiago Cavaco, pastor da Segunda Igreja Batista de Lisboa,
assinou recentemente o livro “Felizes para sempre – e outros equívocos acerca
do casamento” (ed. Cego, Surdo e Mudo).
A sessão, com entrada livre, começa às 18h30 na Livraria
Bertrand do Chiado.
Tirado do SNPC.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Bento Domingues: "Código genético (1)"
Texto de Bento Domingues no "Público" de ontem:
1. Fui interpelado acerca do texto do Domingo passado com
duas perguntas pouco inocentes: haverá um baptismo para homens e outro para
mulheres e será possível abordar o baptismo cristão sem falar da democracia na
Igreja?
As tentativas de “resposta” só podem ser de ordem histórica
e teológica. Na Idade Média, perante a floresta de símbolos que povoavam o
imaginário sagrado do culto, das devoções e superstições, foram recortadas sete
celebrações fundamentais, os sete sacramentos. No registo do pensamento
analógico, são entendidos como irradiações da Páscoa de Cristo, nas etapas mais
típicas e estruturantes da vida sacramental da Igreja. O baptismo é a porta de
entrada, personalizada e comunitária, num processo vital da graça transfiguradora
da existência humana no seu devir espiritual, do nascimento à morte, na
esperança da ressurreição. A omnipresença da graça não suprime a liberdade
humana nem o mistério da iniquidade actuante na nossa história.
No código genético cristão, não se conhece um baptismo para
homens e outro para mulheres. Sendo assim, elas perguntam: qual é a deficiência
natural ou sobrenatural de que sofremos para não podermos ser chamadas a
receber o sacramento da ordem integrado pelo diaconado, presbiterado e episcopado?
Referem-se a uma situação de facto na Igreja católica romana
e nas Igrejas ortodoxas. Para muitas teólogas e teólogos católicos trata-se de
uma anomalia antiga que já vai sendo tempo de superar. Não existe nenhuma
maldição de Cristo a dizer que as mulheres ficavam para sempre excluídas da
possibilidade de serem chamadas aos ditos “ministérios ordenados”. As Igrejas
protestantes, que assinaram o acordo baptismal com a Igreja católica romana e
ortodoxa, estão a seguir um caminho diferente.
2. Pode-se falar do Baptismo, sem abordar a questão da
democracia na Igreja? Era a segunda pergunta. A democracia não é uma invenção
moderna. Amartya Sen (1933 -), considerado o mais humanista dos economistas,
presta homenagem à Grécia que, no séc. VI (a. C.), adoptou um sistema eleitoral
e cultivou o debate público. Os gregos, aliás, gostavam muito mais do diálogo
com os persas, os indianos e os egípcios do que com os godos e visigodos.
Alexandre Magno passou mais de um ano na Índia e os intelectuais da época estavam
fascinados pelo Oriente que recebeu da Grécia o sistema eleitoral antes da
França, da Alemanha ou da Grã-Bretanha. Seis séculos antes da Magna Carta
inglesa, o Japão estava dotado de uma Constituição que impunha ao imperador
consultas antes de decidir. A Índia vive uma antiga tradição de debate público,
onde tudo poderia ser discutido.
A democracia, tal como a conhecemos hoje, é o produto da
modernidade, do século das Luzes, sendo a sua história e a sua geografia muito
mais vastas e antigas. Sem uma persistente educação para a cidadania e para a
tornar uma atitude, uma tarefa permanente, uma forma de vida pessoal nas suas
múltiplas relações, acaba por se esvaziar e ficar resumida a alguns momentos
rituais que até eles tendem a desaparecer.
Recordo isto para dizer o seguinte: Desde o Vaticano II, os
documentos da doutrina social da hierarquia católica, são abundantes e
insistentes na defesa da democracia política, económica, social e cultural. O
que diz respeito a todos deve ser tarefa de todos, para benefício de todos,
segundo as capacidades de cada um. Para serem democráticas, as instituições não
devem sufocar, antes estimular, a criatividade social, em todas as suas
manifestações. Não podem contribuir para uma sociedade de privilégios, de
monopólios, de opressão dos mais fracos pelos mais fortes. Os conflitos são
inevitáveis. A controvérsia é normal. Os cidadãos não são clonáveis. A
democracia é o regime da cooperação.
