domingo, 31 de outubro de 2010

31 de Outubro de 1632. Vermeer é baptizado

"Alegoria da Fé"

Johannes Vermeer nasceu em Delft e foi baptizado no dia 31 de Outubro de 1632. Poderá ter nascido uns dias antes ou mesmo nesse dia. Em Delft viveu e pintou. E morreu, no dia 15 de Dezembro de 1675. Está sepultado na Igreja Velha de Delft.

Vermeer morreu pobre e pouco reconhecido, embora hoje seja considerado o grande pintor holandês do século XVII, a par de Rembrandt. Com o filme “Rapariga com brinco de Pérola” (2003,de Peter Webber, com Scarlett Johanson) tornou-se conhecido do grande público.

Este pintor era católico, casou-se com uma católica e deu "nomes católicos” a alguns dos seus 14 filhos (quatro morreram nos primeiros dias): Maria, Elisabeth, Johannes, Franciscus, Catharina, Ignatius, este último em honra do fundador dos jesuítas.

Vermeer pintou a “Alegoria da Fé”, também conhecida por “Alegoria da Fé Católica”, que manifesta fé na Eucaristia.

Para conhecer melhor esta pintura veja-se o sítio Essential Vermeer.

Imbróglios de uma justiça amoral

Artigo no "Público"de hoje sobre o caso espanhol que aqui foi referido. Em resumo, para lá da questão jurídica, a questão moral:"Alguém que invoca a posteirori um pretenso direito à morte de um seu filho, seja ele qual for ou como for, certamente não merece um tão grande dom. Talvez não se possam evitar estas monstruosidades,mas é lamentável que ajustiça se rebaixe ao extremo de legitimar tais propósitos".

Bento Domingues: Para onde vão os mortos?

Do "Público" de hoje

Colapso dos seminários


Tom McMahon, um ex-padre, casado, residente em San Jose (EUA), escreve sobre o colapso dos seminários.

Estruturas criadas pelo Concílio de Trento (séc. XVI), os seminários estão no centro da instituição Igreja. “A palavra seminário significa «sementeira», um lugar onde a política da corporação é plantada profundamente. Alguém é ordenado quando é claramente um homem da corporação. Aqueles que pensam independentemente não vão passar na revista”, escreve.

A crise eclesial de que a pedofilia é um sinal, mesmo que seja só um sinal sobrevalorizado, põe em causa o sistema formativo, como já tem sido aflorado neste blogue.

Entre memórias pessoas e prometendo continuar a reflexão, Tom McMahon sintetiza: "Nós éramos crianças de pais comuns, simples, religiosos; o sistema de seminários absorveu bons rapazes que queriam servir a Deus e às pessoas; a experiência do seminário ofereceu uma mensagem ambígua, uma imagem distorcida da Criação e da futura possibilidade de trabalhar com pessoas boas”. “Como homens bons se tornam maus?”

A reflexão há-de continuar no sítio Catholica (em inglês). Primeiro texto aqui, em português.

Queda


A morte é uma queda, que apenas a fé interpreta como uma queda entre as mãos do Deus vivo, que se chama Pai.

Karl Ranher (1904-1984)

sábado, 30 de outubro de 2010

30 de Outubro de 1910. Morre Henri Dunant, fundador da Cruz Vermelha e primeiro Nobel da Paz


Henri Dunant nasceu no dia 8 de Maio de 1828, em Genebra, e morreu no dia 30 de Outubro de 1910, em Heiden (Suíça).
Sensibilizado pela Batalha de Solferino (no norte de Itália, em 1859, enfrentaram-se as tropas francesas, aliadas às da Sardenha, e as da Áustria), fundou em 1863 uma organização para apoiar os militares feridos. A partir de 1876 tal organização assume o nome de Comité Internacional da Cruz Vermelha. Com Frédéric Passy, outro dos fundadores da Cruz Vermelha, Dunant obtém o primeiro Prémio Nobel da Paz, em 1901 (aqui).

Pacheco Pereira andou a ler a Vulgata no iPad

José Pacheco Pereira comprou um iPad e conta no “Público” de hoje:

“Por falar em livros, duvido que alguma vez utilize o iPad como ebook. Enchi-o logo com uma série de «aplicações», que incluem a Vulgata, as fábulas de Fedro, Shakespeare, Dante e Tolstoi completos e umas antologias de poesia. Mas se consulto os textos não os leio no iPad. O mais longe que fui em extensão de texto lido foi com a Vulgata, mas mais pelo fascínio do texto latino que me levou a ler o Genesis todo, em que praticamente cada frase é uma citação conhecida”.

A Vulgata, note-se, é a Bíblia traduzida para latim por S. Jerónimo. O texto mais lido e mais influente no Ocidente. A versão oficial da Bíblia durante a maior parte da história da Igreja Católica. Até nos erros. Dois exemplos curiosos.

* Se se diz que o fruto do pecado é a maçã, é somente que porque maçã e mal e mau são palavras parecidas, homónimas em alguns casos (malum, i - mal; malum, i; maçã; malus, a, um, mau).

