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domingo, 26 de maio de 2013

Amor e audácia

Lido num livro de Carlos González Vallés:

Karl Rahner disse pouco antes de morrer que lamentava duas coisas em sua vida: não ter amado mais as pessoas e não ter tido mais audácia com as hierarquias da Igreja.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Lamentações de Rahner e de outros

Lido num livro de Carlos González Vallés:

"Karl Rahner disse pouco antes de morrer que lamentava duas coisas em sua vida; não ter amado mais as pessoas e não ter tido mais audácia com as hierarquias da Igreja. Não quero morrer sem dizer realmente o que penso".

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Viver com o que temos

O horizonte de experiência atual coloca cada vez menos claramente, diante do nosso questionamento sobre a vida, esta resposta: "...Aí está, é Deus".

Karl Rahner

quinta-feira, 7 de março de 2013

Pedro Casaldáliga e outros: "Deixa a Cúria, Pedro"


Deixa a Cúria, Pedro,
Desmonta o sinédrio e as muralhas,
Ordena que todos os pergaminhos impecáveis
sejam alterados
pelas palavras de vida e amor.

Vamos ao jardim das plantações de banana,
revestidos e de noite, a qualquer risco,
que ali o Mestre sua o sangue dos pobres.

A túnica/roupa é essa humilde carne desfigurada,
tantos gritos de crianças sem resposta,
e memória bordada dos mortos anónimos.

Legião de mercenários assediam a fronteira da aurora nascente
e César os abençoa a partir da sua arrogância.
Na bacia arrumada, Pilatos se lava, legalista e covarde.

O povo é apenas um "resto",
um resto de esperança.
Não O deixes só entre os guardas e príncipes.
É hora de suar com a Sua agonia,
É hora de beber o cálice dos pobres
e erguer a Cruz, nua de certezas,
e quebrar a construção - lei e selo - do túmulo romano,
e amanhecer
a Páscoa.

Diz-lhes, diz-nos a todos
que segue em vigor inabalável,
a gruta de Belém,
as bem-aventuranças
e o julgamento do amor em alimento.

Não te conturbes mais!

Como tu O amas,
ama-nos a nós,
simplesmente,
de igual a igual, irmão.

Dá-nos, com seus sorrisos, suas novas lágrimas,
o peixe da alegria,
o pão da palavra,
as rosas das brasas...
... a clareza do horizonte livre,
o mar da Galileia,
ecumenicamente, aberto para o mundo.

Pedro Casaldáliga, bispo emérito de S. Félix do Araguaia (Brasil), para reflexão pós-renúncia papal.




Texto enviado por F.M., a quem agradeço. Não pude confirmar se é original.

Já o apelo de deixar a cúria, em si, não é absolutamente original. O insuspeito Hans Urs von Balthazar sugeriu que o Papa fosse viver para os subúrbios de Roma e transformasse todo o Vaticano em museus (aqui; ver comentários). Karl Rahner, escrevendo como se fosse o Papa em 2020, pediu um "downsizing" no estatuto do Papa, tão ao contrário do que se tem visto, pois o Papa não precisa de ser, em todos os aspetos,
o maior da Igreja, um ponto de referência para todos os impulsos, um mestre superior a todos os pensadores e teólogos, um santo e um profeta, um homem que conquista todos os corações com a sua personalidade fascinante, um grande líder que molda o seu século e empalidece estadistas e outras grandes personalidades na insignificância, um pontífice a quem todos os bispos se referem respeitosamente, como pequenos oficiais perante o seu rei, a fim de ouvir obedientemente as suas palavras e ordens (ler tudo aqui).
E o próprio Bento XVI recordou, com S. Bernardo (p. 77 do livro-entrevista “Luz do Mundo”), que o Papa é “não é um sucessor do imperador Constantino, mas sim o sucessor de um pescador”.

sábado, 13 de outubro de 2012

Anselmo Borges: 11 de Outubro de 1962



Texto de Anselmo Borges no DN de hoje.

"Devemos discordar desses profetas das desgraças, que anunciam acontecimentos sempre funestos, como se o fim do mundo estivesse próximo." A Igreja quer ir ao encontro dos homens nas suas alegrias e esperanças, nos seus problemas e dificuldades. "Nos nossos dias, a Igreja de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade: julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validade da sua doutrina do que condenando erros."

