terça-feira, 15 de outubro de 2024

Há um sínodo?

O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou aquilo é de uma banalidade tremenda.

Leio as notícias na Ecclesia e fico espantado com a irrelevância de tudo. Evidentemente, não há qualquer notícia do sínodo na imprensa generalista. É uma coisa que passa completamente ao lado.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Erros de olhar

Na sociedade, comete-se com frequência o erro que consiste em avaliar o passado com os olhos do presente.

Na Igreja, comete-se com elevada frequência o erro que consiste em avaliar o presente com os olhos do passado.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia.

Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de resolver: ordenar mulheres. Quero desenvovler o assunto. Por isso aqui deixo o primeiro texto. 


Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

Estamos no intervalo do Sínodo da Audição. Ou da Escuta. Na Carta ao Povo de Deus, de 25 de outubro, se algo sobressai, é que a Igreja está à escuta. Ou quer estar. Todo o processo deste sínodo começou há dois anos com um inédito e “longo processo de escuta e discernimento, aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém”, dizem os participantes da 16.ª assembleia. E na segunda metade da carta, não se cansam de salientar a escuta: “E agora? Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra “sínodo””. (…) “Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres”. “A Igreja precisa de colocar-se à escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje. Precisa de acolher as vozes daqueles que desejam se envolver em ministérios leigos ou em órgãos participativos de discernimento e de tomada de decisões. Para progredir no discernimento sinodal, a Igreja tem particular necessidade de recolher ainda mais a palavra e a experiência dos ministros ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis. Deve também deixar-se interpelar pela voz profética da vida consagrada, sentinela vigilante dos apelos do Espírito. Precisa ainda de estar atenta a todos aqueles que não partilham a sua fé, mas que procuram a verdade (…)”.

No ponto 9 do Relatório de Síntese fala-se das “mulheres na vida e na missão da Igreja”. E é neste ponto que quero dar o meu modesto contributo.

A Igreja não ordena mulheres. Por outras palavras, as mulheres não podem presidir à Eucaristia. No meu ponto de vista, este é o mais grave assunto da Igreja (ainda que o sínodo peça para que não se fale das mulheres como “de uma questão ou um problema”). Não ter mulheres a presidir à Eucaristia é a maior limitação à missão da Igreja. E representa um contratestemunho na época em que vivemos. O mundo, mesmo que não creia, vê como uma desigualdade a não admissão de mulheres ao sacerdócio ministerial. A Igreja defende-se dizendo que não se trata de desigualdade, mas sim do cumprimento de uma vontade superior à própria Igreja, uma vontade que vem de Jesus Cristo. “Chamando só homens como seus apóstolos, Cristo agiu de maneira totalmente livre e soberana”, escreveu João Paulo II na carta apostólica “Mulieris Dignitatem”.

Algumas pessoas com mais responsabilidade na Igreja (bispos e daí para cima) por vezes dão a entender que até gostariam que a situação fosse diferente. Mas não podem, por razões bíblicas e de Traição. Resume-se esta posição na frase: A Igreja até pode querer, mas não pode fazer, porque é próprio da sua “constituição divina”. E João Paulo II escreveu: “Para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”. Muitos discutem se este pronunciamento de João Paulo II é mesmo definitivo. Não é, obviamente, “ex catedra”. As portas da discussão não estão fechadas.

Uma saída para esta situação está em perceber que Jesus não escolheu só homens para apóstolos. Ou melhor eram homens, sim, mas eram Doze e eram judeus. Não eram “só homens”. Eram doze, judeus. A simbologia dos Doze, que dá origem à Igreja apostólica que somos, assenta num tripé: homens (como os lideres das tribos de Israel, e não homens e mulheres), Doze (como as tribos, e não 13 ou 14) e judeus (e não romanos nem sequer samaritanos).

Ora, a Igreja vive no tempo. E no início quis manter o símbolo intacto. Com o desaparecimento de Judas, foi sorteado (!) Matias, “que foi incluído entre os onze Apóstolos” (At 1,26). Tinham de ser doze, pensava a Igreja desta altura. Mas rapidamente as coisas mudaram na questão do número. Não era o número em si que interessava. E também mudaram na questão na nacionalidade. Não era ser judeu que interessava. O Concílio de Jerusalém foi o grande sínodo da viragem na questão dos genes. Faltou mudar na questão do género. Faltou mesmo? Talvez ela se tenha dado na própria Bíblia, se notarmos que Paulo trata Júnia por apóstolo e destaca a liderança de Prisca, entre outros casos, levando o especialista paulino Jerome Murphy-O’Connor a escrever: “Com toda a probabilidade, não há diferenças entres os homens e as mulheres” nas comunidades paulinas. Porque não persistiu a novidade? Talvez porque colidiu com a cultura androcêntrica. A mesma que ainda hoje predomina.