* Se Miguel Ângelo representou Moisés com dois chifres, foi porque S. Jerónimo traduziu "raios de luz", que segundo o livro do Êxodo saíam da cabeça de Moisés após o encontro com Deus, por "chifres", que nas culturas antigas eram símbolo de poder. Não foi só Miguel Ângelo que representou Moisés desse modo. Na fachada do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, também há um Moisés com chifres. Já o procurei e não o encontrei. Mas garantiram-me que está lá.

Anselmo Borges: Os finados

Artigo de Anselmo Borges no Diário de Notícias de hoje (aqui):

Característica essencial do nosso tempo é fazer da morte tabu, talvez o último tabu. Nunca tinha acontecido na história da humanidade.

De qualquer modo, as nossas sociedades ainda mantêm dois dias por ano (1 e 2 de Novembro) em que permitem a visita dos mortos. Os cemitérios enchem-se e as pessoas ali estão ou por ali andam, numa recordação, talvez numa prece, num choro íntimo ou exteriorizado, e interrogando-se sobre o mistério da morte, esse mistério absolutamente opaco e laminante.

A morte põe-nos em confronto com o nada e abala-nos desde e até à raiz. Martin Heidegger foi o filósofo do século XX que levou mais fundo o pensamento sobre a morte. O homem é o ser da possibilidade, o existente para quem no seu ser a questão é esse mesmo ser, isto é, a quem o seu ser é dado como tarefa, como poder ser. Ora, a morte é a sua possibilidade "mais própria", pois é a que mais o caracteriza, "irreferível", pois corta a relação com tudo o resto, remetendo-o para si próprio, "intranscendível", pois, enquanto possibilidade da impossibilidade, é a possibilidade extrema, a que se não pode escapar. A tentação permanente é distrair-se e não assumir a morte como essa possibilidade mais própria, irreferível e intranscendível, escapando-lhe pelo palavreado, pelo recurso ao "toda a gente morre", mas não propriamente eu. O homem cai então no esquecimento de si mesmo e perde-se numa existência inautêntica.

Frente à morte, debatemo-nos com paradoxos, que o filósofo Gabriel Amengual sintetizou.

Não é afinal a morte a coisa mais natural? Todo o animal perece. Mas a questão é que a morte humana não é redutível a um facto meramente biológico. Porque a morte afecta a pessoa enquanto tal, um quem, não um algo, alguém. "Ai que me roubam o meu eu!", clamava Unamuno perante a morte.

Há uma imensa variedade de mortes: uns morrem de velhice, outros de doença, outros de morte súbita, morre-se na guerra, num terramoto, num acidente... Mas há algo de comum nesta variedade: algo de enigmático, misterioso e indefinível se passa. É "o mais enigmático e ao mesmo tempo o mais sério, o sério por excelência, pelo seu carácter definitivo, irrepetível, irrevogável". Sobre a morte não temos nenhum poder, é ela que chega e comanda, iniludível e irremediavelmente. E todos morremos, mas a morte é sempre única e singular: cada um morre a sua própria morte.

A morte é o mais próprio do ser humano, mas, ao mesmo tempo, o mais estranho. Por isso, Freud escreveu que, "no fundo, ninguém crê na sua própria morte, ou, o que é o mesmo, no inconsciente todos nós estamos convencidos da nossa imortalidade". A minha morte é para mim inconcebível: ninguém pode conceber-se morto.

Todos sabemos que havemos de morrer. Mas este saber é um saber enigmático e especial: é sobretudo com a idade que nos apercebemos de que a passagem do tempo é inexorável e tem um limite para cada um.

A morte é o que temos de mais certo e ao mesmo tempo de mais incerto: não sabemos onde nem quando nem como morreremos. Outra vez: ela é o mais conhecido e ao mesmo tempo o mais desconhecido: ninguém sabe o que é morrer nem o que é estar morto.

Morremos porque somos corpóreos, mas quem morre é o homem. A morte afecta o homem todo. Daí, a pergunta inelutável: como é que alguém, uma dignidade, se pode tornar ninguém, coisa que apodrece?

E aqui está o paradoxo mais radical. Como seres históricos, na tarefa de nos fazermos, só no fim poderemos, como totalidade, dizer o que somos. Mas precisamente aí, pela morte, deixamos de ser neste mundo. Quem nos diz então o que verdadeiramente somos?

Os mortos são os finados. Na morte, chega-se ao fim. Que fim é esse? Esse fim com que é que confina? Com o nada enquanto termo de tudo ou aquele nada que é ocultação da Realidade primeiríssima que a tudo dá sentido, sentido último e salvação e onde por fim seremos nós?

Moralistas

O ser humano nasce capaz de mais bem e de mais mal do que o poderiam imaginar os moralistas, porque ele não foi criado à imagem dos moralistas. Ele foi criado à imagem de Deus.

