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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Ah, seu interesseiro...

Quando deixamos de sentir que temos de aderir acriticamente às religiões ou de as denegrir, estamos livres para as descobrir como repositórios de uma miríade de conceitos engenhosos com os quais podemos tentar mitigar alguns dos males mais persistentes e negligenciados da vida secular.

Alain de Botton, "Religião para ateus", pág. 15

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

João César das Neves sobre Christopher Hitchens



João César das Neves escreveu na segunda-feira passada, no DN, sobre o "cavaleiro do Apocalipse" Christopher Hitchens, que morreu no dia 15 de dezembro passado.
O ateísmo é a doutrina religiosa com o dogma de que Deus não existe. Embora se considere científica é uma crença como as demais, pois relativamente à divindade o ser humano nada conhece. A única coisa que podemos é formular convicções. Eu acredito que Deus existe, Hitchens tinha a certeza que não, mas ninguém realmente sabe. Um dia veremos, mas então será demasiado tarde.

(…) Existe aqui uma assimetria curiosa. Se eu escrever algo contra uma fé alheia ou atacar o ateísmo, sou intolerante e fanático. Mas um ateu que critique abertamente a religião e até faça disso carreira profissional, manifesta liberdade de expressão. Durante muito tempo atacar a Igreja era, não perseguição e chauvinismo, mas suprema prova de democracia e humanismo. Os mais ferozes anticlericais chamavam a si mesmos "livre pensadores". 
O "novo ateísmo" caracteriza-se precisamente por esta dureza contra a religião, o que é compreensível por várias razões. Primeiro por ser comum em crenças pequenas e inseguras. Depois porque este novo ateísmo tem de viver na evidência do fiasco do antigo. Até há cem anos todos os pensadores cépticos acreditavam piamente na morte próxima da religião e num futuro ateu, crença que falhou redondamente. 
Acima de tudo, o ateísmo é a certeza de que a vida não tem sentido e a morte é o nada. Por isso era tão importante observar o fim de Christopher Hitchens. Este autor, a quem os conhecidos descrevem com uma personalidade encantadora, sabe agora se a sua aposta é certa ou errada. Como pessoa religiosa, rezo sinceramente pela alma que ele achava não ter. Faço-o confiante no sentido de humor do Senhor do universo, que deve esmerar-se em receber com especial delicadeza aqueles que pessoalmente O negam.
Ler tudo aqui.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Leiamos os ateus que lêem muito


“Vamos continuar a lê-lo por muitos anos. Para, como ele gostava, concordar e discordar”, escreve José Manuel Fernandes no “P2” de hoje, sobre Christopher Hitchens, que morreu no dia 15 de Dezembro nos EUA.

Hitchens era um homem de excessos, tanto na saúde (“bebo diariamente o suficiente para matar ou inutilizar uma mula”) como na escrita e na ideologia. “Move-se exclusivamente em função daquilo em que acredita em cada momento, sem olhar a conveniências, sem preocupações de grupo, sem olhar a inimizades”. Tanto desagradava a esquerda quando escrevia que o “feto era um ser vivo desde o momento da concepção”, diz JMF (eu escolheria outras palavras, mas percebe-se a ideia), como enervava a direita quando criticava o sionismo e apostolava pelo ateísmo.

Escreveu um livro contra a Madre Teresa de Calcutá, “A Posição do Missionário”, porque dizia que ela defendia a pobreza e não os pobres. O livro esteve para chamar-se “Vaca Sagrada”.

JMF diz que Hitchens, pela “sinceridade desconcertante”, pela “frontalidade tonitruante”, “merece fazer parte do panteão sagrado dos grandes intelectuais públicos”.

Não me parece. Daqui a três ou quatro anos, Hitchens parecerá do século passado. Mas como leitor de “deus não é Grande” (é assim que é o título da obra publicada na Dom Quixote), confesso que aprendi alguma coisa – factos e cultura geral. Mas muitos factos podem não fazer uma razão. Um exemplo: diz Hitchens, e não é mau que qualquer católico o saiba, para ir mais fundo, que Tertuliano (não um padre da Igreja, como diz, porque morreu fora da ortodoxia, mas, mesmo assim, teólogo considerado pela Igreja), descrevendo o paraíso, diz que “um dos prazeres mais intensos da vida depois da morte seria a contemplação eterna das torturas dos condenados” (pág. 75). Aprende-se sempre com os ateus que lêem muito.

