Já aqui escrevi que penso que deveria haver um limite de
idade para o Papa renunciar. Poderia ser mais do que o dos bispos diocesanos (75),
porque Pedro é o “primeiro entre pares”, mas talvez pudesse ser igual à idade
de um cardeal para participar num conclave (80). Sendo realista, penso que a
ideia não avançará. Pelo menos a médio prazo. Quando alguém a expressa – não sou
o único –, o primeiro motivo que apontam para a sua não concretização é o dos
jogos de bastidores, de influências, a que os cardeais cederiam ao verem chegar
o fim de determinado pontificado.
Registo isto porque quem recusa uma limitação do poder papal
no tempo defende também que o que interessa é que o Papa seja santo, que a
Igreja não é uma democracia, uma república ou uma empresa, e que o Papa é, em
última análise, uma escolha do Espírito Santo.
Mas o motivo que dão para não
haver limites temporais no pontificado é precisamente o que acontece quando um
pontificado termina por morte ou renúncia do papa: perguntar qual será o melhor para comandar a barca de Cristo. Faz-se imprevistamente (quando um Papa morre ou abdica) o que poderia ser feito com mais esclarecimento. Não seria mais aberto,
transparente, comunitário, eclesial, mesmo, porque na escolha do papa não é nem
em segundo ou terceiro lugar a santidade que interessa, saber-se que um
pontificado está a terminar e que o que interessa a todos deve ser decidido por
todos, mesmo que só se converse?
11 comentários:
Pergunto-me sobre o sentido da frase: «porque na escolha do papa não é nem em segundo ou terceiro lugar a santidade que interessa». Pergunto-me porque me faz questionar sobre a definição de santidade. Parece-me que bem enquadrada nos evangelhos, essa é precisamente a característica que mais interessa na escolha de um Papa (como na orientação de vida de qualquer cristão).
Caro Pedro, talvez em terceiro lugar, sim, depois de forte e jovem, como nesta notícia do La Repubblica retomada pelo Diário Económico:
O diário italiano ‘La Repubblica' noticia hoje que na base da renúncia de Bento XVI estará um relatório sobre a corrupção na Igreja.
No passado dia 17 de Dezembro, Bento XVI terá recebido um "relatório demolidor" de 300 páginas, elaborado por três dos mais experientes cardeais do Vaticano, relativamente à investigação sobre os documentos roubados da residência do Sumo Pontífice, adianta a edição de hoje do ‘La Repubblica'.
Segundo o jornal, o documento diria que poderão ser revelados muitos escândalos sobre as lutas de poder dentro da Cúria romana, desvios de dinheiro e a verdadeira força do poder do ‘lobby gay' na Igreja, informações que seriam tão "demolidoras" que convenceram o Papa a decidir que o melhor caminho a seguir seria o de deixar o cargo, de modo a permitir que um Pontífice mais novo e enérgico tome o poder no Vaticano e leve a cabo uma "limpeza profunda" da Igreja.
"Tudo gira em torno da observação do sexto e sétimo mandamentos: não cometerás actos impuros e não roubarás", disse ao periódico uma fonte "muito próxima" dos autores do relatório.
O ‘La Repubblica' recorda um escândalo que estalou em 2010, quando foi descoberto que um membro do coro da Capela Musical da Basílica Papal de São Pedro no Vaticano, o nigeriano Chinedu Eheim, oferecia serviços sexuais com menores, incluindo seminaristas, e que estes tinham lugar tanto em Roma como dentro das paredes do próprio Vaticano.
"Existe uma rede transversal unida pela orientação sexual. Pela primeira vez, a palavra ‘homossexualidade' foi pronunciada e lida em voz alta a partir de um texto no apartamento de Ratzinger. E pela primeira vez foi falado, embora em Latim, sobre a palavra ‘chantagem' (‘Influentiam')", lê-se no texto do jornal, que cita as revelações que os cardeais teriam feito ao Papa durante a apresentação secreta das suas conclusões finais.
Como consequência, prossegue o ‘La Repubblica', Bento XVI decidiu demitir-se, afirmando que "este relatório deve ser entregue ao próximo Papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera".
O link de onde a tirei
http://economico.sapo.pt/noticias/la-repubblica-associa-resignacao-papal-a-relatorio-demolidor_163166.html
Precisamente por tudo isto, creio que seria o «santo» em primeiro lugar. O santo, que implica a energia capaz de desconstruir os lobbies e os interesses instalados e orientar a comunidade, com o vigor da santidade (e da juventude também), para o «interesse de todos». Mas é possível que estejamos a dizer o mesmo, usando terminologias diferentes.
Sim, Pedro Gomes. Concordo com tudo o que acabou de escrever.
Decidido por todos. Lindo. E o Jorge ia correr mundo fora perguntar a todos os católicos quem é que eles queriam para Papa? Ou afinal já não seriam todos, mas apenas alguns? E que alguns? Os que estariam de acordo consigo?
Eu não disse que todos votam. Disse e mantenho que todos podemos participar na decisão. Como? Falando da questão, partilhando, dizendo com que Igreja sonhamos, rezando. Ou acha que o Espírito Santo só atua pelos 116 cardeais (eram 117, mas parece que um já não vai). Fraquinha a sua teologia que considera, parece-me, que o Espírito Santo só fala pelo voto dos cardeais. Delegue tudo em alguns e depois é o que se vê. Também se pode chamar a isso irresponsabilidade.
Olha. É exactamente isso que eu, pobre leigo, já faço. O Jorge não o faz? Fraquinha a sua percepção do que é a vida dos demais. E mais fraquinha ainda a ideia de que a Igreja tem que mudar para ser o que já é.
Hoje na RTP1, no telejornal da hora do almoço, uma jornalista chamada Rosário Salgado disse que tinha obtido informações junto da Opus Deis e da "maçonaria católica". Alguém me sabe dizer o que é esta última? Obrigado.
Agora que já se sabe que Carlos Azevedo é homossexual, talvez se comece a deitar os olhos a outros homossexuais que na área da cultura católica subiram ao Olimpo à custa de muitas sevícias homossexuais aceites e dadas. Mais não digo.
Anónimo das 6:36,
se a sua Igreja não precisa de mudar, de se reformar continuamente, de se converter... se como é é que é e está bem, não vivemos na mesma Igreja. Eu, por mim, ainda estou do lado de cá da Igreja. O anónimo, sem nome nem rosto, deve ser algum anjo, não? Saudações etéreas.
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