quinta-feira, 13 de setembro de 2012

"O Papa quer limpar o Vaticano"

Na "Sábado" de hoje. Não sei se é mera estratégia de defesa do mensageiro Gabriele, se é sincero. Nem estou a par dos desenvolvimentos judiciais. Mas que a verdade venha a público.

Explica alguma coisa


Pro veritate adversa diligere

Lema que Carlo Maria Martini escolheu ao ser nomeado arcebispo de Milão. Significa algo como "pela verdade, escolher as coisas adversas" (ou contradições, situações desfavoráveis, o que é diferente).

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Os "pingos amargos" do sr. Pingo Doce



Bento Domingues referiu há dias (ver aqui e comentários), na sua crónica, a entrevista que Alexandre Soares dos Santos deu a Anabela Mota Ribeiro (revista “2” do “Público” de 2 de setembro). Aqui ficam os “pingos amargos” do acionista principal da Jerónimo Martins.

(…) Sou católico, crente, praticante, e gostava, se na realidade houver alguma coisa para lá, de encontrar o meu pai (…). 
Tem na sala uma fotografia com o Papa João Paulo II. Foi importante para si o encontro com ele? O que é que representou? 
Foi importante conhecê-lo, mas o Papa que conheci era um Papa com muita idade. Era uma reunião privada, organizada por um padre muito nosso amigo. Eu tinha esperado uma hipótese de… falar. 
Sobre o quê? 
Por que é que a Igreja é tão lenta a reformar-se? São coisas que discuto como bispo D. Manuel Clemente. Por que é que não se devem admitir mulheres padres? Por que é que não se há-de admitir o casamento? Por que é que a Cúria Romana é constituída por uns tipos que têm 80 anos, que não sabem nada de nada da vida, que estão ali fechados? (…) 
A conversa com o Papa seria para discutir a sociedade. Não seria para falar dos seus problemas íntimos. Tudo está direccionado para o domínio social. 
Filha, quando se chega à minha idade, sei exactamente para onde vou. (...)
Tanto diz coisas que politicamente consideraríamos à esquerda como outras à direita. 
Mas isto não é um problema de esquerda ou de direita. Eu não sou de esquerda nem de direita. O António Barreto diz-me que sou um conservador liberal. Sou é cristão. Não digo que sou católico. Sou cristão. Como tal, tenho um conjunto de valores e princípios que tenho de respeitar (...).

"Jornal de Negócios" atento à viagem do Papa ao Líbano


É uma viagem importante, a de Bento XVI, às "Suíça do Médio Oriente", na próxima sexta, sábado e domingo. Mas importante todas as do Papa devem ser, porque ele não tem tempo a perder. Veio no "Jornal de Negócios" desta quarta-feira. De assinalar.

Cardeal Maradiaga: "No podemos seguir haciendo más de lo mismo"


