A educação é o que acontece quando se põem em causa a
verdade e as verdades. Aprende-se a distinguir os factos (ou as observações)
das verdades.
É um facto observado que alguém tirou um pão sem pagá-lo.
Mas é a partir daí que não conseguimos impedir-nos de pensar mais; mais
longamente; mais tarde. Será que a pessoa tinha fome? Será que a pessoa é
contra o roubo? Será que é assim que se define o roubo e, por conseguinte, o
ladrão?
O relativismo é muito atacado: por alguma razão é. Talvez
seja porque é a maneira de o mundo sustentar muitas verdades adversárias ao
mesmo tempo. É como os vários estilos do jazz: é por serem vários que são (ou,
mais convincentemente ainda, não são) jazz.
A educação é a edificação da incerteza informada, curiosa e
divertida. Só funciona se formos ambivalentes: se eu, por exemplo, não for
capaz de suspeitar que têm valor estético as obras de arte (ou coisas) que me
repugnam e afastam, torno-me num apreciador fanático e obstruído.
O relativismo é a única maneira inteligente de reconciliar
verdades concorrentes que se deixam vitimar pelo desejo comum de vencer.
É a curiosidade — e a abertura solidária para se provar que
estamos errados — que nos salva de termos certezas estúpidas.
A educação é o que nos prepara para não estarmos preparados.
A certeza é a feição mais atraente da ignorância. Também a estupidez convencida
e inviolável é o melhor antídoto para o remédio da sempre angustiada e céptica
inteligência.
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