Foi com estas palavras que o Papa João XXIII inaugurou há 50 anos, precisamente no dia 11 de Outubro de 1962, o Concílio Ecuménico Vaticano II, um dos acontecimentos maiores do século XX - o Presidente da França, Charles de Gaulle, considerou-o "o mais importante". Nele, como ironicamente escreveu a "Der Spiegel", deu-se "uma viragem copernicana, na qual Roma confessou que o Céu talvez ainda gire à volta da Basílica de São Pedro, mas a Terra não".

A Cúria Romana preparava-se para manter praticamente tudo na mesma. Houve, porém, um conjunto de cardeais que obrigaram à viragem. Um deles foi o cardeal Josef Frings, de Colónia, que tinha como assessor um jovem professor de Teologia, Joseph Ratzinger, crítico de cinco dos sete esquemas preparatórios fundamentais do Concílio. Ele e outros peritos, como Karl Rahner, Edward Schillebeeckx, Yves Congar, Hans Küng pensavam na urgência de uma renovação profunda e reconciliação da Igreja com o mundo moderno. Ratzinger foi então um provocador, até certo ponto um rebelde, favorável às línguas vernáculas na liturgia e criticando duramente a Cúria e a sua "atitude antimoderna": "A fé tem de enfrentar-se com uma nova linguagem, uma nova abertura."

Só quem viveu antes do Concílio pode aperceber-se da revolução que ele constituiu. Foi um esforço real e sincero de aproximação de todos. Como se diz no início da Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Contemporâneo, Gaudium et Spes, "as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e das mulheres do nosso tempo, sobretudo dos pobres e de todos os aflitos, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo, e nada existe de verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração".

E talvez o mais paradoxal é que a Igreja, com o seu aggiornamento, diálogo, abertura, apenas estava, no essencial, a reconciliar-se com o melhor do Evangelho, que, desgraçadamente, tinha tido de se impor na modernidade contra a Igreja oficial: os direitos humanos, a dignidade sagrada da pessoa humana, a liberdade religiosa, a inviolabilidade da consciência.

Devia tornar-se claro que a Igreja, "luz dos povos", é, antes de mais, "povo de Deus" e não a hierarquia e mesmo esta tem de contar com a colegialidade episcopal e a participação dos leigos, contra uma estrutura piramidal. A revelação não pode ser concebida como um ditado de Deus; apela-se, portanto, à leitura da Bíblia, que estava afastada dos fiéis, mas no quadro de uma investigação histórico-crítica. A Igreja deve estar atenta aos "sinais dos tempos", como a emancipação das mulheres, a descolonização, o mundo do trabalho, da ciência e da técnica. As realidades terrestres são autónomas e não há oposição entre a criação de Deus e a acção criadora dos homens no mundo; a esperança da salvação no além tem de dar sinais e começar já aqui. Denunciou-se o anti-semitismo, a Igreja abriu-se ao diálogo ecuménico com as outras Igrejas e confissões cristãs, com as outras religiões, com os não crentes, com todos os homens de boa vontade. A viragem mais visível foi na liturgia: em vez do latim, adoptou-se a língua vernácula, o presidente deixou de celebrar de costas para o povo, todos eram convocados para uma participação activa, fraterna e festiva.

Passados 50 anos, muito falta fazer por uma Igreja verdadeiramente conciliar. O ecumenismo não dá passos. Os bispos, como faz notar a "Der Spiegel", continuam "marginais", "a Perestoika na Cúria não se realizou". Continua a dominar em Roma "uma corte medieval" e lutas pelo poder. Sobretudo, falta a fé e o ânimo de então.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Tolentino Mendonça: A forma do cristianismo em mudança

Texto de Tolentino Mendonça, na Agência Ecclesia.

O teólogo Karl Rahner escreveu que “A Igreja tem sido conduzida pelo Senhor da história para uma nova época”. Não se trata só de baixas drásticas nos indicadores estatísticos quando se compara a atualidade com aquele que já foi o quadro da vivência da Fé. A questão é bem mais complexa. Talvez o que o nosso tempo descobre, mesmo entre convulsões e incertezas, seja um modo diferente de ser crente, traduzido de formas alternativas nas suas necessidades, buscas e pertenças. Não estamos perante o crepúsculo do cristianismo, como defendem aqueles que se apressam a chamar pós-cristãs às nossas sociedades. Quem não se apercebe que o radical lugar do cristianismo foi sempre a habitação da própria mudança não o colhe por dentro. Mas há eixos que se vão tornando suficientemente claros para que seja cada vez mais um dever os enunciarmos e contarmos com eles. Podem-se apontar três:

Primeiro, os cristãos regressam à condição de “pequeno rebanho”. Com a evaporação de um cristianismo que se transmitia geracionalmente como herança inquestionada, os cristãos voltam a sê-lo por decisão pessoal, uma decisão muitas vezes em contra-corrente, maturada de modo solitário em relação aos círculos mais imediatos de pertença. Já não é de modo previsível que nos tornamos cristãos. Isso acontece e acontecerá cada vez mais como uma opção e uma surpresa.

