K. Adenauer, pai, ou talvez tio, da Sr.ª Merkel
Mário Soares faz hoje, no DN, uma extensa análise do
panorama político europeu, com destaque natural para a vitória de Hollande.
“Eis a mudança esperada, que vai transformar a União Europeia e tornar um pouco
melhor o mundo”, conclui.
Na política, sou gémeo Tomé, que era chamado de “Dídimo”,
que quer dizer “nascido do mesmo parto”. [Os cristãos, é a minha interpretação
da passagem tomista, nasceram todos do mesmo parto de cegueira de Tomé] . Não
me parece que Mário Soares tenha razão na sua análise. Tudo anda à volta do
dinheiro, é certo. Mas a coisa não se resolve como ele escreve: “Não há dinheiro? Há sempre, desde que haja
vontade política para o arranjar”. Espero para ver como.
Mas se trago para aqui a reflexão do ex-Presidente da
República é principalmente por causa dos primeiros parágrafos:
Não sou profeta. Mas espero que a Esquerda europeia saiba aproveitar a oportunidade que a crise global, paradoxalmente, lhe oferece, para se refundar (socialistas, sociais-democratas, trabalhistas, verdes) e, em diálogo estreito com o movimento sindical, readquirir o lugar que teve, no passado, nos Governos europeus e que, infelizmente, para o futuro europeu, tem vindo a perder.
Também espero, embora com menor convicção, confesso, que a Democracia Cristã, a outra família política que, com o socialismo democrático, ajudou a construir e a desenvolver o projeto europeu, possa reaparecer, com força, para o progresso da Europa. Porquê menos convicção? Porque a Igreja de Bento XVI não é a mesma de Leão XIII, de João XXIII ou de Paulo VI do Concílio Vaticano II. Apesar de manter, como não podia deixar de ser, a doutrina social da Igreja - e combater a democracia liberal, em favor da democracia social - evita, creio, que se crie, como no passado, um relacionamento partidário estreito que lhe pode retirar a simpatia dos outros movimentos políticos...
De qualquer modo, tanto a social-democracia como a democracia cristã perderam importância política na Europa, nos últimos anos, em favor do populismo ultra-conservador e da ideologia neoliberal (ler o resto e tudo aqui).
Duas notas:
1. Tenho ainda mais dúvidas que a Democracia Cristã ressuscite
na Itália, por exemplo, que é onde era mais relevante nas últimas décadas, além
da Alemanha. E vários políticos catolicíssimos do CL estão às pegas com a justiça. Mas é admirável como Soares passa por cima do facto de a CDU de
Merkel ser democracia cristã.
2. Parece que a Europa unida foi obra principal do
socialismo democrático, auxiliado pela democracia cristã. Foi precisamente o
contrário. É o efeito sinédoque, tomar a parte pelo todo, o menor pelo maior. Os democratas cristãos deram os primeiros passos, lideraram, e a
seguir juntaram-se socialistas e liberais. Os “pais da Europa”, os franceses
Schuman e Monnet, o alemão Adenauer, o italiano De Gasperi eram o quê? De dois
deles correm processos de canonização, ainda que em fases iniciais (Schuman e
De Gasperi). Outro era irmão de padre (Adenauer). E outro, mui católico,
Monnet, só não viu o seu catolicismo mais realçado porque se casou com uma
divorciada (mas não descansou enquanto não conseguiu casar-se pela
Igreja). Não foi por acaso que os
detratores da ideia da Europa unida chamavam ao projeto a “Europa vaticana”.
3 comentários:
De acordo! Ouvir esta inversão é como ouvir, como aconteceu comigo há pouco, dizer que a "declaração universal dos direitos do homem" da ONU foi redigida por ateus e não se encontra baseada na mundividência judaico-helenista-cristã!
Fernando d'Costa
Obrigado pelo comentário, Fernando.
A propósito dos direitos humanos, que sem dúvida têm uma matriz e mundividência cristão, disse o bispo de Dijon, há dias, que na DHDU late a visão cristã. Para nós, parece evidente,mas pelos vistos tem de ser afirmado publicamente, mesmo em contexto crente. Por outro lado, também é verdade que a receção eclesial da declaração demorou. E quanto à decalração francesa pós 1789, então...
O link para as afirmações do arcebispo de Dijon
http://www.periodistadigital.com/religion/diocesis/2012/05/08/religoin-iglesia-ucv-benedicto-derechos-humanos-arzobispo-dijon.shtml
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