Se a Igreja teve o poder de ultrapassar o “só” doze e o “só” judeus, porque não tem o poder de ultrapassar o “só” homens?

terça-feira, 4 de julho de 2023

Igreja "em saída"

Na Alemanha, 522.821 católicos abandonaram a Igreja em 2022.

Será isto a "Igreja em saída" de que fala o Papa Francisco?

Temos de sugerir ao Papa que passe a falar de "Igreja em entrada".

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

O PCP, os católicos e a Igreja

Hoje, em Coimbra, fala-se de "PCP, os católicos e a Igreja", com Edgar Silva e Sérgio Dias Branco. Parece uma coisa dos anos 60. É capaz de aparecer por lá um intelectual de óculos redondinhos, saído de uma carvena e com uma calhamaço de Lenine, mais meia dúzia de católicos ingénuos. Desculpem o oxímoro. Um católico mais depressa deve ser cético do que ingénuo - ou mesmo dogmático, como é o PCP. Mas católicos que ainda pensem numa relação com o PCP e o comunismo em geral (com como o temos no PCP), só podem ser ingénuos. E pouco católicos.

Reparem: os católicos têm tantas inseguranças, tantas dúvidas, tantas falhas, tantas misérias. É tudo o contrário do PCP, onde tudo é perfeito e sempre foi e será.

Eu admito que os católicos possam dialogar com o PCP e o Comunismo e que haja católicos genuinamente comunitários e de preocupações socializantes, como devem ser em geral. Podem dialogar e até aliar-se por terem "inimigos comuns". Imaginemos um país de ditadura de direita. Comunistas e católicos tendem a aliar-se. Ou mesmo em Portugal. Na questão da eutanásia, PCP e católicos assumiram a mesma posição.

De resto... um católico nunca deve abdicar da liberdade de consciência, da defesa da democracia (no mínimo), da propriedade privada, do destino universal dos bens, da defesa da liberdade dos povos, da liberdade de mercado, da relação fé-razão, da preponderância da sociedade civil, da subsidiariedade... Além de que não pode aceitar o materialismo dialético, o antiamericanismo primário, a estatização da economia e da sociedade, a ditadura do proletariano e as putinices em geral.



  

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Sínodo 2023: modo e finalidade

 

Como é que este "caminhar juntos" tem lugar, hoje, a diferentes níveis (desde o local ao universal), permitindo que a Igreja anuncie o Evangelho? E quais os passos que o Espírito nos convida a dar para crescermos como Igreja sinodal?


A grande pergunta do sínodo 2023 é esta.

 

É uma pergunta sobre o perguntar. E a resposta é sobre o responder. O sínodo e a sinodalidade são método e assunto; processo e objeto; caminho e meta.

 

Há tanto por onde responder a esta pergunta, que quase me sinto impotente. Tantas perguntas e sentimentos vêm à mente que mais apetece ir fazer outra coisa qualquer.

 

Mas cá está um bom pretexto para retomar este blogue.

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Bento XVI e os abusos sexuais

Programa para a breve folga da Páscoa, um destes dias: ler o que escreveu o bispo emérito de Roma, Bento XVI, sobre os abusos sexuais.

As primeiras impressões: parece-me que erra profundamente nas suas intuições, perceções, convicções. Bastará pensar nos abusos pré-revolução sexual ou pré-Vaticano II.

O lamento: não haver, ainda, que eu conheça, uma versão do escrito em português.

Posto isto, admirando Ratzinger pelo tempo em que foi Papa (não pelo tempo antes de ser Papa), acho que seria da maior prudência ele não publicar nada. Se renunciou ao papado, deveria ter também renunciado à palavra pública, porque ele não é qualquer um.

Por outro lado, este poderia ser um caso para se publicar com pseudónimo. As suas palavras valeriam pela sua própria força e não por virem de um ex-papa que, para alguns, ainda é o papa legítimo.

Há um sínodo?

O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou ...