quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A crise do papado ratzingeriano em livro


Surgiu em Itália um livro que diz que Ratzinger não deveria ter sido Papa. Que é demasiado polarizante para gerar consensos, diz a tese. Apesar de tudo - este “tudo” é a história -, o Papa é pontífice, faz pontes entre toda a urbe, o mundo todo. Ora Bento XVI, resume o jornal "Il Sole 24 Ore"…
…com o catastrófico discurso de Regensburg, comprometeu as relações com o Islão, às quais João Paulo II havia se dedicado por 20 anos; ignorando o Holocausto em Auschwitz e defendendo que o nazismo havia sido um corpo estranho na Alemanha, afastou-se da simpatia do mundo judaico; diminuindo o uso dos preservativos na África devastada pela sida, despertou reacções indignadas no mundo; simpatizando com o radicalismo religioso, readmitiu na Igreja quatro bispos lefebvrianos, incluindo um conhecido negacionista; e, mesmo condenando a pedofilia, diminuiu a gravidade do caso com a afirmação de que o fenómeno está presente em todos os ambientes (li aqui).
Afirma o livro do vaticanista Marco Politi que…
Joseph Ratzinger non doveva diventare papa. Non poteva. Secondo le regole non scritte dei conclavi una personalità così 'polarizzante' non sarebbe mai riuscita a ottenere i due terzi dei voti necessari per essere eletto. Invece il 19 aprile 2005, dopo un'elezione tra le più rapide dell'ultimosecolo, il tedesco Ratzinger si affacciò sorridente alla Loggia delle Benedizioni. Chi varca il Portone di Bronzo impara presto cosa significa il termine 'polarizzare'. Significa creare con dichiarazioni, gesti e idee un campo di tensione così forte da spaccare la Chiesa tra visioni differenti (li aqui).
Em defesa de Bento XVI e contra os métodos do jornalista, saiu Lucetta Scaraffia, membro do Comité Italiano de Bioética e professora de história contemporânea da Universidade La Sapienza de Roma. Afirma Scaraffia:
Não é fácil falar de um livro em que eu sou citada várias vezes, mas sempre de modo a aparecer diferente o que eu escrevi: qualquer um teria a suspeita de que todo o discurso é conduzido com esse método. E a leitura do texto o confirma: mesmo que o autor seja jornalista e não historiador, tendo por dever disciplinar a revelação das suas fontes disciplinares, basta um rápido olhar para se dar conta de que se trata de um triunfo do preconceito. 
Politi, de fato, parte da ideia de que foi um erro eleger Joseph Ratzinger ao sólio pontifício e continua tentando demonstrar que seu pontificado é uma sequência de desastres: naturalmente, as fontes das quais ele se serve são escolhidas sob medida para corroborar essa hipótese inicial. Pode-se ver isso do fato de que são citados, entre aspas, os pareceres de muitos prelados, vaticanos ou não, todos rigorosamente anônimos – só sabemos o seu grau na hierarquia eclesiástica – e evidentemente escolhidos entre os opositores do papa. 
O autor também traz, de segunda mão, dados precisos sobre as votações no conclave que, como se sabe, não é possível controlar: qualquer fonte que ele tenha usado, admitindo-se que exista realmente, é, sem dúvida, tão envenenada a ponto de transgredir o juramento feito na Capela Sistina. Será, portanto, confiável? Duvido muito. 
Assim como penso que não é um método histórico recomendável examinar apenas os episódios em que Bento XVI encontrou oposições e críticas – o que, de resto, não deve surpreender em um mundo secularizado, como o próprio papa disse em viagem a Berlim – e ignorar qualquer outro fato diferentes, como por exemplo as viagens aos Estados Unidos, à Grã-Bretanha ou à Alemanha, iniciadas em meio a críticas e oposições e encerradas com um inegável sucesso, também pessoal, do pontífice. 
E também não me parece bem escolhido o retrato do pontífice, oscilante entre o autocrata que não ouve ninguém e decide sozinho – além disso, sempre com base em uma ideia de Igreja hipertradicional –, e o velho professor indeciso, que só quer se refugiar em sua biblioteca para estudar. Em ambos os casos, inadequado e culpado, mas não se entende muito bem se de muita autoridade ou de fraqueza (li aqui).

1 comentário:

Anónimo disse...

Ser Papa não para todos. O Marco Politi vai ter de andar com comprimidos para azia...

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...