Ontem, mais ou menos por acaso, vi o último episódio da
sexta temporada da série “Dexter” (RTP 2). Sei que é da sexta temporada por fui
agora mesmo ver que a série já tem oito e que aquele era o 12.º episódio da sexta
série. Devo ter visto na íntegra as primeiras duas ou três temporadas, na altura
a série passava na segunda à noite, até achar que ficava demasiado nervoso com
as embrulhadas de um serial killer. É ambivalente, estranho e principalmente desconfortável
o sentimento de ter simpatia por um criminoso. Deve vir daí o sucesso da série.
Mas precisamente por isso deixei de vê-la.
Mas vi o episódio de ontem. Dizia “último” no canto superior
esquerdo. Que narrativa tão bíblica. Um náufrago que é salvo por uma barca que
leva à terra prometida (deveria ter contado se eram oito os casais da barca
mais Noé). Uma
festa do infantário que é precisamente a encenação da entrada nos animais na
barca. Um lugar alto onde vai ser sacrificado um inocente, filho único, um cordeiro, no dia do juízo
final, no dia em que o sol se apaga. Um altar onde vai ser sacrificado um criminoso, sob o olhar do Crucificado.
E a última afirmação de Dexter, com que encerra a temporada, quando se apercebe
que alguém o vê a assassinar um criminoso: “Oh God”.
1 comentário:
Os guionistas americanos são excelentes profissionais, capazes de tocar o público como uma viola - se eles querem, o público ri-se, se viram para o outro lado, o público chora baba e ranho como um fedelho desmamado.
As culturas protestantes anglo-saxónicas são como árvores cuja seiva é Shakespeare e a Bíblia KJV (King James Version, feita pelos contemporaneos do Shakespeare, e possivelmente o próprio). Metade dos titulos de livros são alusões a uma dessas fontes
Enquanto os católicos pouco olham para o Velho Testamento, e se guiam pelo Novo, os protestantes, como bons judeus, citam tonitruantemente o Velho.
As cenas todas mais badalhocas, desde as filhas de Lot ao sacrificio de Jacob, fazem parte da herança cultural. É o que dar pôr - durante quinhentos anos - pregadores avulsos a ler e pregar a Biblia, em vez de profissionais altamente treinados.
"No surprise there".
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