Morreu Christopher Hitchens


Do "Expresso" online de ontem (aqui):
Considerado um dos intelectuais mais polémicos e influentes dos últimos 30 anos, o autor de "Deus não é grande" que disse que aceitaria ser o porta-voz do Presidente Barack Obama, morreu ontem [anteontem, 15 de Dezembro] nos EUA, de cancro. A doença foi-lhe diagnosticada em junho de 2010, quando se preparava para lançar o seu livro de memórias "Hitch-22".
Como algumas vezes referi neste blogue este pensador crítico, que era um dos quatro cavaleiros no novo ateísmo (com Harris, Dennet e Dawkins), que tinha argumentos que faziam pensar, embora por vezes valessem mais pela retórica do que pela lógica, tenho que assinalar a sua morte e, à minha maneira, solidarizar-me com ele. Mais Christopher Hitchens.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mais uma blasfémia. Texto de Rui Cardoso Martins



Um bom texto para pensar o sofrimento e os milagres, mesmo que não se concorde em quase nada com o autor. Só para se ter uma ideia, o sacrifício de Abraão, ao contrário do que diz Rui Cardoso Martins, quer significar precisamente que Deus não quer sacrifícios humanos. O arco encerra-se depois com Jesus Cristo, "Cordeiro" que é o último sacrifício. Deus não quer mais nenhum sacrifício e pronto. O texto veio na "Pública" do domingo passado. É gira a ideia de um milagres sobre Hitchens. Mas não é assim que as coisas funcionam.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

The Blair Hitchens Project e outros debates

Tony Blair e Christopher Hitchens

Não se pode dizer que tenham sido muito esclarecedores. Os excertos não permitem ir mais longe. Mas nestes dias, deram-se dois debates públicos de alto nível. Num falou-se da bondade/maldade da religião do mundo; noutro, do diálogo entre ciência e fé.

No primeiro, em Toronto (Canadá), participaram Tony Blair, defendendo a religião, e Christopher Hitchens, falando da sua maldade.

Em português um excerto aqui.

Sítio oficial aqui. Mas é preciso pagar para ver, embora haja muito mais informação interessante.

Segundo notícias da rede, ganhou Hitchens (68 contra 32 por cento a favor de Balir).

No segundo, na Itália, suponho que nas páginas do “Corriere della Sera”, estiveram Ignazio Marino (médico e senador) e o Cardeal Martini, emérito de Milão, mais concordando do que discordando.

Em português aqui.

Diz Ignazio Marino: "Às vezes, como crente e como homem interessado pela ciência, desencorajo-me. Outras vezes, conforto-me lembrando que devemos justamente a homens da Igreja algumas das maiores revoluções científicas". É isso.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Fernanda Câncio não tem Deus, mas vai tendo os seus profetas

Na “Notícias Magazine” de hoje (26 de Setembro de 2010), Fernanda Câncio, que não tem Deus, porque “não é grande nem sequer é grande coisa”, revela que tem um profeta: Christopher Hitchens. Encontrou em Hitchens os argumentos que se alinhavam na cabeça dela. O colunista inglês deve tê-los copiado da mente da jornalista portuguesa por telepatia.

Embora por razões opostas, ambos (eu e ela) gostamos de ler Hitchens. Eu para me confrontar com quem pensa diferente e, de alguma forma, interroga a fé que partilho com outros (referi-me a isso aqui). Ela para se sentir legitimada e, como dá a entender no primeiro parágrafo, para cultivar o inglês, um inglês muito melhor do que o mau inglês internacional que está acostumada a tolerar.

Em relação à doença, Hitchens parece ser um pouco mais razoável do que Câncio, que se lembrou de citar alguém que lhe deseja sofrimento. Viu na Internet. Vê-se lá de tudo. Na realidade, também vi que perguntaram a Hitchens e ele foi bem mais afável. “Sente-se insultado quando as pessoas dizem que rezam por si?” Hitchens: “Não, não, aceito-o desde que o façam para a minha recuperação. Mesmo que isso não mude nada” (ver aqui).

domingo, 27 de junho de 2010

Terry Eagleton: Deus volta ao debate intelectual pela esquerda

O crítico inglês Terry Eagleton vai estar na próxima Festa Literária Internacional de Paraty (Flip, 4 a 8 de Agosto), no Brasil, para falar de Deus. Eagleton é um marxista (não sei se muito, se pouco ortodoxo, mas quer publicar um livro sobre como Marx estava certo).

Nos anos 60 e 70, colaborou na revista “Slant” - vem sempre nas notas biográficas do crítico. Eu nunca tinha ouvido falar da revista “liberal”, “católica”, “esquerdista”, mas uma gloogagem revela logo que era uma publicação ligada aos dominicanos e à Universidade de Cambridge. Publicaram-se 30 números.

Terry Eagleton, que tem sido crítico no “novo ateísmo” (de Dawkins e Hitchens – ou numa palavra, como prefere, Ditchkins; disse Eagleton sobre um livro de Dawkins: “Imagine alguém discorrer sobre biologia tendo como único conhecimento do assunto o «Livro dos pássaros da Inglaterra» e você terá uma ideia do que é ouvir Richard Dawkins discutir teologia”), dá uma entrevista ao suplemento “Prosa & Verso” de “O Globo”.