Esses documentos rompem com os receios e ataques do
magistério eclesiástico do séc. XIX e princípios do séc. XX. A generosidade
actual não se estende a uma gestão democrática da Igreja. Repete-se que a
Igreja não é uma democracia.
3. Importa, no
entanto, não fechar demasiado depressa esse dossier. A concepção hierárquica
neoplatónica vê a Igreja como uma pirâmide, um sistema escalonado: Deus,
Cristo, o papa, os bispos, os padres e os diáconos, seguidos dos religiosos e,
finalmente os “leigos”, primeiro os homens, depois as mulheres e as crianças.
Nesse esquema, o Espírito Santo vai de férias. Ao “Vigário de Cristo”, com a
sua infalibilidade definida no Vat. I, basta-lhe exigir obediência.
Quando se diz que a Igreja não é uma democracia continua-se
a pensar na pirâmide, esquecendo que os seus membros, homens e mulheres,
renascidos de um só baptismo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
formam uma vasta comunhão de fraternidades de profetas e sacerdotes do povo
cristão ao serviço da humanidade inteira, na sua unidade plural.
A Igreja cristã não vive num vazio sociocultural e político.
Não pode viver num gueto. Embora deva manter um distanciamento crítico em
relação às estruturas socio-políticas – não são o Reino de Deus realizado –,
mas uma gestão democrática do seu governo será sempre preferível, em qualquer
circunstância, a um regime autoritário. Do código genético baptismal, não
constam os genes de ditadura na Igreja.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
José Manuel Fernandes: "O Papa Francisco é de esquerda? Não se iludam: é apenas católico"
Texto de José Manuel Fernandes no "Público" de hoje. Também pode ser lido aqui.
domingo, 12 de janeiro de 2014
Bento Domingues: "Um papa anticlerical?"
Texto de Bento Domingues no "Público" de hoje.
1. A religião é uma das grandes dimensões mentais e
culturais dos seres humanos. Hoje, no Ocidente, é uma realidade controversa,
mas não apagada. O acolhimento ao Papa Francisco não resulta apenas, nem
sobretudo, de qualquer estratégia publicitária. Nele, as pessoas vêem uma das
expressões mais genuínas da atitude de Jesus Cristo, no meio do seu povo.
O divórcio entre as Igrejas e o mundo moderno não foi
provocado, apenas, pela má vontade dos incréus e dos anticlericais. O
anticlericalismo foi, muitas vezes, o reverso do clericalismo. Nasci numa zona
do país em que não se podia viver sem padre, desde o baptismo ao funeral.
Passava-se o tempo a dizer mal deles por causa do seu autoritarismo e da
arbitrariedade ameaçadora dos seus comportamentos pouco pastorais. Não eram
especialmente maus, mas apenas o resultado da formatação recebida.
Hoje já não se repetem estas palavras de Pio X (1), mas elas
modelaram gerações: “só na hierarquia reside o direito e a autoridade
necessários para promover e dirigir todos os membros para os fins da sociedade.
Em relação ao povo, este não tem outro direito a não ser o de se deixar
conduzir e seguir docilmente os seus pastores”.
A Civiltà Cattolica (2), na época da definição da
infabilidade do papa, escrevia: “a infabilidade do papa é a infabilidade do
próprio Jesus Cristo […]. Quando o papa pensa, é o próprio Deus que pensa
nele”.
2. O Vaticano II ainda estava longe. O século XX, sobretudo
em alguns países, foi um tempo de grandes movimentos de renovação do
catolicismo: missionário, ecuménico, bíblico, teológico, social, litúrgico,
laical, etc. Foi, também, uma época de condenações, sobretudo das experiências
mais arrojadas, como por exemplo, a suspensão dos padres operários e dos
teólogos que trabalhavam em diversas frentes culturais do mundo moderno.
