segunda-feira, 30 de abril de 2012
Onde encontrar vocações
No JN de hoje, ainda sobre as vocações para padre. O Bispo de Coimbra vai no sentido certo - as vocações para o serviço à Igreja procuram-se no interior da Igreja. Aliás, isso já é feito na vocação para diácono permanente, bispo, cardeal e papa, por exemplo. Ninguém se propõe ser qualquer destas coisas. Pelo menos abertamente. Pelo contrário, aceita-se ou não o convite de outros para o ser. Por que não há-de ser assim com o ser padre? Entre os que são crentes, escolhe-se aquele ou aquela, casado/a ou solteiro/a, para presidir à Eucaristia. Lá chegaremos.
Razão e autoridade
Autoridade alguma te atemorize ou te distraia de quanto te faz compreender a persuasão obtida graças a uma reta contemplação racional. De facto, a autêntica autoridade nunca contradiz a reta razão, nem esta poderá jamais contradizer uma verdadeira autoridade. Uma e outra provêm sem dúvida alguma da mesma fonte, que é a sabedoria divina.
João Escoto Erígena (800 - 870)
João Escoto Erígena (800 - 870)
domingo, 29 de abril de 2012
Polémica da homossexualidade em Espanha
Em Espanha, desde que o
bispo de Alcalá de Henares, D. Reig Pla, fez uns comentários sobre a
homossexualidade na Sexta-feira Santa, sucedem-se os comentários e as
afirmações que só revelam como a Igreja não sabe lidar com a questão.
Ou antes, revelam como o magistério da Igreja, aqui com minúscula, sobre esta
questão tem de ser revisto. Ou que o diálogo é de surdos entre Igreja e mundo.
Primeiro, o bispo disse:
Quisiera decir una palabra a aquellas personas llevados por tantas ideologías que acaban por no orientar bien lo que es la sexualidad humana. Piensan ya desde niños que tienen atracción hacia las personas de su mismo sexo y, a veces, para comprobarlo se corrompen y se prostituyen o van a clubs de hombres nocturnos. Os aseguro que encuentran el infierno (aqui).
E foi o início do escândalo.
Foram tantas as vozes contra o bispo, que alguns falam mesmo em “linchamento
mediático”.
Uns dias depois, D. Reig
insistiu que "muchos casos, especialmente si la práctica de actos
homosexuales no se ha enraizado, pueden ser resueltos positivamente con una
terapia apropiada" (aqui), o que provocou mais afirmações contra, não só dos
homossexuais.
O cardeal de Barcelona
demarcou-se das afirmações do seu colega no episcopado (aqui).
Esclarecendo o bispo de
Alcalá que o inferno da afirmação inicial não é o inferno pós esta vida mas um
inferno de infelicidade já agora, mais comentários surgiram de homossexuais
dizendo que são felizes sendo o que são.
Querido hermano Reig Plá: El que esto escribe es un joven de 30 años que es homosexual y es católico. Y es feliz. Y sé que no soy la excepción que confirma la regla de sus teorías. Conozco hermanos y hermanas homosexuales que son cristianas y son felices, y viven plenamente su afectividad y su fe (aqui).Agora, é um ex-padre, José Mantero, homossexual, que vem dizer de D. Reig é um homossexual reprimido:
Está claro que se trata de un hombre obsesivo. Creo que es un homosexual reprimido, que quiere exorcizar sus fantasmas interiores, y no sabe cómo hacerlo. Le retrata perfectamente la última portada de 'El Jueves'. Una portada dura, que se la ha ganado a pulso. Porque, por mucho obispo que sea, no es nada cristiano (aqui).
Para piorar a situação, porque parece que só pode piorar, o cardeal Jorge Medina, chileno (aquele que apareceu na varanda vaticana a anunciar a eleição de Joseph Ratzinger), julgo que sem conhecer a polémica espanhola, afirma a uma
revista que a homossexualidade é uma limitação, como nascer sem um braço:
Hay que ayudarlos a sobrellevar ese peso, que yo lo compararía, por ejemplo, con un niño que nace sin un brazo. Es una desgracia y hay que asistir a ese niño para que su limitación no le impida llevar una vida lo más común posible (aqui).E continua:
Más de una vez. He tratado de ser acogedor y amable, pero sin disimular la verdad, como lo inculcan los documentos oficiales de la Iglesia en la materia. Es gente que sufre mucho. Digan lo que digan, ellos sienten que su situación no es normal.
Palavras que apontam para Deus
Elizabeth A. Johnson
Elizabeth A. Johnson, "Aquela que é. O mistério de Deus no trabalho teológico feminino" (Vozes), 170
sábado, 28 de abril de 2012
Os santos, os seus exemplos e o amaciamento
Giotto: Francisco casa com a pobreza
Neste blogue, um texto de 26 de abril, no terceiro aniversário da
canonização de Nuno Álvares Pereira, motivou alguns comentários sobre isso de
ser santo. No mesmo dia, no jornal “Europa”, saía um texto que vale a pena ser lido sobre os santos e os seus exemplos. Reproduzo a parte que mais me tocou. Ler
tudo aqui.
O filósofo Massimo Cacciari reflete a respeito de modo admirável no livro “Doppio ritratto, San Francesco in Dante e Giotto” (Ed. Adelphi) (outra referência a este livro aqui). Segundo Cacciari, Francisco testemunhou com a sua vida um modo de conceber a relação com o mundo, até então impensado senão por Cristo e jamais seguido depois dele. Com Francisco, o pobre não é mais "a figura de quem, absolutamente nada possuindo, está à mercê de todos, encolhido no canto. (...) Pobre não é o necessidade, aquele que “carece-de”, mas, pelo contrário, o perfeito, aquele que imita perfeitamente o Filho".
Antes de Francisco, a pobreza parecia apenas sacrifício e renúncia, enquanto, com ele, "através da experiência da pobreza", o homem renasce, "rico de um novo olhar sobre o real". Francisco não faz como os estoicos ou os sábios que convidam a desprezar os bens terrenos pela sua vaidade. A pobreza nele é uma escolha "que nada inveja, nada quer à disposição. Pobre é aquele que tudo “tem” como irmão e irmã, isto é, sem ter". "Somente o Pobre é verdadeiramente poderoso", porque a sua comunhão com as coisas é "livre da cadeia do possuir e do depender".
Essa revolução de pensamento permanece, porém, in-audita, não ouvida, a tal ponto que apenas "na solidão, em meio aos animais, ele a prega". Para Cacciari, essa novidade foi incompreendida seja pelos seus coirmãos, quanto por Giotto e Dante.
Giotto, nos afrescos da Basílica Superior de Assis, representa Francisco como uma figura pacificada, em harmonia com a sua Ordem, com a Igreja e a sociedade, enquanto, ao invés, o santo, quando vivo, foi uma alma em luta, dividiu grupos e pessoas, ficou desapontado com a sua própria Ordem, muitas vezes dilacerado em seu interior. E Dante, no Paraíso, trai a força de Francisco, porque não sente o porte inaudito da sua pobreza. O livro de Cacciari se detém no santo de Assis e nos dois sumos artistas, mas são claros as possíveis referências ao nosso tempo.
Matteo Renzi disse ter ficado impressionado com Nelson Mandela, mas o que aconteceria em Florença se Renzi tivesse a mesma radicalidade de visão que Mandela demonstrou? Walter Veltroni se inspirava muitas vezes em Martin Luther King, mas o que aconteceria com o Partido Democrático se Veltroni tivesse seguido concretamente a mesma subversiva novidade de valores que levou Luther King a abalar os fundamentos da sociedade norte-americana?
Todos nós sentimos a força catalisadora desses homens, mas, ao invés de igualá-la, a adaptamos, suavizando o seu ato subversivo, atenuando o seu radicalismo. Citamo-los, representamo-los como mitos, mas não queremos ser como eles.
Na semana de oração pelas vocações
Um dia mostraram a João XXIII dados que evidenciavam uma queda acentuada das vocações sacerdotais (o que quer dizer que já antes da conclusão do Vaticano II o número começara a diminuir). Alguns cardeais mostravam-se desolados. João XXIII tranquilizou-os:
- Não percam o ânimo. Afinal, a situação não é assim tão dramática. É certo que há poucas vocações para o sacerdócio, mas, em compensação, abundam as vocações episcopais.
- Não percam o ânimo. Afinal, a situação não é assim tão dramática. É certo que há poucas vocações para o sacerdócio, mas, em compensação, abundam as vocações episcopais.
Anselmo Borges: Menos católicos mais católicos?
Texto de Anselmo Borges no DN (aqui):
Foi publicada há dias uma síntese do estudo sobre "Identidades religiosas em Portugal: identidades, valores e práticas - 2011", realizado pela Universidade Católica.
A primeira nota a realçar é o nível científico do estudo, destacado por todos os peritos na matéria. Deve--se também sublinhar o patrocínio da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e a transparência da publicação, apesar de os resultados não serem favoráveis à Igreja.
No estudo, mostra-se que o número dos católicos em Portugal caiu, entre 1999 e 2011, de 86,9% (1999) para 79,5% (2011). O número dos católicos diminuiu, mas aumentou a percentagem de pessoas com outra religião: de 2,7% em 1999 para 5,7% em 2011, sendo a posição dos protestantes e dos evangélicos a que mais cresceu: de 0,3% para 2,8%. Aumentou também o número dos sem religião: de 8,2% para 14,2% (neste universo dos que não têm religião, todas as categorias apresentam um acréscimo percentual: indiferentes, de 1,7% para 3,2; agnósticos, de 1,7% para 2,2%; ateus, de 2,7% para 4,1%).
Como conclui o relatório assinado por Alfredo Teixeira, do Centro de Estudos de Religiões e Culturas, da UC, referindo-se à reconfiguração da pertença religiosa em Portugal, "pode observar-se um decréscimo relativo da população que se declara católica e um incremento da percentagem relativa às outras posições de pertença religiosa, com um particular destaque para o universo protestante (incluindo os evangélicos)". "Globalmente, o crescimento relativo dos sem religião em relação ao número de católicos é mais pronunciado do que o crescimento do número dos pertencentes a outras denominações religiosas. Isto é particularmente relevante no caso da categoria 'crentes sem religião'" (4,6%). O conjunto constituído pelos não crentes concentra-se na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Como escreveu Vasco Pulido Valente, a diminuição percentual dos católicos "não se pode tratar como uma catástrofe" (já a sua afirmação de que "o católico típico português, como se esperaria, é hoje uma mulher da província e de meia-idade, longe de qualquer cidade importante e sem educação escolar (ou sem quase educação escolar)" é uma caricatura apressada). De qualquer modo, dizer, como fez o porta-voz da CEP, que "o que é essencial é a qualidade e não a quantidade" pode ser uma resposta preguiçosa.
