Quando tinha frutos também tinha ninhos
A mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2013 (li-a aqui)
insiste na relação entre fé e caridade. “Uma fé sem obras é como uma árvore sem
frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente”. O Papa diz que tanto é
“redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter prioritário e
decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas
da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo” como é igualmente redutivo
“defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando
que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar
tanto o fideísmo como o ativismo moralista”.
Claro que o Papa não é pelagiano porque diz que as obras de
caridade “não são fruto principalmente do esforço humano, de que [alguém
poderia] vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus
oferece em abundância”.
A mensagem não é muito provocadora, como penso que seria
desejável num texto que afirma que estamos a entrar num tempo precioso de
reavivar a fé. Mas tem elementos suficientes para quem quiser um pouco de
metanóia. A principal provocação é ao mesmo tempo uma das frases mais ignoradas
de Bento XVI, pelo menos nas suas consequências. Afirma ele, citando-se a si
próprio (“Deus caritas est”, 1):
«No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma
grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida
um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o
primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um
“mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso
encontro».
Pode haver fé (e logo caridade) sem este encontro pessoal?
Porque continua a Igreja a dar sacramentos (todos eles) a quem manifestamente
não dá sinais do encontro pessoal? Basta começar pelo Batismo e necessariamente
chegar o Matrimónio, como, aliás, há dias o Papa já disse. Encontros pessoais
não se delegam por muita fé que tenham os delegados.
1 comentário:
Vai haver mudanças no líder da Igreja Católica. O porta-voz do Vaticano anunciou hoje que o Papa vai renunciar ao cargo a partir de 28 de fevereiro.
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