João XXIII, um mês antes da abertura do Concílio Vaticano
II, na radiomensagem de 11 de Setembro de 1962, espantou os próprios católicos
com a declaração: “Hoje, a Igreja é especialmente a Igreja dos pobres”. Em
número, esta afirmação não podia ser mais exacta. Por que terá, então,
levantado tanta celeuma? Creio que, passados cinquenta anos, continua a ser
estranha. O Papa Francisco acaba de surpreender muita gente, com gestos e
atitudes, que já deveriam ser uma prática corrente. É certo que o Vaticano II alterou
uma eclesiologia piramidal. Mas não podia mudar a mentalidade e representações
que foram cimentadas ao longo de séculos. Ainda hoje, quando se fala de Igreja
não pensamos logo em comunidades cristãs. Pensamos em padres e na hierarquia
eclesiástica presidida pelo Papa, rodeado por um conjunto cardeais, com sede no
Vaticano. Essa não é a imagem mais directa da pobreza. Verdadeira ou falsa, não
é apenas a propaganda anticlerical a dizer que a Igreja é rica e está ao
serviço dos ricos e poderosos.
O resto, aqui, amanhã.
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