As explicações para a situação são múltiplas, e a Igreja não é a única responsável. Assim, não se pode esquecer a secularização da consciência nem o materialismo e o hedonismo da nossa cultura bem como a abertura maior do mercado religioso, também por causa da imigração. O sentido de mais autonomia, maior prosperidade e a escolarização poderão contribuir para a indiferença religiosa, o ateísmo e a crença sem pertença. Mas, por parte da Igreja, não poderá ignorar-se a influência negativa dos escândalos da pedofilia, a ostentação do Vaticano, a hierarquização, que não favorece a real participação dos fiéis e nomeadamente das mulheres, a quebra no dinamismo pastoral do clero, a inadaptação aos novos tempos, concretamente no domínio sexual, que conduz a fracturas face à doutrina oficial.
As comunidades católicas vivas assentam em três pilares. O primeiro tem que ver com uma fé viva e esclarecida, capaz de dar razões. Neste domínio, penso que a Universidade Católica poderia cumprir melhor as suas responsabilidades. O outro diz respeito à prática do amor. Não há dúvida de que os católicos tanto a nível institucional como a nível individual e familiar têm sido exemplares no atendimento às carências dos mais desfavorecidos. Mas não basta: não deixa de impressionar que, se, quanto ao sentido da vida e à moral humanitária ou aos valores altruístas, a influência da religião se manifesta forte, é débil quanto ao sentido cívico-político, o que leva à pergunta: são só os 20% não católicos os responsáveis pela actual crise dramática do País? O terceiro pilar tem que ver com as celebrações: aqui, impõe-se um enorme investimento a fazer tanto nas homilias como na música, na sua dignidade e beleza.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
27 de abril de 1463. Morre Isidoro de Kiev
Isidoro de Kiev, nascido em 1380, em Tessalónica, inicialmente ortodoxo, foi
dos que mais fez pela aproximação entre ortodoxos e católicos. Esteve no
Concílio de Basileia-Ferrara-Florença, na parte de Florença (1439), que procurou
a aproximação entre as duas confissões cristãs.
Isidoro, que para os ortodoxos ficou na historia como o “apóstata”, anunciou em Moscovo a
união Ocidente-Oriente, na sequência do concílio, e por causa disso foi deposto e aprisionado. Conseguiu fugir, acabando por morrer em Roma, no dia 27 de abril de 1463, depois de uma série de aventuras. Dez anos antes, vê "in
loco" a queda de Constantinopla. Consegue fugir com vida vestindo um cadáver com as suas roupas de bispo. O cadáver é decapitado como sendo o bispo.
A união, essa, ficou para sempre adiada.
A união, essa, ficou para sempre adiada.
Neverending story
No "Sol" de hoje. Muito me rio à custa dos feriados. Andam de Anás para Caifás. Tivesse eu tempo e escreveria uma parábola sobre o assunto. Quem sabe se no próximo feriado, o dia sagrado do trabalhador...
Interpretação da vida e realidade
A palavra reinterpretar refere-se ao facto de que inconscientemente nós já estamos sempre a interpretar. Na interpretação da nossa vida partimos de interpretações inconscientemente assumidas do nosso contexto. Frente a esta interpretação, muitas vezes irrefletida, a fé dá uma interpretação nova à nossa vida. Ele leva-nos a interpretar a nossa vida assim como Deus a vê. E esta interpretação corresponde melhor à realidade do que as nossas interpretações costumeiras.
Anselm Grun, "Dimensões da fé" (Vozes), pág. 35
Anselm Grun, "Dimensões da fé" (Vozes), pág. 35
quinta-feira, 26 de abril de 2012
26 de abril de 2009. Nuno Álvares Pereira é canonizado
O santo Condestável também era canonizável. E assim foi, há três anos.
Bento XVI disse então:
Embora fosse um óptimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à acção suprema que vem de Deus. (...) No ocaso da sua vida, retirou-se para o Convento do Carmo por ele mandado construir. Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de carácter militar e bélico, é possível actuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus.
O livro "Joseph Ratzinger, Teólogo y Pontífice"
O livro "Ratzinger, teólogo e pontífice", se a um conjunto de 26 páginas se pode chamar livro, há dias aqui referenciado, está disponível em espanhol no "La Razón". Um obrigado aos nossos vizinhos, que não exigem inscrições, registos, assinaturas. Se já não estiver online, poderei enviá-lo por email a quem mo pedir.
Sabe o que se celebra a 15 de agosto? E depois?
Na "Sábado" de hoje. Por momentos, pareceu-me que o opinador fazia um manguito aos católicos. Influências da ascendência. Quanto aos argumentos, o da ignorância, tipo "os católicos não sabem o que se comemora no 15 de agosto", não serve para nada. Os portugueses sabem o que se comemora no 25 de Abril? Ontem, perguntei a um aluno do oitavo ano e ele disse-me que foi quando "os liberais tomaram o poder aos absolutistas". Fiquei admiradíssimo por ele ter ouvido falar de liberais e absolutistas - a conversa derivou logo para os jogos on-line, em que o miúdo é anafadamente uma sumidade.
De qualquer forma, as pessoas que mesmo sem saberem comemoram numa igreja o 15 de agosto, o 1 de janeiro e o 8 de dezembro davam para encher de boa vontade, isto é, sem sono nem cara de enjoo como ontem se viu, milhares de Assembleias da República.
Acabar ou continuar com feriados nada tem a ver com a sabedoria / ignorância de quem os defende. Terá mais a ver com a adesão à sua comemoração. Até de um ponto de vista democrático temos de aceitar que a adesão do mais ignorante dos católicos a um feriado religioso vale tanto como a do mais iluminado na comemoração de um feriado civil.
Aliás, continuo a achar que verdadeiramente feriados são os religiosos. Os outros são uma tentativa de sacralização de um tempo, imitando a religião com rituais, espaços e memórias. Os católicos diziam dos feriados religiosos "dias santos de guarda". No plano civil é o que se tenta fazer: dias civis de guarda, mas com uma adesão residual, exceptuando uma ou outra manifestação nos grandes centros.
Mas a isto tenho de acrescentar que numa perspetiva cristã todo o tempo é profano - porque só Deus é santo e também o "Sábado é para o ser humano" - ao mesmo tempo que, pela imanência de Deus, a encarnação, todo o tempo é sagrado. Por outras palavras. Só o domingo é necessário. De resto, numa perspetiva que suponho genuinamente cristã, a Igreja poderia abdicar de qualquer feriado sem o mínimo problema. Só "não podemos viver sem o domingo". Em latim: "Quoniam sine domino non possumus vivere".
Fé como interpretação
Para mim, a fé é uma maneira bem determinada de ver e
entender a minha vida. Quando alguém me diz que não consegue crer, que está
muito distante da fé, que ela não lhe diz nada, eu não tento transmitir-lhe nem
explicar-lhe as verdades da fé. Em vez disso, pergunto: Como vê a sua
vida? Como vê o mundo? E mostro, então, que ele tem uma determinada
interpretação da vida e do mundo como tal. A questão é: onde foi ele buscar o
direito para essa interpretação? Pois não está a falar simplesmente da
realidade, mas sim da sua interpretação da realidade. Queiramos ou não, nós interpretamos
sempre as vivências pelas quais passamos. A fé é para mim uma maneira bem
determinada de interpretar o mundo e tudo o que eu vivo e experimento no mundo.
Anselm Grun, Dimensões da Fé (ed. Vozes), pág. 33
quarta-feira, 25 de abril de 2012
Mais uma de João XXIII
O núncio e o primeiro ministro, à sua esquerda
Vasco Graça Moura: A questão dos feriados
Vasco Graça Moura escreve no DN sobre os feriados religiosos e civis.
Os feriados religiosos, ligados a evocações e cerimoniais do calendário litúrgico, têm na sua origem a destinação de certos dias para celebrações religiosas de sinal específico e para a interiorização das orações correspondentes, no caminho da salvação da alma. O feriado teria sido inicialmente destinado a permitir a participação numa determinada festa da Igreja e a concentrar mais intensamente a devoção do cristão num dia em que ele não teria mais nada que fazer a não ser isso. Não seria propriamente um dia de descanso, mas de devoção, que era vista como obrigação, sendo proporcionado assim um tempo interior para a vida religiosa.Ler mais aqui.
Meu irmão, o Papa. Gostei muito
Claro que o trato por
Joseph,
qualquer outro tratamento seria inimaginável.
Georg Ratzinger, pág. 237
Do alto dos seus 87 anos, idade que tinha quando o livro foi
ditado e escrito, em 2011, Georg Ratzinger (1924) oferece-nos um relato cheio
de simpatia, bondade e alguma graça sobre a sua vida e a do seu irmão, Joseph
(1927), que desde 2005 é o Papa Bento XVI.
Ordenados padres no mesmo dia (29 de junho de 1951) – Georg
atrasou-se uns anos devido à II Guerra Mundial – sempre os irmãos andaram
próximos, ainda que o mais velho tenha ficado por Ratisbona, onde dirigiu o
coro infantil dos “Pardais de Ratisbona”, de fama mundial, enquanto o irmão,
desde 1982, está por Roma. Supõe-se que a dependência seja mútua, mas Georg
descreve a sua em relação ao irmão Papa com uma abertura admirável. Conta,
pois, como ficou “abatido” quando ouviu o nome “Ratzinger” para sucessor de
João Paulo II, na tarde de 19 de abril de 2005, e não só por causa dos desafios
e fardos do ofício. “Fiquei triste porque ele já não teria tempo para mim.
Naquela noite, deite-me bastante deprimido. Durante toda noite e no dia
seguinte até à tarde, o telefone não parou de tocar, mas foi-me completamente
indiferente. Simplesmente não atendi. «Não me chateiem!», pensei” (pág. 227).
Mal imaginava que algumas dessas chamadas partiam do próprio Bento XVI. Para
que não volte a acontecer tal desencontro, Georg comprou um segundo telefone.
“Só ele [Bento XVI] tem o número da segunda linha. Se esse telefone tocar, sei
que é o meu irmão, o Papa” (pág. 228). “Desde então, telefona-me várias vezes
por semana, mas eu nunca o faço. É muito mais fácil para ele apanhar-me a mim,
porque estou sempre em casa enão tenho de cumprir nenhuma agenda” (pág. 236).
Além de constituir um belo exemplo de amizade fraternal,
este livro permite-nos ficar a conhecer muito da vida de Joseph Ratzinger,
principalmente antes do Papado, e em especial dos pais, o guarda Joseph
Ratzinger (1877-1959) e a cozinheira Maria Peintner (1884-1963), que se
conheceram através de um anúncio colocado no jornal “Mensageiro de Nossa
Senhora de Altotting”, quando o pai do Papa tinha 43 anos, corria o ano de 1920.
Uma família contra o
nazismo
Entre os muitos dados e histórias deste livro, realço a
relação da família Ratzinger com o nazismo. O futuro Papa tinha cinco anos
quando Hitler subiu ao poder, no início de 1933, e 12 no início da guerra, em
1939, mas não têm faltado, principalmente na imprensa internacional,
insinuações maldosas – porque infundadas – quanto a alguma simpatia pelo
nazismo, já que em 1943, 16 anos feitos, foi requisitado para ajudar na defesa
antiaérea de indústrias como a BMW, que nessa altura fabricava motores de avião
(a hélice continua a fazer parte do emblema da marca). Joseph, durante uma
inspeção militar, contou que queria ser padre e foi motivo de gozo. Perto do
final da guerra, em abril de 1945 (a guerra terminaria na Europa a 8 de maio
desse ano), consegue desertar e só por motivos nunca esclarecidos – talvez
porque os próprios oficiais antevissem o desfecho da guerra – não é fuzilado ao
ser descoberto em casa dos pais, para mais porque o seu Ratzinger sénior desabafou e revelou toda a sua ira contra
Hitler.
O pai do Papa, embora tivesse uma função ligada ao Estado,
como guarda, reformou-se em 1937, ao atingir os 60 anos e desconfiava
visceralmente de Hitler (certamente conhecia a posição do bispo que crismou e
ordenou os Ratzinger, D. Faulhaber, defensor dos judeus e redator principal da
encíclica com que Pio XI condenou o nazismo, “Mit brennender Sorge”, “Com
profunda preocupação”). Antes disso, recusou-se determinantemente a filiar-se
no partido nazi. Para não pôr em perigo a família, pediu à esposa que aderisse
à organização feminina do regime. “A minha mãe – diz Georg – contava o que se
passava nas reuniões da secção feminina nacional-socialista de Aschau. Não
falavam de Hitler, mas trocavam receitas de culinária, falavam dos seus jardins
e às vezes rezavam o terço em conjunto. Essas reuniões «nazis» eram bastante
atípicas e não tinham nada a ver com a ideologia castanha”. Quando começa a
guerra, Joseph sénior compra uma telefonia “porque tinha a certeza de que os
nazis só nos mentiam”, diz Georg. E Hesemann acrescenta: “Quando em 1940 Hitler
festejava os seus grandes triunfos, quase todos andavam eufóricos. Só o pai
Ratzinger se manteve obstinado. Uma vitória de Hitler nunca poderia ser uma
vitória da Alemanha, teimava. Aquela não era senão a vitória do Anticristo que
ia trazer tempos apocalípticos para os crentes e não só” (pág. 112).
Ursinho de peluche
Como curiosidade, uma entre várias, registe-se que Bento
XVI, em criança, ficou encantado com um ursinho de peluche que viu numa montra.
Todos dias ele e o irmão passavam pela loja a admirar o brinquedo. Um dia,
antes do Natal, o ursinho desapareceu e Joseph “chorou amargamente”, diz o
irmão mais velho. “Por fim, chegaram o Natal e as prendas. Quando o Joseph
entrou na sala enfeitada onde estava a árvore de Natal ornamentada, riu-se de
felicidade. Entre as prendas para as crianças, lá estava o Teddy para o Joseph.
Trouxera-o o Menino Jesus. Foi a maior felicidade da sua jovem vida” (pág. 43).
Mais tarde, Ratzinger teria direito a outro urso, o do seu
brasão de bispo de Munique e Freising, e, desde 2005, com algumas modificações,
de Papa. O urso nele representado é o urso de São Corbiniano, o primeiro bispo
de Freising (séc. VIII). Segundo a lenda, quando Corbiniano se dirigia para
Roma, um urso atacou e matou o seu cavalo. Não restando outro meio, Corbiniano
acalmou o urso e fê-lo transportar a bagagem até Roma. Diz-se que o urso domado
pela graça de Deus é o próprio bispo, enquanto a bagagem é o fardo do
episcopado.
O primeiro ursinho foi a maior alegria da “jovem vida”.
Desejamos que o segundo, com o inesperado fardo do pontificado, com as
preocupações e responsabilidades de ser sucessor de Pedro, represente a maior
alegria da vida que já vai nos 85 anos, feitos no dia 16 de abril, sendo sete
de Papa, assinalados no dia 19 deste mês (a eleição) e ontem (o início do
pontificado).
Nota: Ficam para mais tarde umas breves notas sobre dois aspetos negativos deste livro.
Nota 2: Para os que dizem que Bento XVI ri - contra a minha opinião de que ele não tem grande sentido de humor -, realço esta afirmação de Georg: “Por fim, chegaram o Natal e as prendas. Quando o Joseph entrou na sala enfeitada onde estava a árvore de Natal ornamentada, riu-se de felicidade. Entre as prendas para as crianças, lá estava o Teddy para o Joseph". Desejo do fundo do meu coração que Bento XVI ria muitas vezes de felicidade.
Deus para as falhas
Render-se à ignorância e chamar-lhe Deus sempre foi prematuro e continua a ser prematuro.
Umberto Eco
Umberto Eco
terça-feira, 24 de abril de 2012
24 de abril de 1585. É eleito Sisto V
Felice Peretti foi eleito papa, Sisto V, no dia 24 de abril
de 1585 e viveu até 27 de agosto de 1590. Morreu aos 68 anos. Antes de ser
papa, este franciscano era inquisidor em Veneza. Era tão rigoroso que a
Sereníssima República tratou de despachá-lo para Roma onde havia muitas mais
coisas para pôr em ordem.
Este Papa deu-nos a aventura desastrosa do ataque de Espanha
(Portugal incluído, pois estava sob o domínio dos Filipes) a Inglaterra. Foi
Sisto V que convenceu Filipe II a combater Isabel I, tal como já redigira a bula de
excomunhão da rainha inglesa, assinada por Pio V uns anos antes. Alguns dos navios e homens da
Armada Invencível eram portugueses.
Joseph Ratzinger, teólogo e pontífice
Sai hoje em Itália, no sétimo aniversário do início do pontificado, com "Il Sole 24 Ore" e com o "Osservatore Romano", este livro sobre "Joseph Ratzinger, teologo e pontefice".
Diz-se que está acessível na web de "Il Sole 24 Ore", mas eu não consegui tirá-lo. Se alguém conseguir... Na quinta-feira, será distribuído em Espanha com "La Razón", em papel e na Internet.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
23 de abril de 1616. Morre Miguel de Cervantes
O autor de “D. Quixote” nasceu no dia 29 de setembro de 1547
e morreu no dia 23 de abril de 1616 (há quem defenda o dia anterior).
Recentemente, teve lugar em Alcalá de Henares, terra natal
de Cervantes, um conjunto de conferências sobre “Don Quixote, caballero cristiano”.
Defendeu-se que na obra maior em língua espanhola “o amor ao ideal, o são
realismo e olhar compassivo sobre a fragilidade humana nascem da experiência do
amor e da misericórdia do Deus revelado em Jesus Cristo”.
Padres em sarilhos, diz a "Visão"
A catolicíssima "Visão" - gosta de paramentos, mas de outro tipo -, na sua edição de quinta passada, faz o catálogo dos sarilhos em que os padres se metem. No dia em que esta revista trouxer um artigo de fundo positivo para a Igreja Católica portuguesa, o mundo deve estar para acabar. Ou a revista.
Sermão
- O meu sermão hoje foi um pouco mais pesado, não foi?
- Porque diz isso?
- Porque vi o seu marido sair durante a pregação.
- Ah, não. O
sr. padre não tem culpa. O João levanta-se e caminha durante o sono desde pequenino.
domingo, 22 de abril de 2012
Onde estão as boas leituras
Com a recente remodelação gráfica do “Público”, o “ípsilon”
(suplemento das sextas-feiras) dá menos espaço à literatura, aos escritores e
aos livros, que era onde encontrava sempre matéria para este blogue. Em
contrapartida, o “Q” (suplemento do DN dos sábados) traz todas as semanas uma
mão cheia de bons artigos, longos como gosto. Muitos deles gostava de os
reproduzir aqui. Como é um suplemento que não deito fora, para alguns deles
pode chegar a oportunidade.
Ontem, por exemplo, publicava-se um ensaio de Isabel Allegro
de Magalhães sobre “Corpo, Crise, Transcendência”, a propósito do livro “Corpo
e Transcendência”, de Anselmo Borges (576 páginas na ed. Almedina).
Na semana passada (14 de abril), embora o grande destaque
fosse para Madonna, a cantora, havia três excelentes artigos para esta tribo: Paul
Johson escrevia sobre Miguel Ângelo e a Capela Sistina; Eurico de Barros falava
da encomenda da revista católica “Coeurs Vaillants” a Hergé; e João Céu e Silva
escrevia sobre o novo livro de ensaios de José Mattoso (referido também no
texto de hoje de Bento Domingues).
À falta de uma boa revista de temáticas cristãs, temos de
andar a repescar daqui e dali.
Fé e raciocínio
A fé não pode ser a conclusão de um raciocínio lógico. Por muito que antes do seu advento tenhamos raciocinado, refletido, argumentado, ela é ato de Amor, um ato que, sem ser irrazoável, não é do domínio da razão.
Abbé Pierre, "Testamento...", pág. 63
sábado, 21 de abril de 2012
Verdade e humildade
É necessário encarar a exigência de verdade como uma obrigação séria. É necessário ter também coragem de não nos perdermos da verdade, aspirar a ela, aceitá-la com humildade e reconhecimento onde ela nos é dada.
Card. Joseph Ratzinger
Card. Joseph Ratzinger
Vasco Pulido Valente: Desventuras da Igreja
Opinião de Vasco Pulido Valente no "Público" de hoje. Onde estão as opiniões crentes, por exemplo de teólogos, padres e bispos, sobre o tal inquérito?
Anselmo Borges: O efeito de Mateus
Texto de Anselmo Borges no DN de hoje (aqui), desmentindo aquela celebre afirmação pessoana de que Jesus não percebia nada de economia.
Significativamente, os mestres religiosos foram advertindo particularmente contra a ganância, que leva à corrupção, à opressão, à injustiça, à violência e à morte.
Ficam aí, a título de exemplo, três textos famosos do Evangelho segundo Lucas e São Mateus. Não se esqueça que Mateus sabia bem do que falava, pois tinha sido chefe de cobradores de impostos.
1. A primeira parábola é a do administrador infiel. Um homem rico tinha um administrador, que foi denunciado por ter dissipado os seus bens. Chamado a prestar contas e percebendo que ia ser demitido, reflectiu: "Que farei, visto que o meu patrão me tira o emprego? Lavrar a terra? Não posso. Mendigar? Tenho vergonha. Já sei o que vou fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando for despedido. Chamou, pois, separadamente, a cada um dos devedores do seu patrão e perguntou ao primeiro: Quanto deves? Ele respondeu: Cem medidas de azeite. Disse-lhe: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve: cinquenta. Depois, perguntou ao outro: Tu, quanto deves? Respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o administrador: Toma os teus papéis e escreve oitenta."
Quando se olha para o descalabro de bancos, défices brutais em obras públicas, corrupções em cadeia, conhecidas e desconhecidas, somos levados a perguntar quantas vezes esta parábola se tornou realidade entre nós. Até sem papéis.
