segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ordenação de mulheres: Não se trata de não querer, mas de não poder, diz o Papa

Sobre o que Deus quer e não quer e o consequente poder do Papa, leia-se a reflexão do teólogo espanhol José María Castillo, aqui.

O texto vem a propósito do recente livro do Papa, em que uma das questões abordadas, quanto a mim bem mais importante do que a do preservativo, é a da ordenação das mulheres. Diz o Papa que não é que a Igreja não queira ordenar mulheres. A questão não se põe em termos de vontade. É que não pode. A Igreja não tem poder para tal. Como as coisas estão constituídas, a Igreja não pode ordenar mulheres.

O que o Papa diz, em concreto, é isto:

“Já disse João Paulo II, a Igreja não tem a possibilidade de ordenar as mulheres. Não se trata de não querer, não podemos. O Senhor deu esta forma à Igreja”.

E o teólogo espanhol contrapõe:

“Pues bien, si ahora Dios no quiere que la mujer sea ordenada sacerdote, ¿ quién me puede asegurar a mí que, dentro de unos meses (o años), Dios no pueda cambiar de opinión, como parece ser que empieza a cambiar en lo del preservativo? Detrás del libro del papa lo que está es el problema de Dios.

No hay que ser un lince para sospechar (al menos, sospechar) que, en todo este embrollado asunto, hay algo que no cuadra. Porque o bien lo que sucede es que el papa no tiene la autoridad que representa; o lo que sucede es que representa mal una cosa que es tan seria como la autoridad misma de Dios. En cualquier caso, si Dios es Dios, no parece que pueda andar cambiado de ideas y tomando decisiones variables y volubles, como nos pasa a nosotros los mortales.

Hubo tiempos en que los papas organizaban guerras, condenaban a los heterodoxos y quemaban vivos a los herejes porque Dios lo quería así. Ahora, los papas dicen que Dios no quiere nada de eso. Entonces, ¿en qué quedamos? ¿Es que el Dios, que representa el papa, es un Dios "cultural"? ¿O lo que sucede es que se trata de un Dios "contra-cultural"? El Dios que, por boca de un papa, condenó a Galileo es el mismo Dios que, por boca de otro papa, pidió perdón por lo que se hizo con Galileo”.

A questão da ordenação das mulheres, por muito que alguns não gostem e evitem falar do assunto, é a questão eclesial com mais consequências para o interior e exterior da Igreja. Temo que um dia o Senhor diga que fomos maus servos porque não pusemos os talentos a render (Mt 25).

Veja-se aqui e aqui o que Ratzinger disse noutras ocasiões sobre o assunto.

Já agora, é lamentável, na minha opinião, que o regresso dos anglicanos à Igreja católica esteja a ser principalmente porque não concordam com a ordenação de mulheres como bispos.

4 comentários:

O Ancião disse...

Estranho um teólogo falar de "Deus mudando de opinião". É básico saber que apenas as criaturas sujeitas ao tempo mudam de opinião, e que nem anjos mudam de opinião por serem espirituais.

Mas se eventualmente o Altíssimo mudar de idéia, tera amplas oportunidade de comunicar a Igreja. Por hora, ela segue o que foi entregue.

Jorge Pires Ferreira disse...

O que o teólogo quis dizer é que Deus muda demasiado de opinião - precisamente na medida em que mudam as dos seus representantes mais qualificados. Talvez quem fala em nome de Deus deva ter mais cuidado. E muitas decisões poderiam ser tomadas simplesmente em nome dos seres humanos que somos.

Anónimo disse...

O essencial desta questão, como de todas as questões polémicas relativas à «Vontade de Deus», é que não existe «Vontade de Deus» sem interpretação. E a interpretação é necessariamente guiada pela vontade dos homens (sejam homens de boa-vontade, sejam homens de realismo cínico). Porque é inevitavelmente humana. Neste sentido, a última frase do Jorge é muito significativa. Às vezes, bastaria o bom senso ou estrito respeito pelos direitos humanos.

Por piada, foi pena o entrevistador não se ter lembrado que, se o Papa fosse consequente com o seu raciocínio, amanhã mesmo teria de admitir o casamento aos sacerdotes que o desejassem, uma vez que o Senhor escolheu apóstolos casados... Isso a Igreja, na sua pessoa, já pode. Pena é que não quer!

Paulo Carvalho

O Ancião disse...

Pois bem! O casamento de sacerdotes tem "jurisprudência" (ainda que não lembre de apóstolos casados, teve Pedro que era viúvo) pelo menos na Igreja oriental e na ocidental no passado, assim como as mulheres ao diaconato (diaconisa Priscila - se o nome não me engana). A Igreja poderia permitir sacerdotes casados. Na minha simples e honesta opinião, no momento atual, não há porque e em nada acrescentaria ao crescimento da fé nem à mitigação dos escândalos. Mas posso estar enganado, e se Roma decidir o contrário, o que decidir, sempre decidirá bem.

Mas ao presbitério, nunca vimos mulheres sendo admitidas. Pode-se afirmar, com razoável clareza, que não é parte do depósito da fé, e que não é lícito a Igreja definir. João Paulo II pronunciou, ex catedra, sendo assim, não é correto que especulemos outra alternativa.

Quanto as hum... digamos "interpretações momentâneas da vontade de Deus" nas decisões da Igreja, especialmente em momentos históricos do passado, elas não interferiram no depósito da fé. Naturalmente sempre será a vontade de Deus que os erros sejam combatidos e a fé seja espalhada. Dá imensa liberdade ao homem e sua autoridade os modos que isto será feito. A "vontade de Deus" pode ser aplicada numa infinidade de maneiras de acordo com o livre-arbitrio humano.

A discussão é pertinente. Tenho meditado muito na grande mensagem do pontificado de Bento XVI, que cada vez mais me maravilha, o retorno às raizes cristãs, ao depósito inestimável e imutável da fé, este tesouro glorioso que deve ser mantido puro e límpido como recebido há 2000 anos.

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O sínodo que está a decorrer em Roma é de uma probreza que nem franciscana é. Ou há lá coisas muito interessantes que não saem para fora ou ...