O Concílio alterou, profundamente, as concepções
eclesiológicas que justificavam o autoritarismo da hierarquia. Dizia-se mesmo
que a eclesiologia se tinha transformado numa hierarquiologia. Agora, o papa, o
bispo, o padre deixavam de ser considerados uma hierarquia de poderes sobre a
Igreja, mas de serviço às comunidades. Estimular a sua criatividade, na
diversidade dos seus carismas e funções, era a principal tarefa dos ministérios
ordenados que, por sua vez, deviam suscitar iniciativas, segundo as
necessidades de tempo e de lugar. Eram bons princípios, boas práticas, mas sem
meios, nem vontade, de organizar a vida da Igreja, segundo essas orientações.
Veio, depois, um longo inverno na Igreja e foram ressuscitados modos de agir
autoritários que paralisaram reformas urgentes.
3. Veio o Papa Francisco. Como já disse noutras ocasiões,
não apareceu com o Direito Canónico na mão, para dizer o que era para continuar
na mesma e o que era para reformar, como se fosse um burocrata. Veio participar
numa reforma que envolvesse a Igreja toda, embora destacando responsabilidades
e neutralizando forças de obstrução. Não no estilo de mandar fazer. Começou por
ser ele a agir conforme aquilo que depois tem vindo a propor, em diversas
circunstâncias. A perspectiva geral foi dada na Exortação Apostólica e em
várias entrevistas. Não se pode esquecer a forma como respondeu às perguntas
dos Superiores Maiores das Congregações Religiosas. Destacou a importância da
qualidade e do estilo da formação dos jovens religiosos. Em todas as ocasiões
denuncia o clericalismo, com expressões tais que levam alguns a julgar que
pertence a uma organização anticlerical! O Papa perdeu a devoção aos
monsenhores. Pobres daqueles que já se julgavam na calha.
Nesse Encontro, a convicção mais abrangente é esta: as
grandes mudanças da história acontecem quando a realidade é vista, não a partir
do centro, mas da periferia. Trata-se, para o Papa, de uma questão
hermenêutica: a realidade não se compreende a partir de um centro equidistante
de tudo. Para a entender bem, é preciso mover-se da posição central da
tranquilidade, da zona de conforto, para as zonas agitadas das periferias. Este
é o melhor caminho para escapar ao centralismo e às focagens ideológicas. Os
temas do citado diálogo com os superiores das congregações religiosas foram os
da coragem, da profecia, do clericalismo e dos conflitos. Nada poderá
substituir a leitura da gravação feita pela Civiltà Cattolica (3).
Dirigindo-se à Comissão Teológica Internacional
(06.12.2013), em vez de lhes recomendar cautela e ortodoxia, incitou os
teólogos a serem pioneiros do diálogo da Igreja com as culturas; a situarem-se
como profetas nas fronteiras e não ficando para trás, na caserna. O magistério
e os teólogos devem estar atentos às expressões autênticas do sensus fidelium.
A sensibilidade cristã dos fiéis não é só dos homens. As
mulheres são sempre as esquecidas. O jornal L’ Osservatore Romano acaba de
lançar um suplemento sobre Mulheres, Igreja e Mundo, de circulação mensal, de
quatro páginas a cores. Mais vale tarde do que nunca.
1) Cf. Ramon Maria Nogués, Dioses, Creencias y Neuronas,
Fragmenta Ed., 2011, pg. 280
2) Ibid. pg 281
3) http://www.laciviltacattolica.it/ ; tradução em
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/526950-qdespertem-o-mundoq-o-
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
Contra a fidelidade canina aos partidos
Luigi Sturzo, padre, fundou o Partido Popular Italiano em 1919, o primeiro de "inspiração católica". Mas explicou que "os dois termos («partido» e «católico») são antitéticos; com efeito, o catolicismo é religião, é universalidade; o partido, inversamente, é política, é divisão".
(Sturzo opôs-se ao fascismo e teve de se exilar, primeiro em Londres e depois em Nova Iorque.)
Cá está uma boa razão para os católicos poderem mudar de partido à vontade.
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
domingo, 17 de novembro de 2013
Bento Domingues: "Sondagem ou dinamização da Igreja?"
Bento Domingues no "Público" de hoje. Aqui (agora o texto é de acesso livre).
Ou muito me engano, ou este processo é o começo de uma revolução. Não se pede aos católicos que estejam com os Bispos e o Papa. O que se procura é que os Bispos e o Papa estejam com a Igreja. Com a parábola do Bom Pastor não se pretende que as ovelhas estejam com o pastor, mas que este esteja com o rebanho.
Ou muito me engano, ou este processo é o começo de uma revolução. Não se pede aos católicos que estejam com os Bispos e o Papa. O que se procura é que os Bispos e o Papa estejam com a Igreja. Com a parábola do Bom Pastor não se pretende que as ovelhas estejam com o pastor, mas que este esteja com o rebanho.
1. Segundo o Pew Research Center (PRC), o centro de
sondagens mais respeitado, em assuntos religiosos, em cada dez pessoas, oito
são religiosas. Mais de 80% da população mundial faz parte de uma religião
organizada.
A religião mais numerosa continua a ser o cristianismo.
Conta com 32% da população mundial. Segue-se o islão com 23% e o hinduísmo com
15%. Enquanto o cristianismo e o islão estão em vários pontos do mundo, o
hinduísmo concentra-se quase exclusivamente na Índia. Metade de todos os
cristãos é católica romana, 37% são protestantes e 12% ortodoxos.
Estas realidades estão sempre em recomposição, mas indicam
que as religiões não estão para acabar tão cedo. Têm-se revelado até mais
resistentes do que as repetidas desqualificações críticas a que têm sido
submetidas. Muitas vezes com razão. De reveladoras do sentido da vida, de
fontes de renovação da esperança, de resistentes ao niilismo, abrindo
horizontes ilimitados tornaram-se, por manipulações várias, instrumentos do
medo. Deixaram-se envolver em absurdas guerras e torturas, dando campo livre ao
fanatismo em nome de Deus.
De religião para religião, as formas de expressão simbólica
e ritual, as normas que as regem, as exigências éticas a que obedecem são muito
diversas. As interrogações, as perplexidades e as dúvidas suscitadas pelo mistério
de existir nem sempre desaguam nas respostas que as diferentes religiões
codificaram. O Espírito de Deus sopra onde, quando e como quer. De qualquer
modo, as formas religiosas e as suas instituições são para o ser humano e não o
contrário. O teste de autenticidade das celebrações litúrgicas, das vivências
espirituais e das experiências místicas, dentro e fora das instituições,
prova-se na relação com os excluídos.
2. Os números, no campo religioso, só por si, não revelam -
podem até ocultar - a saúde espiritual ou as crises que o atravessam. No mundo
católico, há muitas vozes a reclamar mudanças e também se nota que algumas
temem que o Papa Francisco comece a duvidar da infabilidade do seu magistério.
Ninguém espera que, ao procurar saber como vivem e pensam os membros da Igreja,
seja para fazer o rol dos erros a combater, uma espécie de reedição actualizada
do Syllabus de Pio IX (1864). É mais provável que ele acredite que o sentido da
responsabilidade pela vida cristã não seja um monopólio de bispos e padres e
queira conhecer a sensibilidade actual dos católicos.
O melhor lugar para
fazer a leitura dos sinais dos tempos não é, necessariamente, o Vaticano. Há
muitos mundos no mundo, muitas comunidades cristãs e muitas sensibilidades
católicas. Não há nenhum boletim meteorológico especializado em indicar a
temperatura da fé, nas diferentes regiões da terra. Nada como escutar as
experiências das pessoas, das famílias, dos grupos, das comunidades espalhadas
pelo mundo. Não basta.