2. A segunda parábola é a dos talentos. A um foram dados cinco talentos - talento era uma unidade monetária. E ele, negociando, ganhou outros cinco. O que recebeu dois ganhou outros dois. O que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
Quando o senhor voltou, prestaram contas. E os que tinham recebido cinco e dois talentos ouviram a sentença: "Muito bem, servo bom e fiel; já que foste fiel no pouco, confiar-te-ei muito. Vem regozijar-te com o teu senhor." Mas o que recebeu um só talento disse: "Senhor, sabia que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. Por isso, tive medo e fui esconder o teu talento na terra. Aqui está, toma o que te pertence." Sentença do senhor: "Servo mau e preguiçoso! Sabias que colho onde não semeio e que recolho onde não espalhei. Devias, pois, levar o meu dinheiro ao banco e, à minha volta, eu receberia com os juros o que é meu. Tirai-lhe este talento e dai-o ao que tem dez."
E seguem-se estas palavras terríveis: "Ao que tem dar-se-á e terá em abundância. Mas ao que não tem até o que tem lhe será tirado."
Ora, não é esta a lógica da Banca? Não se trata, evidentemente, de modo nenhum, de legitimar a preguiça e a inépcia. Mas não é uma constatação: os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres? Aí está o que os sociólogos denominam, precisamente a partir da parábola, o "efeito de Mateus": quem leu mais em criança tem mais possibilidades em adulto; com trabalhos e resultados iguais, os cientistas mais famosos serão mais citados do que os menos famosos; quem mais tem, em princípio, aumentará constantemente a sua riqueza.
3. Mas, no Evangelho, depois destas parábolas, vem o Juízo Final. Do que se trata é de revelar o essencial da história do mundo, na perspectiva de Deus. E o decisivo não são actos de culto, mas a justiça e a solidariedade : "Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado, porque tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e acolhestes-me; nu e vestistes-me; enfermo e visitastes-me; estava na prisão e viestes ver-me."
Os justos não sabiam: "Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber, peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos, enfermo ou na prisão e te fomos visitar?" E Cristo: "Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos foi a mim mesmo que o fizestes." O que se faz ao outro é feito a Cristo.
Entretanto, parece confirmar- -se cada vez mais o "efeito de Mateus": não está o fosso entre os ricos e os pobres cada vez mais fundo? Cuidado! A situação pode tornar-se explosiva.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
Bento XVI, «um Papa raro: com “senso de humor”»?
Bento XVI ou, como por vezes se ouve no norte, Vento XVI
Ao ler um título como este, «Um Papa raro: com “senso de
humor”», alguém pensa em Bento XVI? Eu não. Nunca o vi rir. Sorrir, com
certeza. Mas não basta sorrir para ter sentido de humor.
Com tal título, mais
depressa pensaríamos em João XXIII ou mesmo João Paulo II. Deste último há
vídeos dele a rir a bandeiras despregadas na grade rede, para além das anedotas
que dele se contam. E que ele mesmo contou. Também há anedotas de Ratzinger,
mas nestas ele quase sempre faz o papel de vilão.
De qualquer forma, «Um Papa raro: com “senso de humor”» é o
título de um texto de Andrea Monda publicado no sítio Chiesa. Li aqui. Monda
acaba por falar mais de Chesterton e Maritain, mas sempre diz de Bento XVI:
Para Bento XVI, a alegria e humor estão estreitamente conectados. Como conclusão de seu ensaio de teologia dogmática, “O Deus de Jesus Cristo”, ele escreve:
“Uma das regras fundamentais para o discernimento espiritual, então, poderia ser a seguinte: onde falta a alegria, onde morre o humor, ali não está nem sequer o Espírito Santo, o Espírito de Jesus Cristo. E pelo contrário: a alegria é um sinal da graça. Quem está profundamente sereno, quem tem sofrido, sem por isso perder a alegria, esse não está longe do Deus do Evangelho, do Espírito de Deus, que é o Espírito da alegria eterna”.
É pouco para dizer que Bento XVI tem sentido de humor. E
alegria não é o mesmo que humor. Mas talvez Bento XVI tenha um sentido de humor
desconhecido da generalidade das pessoas. Só que não se nota.
A crise da Igreja reside no preservativo. Onde mais haveria de?
Quem lê "Teologia para Agnósticos"?
Ignacio Sotelo
quinta-feira, 19 de abril de 2012
A Santíssima Trindade decidiu visitar alguns lugares da querida Terra...
Esta anedota não vem a propósito de nada. O único pretexto é humor, o que já é suficiente. Mas por acaso li hoje um texto que diz que Bento XVI é uma pessoa cheia de humor. Como não se nota, pereceu-me piada. Alguém viu o Papa rir? O texto fica para amanhã. A piada não.
A Santíssima Trindade decidiu visitar alguns lugares da querida Terra.
Diz o Pai:
- Vou ao jardim do Éden, na Mesopotâmia, onda passei momentos muito felizes com Adão e Eva.
Diz o Filho:
- Vou à Galileia, onde passei momentos muito felizes quando era jovem.
Diz o Espírito Santo:
- Vou ao Vaticano, pois nunca lá estive.
A Santíssima Trindade decidiu visitar alguns lugares da querida Terra.
Diz o Pai:
- Vou ao jardim do Éden, na Mesopotâmia, onda passei momentos muito felizes com Adão e Eva.
Diz o Filho:
- Vou à Galileia, onde passei momentos muito felizes quando era jovem.
Diz o Espírito Santo:
- Vou ao Vaticano, pois nunca lá estive.
Dois amigos do Papa com ideias claras sobre a missão papal
O vaticanista Marco Tosatti, nos sete anos do atual pontificado, completados hoje, pensa que Bento XVI está a fazer um ótimo trabalho, desmentindo os que pensavam que seria um papado de transição (eu, em 2005, temia que não fosse).