Diz isto, por exemplo:

Se existe isso que se pode chamar de neoateísmo [Dawkins, Hitchens e outros], há também um novo ateísmo teológico: Habermas, Badiou, Agamben, Zizek etc. Um fenômeno impressionante e incomum de todo um conjunto de pensadores de esquerda lidando seriamente com teologia.

Deus volta ao debate intelectual de duas maneiras: há uma polêmica contra ele, por um lado, e por outro um aproveitamento de recursos teológicos por parte de uma série de pensadores de esquerda declaradamente ateístas. E acho que essa segunda história ainda precisa ser examinada com mais profundidade. O que está acontecendo, para que parte do trabalho teológico mais importante de hoje esteja sendo feito por ateístas de esquerda? Parte da resposta, na minha opinião, é que, quando a esquerda passa por tempos difíceis, ela não pode ser dar ao luxo de olhar os dentes do cavalo, como se diz. E se ela descobre que algumas ideias teológicas podem ser úteis, então, por que não?

A entrevista pode ser lida aqui.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Hitchens, Pitágoras e a astrologia

"Pitágoras refutou a astrologia limitando-se a afirmar que gémeos idênticos não têm o mesmo futuro, sei também que o Zodíaco foi esboçado muito antes de vários planetas do nosso sistema solar terem sido detectados, e claro que compreendo que não posso «ver» o meu futuro imediato ou a longo prazo sem que esta revelação altere o resultado. Milhares de pessoas consultam as suas «estrelas» nos jornais todos os dias e depois têm ataques cardíacos ou acidentes de viação imprevistos. (Um astrólogo de um jornal sensacionalista londrino foi em tempos despedido através de uma carta do editor que começava, «Como terá sem dúvida previsto»)".

Christopher Hitchens


Tenho andado a ler “deus não é Grande. Como a religião envenena tudo” (Dom Quixote), de Christopher Hitchens. Embora o seu estilo panfletário canse, apesar de bastante informativo, de vez em quando dou com parágrafos que subscrevo totalmente (coincidência ou influência, o argumento de Pitágoras é retomado por Santo Agostinho, ver aqui). Como o acima citado, retirado da página 94 do seu livro.

No combate às superstições, sem dúvida que os crentes devem estar ao lado dos ateus. Por outro lado, mesmo quando o alvo é a religião revelada, o ateísmo crítico (porque também o há ingénuo) terá sempre uma componente purgativa que dá muito jeito às religiões que levam a sério a razão – como é o caso do cristianismo católico.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Hitchens: Ai de mim se não ateizar

Christopher Hitchens esteve na Casa Fernando Pessoa, no dia 18 de Fevereiro, para falar sobre “A Urgência do Ateísmo”. Hitchens, inglês, é um dos novos evangelizadores ateus, autor de “Deus não é grande – Como as religiões envenenam tudo” (na D. Quixote), e colunista da “Vanity Fair” (e irmão de Peter Hitchens, crente).

Apesar de ser estranho que a Casa Fernando Pessoa, instituição dependente da Câmara Municipal de Lisboa, logo de dinheiros públicos, promova uma conferência para defender o ateísmo (ele não veio falar do ateísmo em Fernando Pessoa, da história do ateísmo ou de tema similar, mas tentar convencer que ser ateu é melhor, veio “ateizar”), a conferência deve ter sido uma decepção. Procurei na net e na imprensa e pouco encontrei sobre o evento e muito menos argumentos sérios. O “Público” diz isto, que, convenha-se, é muito infantilizado e incongruente (as 72 virgens não fazem parte do imaginário cristão, como foi o da educação de Hitchens, mas são sempre um bom trunfo para a gargalhada):

“Contou – escreve Isabel Coutinho – que quando era pequeno e o padre lhe falava do céu e do inferno ele conseguia ter uma ideia muito precisa do inferno mas não lhe acontecia a mesma coisa com o céu. «Não sabia da existência das 72 virgens nessa altura… e seria demasiado novo para apreciar», brincou, e a sala gargalhou. Quando perguntava o que se fazia no céu e lhe respondiam que se louvava a Deus o dia inteiro e para sempre eternamente parecia-lhe que isso é que era o inferno”.

Também falou da beleza e da dialéctica da frase de Marx "a religião é o ópio do povo", que, aliás, Marx plagiou de outros autores. Talvez algumas religiões sejam o ópio do povo, mas quem não distingue confunde. A experiência da generalidade dos crentes que conheço é que a religião (se o cristianismo, que é uma fé, for um religião, o que não é consensual) é o fermento do povo. Ópio e fermento. Ambos são brancos. Mas o efeito é diferente.

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...