Urbano Tavares Rodrigues diz que merece “amplamente o Prémio
Camões”. Não me pronuncio. Pouco conheço da sua obra. Li dele um livro de
contos, mas a tarde na relva junto à Torre de Belém, na primavera de 2004, foi
mais agradável pela companhia do que pela leitura. Literatura pouco marcante.
Nem me lembro do título do livro de contos. E é raro esquecer um título. Só sei
que era das Edições Europa-América.
Li a entrevista que deu ao Ípsilon de sexta-feira passada. E
vou aqui reproduzi-la, uma parte. Acho piada à religião comunista, contra todos
os argumentos, e ao repúdio do cristianismo com base num argumento, nesta caso a moral
sexual, que até lhe teria sido benéfica – a avaliar pelo que o próprio revela na entrevista.
…Uma vez [Álvaro Cunhal] disse-me: “Ai Urbano, às vezes parece que tens teias de aranha na cabeça, mas o teu coração é comunista”.
E o que é isso?
Um comunismo de solidariedade com os pobres e os infelizes que é profundamente ligado ao socialismo. Eu tornei-me comunista um pouco por influência de um primo meu que casou com a irmã do Álvaro Cunhal, o Fernando Medina. Ele deu-me a ler os textos comunistas quando eu tinha 13 ou 14 anos. Fiquei tocado com a solidariedade para com os pobres e humilhados. Eu antes de ser comunista estava ligado a uma espécie de socialismo cristão, embora repudiando a confissão e tudo isso. Descobri muito cedo que era uma farsa.
Teve essa educação católica?
Sim, tive catequese e tudo. Fiz a primeira comunhão.
E como é que descobriu “a farsa”?
Quando me pediam para prometer não repetir determinadas ações e que tinha de rezar uns tantos Padre-Nossos e eu sabia perfeitamente que ia repetir.
Por exemplo.
Umas histórias que eu já tinha tido com umas priminhas, em que havia sexo, embora sem chegar ao fim. Tinha unas 13, 14 anos. Achava de uma desonestidade profunda dizer que não repetia. E mandei isso à fava.
E alguma vez sentiu culpa?
Nunca a sexualidade me pareceu um pecado. Aí estava muito mais de acordo com os gregos. Noutras coisas senti. Por exemplo, no relacionamento que tive com as mulheres. Algumas vezes acho que as magoei. Posso ter sido egoísta. Disso arrependo-me.
…
Foi um mulherengo?
Acho que não, mas tive muitas mulheres. Às vezes fico comovido quando encontro uma dessas pessoas de quem gostei.
1 comentário:
Brilhante, Jorge!
tinham-me passado estas "pérolas"...
Fernando d'Costa
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