Georges Bernanos (1888-1948)

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

29 de Outubro de 539 a. C. Ciro conquista a Babilónia

Cilindro de Ciro, no Museu Britânico

Terá sido no dia 29 de Outubro de 539 a. C. que Ciro II, o Grande, da Pérsia, entrou na Babilónia. A seguir, libertou os judeus que tinha sido deportados em 587 a.C. por Nabucodonosor, a quando da tomada de Jerusalém.

Ciro, que no Livro de Isaías é tido como enviado de Deus, foi o primeiro a conceber um império em que as diferentes religiões e cultos puderam conviver e os povos deportados regressar às suas terras. Tais princípios estão escritos do Cilindro de Ciro, que alguns consideram a "primeira carta dos Direitos Humanos".

Referência ao Cilindro de Ciro aqui.

DN lembra eleição de João XXIII

O DN de hoje lembra que no dia 29 de Outubro de 1958 notícia principal era a eleição de João XXIII. Roncalli foi eleito Papa há 52 anos, no dia 28 de Outubro.

Engenheiro que resgatou chilenos vai ser ordenado diácono

Como não creio que se trate de proselitismo, até porque quem põe a questão da fé é o apresentador da Fox, vale a pena ouvir o testemunho do dono da empresa que elaborou o "Plano B" e que resgatou os mineiros chilenos (no vídeo, a partir dos 4 minutos e 20 segundos).

Greg Hall é católico e vai ser ordenado diácono permanente no próximo ano. Fala da eficiência técnica e do mais que pode ser a oração. Numa televisão europeia tal testemunho sobre o poder da fé e da oração, muito provavelmente, não teria lugar.

Papa em Barcelona dá lucro

29 800 000

euros de receitas previstas para a cidade de Barcelona durante a visita de Bento XVI, no dia 7 de Novembro.

370 000

euros que o "Ayuntamiento" prevê gastar na delimitação do percurso, em mensagens de boas-vindas e noutros aspectos, sem contar a limpeza e a Guarda Urbana.

0

euros que o governo local prevê gastar com aspectos directamente relacionados com o culto.

Lido aqui.

Embaraçado

O mundo moderno, o espírito moderno, laico, positivista e ateu, os métodos modernos, a ciência moderna, o homem moderno crêem ter-se desembaraçado de Deus; na realidade, para quem vir um pouco além das aparências, para quem quer superar as fórmulas, nunca o homem esteve tão embaraçado com Deus.

Charles Péguy (1873-1914)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

28 de Outubro de 1909. Nasce o pintor Francis Bacon

Auto-retrato de Francis Bacon

"Três estudos para uma Crucifixão"

Francis Bacon (28-10-1909 – 28-04-1992), pintor que dizem ser descendente do Francis Bacon filósofo (séc. XVII), era ateu. Mas isso não o inibiu de pintar o tríptico “Três estudos para uma Crucifixão”, que se tornou uma das pinturas mais reconhecidas do século XX, ou o novo retrato de Inocêncio X, na linha daquele pintado por Velásquez.

Este tríptico, que só por ser tríptico já remete para pintura religiosa, é 1962. Mas já no final da II Guerra Mundial Bacon pintara “Três estudos para figuras na base da Crucifixão”.

Como em todas as pinturas de Bacon, em “Três estudos para uma Crucifixão”, sobressai o grotesco, a crueza, o sangue. “Nós somos carne, somos potenciais carcaças”, disse um dia o pintor anglo-irlandês (nasceu em Dublin de pais ingleses) que enchia o seu estúdio de recortes de jornais sobre acidentes de automóvel, mutilações, crimes.

Quase todos os grandes pintores do século XX pintaram crucifixões, de Picasso a Dali, de Joseph Beuys a Arnaulf Rainer. Mas, como já alguém observou, o crucificado é mais o homem contemporâneo do que o próprio Cristo – o que não deixa de ter leituras teológicas. No caso de Bacon, um homossexual dilacerado, as interpretações não poderiam ser mais auto-referenciais.

O ateu, o monstro e Deus

Um ateu pescava no Loch Ness, quando o barco é atacado pelo monstro.
O barco voa pelos ares e o monstro abre a boca para engolir o ateu.
Enquanto o homem mergulha de cabeça em direcção à boca do monstro, grita:
- Oh, meu Deus! Ajuda-me!
A cena imobiliza-se e o ateu fica suspenso no ar. Uma voz poderosa sai das nuvens:
- Pensava que não acreditavas em Mim…
- Vá lá, Deus! - defende-se o homem. Há dois minutos também não acreditava no monstro.

Lamet: “Bento XVI é menos fundamentalista do que Wojtyla”


Com quase 40 obras publicadas de diversos géneros literários, Pedro Miguel Lamet já não precisa de se defender das pressões censoras do franquismo e daquelas que o fizeram abandonar o jornalismo em 1987 para continuar a pertencer à Companhia de Jesus, porque retoma essa actividade agora como bloguista na revista digital 21rs.es. Sobre um dos seus romances, “Bórgia: los enigmas del duque” [Borja: os enigmas do duque], Pedro Lamet preferiu uma conferência na terça-feira, na capital das Ilhas Canárias, dentro da programação do quinto centenário do nascimento de Francisco de Bórgia. Entrevista-o C.S. no jornal “Las Provincias”. Copiado daqui. Em espanhol aqui.

