Escreve Erasmo, nascido faz hoje 544 anos, no início de “Elogio da Loucura” (5 de Junho de 1508):
“Querendo, pois, ocupar-me com qualquer coisa [durante a viagem a cavalo de Itália para Inglaterra], e não se acomodando as circunstâncias a sérias meditações, ocorreu-me fazer lucidamente o elogio da Loucura. Que Palas [Palas Atena, deusa da sabedoria, das artes e da habilidade] te levou isso à mente? Perguntarás. Pensei em ti, no teu nome, Morus, que está no próximo da palavra Moria (Loucura) quão longe se encontra da tua pessoa. Tu és, segundo o sufrágio de todos, completamente alheio a ela. Supus depois que este divertimento do meu espírito mereceria a tua aprovação, visto que não receias um género de jocosidade douto e agradável e que, na vida quotidiana, segues tal como Demócrito [segundo os clássicos, Demócrito ria, Heráclito chorava]. De certo, a profundidade do teu pensamento afasta-se muito do vulgo; mas tu tens tão boa graça, e um carácter tão indulgente, que sabes acolher as pessoas mais humildes e encontrar agrado no seu convívio. Receberás, pois, com benevolência esta pequena declamação, como lembrança do teu amigo, e aceitarás o encargo de defendê-la, visto, pela dedicatória, que ela agora é tua, e não minha”.
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