Yves Congar (1904-1995) não é só um dos maiores teólogos do
séc. XX (na minha opinião, faz parte de um trio de primeiríssimos que, já que
estamos na semana do ecumenismo, inclui três confissões cristãs: os
dominicanos, os jesuítas e os reformados). É capaz de ser também o mais
linguarudo. E isso é bom para quem gosta de perceber como as coisas
funcionavam, porque a língua de Congar deu para deixar tudo escrito nos
diários. A diarística é sem dúvida uma boa forma de sublimar a língua comprida
que todos temos.
Congar começou a escrever diários praticamente no berço.
Quer dizer aos 10 anos, pelo menos. E já então escrevia que os alemães são “os
boches os canalhas os ladrões os assassinos os incendiários” (falei disso
aqui). Mas tarde diria bem de um alemão em concreto.
No tempo do Concílio, como é sabido, escreveu um diário que
é bem capaz de ser mais útil para compreender o que se passou no Vaticano entre
1962-65 do que as atas do concílio (desconfio, já que, quanto às atas, só as vi encaixotadas, por encadernar, à porta de uma biblioteca eclesiástica).
No dia 31 de março de 1965, sobre o grupo que estava a
redigir o decreto “Ad gentes” (sobre a Igreja e as missões), escreveu:
- "o padre Seaumois é realmente um burro", com a
sua "bagagem de ideias e as suas respostas já prontas";
- Dom Yago "não diz nada e parece se aborrecer
muito";
- Dom Perrin "quase não acompanha e não é de nenhuma
ajuda";
- "Felizmente, há Ratzinger. É razoável, modesto,
desinteressado, de boa ajuda" (li aqui).
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