Fale-me dos enigmas do duque jesuíta.
Esta personagem é fascinante porque poucos santos na história da Igreja reúnem tantas facetas diferentes e até contraditórias. Um homem que foi Grande da Espanha, com uma linhagem de escândalos. Um dos enigmas mais fortes é como este homem veio a ser santo, quando teve aqueles antepassados.

Bisneto do Papa Bórgia [Alexandre VI], amigo íntimo de Carlos V, vice-rei da Catalunha e até mentor da regente Joana da Áustria. Qual é a actualidade, para o mundo religioso e laico, de um homem que acabou jesuíta?
Estamos num mundo em que se valorizam muito o poder, o dinheiro, a fama e a juventude. Estes são os elementos dominantes na publicidade, na televisão, no consumo. Um homem deste calibre rompeu com os prazeres da sociedade mediterrânica e valorizou mais o mundo espiritual. Há uma grande sede de mítica na sociedade actual. Precisamos de espiritualidade, de voltar ao centro do nosso ser, quer se seja católico ou não.

E Bórgia pode ser uma referência, um exemplo a seguir.
Pode ser um exemplo perfeito, inclusive para os grandes e poderosos. Esta sociedade vive muito na funcionalidade, no que é efémero e na necessidade de viver no agora. Disso necessita todo homem para se centrar, inclusive, psicologicamente, porque vivemos muito dispersos, muito tensos.

Qualificou a escassa liberdade de opinião durante o pontificado de João Paulo II como uma etapa de catacumbas e autoritarismo. Nota mudanças com Bento XVI?
Estamos num pontificado em que se equilibrou um pouco a situação. Não diria que Bento XVI é um papa progressista porque é um homem conservador. Mas é menos fundamentalista do que João Paulo II, que acreditava que a Europa tinha que ser confessionalmente católica. Este Papa respeita mais o pluralismo e a liberdade de expressão, mas evidentemente ainda fica muito por caminhar. Sobretudo, a Igreja espanhola está muito centrada no dogma e falta-lhe dar uma boa notícia de liberdade, de alegria. Estamos ainda numa época de castelos de Inverno, de protecção contra a sociedade civil.

Parece que a Companhia não abandona esse papel de besta negra para o Vaticano.
As relações melhoraram sensivelmente em relação a João Paulo II porque Bento XVI é um homem que precisa de nós, que nos valoriza. João Paulo II estava muito centrado nos novos movimentos. Nesse aspecto, Bento XVI é um Papa mais de todos. A Companhia está centrada, está a trabalhar bem e a fazer coisas que os outros não fazem.

Algo a objectar em relação a Ratzinger?
Centrou um pouco a Igreja, mas tem uma série de questões pendentes que ainda não colocou em prática e não sei se o fará. Esperava-se alguma aproximação maior dos divorciados, que agisse em favor da união das igrejas, em temas como o celibato e a mulher na Igreja.

E os escândalos sexuais?
A este Papa se deve o facto de ter trazido à tona o escândalo de Marcial Maciel, o dos Legionários de Cristo, que é alucinante. Sabia-se disso desde os tempos de João Paulo II, contudo, Wojtyla não o revelou. É preciso reconhecer que Bento XVI foi muito corajoso neste aspecto. E também em condenar claramente esta mancha da pederastia no sacerdócio. Um problema que a comunicação social exagerou.

Descida do Douro concluída com êxito

Notícia do DN de 28 de Outubro de 2010. Conclusão da descida do Douro pelo padre do Porto. Ver início da viagem aqui.

Negações

As negações mais fortes de Deus encontram-se nos escritos místicos.

Jean-Marie Lustiger (1926 - 2007)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Erasmo pede a Tomás Morus que defenda a Loucura

Tomás Moro e Erasmo

Escreve Erasmo, nascido faz hoje 544 anos, no início de “Elogio da Loucura” (5 de Junho de 1508):

“Querendo, pois, ocupar-me com qualquer coisa [durante a viagem a cavalo de Itália para Inglaterra], e não se acomodando as circunstâncias a sérias meditações, ocorreu-me fazer lucidamente o elogio da Loucura. Que Palas [Palas Atena, deusa da sabedoria, das artes e da habilidade] te levou isso à mente? Perguntarás. Pensei em ti, no teu nome, Morus, que está no próximo da palavra Moria (Loucura) quão longe se encontra da tua pessoa. Tu és, segundo o sufrágio de todos, completamente alheio a ela. Supus depois que este divertimento do meu espírito mereceria a tua aprovação, visto que não receias um género de jocosidade douto e agradável e que, na vida quotidiana, segues tal como Demócrito [segundo os clássicos, Demócrito ria, Heráclito chorava]. De certo, a profundidade do teu pensamento afasta-se muito do vulgo; mas tu tens tão boa graça, e um carácter tão indulgente, que sabes acolher as pessoas mais humildes e encontrar agrado no seu convívio. Receberás, pois, com benevolência esta pequena declamação, como lembrança do teu amigo, e aceitarás o encargo de defendê-la, visto, pela dedicatória, que ela agora é tua, e não minha”.