Depois, à medida que se assiste a um enfraquecimento da inscrição institucional das Igrejas no horizonte da sociedade redescobrimos o valor e as possibilidades de uma presença discreta no meio do mundo. Em tantas situações, nesta diáspora cultural onde estamos semeados, a única palavra verosímil é a do testemunho de uma vida vivida com simplicidade e alegria no seguimento de Jesus.

E, em terceiro lugar, esta grande mudança epocal mostra-nos que precisamos recuperar aquilo que Karl Rahner chama o “santo poder do coração”. Os cristãos são chamados a viver a amizade como um ministério. “Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,17). Há, de facto, uma revelação do cristianismo que só a prática da amizade é capaz de proporcionar. E nisto, o mundo, que pode até perder-se em equívocos sobre os cristãos, não se engana. Mesmo se for um único instante de contacto o que tivermos, tal basta para deixar transparecer uma amizade.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

26 de julho de 1936. Hans Urs von Balthasar é ordenado padre

João Paulo II com o seu teólogo preferido, dizem, em 1984


Hans Urs von Balthasar (1905-1988), suíço, foi ordenado padre no dia 26 de julho de 1936. Era jesuíta e assim continuou a ser até 1950, altura em que, devido à amizade Adrienne von Speyr (1902-1967), uma viúva médica e mística, convertida ao catolicismo, deixou a Companhia de Jesus.


Diz a Wikipedia que este teólogo, um dos grandes ausentes do II Concílio do Vaticano, defendia uma "teologia ajoelhada", em contraposição à "mera análise sistemática", ou mesmo à especulação.


Deste teólogo disse Bento XVI, nos 100 anos do nascimento do suíço, que "a sua vida foi uma genuína busca da Vida verdadeira" (mensagem ao congresso internacional aqui), entendida como "busca da verdadeira vida". Com Ratzinger e de Lubac, Balthasar fundou no final dos anos 60 a revista "Communio". Morreu no dia 28 de junho de 1988, dois dias antes de receber o título, apenas honorífico, de cardeal.

Balthasar recebeu em 1984 o Prémio Paulo VI das mãos de João Paulo II. Na altura, afirmou ao "L'Osservatore Romano":


quinta-feira, 21 de junho de 2012

D 01 - Rahner e Kasper afastam-se do diabo

Karl Rahner

Quem acompanha este blogue sabe que tem andado por aqui e aqui uma discussão sobre o diabo e outras questões diabólicas. Quase um pandemónio.

Algumas questões interessantes têm sido levantadas e outras mirabolantes. Irei respondendo a algumas, porque de facto há muita confusão sobre o assunto (mas não na cabeça dos meus principais interlocutores; não é para eles o que se segue porque não lhes faltam certezas), ao ponto de conhecer pessoas que têm dúvidas sobre a existência de Deus, mas não sobre a existência do diabo e demónios.

Eu não tenho a pretensão de falar pela Igreja, mas escrevo como cristão. Considero que o que escrevo, fundamentado no que outros refletiram e escreveram, não se afasta do catolicismo, dentro da legítima pluralidade teológica.

Quem quiser esclarecer a questão tem uma boa introdução no livro de Vasco Pinto de Magalhães, “O Olhar e o Ver” (ed. Tenacitas), pág. 323-340 (com indicações bibliográficas na página 340). É lá que leio isto de Karl Rahner:
“Não faz sentido tomá-lo [o diabo] como pura personificação do mal existente no mundo. E, realmente, o mal não é uma contra-energia ou um fantasma, é sempre fruto de atos livres e pessoais”. 
“A crença nele não constitui senão um elemento secundário da revelação a que podemos ter acesso apenas por reflexão. Não há nenhuma doutrina explícita do Demónio nos grandes símbolos da fé…”
Para quem aprecia os argumentos de autoridade (não é o meu caso), é sempre bom saber o que pensa um dos maiores teólogos do séc. XX.

No mesmo artigo se diz que, para Walter Kasper (outro dos grandes, ainda entre nós; na reforma, tem andado a publicar as suas obras integrais, como Ratzinger também gostaria de fazer; quem me dera saber alemão), que já depois disso foi cardeal e presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos (por acaso, tendo andado a citá-lo todos os dias de manhã), “interpretando os textos bíblicos com a exegese atual não é possível manter a doutrina tradicional” do diabo e dos demónios.

Para já, fica a questão: por que será que dois dos maiores teólogos católicos se afastam da "doutrina tradicional" sobre o diabo?

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Se Karl Rahner fosse Papa

Karl Rahner e o que viria a ser Bento XVI


Mesmo como papa, eu gostaria de continuar aprendendo. Deixe que as pessoas percebam que um papa pode errar, cometer equívocos, estar mal informado e escolher o tipo errado de assistentes. 

Surgiu há dias no sítio australiano “Catholica” uma “carta do Papa em 2020”. O texto é de Karl Rahner (1904-1984). Copiei daqui.

Embora eu não atribua a nenhum dos meus antecessores, ou ao menos aos meus predecessores imediatos, uma falta de humildade e de modéstia, parece-me que hoje um papa [no ano 2020] pode, até mesmo publicamente, fazer esta autoavaliação crítica mais claramente do que costumava ser feita. Pessoas importantes na história do mundo e da Igreja costumaram ter a ideia de que a sua autoridade legítima se colocaria em risco se deixassem seus "súditos" ver que eles também eram apenas seres humanos que cometiam erros. Era somente após a sua morte que os historiadores da Igreja eram autorizados a descobrir falhas, erros ou hesitações em um papa. 
Mas, se eu estou convencido de que, mesmo como papa, eu continuo sendo um ser humano que irá cometer falhas, talvez até mesmo graves, por que não me seria permitido reconhecer isso mesmo durante a minha vida? Será que a mentalidade de pessoas que realmente não importam tanto hoje é a de que a autoridade não sofre danos, mas ao contrário lucra quando o seu portador admite abertamente as limitações de um pobre e pecador ser humano, e não tem medo de reconhecê-los? Por enquanto, ao menos, estou disposto a ouvir discussões públicas em minha presença, eventualmente para aprender com os outros e para reconhecer que eu aprendi.
Mesmo como papa, eu gostaria de continuar aprendendo. Deixe que as pessoas percebam que um papa pode errar, cometer equívocos, estar mal informado e escolher o tipo errado de assistentes. Tudo isso é evidente, e eu acredito que nenhum papa recente duvidou seriamente disso. Mas por que tal evidência deve permanecer oculta e encoberta? Pedro permitiu que Paulo o confrontasse frente a frente, e eu suponho que Pedro reconheceu que Paulo estava certo. Mesmo hoje, um papa pode se permitir algo desse tipo. Eu, pessoalmente, reivindico esse direito e estou disposto, se necessário, a permitir que a minha autoridade sofra uma perda, o que seria meu dever aceitar.
Eu não deverei ser um grande papa. Eu não tenho os meios para isso. Portanto, não vou ter um complexo de inferioridade se eu parecer bastante modesto em comparação com os grandes papas do século XX. Para mim, isso parece ser providencial. Tenho a sensação de que, através da sua grandeza, esses papas tiveram uma influência na Igreja que provavelmente nunca pretenderam ter e que teve seu lado questionável, uma influência que eu vou tentar compensar com o meu pontificado mais modesto.
Não é verdade? Esses papas não fomentaram involuntariamente uma mentalidade na Igreja que superestima a função apropriada do papa, de acordo com o dogma e de como ela foi na maior parte da história dos papas? Essa mentalidade não implica que um papa deva ser, em todos os aspectos, o maior da Igreja, um ponto de referência para todos os impulsos, um mestre superior a todos os pensadores e teólogos, um santo e um profeta, um homem que conquista todos os corações com a sua personalidade fascinante, um grande líder que molda o seu século e empalidece estadistas e outras grandes personalidades na insignificância, um pontífice a quem todos os bispos se referem respeitosamente, como pequenos oficiais pernate o seu rei, a fim de ouvir obedientemente as suas palavras e ordens ?
Eu não vou me tornar um papa desses e não considero necessário isso a todos. O papa tem uma tarefa na Igreja que é estritamente limitada, apesar da jurisdição universal e da plenitude da autoridade de ensino mencionada pelo Concílio Vaticano Primeiro. Vou exercer essa plenitude de poder, mas dentro dos limites impostos sobre mim pelas limitações da minha própria natureza. Isso e nada mais.
Eu não vou ser o mais santo da Igreja. Perante Deus, eu sou menos do que os santos que vivem hoje na Igreja, aqueles que rezam em silêncio, aqueles que são misticamente arrebatados, aqueles que perecem por causa de sua fé nas prisões dos inimigos de Cristo e da Igreja, aqueles que amam altruisticamente, como Teresa de Calcutá, todos os heróis desconhecidos e não recompensados do dever e da abnegação cotidianos.
Ninguém pode negar que até mesmo um Inocêncio III empalidece diante de Francisco de Assis, e que os papas Pio dos dois últimos séculos são menos importantes do que um Cura d'Ars ou do que uma Santa Teresinha de Lisieux. Você podem dizer, é claro, que eu estou comparando realidades que não podem ser comparadas. No entanto, na vida da Igreja e diante do tribunal eterno de Deus, santos e grandes teólogos como um Tomás de Aquino ou um John Henry Newman são mais importantes do que a maioria dos papas, e sobretudo mais importante do que jamais vou ser.
Há muitos carismas na Igreja, e o papa não tem todos em si mesmo. Se é verdade que podemos realmente compreender apenas os nossos próprios carismas, então até mesmo um papa deve dizer a si mesmo que ele não pode avaliar tudo o que vive na Igreja, e que só Deus, e não o papa, se encontra onde tudo o que é bom e santo na Igreja se funde em uma sinfonia perfeita.
É por isso que nenhum dano será feito se o meu pontificado corrigir, em certa medida, a mentalidade dos cristãos piedosos que equivocadamente esperam dos papas aquilo que eles podem receber apenas dos santos e das grandes mentes da Igreja e, possivelmente, de si mesmos.
Será que há cristãos, e talvez papas, que se lembram de que, ao rezar o Pai Nosso com esperança impaciente pela vinda do reino eterno de Deus, eles estão rezando também pelo fim do papado?

