Todos
os membros da minha família – de parte paterna e de parte materna
– eram europeus devotos. Na verdade, eram grandes amantes da
Europa. Conheciam os idiomas, as histórias, as culturas de cada país,
estavam incondicionalmente afeiçoados à Europa. Infelizmente, nos
anos 20 e 30, sucedeu que os Judeus, como os meus pais e a minha
família, eram os únicos europeus da Europa. Todos os outros eram
pangermanistas ou pan-eslavistas ou talvez apenas algum patriota
português. O meu pai costumava dizer-me na brincadeira que na
Checoslováquia havia três nacionalidades: Checos, Eslovacos e
Checoslovacos, que somos nós, os Judeus. Na Jugoslávia, havia nove
nacionalidades: Sérvios, Croatas, Montenegrinos, etc., e os
Jugoslavos, que somos nós, os Judeus. E, naturalmente, na
Grã-Bretanha, há os Ingleses, os Galeses, os Escoceses e os
Britânicos, que, de novo, somos nós. Mas, entretanto, o amor pela
Europa transformou-se em amor não correspondido. Se tinham sorte,
eram expulsos a pontapé, caso contrário, não abandonavam a Europa
com vida.
Amos
Oz, Contra o Fanatismo, p. 69-70
2 comentários:
Gostei do Blog. Boa sorte
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