3. Está convocada, para Outubro de 2014, a III Assembleia
geral extraordinária do Sínodo dos Bispos destinada a enfrentar os desafios da
família, no nosso tempo. Será que os bispos e o Papa já não acreditam na
doutrina que elaboraram, tão segura e clara, a partir da indissolubilidade do
matrimónio? Será que pretendem informar-se da sorte desta doutrina, na
sociedade e na Igreja?
Se fosse apenas uma questão de informação, nada como
encomendar um inquérito a um instituto internacional especializado, com
garantias científicas. Se fosse para dar a conhecer a Doutrina católica, não
era preciso tanta pergunta. O que se pretende afinal?
Era costume dizer que onde está o bispo, está a Igreja. Com
os Bispos reunidos em Sínodo com o Papa, não é preciso interrogar a Igreja!
Ou muito me engano, ou este processo é o começo de uma
revolução. Não se pede aos católicos que estejam com os Bispos e o Papa. O que
se procura é que os Bispos e o Papa estejam com a Igreja. Com a parábola do Bom
Pastor não se pretende que as ovelhas estejam com o pastor, mas que este esteja
com o rebanho. É por isso que não se trata aqui apenas de um inquérito de
opinião. É, sobretudo, a oportunidade de que a leitura dos sinais dos tempos
referentes à situação actual da família seja feita pelo conjunto da Igreja. O processo
desencadeado faz supor que o Papa e os Bispos nada querem fazer sem as
comunidades cristãs. A não ser assim, estariam a enganar o laicado e a
desobedecer ao grande princípio: aquilo que a todos diz respeito deve ser
tratado por todos.
Não julgo que este processo possa dar azo a cisões na
comunidade católica. Se todos puderem falar e ouvir chegar-se-á à conclusão de
que a Igreja sempre foi construída por várias tendências. A arte dos pastores
consiste em encontrar os meios, os caminhos de diálogo para estimular a
comunhão na diferença.
Muito cedo na Igreja foi preciso reunir um concílio, para
ser possível extrair do conflito novos horizontes e novas práticas, no seio da
mesma Igreja (Act 15). Vai sendo tempo de pensar no Vaticano III. Que este Sínodo
sobre a problemática actual da família seja um bom ensaio.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Dá Deus nariz a quem não tem...
(...) E tenho um excelente nariz que é uma dádiva de Deus. Ainda bem que ele me deu o nariz antes de descobrir que não sou a melhor católica do mundo.
Stephanie Plum no início "Perseguição escaldante", policial de Janet Evanovich.
Stephanie Plum no início "Perseguição escaldante", policial de Janet Evanovich.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
domingo, 22 de setembro de 2013
Bento Domingues: "Católicos não cristãos"
Bento Domingues, no "Público" de hoje, fala dos "católicos não cristãos". Um excerto, que o texto todo estará cá amanhã:
Que se entende aqui por católico não cristão? Para o teólogo Martín G. Ballester, de quem recebi esta designação, trata-se de alguém que se atribui o título de católico de forma excludente. Considera-se a medida do verdadeiro católico e só pode ser católico quem for como ele. Católico é o seu pronto-a-vestir. Segundo Ballester, esses católicos costumam ser beligerantes. Reforçam a sua identidade na condenação do outro, isto é, naquilo que os separa. Procuram inimigos seja onde for, pois o que lhes dá vida é precisamente o inimigo. Além de beligerantes são intransigentes, incapazes de reconhecer algo de bom em quem não pensa como eles.
Subscrever:
Mensagens (Atom)
Sinodalidade e sinonulidade
Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...
-
Paulo V (Camille Borghese) foi eleito papa no dia 16 de Maio de 1605 e morreu no dia 28 de Janeiro de 1621. No tempo deste Papa foi inaugur...
-
Georg, Joseph e Maria Quando escrevi sobre o livro do irmão do Papa, “Meu irmão, o Papa”, de Georg Ratzinger ( aqui ), disse que hou...
-
Não precisei de ler São Paulo, Santo Agostinho, São Jerônimo, nem Tomás de Aquino, nem São Francisco de Assis – Para chegar a ...