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Budistas anónimos

Rahner (esq.) e Kung. E quem é o do meio?

É um lugar-comum teológico a expressão “cristãos anónimos”. Foi cunhada por Karl Rahner para abrir a salvação a todos os que não conhecem Jesus Cristo, já que na teologia tradicional afirmava-se que “fora da Igreja não há salvação” (ler aqui umas notas sobre o assunto).

Hoje muito me ri com isto:

“Hans Kung disse um dia a Karl Rahner, meio a sério, meio de brincadeira, que os budistas ortodoxos tinham afirmado que também Karl Rahner podia «salvar-se», porque era, sem ele sabê-lo, mas de boa fé, um «budista anónimo»”.

Contado por Carlos González Vallés em “Querida Igreja”, ed. Paulus (Brasil), 1990, p. 26

terça-feira, 6 de março de 2012

Feliz acaso dos ateus inquietos

O hiato entre a fé e a experiência humana constitui um dos mais difíceis problemas da pregação e da teologia atuais. Em virtude desta distância, não só Deus, mas até mesmo a questão de Deus surge sem interesse. O ateu inquieto, cujo coração não descansa enquanto não repousar em Deus (Agostinho), tornou-se quase um feliz acaso pastoral (K. Rahner).


Water Kasper, "Introdução à Fé", ed. Telos, 1973

segunda-feira, 5 de março de 2012

5 de março de 1904. Nasce Karl Rahner



Karl Rahner nasceu no dia 5 de março de 1904, em Friburgo em Brisgóvia (Freiburg im Breisgau), no sudoeste da Alemanha, bem perto da fronteira com a França. Morreu no dia 30 de março de 1980, em Insbruque, Áustria.


Reconhecidamente, é o mais importante teólogo católico europeu do séc. XX. Com ele só ombreia em termos de influência (no Vaticano II, nos que invocam o seu legado, na atualidade e fecundidade do pensamento) Yves Congar. Poucos saberão, contudo, que Rahner reprovou num primeiro doutoramento.


Nesta revista on-line há muitos elementos para avaliar o legado de Rahner.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Fumo

O sentido da relação humana com Deus não é aquele que afirma que quanto mais uma pessoa cresce cerca de Deus, mais a sua existência se dissipa, transformando-se numa nuvem de fumo.


Karl Rahner, Escritos Espirituais

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O que é crer



Crer significa sustentar, durante toda a vida, a incompreensibilidade de Deus.


Karl Rahner (1904-1984)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Os senhores Karl também criticam a Igreja

Karl Lehmann


Karl Rahner disse: "A Igreja é uma mulher de idade muito avançada, com muitas rugas. Mas é a minha mãe. E numa mãe não se bate". Li isto no "YouCat", que é o catecismo para jovens, a pensar da Jornada Mundial da Juventude. Felizmente quem cita a frase acrescenta que Rahner disse isto "ao ouvir críticas descabidas à Igreja". Se as críticas não fosse descabidas, o teólogo alemão não teria dito o que disse. O campo da críticas não descabidas é imenso. Por isso faz sentido o cristianismo crítico e autocrítico.


Um outro Karl, o Lehmann, bispo de Mainz (era tão giro o nome Mogúncia), diz no mesmo livro que "a Igreja não se pode comportar como uma empresa, que muda a oferta quando a procura diminui". Cá está uma crítica. Claro que não é descabida.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Joseph Ratzinger pediu a abolição do celibato em 1970

Karl Rahner e Ratzinger

Um memorando assinado há mais de 40 anos por nove teólogos, incluindo Joseph Ratzinger, o actual Papa, pedia o fim do celibato.
A informação está a ser avançada pelo jornal alemão "Süddeutsche Zeitung". No artigo intitulado "As dúvidas do jovem Ratzinger", é revelado que Joseph Ratzinger assinou um documento datado de 9 de Fevereiro de 1970 em que era questionada a obrigação do celibato.
Além de Ratzinger, que na altura tinha 42 anos, outros oito teólogos rubricaram o referido documento. Entre eles estão pensadores teólogos como Karl Rahner, Otto Semmelroth, Karl Lehmann (que foi presidente da conferência episcopal alemã) e Walter Kasper (anterior presidente do Conselho Pontifício para Promoção da Unidade dos Cristãos).
Entretanto, Ratzinger mudou. A notícia vem no "Diário Económico" (aqui), o que é estranho na publicação em causa. Agradeço a Fernando Cassola, que me alertou para o assunto.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Prolixitas mortis

Karl Rahner

A morte está sempre presente ao longo da vida. Karl Rahner fala da prolixitas mortis, da presença da morte em tudo o que fazemos. Rahner traduziu para a teologia o conceito deo seu professor de filosofia, Martin Heidegger, o conceito de “ser para a morte”. Foi buscar esta expressão a São Gregório Magno. Significa “o precesso concreto da crescente acumulação de elementos da morte na história da vida humana” (Auer, 1995, p. 52). Romano Guardini fala da vida como uma morte prolongada. Na interpretação que Karl Rahner faz da prolixitas mortis, em todas as experiências de debilidade, de doença e de desilusão, o Homem morre um bocadinho, havendo um declínio das qualidades palpáveis da vida. Em todas estas pequenas horas da morte, que ocorrem por etapas, é-nos perguntado o que fazemos para subsistir” (cit.por Auer, 1995, p. 125).

Texto de Anselmo Grun em "A sublime arte de envelhecer", p. 121

domingo, 31 de outubro de 2010

Queda


A morte é uma queda, que apenas a fé interpreta como uma queda entre as mãos do Deus vivo, que se chama Pai.

Karl Ranher (1904-1984)

domingo, 15 de agosto de 2010

Teólogo critica silêncios e condenações da hierarquia católica

“Silêncios ominosos sobre pessoas sanguinárias, ideologias totalitárias e ditaduras militares com as mãos manchadas de sangue. Condenações imisericordiosas contra homens e mulheres de mãos limpas, de honestidade inatacável, de vida exemplar”. As palavras são de Juan José Tamayo, no “El País” de 14 de Agosto de 2010, sobre a hierarquia da Igreja católica dos últimos 70 anos.

O teólogo espanhol refere-se ao silêncio relativamente a ditaduras e a líderes religiosos imorais (o exemplo é Marcial Marcel, fundador dos Legionários de Cristo) e à condenação de teólogos como Lubac, Rahner, Congar, e Schillebeeckx, que tentaram o diálogo com a modernidade.

Para ler em espanhol aqui e aqui em português.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...