Como? Muito poucos sabem que grande parte do tempo e do empenho de Bento XVI ele a leva em silêncio, sem chamar a atenção (e não poderia) dos meios de comunicação, mas que é fundamental para a vida da Igreja: justamente para evitar que dentro de alguns anos a mídia tenha motivos, pouco alentadores, para ocupar-se dela.
Bento XVI está convencido de que a força (e as fragilidades) da Igreja se encontra nas dioceses, nas Igrejas locais. Durante o Pontificado de João Paulo II, muitas vezes, as decisões dos bispos eram delegadas aos presidentes das Conferências Episcopais, aos núncios e a outros personagens da Igreja central e das Igrejas locais. O então Papa, caso o que se conta estiver correto (e não temos motivos para duvidar disso), durante os últimos anos de sua vida se limitava a assinar documentos. João Paulo II com frequência delegava, confiava em seus colaboradores, embora nem sempre com os resultados desejados, como mostra a história.
Bento XVI tem um estilo diferente. Estuda todas as “potências” (assim se chamam os expedientes preparados para os três candidatos de todas as dioceses), estuda as carreiras acadêmicas e a experiência dos possíveis futuros bispos e, depois disso, toma uma decisão. E não raro pede que lhe apresentem outros candidatos, uma vez que nenhum daqueles que integram a “terna” o satisfazem. É um trabalho entediante, pouco atrativo, mas a Igreja das próximas décadas ficará agradecida por isso.
É o estilo de Bento.
Isto foi publicado no Vatican Insider, no dia 15 de abril. Por estes dias, no Religión Digital, um artigo em linha oposta. Leonard Swidler, professor em Filadélfia (EUA), recorda-se dos tempos em que era professor convidado de Tubinga, onde Joseph Ratzinger era titular. Escreve o norte-americano, precisamente sobre a nomeação dos bispos:
Mientras fuiste profesor de nuestra Universidad de Tubinga, junto al resto de tus colegas de la Facultad de Teología Católica, defendiste públicamente 1) la elección de obispos por parte de los fieles, y 2) el mandato limitado de los obispos (ver el libro 'Obispos Democráticos para la Iglesia Católica Romana').
Ahora, condenas a sacerdotes leales por hacer justamente lo que tú defendías tan noblemente. Ellos, y muchos, muchos otros en la Iglesia católica universal, están siguiendo tu ejemplo juvenil, tratando desesperadamente de impulsar a nuestra amada Madre Iglesia hacia la Modernidad.
Utilizo deliberadamente la palabra 'desesperadamente', porque justamente en tu patria, Alemania, y en otros muchos sitios de Europa, las Iglesias están vacías, y así se encuentran también muchos corazones católicos, cuando escuchan las palabras escalofriantes que llegan de Roma y de los obispos 'radicalmente obedientes'.
Texto de Marco Tosatti aqui.
Texto de Leonard Swidler aqui.
É urgente acabar com estes feriados?
O "i" de hoje ilustra assim a notícia sobre o fim dos feriados (os civis acabam no presente ano, diz o matutino, quanto aos religiosos, ver-se-á):
Golpe de Estado do pagão
Há uma incredulidade que acompanha toda a fé. Uma vez chamei a isso «o golpe de Estado do pagão que levo dentro de mim»: esse momento em que «alguém» se te impõe, dizendo dentro de ti: comporto-me assim porque me dá na real gana e estou-me nas tintas para todas as considerações crentes ou morais contra. Sem apelo possível, nem de considerações racionais nem religiosas. É aquela de «creio em Deus, mas só até aqui, não mais».
González Faus
González Faus
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Humor de Georg Ratzinger
Cardeal Faulhaber
A leitura de “Meu irmão, o Papa”, de Georg Ratzinger e Michael
Hesemann proporcionou-me uns dias muito agradáveis. Hei de apontar aqui os
pontos que mais apreciei neste livro (e um ligeiro desgosto).
Georg, nos seus 84 anos, fala com grande bonomia e espantosa
memória. A idade, que será certamente causa de uma qualidade, pelos vistos não
afetou a outra.
Nota-se em todas as páginas que tem um grande amor pelo irmão.
Parece, até, que é um amor, uma dependência, maior que o do irmão por ele.
Uma ou outra vez há humor no livro. Boa disposição há muita
mais. Um caso de humor:
Um dia, o cardeal Faulhaber (o cardeal que crismou e ordenou
os Ratzinger; anti-Hitler, foi o principal redator da encíclica “Mit brennender
Sorge”, em que Pio XI condenou o nazismo, e várias vezes defendeu os judeus,
sendo apelidado de “juden-kardinal”) foi visitar o seminário onde estudavam os
irmãos Ratzinger. Conta Georg: “Uma vez, o porteiro, que também servia as refeições,
entornou-lhe molho na batina. Quando o cardeal o fixou repreensivamente, o
porteiro, Sr. Bartl, titubeou: “Eminência, não faz mal, temos mais molho na
cozinha” (pág. 154).
Já nem o Vaticano sabe que feriados eliminar
Tenho uma proposta absurda para estes tempos de individualismo e tecnologias digitais omnipresentes: O Estado dá a cada cidadão um certo número de feriados (dez, por exemplo) e cada um usa-os quando quiser, para fins religiosos ou civis, negociando com a sua entidade patronal, como quando marca férias.
O ateu pode muito bem trabalhar na Sexta-feira Santa. O católico, em vez de comemorar o 5 de Outubro, pode preferir fazer uma peregrinação no dia do seu santo homónimo. Para efeitos estatísticos e outros, os feriados de cada um poderiam ficar registados em www.meusqueridosferiados.pt.
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