27 de Outubro de 1466. Nasce Erasmo de Roterdão

"Erasmo", pintura de Hans Holbein, o Jovem

Erasmo nasceu em Roterdão (Holanda), no dia 27 de Outubro de 1466, e morreu em Basileia (Suíça), no dia 12 de Julho de 1536.

Espírito livre, criticou o clero, pediu reformas na Igreja, mas manteve-se católico, apesar das tentativas de Lutero, através de cartas, de atraí-lo para a causa protestante. Destes dois se disse tradicionalmente que "Erasmo pôs o ovo que Lutero chocou". Hoje parece injusta tal expressão.

Na realidade, Erasmo poderia ter sido o princípio de uma renovação católica sem divisões dolorosas.

Das suas obras destacam-se o livro “Elogio da Loucura”, dedicado ao mui católico Tomás de Moro, e a edição crítica do Novo Testamento em grego.

Marketing paroquial

Para promover a participação no actos religiosos por estes dias, agora que se aproxima o Advento, uma paróquia colocou um grande cartaz na porta da Igreja que diz isto:

- Por favor, abra antes do Natal.

Empresa espanhola recusa negócio com revista que satiriza o Papa

Uma gráfica de Múrcia recusou a impressão e distribuição de uma revista satírica galega que coloca Bento XVI na capa. O Papa, como é sabido, visita Espanha em Novembro, Compostela e Barcelona, nos dias 6 e 7, respectivamente.


Na capa da revista, Bento XVI diz, numa alusão ao custo da viagem (tema repisado em todas as deslocações ao exterior de Itália): “Nem o milagre dos pães e dos peixes, nem hóstias. Eu faço com que chovam notas”.


Um porta-voz da gráfica e distribuidora afirma que quando conheceram os conteúdos da publicação recusaram o trabalho e informaram os responsáveis da revista “Retranca”, tal como fariam com uma revista com conteúdos pornográficos ou que defendesse o terrorismo.


Diz o porta-voz da empresa de Múrcia: “[O cliente galego] pretendia que imprimíssemos conteúdos que vão contra as nossas convicções morais como católicos”. Li aqui.


Apesar de a revista sair do episódio com publicidade gratuita - o que é inevitável neste tipo de casos - registe-se a perda de negócio em nome de convicções religiosas e morais. Não vale tudo.

Miséria


Seria um ultraje a Deus e ao próximo deixar com fome o faminto sob o pretexto de que Deus está próximo da sua miséria.

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945)

''No diálogo inter-religioso, nem sequer as verdades incómodas devem ser escondidas''

"E onde está a novidade? Desde sempre se soube que no Alcorão também está prevista a morte de cristãos com a espada. O bispo Raboula Antoine Beylouni simplesmente lembrou isso sem trair nenhuma verdade. Não são esses os motivos que colocam em risco as relações cristão-islâmicas".

O cardeal francês Jean-Louis Tauran, 67 anos, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, não parece preocupado por, no Sínodo [para o Médio Oriente, que terminou no domingo passado], ter sido lembrado que é o próprio livro sagrado dos muçulmanos que prevê a eliminação dos cristãos.

"Infelizmente é assim, e se fingirmos que não há nada, fazemos um mau serviço à verdade histórica", indica o purpurado que, no Vaticano, depois do Papa, é a máxima autoridade sobre o Islão.

Texto de Orazio La Rocca, no jornal “La Repubblica” (Itália) de 23-10-2010. Traduzido por Moisés Sbardelotto. Copiado daqui.


Cardeal Tauran, mas o senhor não teme que o diálogo com o Islão agora seja mais difícil?

Não. Quem conhece o Alcorão sabe que, naquelas páginas, está verdadeiramente escrito que os cristãos podem ser mortos. Basta simplesmente ler o texto sagrado dos muçulmanos. Por isso, não pensa que o diálogo com o Islão possa ser comprometido por aquilo que foi reforçado no Sínodo. Não é o conhecimento da verdade que pode colocar em crise as relações entre fiéis de religiões diferentes.

Porém, quando Bento XVI, em 2006, na Alemanha, tocou nos mesmos argumentos, os muçulmanos sentiram-se ofendidos, e ele foi obrigado a pedir desculpas.

São dois episódios diferentes. Em Regensburg, o Santo Padre foi vítima de um colossal equívoco amplificado pelas notas de agências de imprensa que se limitaram a difundir só breves trechos da sua “lectio magistralis”. Equívoco prontamente esclarecido pelo próprio Santo Padre, como em seguida muitos líderes muçulmanos recebidos no Vaticano ou encontrados durante as viagens apostólicas reconheceram. Outra coisa é a intervenção de D. Beylouni no Sínodo, em que o prelado simplesmente lembrou o que realmente está escrito no Alcorão.

O senhor não acredita que, reafirmando verdades históricas tão incómodas, o diálogo entre cristãos e muçulmanos se complique a favor de extremistas e fanáticos?

Dou-me conta de que tocar em certos assuntos, às vezes, pode fazer mal. Mas se queremos verdadeiramente promover o diálogo inter-religioso, as verdades, mesmo as incómodas, não devem ser escondidas. O importante é se conhecer e dialogar. O verdadeiro desafio é outro: quantos, no Oriente Médio, ficaram sabendo que, no Sínodo, um sunita e um xiita se pronunciaram? E quem conhece os esforços comuns que líderes cristãos e muçulmanos fazem em defesa da vida? O verdadeiro desafio é fazer com que as massas islâmicas conheçam todos esses pequenos passos importantes. Só assim o diálogo poderá crescer e frutificar.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

26 de Outubro de 1944. Morre William Temple, Arcebispo de Cantuária

William Temple. Imagem retirada do sítio do Arcebispo de Cantuária

William Temple (15 de Outubro de 1881- 26 de Outubro de 1944) foi Arcebispo de Cantuária, Primaz da Igreja Anglicana, depois de ter sido Bispo de Manchester (1921-29) e Arcebispo de York (1929-42). É venerado na Igreja Anglicana no dia 6 de Novembro. Distinguiu-se como paladino do cristianismo social, relacionando-se com os trabalhadores e escrevendo vários livros sobre a temática. Aliou-se a rabis para combater o anti-semitismo na época da II Guerra Mundial e foi o primeiro Arcebispo de Cantuária a estar num campo de batalha desde a Idade Média ao visitar a Normandia (França), onde combatiam milhares de soldados ingleses.

Escreveu um dia que “a Igreja é a única sociedade que existe para o benefício dos que não são seus membros” – coisa que o nosso tempo tem dificuldade em entender (e os católicos também não explicam lá muito bem).

Mas se recordo aqui William Temple é porque há algum tempo dei com uma referência a este arcebispo num livro de Juan Tamayo-Acosta. Diz o teólogo espanhol que o arcebispo anglicano deu uma definição mordaz e sarcástica do teólogo, mas que é preciso ter em conta: “é a pessoa muito sensata e sisuda que passa toda uma vida cercada de livros tentando dar respostas exactíssimas e precisas a perguntas que ninguém coloca”.

Católicos suíços distribuem preservativos

Lucerna, Suíça

“Esquecer é contagioso. Protege o próximo como a ti mesmo”. Este é o lema da campanha contra a SIDA que uma paróquia católica de Lucerna, na Suíça, está a desenvolver. Hoje e nos próximos dias distribuem-se preservativos. Na estação de comboio de Lucerna, já foram distribuídos cerca de 3000 . “O preservativo não é um remédio milagroso na prevenção contra a SIDA, mas é uma possibilidade entre outras”, diz o responsável da comunicação do clero de Lucerna. Li aqui.

Será que alguma autoridade eclesiástica se vai pronunciar sobre o assunto? Essa é a questão que paira na mente de muitos. Eu incluído.

Padre desde o Douro numa jangada de bolas

Havia o padre voador, Bartolomeu de Gusmão. Agora há o padre navegador.
Confesso que sinto sempre alguma perplexidade com este tipo de iniciativas, mesmo com as melhores intenções. Duvido da evangelização pelo insólito. Uma jangada "em forma de Cristo"? A notícia é do JN de hoje.

Notícia e vídeo aqui.

Seguir

Se queres seguir a Deus, deixa-o ir adiante. Não queiras que ele te siga.

Agostinho de Hipona (354-430)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Grandes figuras da Bíblia segundo Carreira das Neves

“É facto que os católicos, ao contrário dos protestantes, lêem pouco a Bíblia, porque, na tradição da Igreja Católica, a Bíblia não é uma entidade «divina» de per se, mas um meio – o maior e absolutamente necessário entre outros – para chegarmos a Deus, à fé cristã e à compreensão da Igreja”, escreve P.e Joaquim Carreira das Neves na “Introdução” de “As grandes figuras da Bíblia”.

Hoje, com tantos meios à disposição, se um católico desconhece o fundamental da Bíblia, a responsabilidade é exclusivamente dele, ainda que a Igreja em geral e as comunidades cristãs em especial pudessem fazer mais pela promoção da sua leitura.

Neste livro, o padre franciscano e professor de Teologia Bíblica traça “retratos” e “biografias” de protagonistas bíblicos, “em escrita corrida, sem descer a muitos pormenores filológicos, culturais e históricos”. “A intenção é apresentar um livro que todos os leitores possam entender”, por isso, deixou de lado “as argúcias exegéticas dos grandes comentadores da Bíblia, que enchem bibliotecas e revistas da especialidade”.

São 15 as grandes figuras da Bíblia, segundo o P.e Carreira das Neves. Algumas são inseparáveis do seu par e uma é colectiva, os profetas. As figuras estão distribuídas por 12 capítulos. Só uma é do Novo Testamento: Jesus Cristo.

Figuras: 1. Deus; 2. Adão e Eva; 3. Caim e Abel; 4. Noé; 5. Abraão; 6. Moisés; 7. David; 8. Salomão; 9. Profetas; 10. Elias e Eliseu; 11. Isaías; 12. Jesus.

Conferência profética de José Comblin

Hoje, a Igreja é como um castelo medieval, cercado de água. Levantaram a ponte e atiraram as chaves à água. Este “hoje” refere-se aos tempos de Pio XII, que morreu em 1958, porque o pensamento foi deixado pelo P.e Liber, jesuíta, confessor do Papa Pacelli. O episódio foi recordado há dias pelo P.e Comblin, em El Salvador, para falar dos tempos que correm.

José Comblin, 87 anos, padre belga a viver no Brasil desde 1958, com oito anos de exílio no Chile pelo meio, devido ao regime militar dos anos 1970, proferiu uma conferência sobre “o que nos está a acontecer na Igreja?” Há muito tempo que não lia nada tão questionante, tão profético, tão inspirador de esperança.

Sobre as mudanças que têm sido anunciadas e reanunciadas (“da conservação à missão”, por exemplo), diz o padre que estamos como diz Teresa de Ávila: “Nada nos perturbe”.

Separa, por outro lado, o que é de Jesus (o evangelho) e o que não é (a religião, os ritos, as doutrinas). “Toda a história cristã é uma contradição permanente e constante entre os que se dedicam à religião e os que se dedicam ao evangelho”.

Critica, também, a formação nos seminários, a teologia, as congregações religiosas. E quem vai evangelizar o mundo de hoje? “Para mim, são os leigos”. São muitos. Além dos mais, para mudar o clero, são precisos pelo menos 30 anos - diz quem se recusou a trabalhar em seminários.

Quanto aos leigos, “há muitíssima gente disposta, e gente com formação humana, com capacidade de pensar, de reflectir, de entrar em relação e contactos, de dirigir grupos, comunidades”.

Conferência na íntegra, em espanhol, aqui.

José Mattoso: "A escuridão é o mistério de Deus"

Excerto da entrevista que Anabela Mota Ribeiro fez ao historiador José Mattoso, especialista na Idade Média, antigo monge beneditino, na "Pública" de 24 de Outubro de 2010.

Gaiolas


Deus amou os pássaros e inventou árvores. O homem amou os pássaros e inventou gaiolas.

Jacques Deval (1895-1972)

domingo, 24 de outubro de 2010

The Magic Mile

Bento Domingues: As crises, grandes oportunidades

Leituras de Domingo: Dúvidas na velhice

Por vezes, os idosos vêm ter comigo e estão desesperados. Construíram toda a sua vida com base na fé, mas agora ela ameaça desaparecer. Tento, então, fazer-lhes valer que não têm culpa do que está a acontecer e que é completamente normal: as dúvidas do momento significam que estão a ser desafiados a escavar novas fundações para a fé. De seguida, convido-os a expressarem as suas dúvidas até ao fim. Em teoria, é possível que tudo o que pensamos de Deus seja fruto da nossa imaginação ou que a nossa ideia da vida eterna seja apenas uma ilusão. Mas, se seguirmos esta lógica de pensamento até ao fim, então tudo se torna absurdo. Pessoalmente, quando sigo esta linha de pensamento, sinto no fundo do meu coração um impulso que me leva a decidir com firmeza: «Aposto nesta carta. Confio na Bíblia, confio na liturgia, confio em Santo Agostinho e em Santa Teresa de Ávila». Face a todas as dúvidas, escolho a fé e a vida. Esta fé será contestada até à morte; porém é a fé que me ampara e que me ajuda a perceber as pessoas que se debatem por ela.

Anselmo Grün, A sublime arte de envelhecer e tornar-se uma bênção para os outros, Paulinas, pág. 142

Verdade

Quem procura a verdade procura Deus, ainda que não o saiba.

Edith Stein (1891-1942)

sábado, 23 de outubro de 2010

24 de Outubro de 2005. Morre Rosa Parks

Rosa Parks e Martin Luther King

Rosa Parks na esquadra após a expulsão do autocarro

Autocarro onde Rosa Parks recusou dar o lugar. Fotos retiradas de Rosa Parks Facts

Rosa Parks (Tuskegee, 4 de Fevereiro de 1913 - Detroit, 24 de Outubro de 2005), metodista de religião e costureira de profissão, ficou famosa por, num autocarro, ter recusado dar o seu lugar a um branco.

O episódio, passado em Montgomery, obteve uma repercussão extraordinária, iniciando o movimento de luta pela igualdade de direitos entre negros e brancos nos EUA. É que, da noite para o dia, foram impressos mais de 35 mil folhetos e no dia seguinte – a recusa de ceder o lugar aconteceu no dia 1 de Dezembro de 1955 – os negros boicotarem os autocarros de Montgomery.

Rosa Parks não foi a primeira a recusar o lugar a um branco nem a primeira a ser expulsa do autocarro e presa. Mas porque era membro do National Association for the Advancement of Colored People, o seu caso obteve um eco que viria a chegar a Martin Luther King e a mudar a história dos EUA.

Anselmo Borges: Saramago e Deus


Passado o rebuliço mediático, quereria escrever sobre o tema em epígrafe. Só sobre ele. Deixo, pois, as questões literárias, partidárias, políticas, incluindo a nódoa indelével daquele desgraçado despedimento de 22 jornalistas do DN por delito de opinião. Exijo-me este texto, até porque, numa entrevista a João Céu e Silva, Saramago se me referiu com admiração por ter lido e gostado do seu livro Caim: "Até fiquei surpreendido quando ouvi um teólogo - uma coisa é um teólogo e outra um padre -, Anselmo Borges, dizer que tinha gostado do livro".


Quem, no meu entender, melhor escreveu sobre o tema foi Eduardo Lourenço. Entre outras coisas, porque introduziu o pensar sobre o ateísmo até ao limite. "O que designamos por 'ateísmo', na sua literal acepção, significa, geralmente, mais do que o seu conteúdo dialecticamente negativo. Denota um relacionamento de grau nulo com o referente Deus. É tão impensável ou inacessível na sua ordem como a pura transcendência, que é conteúdo real ou imaginário de Deus. Ser ateu é só ser e estar 'sem Deus'. Perspectiva tão vertiginosa como a que a referência a Deus assinala, sob o modo de uma 'ausência' tão impensável como a de Deus e não menos 'abscôndita', só que mais dolorosa, que a da presença das presenças".


Segundo a tradição e na modernidade, "considerou-se ateu e deve assim ser considerado o sujeito para quem 'o nome' e, sob ele, a mesma ideia de Deus - não o conceito - não tem sentido algum." Mas não haveria mais motivo para designar como "ateu" quem "tivesse a pretensão de o objectivar, ou de conceber claramente, o que ele mesmo chama Deus"? Afinal, verdadeiramente ateus não seriam precisamente "os chamados teólogos, pelo menos os clássicos - anteriores a Karl Barth -, que sabiam tudo de Deus, ou que sabem tudo de Deus"?


Exceptuando os místicos, é raríssimo o crente que se apercebe de que perante Deus só o silêncio é que diz, pois, no limite, Deus é nada do que dele o linguajar humano possa dizer. Ouvi uma vez a Jacques Lacan: "os teólogos não crêem em Deus, porque falam dele". E também Karl Barth, o maior teólogo protestante do século XX, disse que conhecia muito bem um certo ateu: justamente Karl Barth.


Há dois modos de negação de Deus: a negação real e a negação determinada.


Por negação determinada, entende-se a negação de um determinado Deus, de uma certa imagem de Deus. Foi o que Saramago fez. Como podia ele ou alguém intelectualmente honesto aceitar um deus cruel e sanguinário?


No Caim, é essa imagem do deus violento e arbitrário que denuncia. Não é de facto a Bíblia judaica, no dizer do exegeta católico Norbert Lohfink, "um dos livros mais cheios de sangue da literatura mundial"? De qualquer modo, o nome de Deus foi demasiadas vezes invocado para legitimar a violência e o derramamento de sangue de inocentes.


É certo que no Novo Testamento, na única tentativa de "definir" Deus, se diz que "Deus é amor incondicional". Mas também há acenos para uma interpretação sacrificial da morte de Cristo, teorizada sobretudo por santo Anselmo e desde então muito pregada: Deus precisou da morte do seu próprio Filho, para reparar a ofensa infinita cometida pelos homens e assim reconciliar-se com a humanidade. Ora, precisamente perante esta concepção sacrificial da sua morte como preço do resgate do pecado, como não entender a inversão da oração de Cristo na Cruz? Onde, no Evangelho, se diz: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem", lê-se, em Saramago: "Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez".


A negação determinada não significa negação real. A pergunta é, portanto, se Saramago negou realmente Deus ou se, pelo contrário, na negação do deus arbitrário e sanguinário, não está dialecticamente presente o clamor pelo único Deus verdadeiro, o do Anti-mal. De qualquer modo, segundo Saramago, "Deus é o silêncio do universo, e o ser humano o grito que dá sentido a esse silêncio". "Esta definição de Saramago é a mais bela que alguma vez li ou ouvi", escreveu o teólogo Juan José Tamayo.


Texto de Anselmo Borges retirado do DN de 23-10-2010

Recorde


Chama-se milagre quando Deus bate os seus recordes.

Jean Giraudoux (1882-1944)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

22 de Outubro de 1725. Morre o compositor Alessandro Scarlatti

Grande compositor barroco, Alessandro Scarlatti nasceu em Palermo, a 2 de Maio de 1660, e morreu em Nápoles, a 22 de Outubro de 1725. Contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da ópera. Compôs uma centena delas.

A sua obra é imensa (oitocentas cantatas, sinfonias, madrigais, motetes, etc.). especialmente apreciadas são as suas missas. Compôs doze.

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...