O cardeal Maradiaga (arcebispo hondurenho, presidente da Cáritas Internacional, por alguns apresentado como “papabile” em 2005, quando se pensava que a Igreja poderia virar ao sul - mas este último aspeto não faz parte do seu currículo) esteve em Espanha, nos Pirinéus, para dar um retiro. E deu também uma entrevista. Pode ser lida aqui. Extraí o que chamou a atenção. Pareceu-me “mais do mesmo”, mas ele diz que não se deve ir por aí. Ou então, desejos vinho novo sem reparar que os odres estão velhos. E rotos.
Experiência de Cristo 
No habrá nueva evangelización sin nuevos evangelizadores, sin una auténtica "conversión pastoral". No podemos seguir haciendo "más de lo mismo", sino renovar el corazón misionero y no esperar que las personas vengan a nuestras parroquias, sino salir a buscar las ovejas. Hay nuevos areópagos y patios de los gentiles que esperan la Palabra de Dios. Si estamos llenos del ardor misionero de San Pablo, cuyo corazón palpitaba ¡"Ay de mí si no Evangelizo"!, el año de la Fe será una fuerte motivación para transmitir la "antorcha de la Fe" siempre ardiente y radiante a las nuevas generaciones de este milenio. No se trata simplemente de comunicar ideas sino de favorecer un encuentro personal con Cristo vivo, una auténtica experiencia de Cristo. 
Medo do risco e da aventura 
La juventud de hoy como ayer vibra ante las causas nobles. Si sabemos comunicar la alegría del Evangelio también ellos responden. El problema está muchas veces en el lenguaje. A veces pienso que en nuestras parroquias necesitaríamos ayuda de "foniatras espirituales". Vivimos en un mundo nuevo, lo que significa un territorio por explorar. Podemos tener miedo al riesgo y a la aventura. Nos parece que en el siglo XXI ya no hay nada que explorar. Pero...la humanidad sigue cambiando, no es estática. La gente cambia. Se siguen formulando nuevas maneras de ser en el mundo. 
Se nos presenta una nueva humanidad por interpretar: interpretar a fondo lo que está sucediendo. Debemos esforzarnos para entender a los jóvenes. Y entonces debemos considerar la comunicación de la Buena Nueva. 
Não nos entendem 
Hemos dejado de hablar el lenguaje del mundo actual. Cada vez menos gente nos entiende. Por eso pocos nos escuchan. Otra vez enfrentamos el problema de la comunicación. El lenguaje supone emisor y receptor. No estamos en la frecuencia y el receptor no nos entiende. ¿Cómo interpretar a la nueva humanidad, a la nueva juventud si no conocemos el lenguaje del mundo de hoy? 
Mundo mediático 
Vivimos un nuevo contexto cultural y mediático: lo que se mueve es el mundo de las percepciones, no de las realidades. Toda la herramienta mediática actual crea percepciones. Los Medios de Comunicación Social modifican la percepción social. La herramienta más espectacular es internet. En muchos países el adolescente promedio pasa 28 horas o más ante internet a la semana. Si va a la Iglesia, ¿lo máximo sería una hora? Se está produciendo un tipo de joven nuevo. A veces en ambientes hostiles a la Fe y en campañas constantemente sostenidas contra la Iglesia.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Gore Vidal e a Igreja Católica. Detesta-a, pois.


Gore Vidal morreu no dia 31 de julho de 2012. Eu devia (queria) tê-lo referido aqui, mas afazeres inadiáveis – como as férias – não me possibilitaram tal texto. Não foi a única coisa que queria ter feito e não fiz cá por estes lados.

E porquê assinalar a sua morte? Basicamente porque escreveu um livro sobre Jesus, “Em Directo do Calvário”. Subtítulo: “O Evangelho segundo Gore Vidal”. Saiu na Dom Quixote em 1994. Na altura, não me lembro de qualquer vestígio de polémica, mas o livro, apodado de “a mais escandalosa novela de Vidal”, “uma sistemática subversão de todos os valores”, diz a Newsweek, põe discípulos a sapatear, estações de televisão em guerra para a transmissão em direto do Calvário e Paulo com uma capacidade de persuasão que faz esquimós comprarem frigoríficos. O livro é narrado por um discípulo de Paulo, Timóteo, bissexual, que se converte porque “que mais se pode fazer aos domingos numa pequena cidade como Listra?”

O livro não tem qualquer pretensão histórica, embora use dos conhecimentos de história antiga de Gore Vidal, que é autor de “Juliano, o Apóstata”, e é claramente anticristão e anticatólico (e também antijudeu ou, talvez mais corretamente, antissionista). Mas fascina-me sempre que alguns arreligiosos ou ateus como Vidal não resistam a abordar a figura de Jesus Cristo, mesmo que tentem ridicularizá-lo. E parece que os alvos últimos da paródia são os republicanos e os sionistas dos EUA. Adiante.


Mas se me lembrei hoje de Gore Vidal foi porque li na “Ler” deste setembro, num texto de Eduardo Pitta, esta citação (Pitta diz que as suas preferidas não são citáveis na revista – citado e citador são homossexuais, é necessário dizê-lo –, pelo que, por exclusão, fica esta):
Se eu fosse Presidente ou estivesse, de qualquer outro modo, no governo de um país bem administrado, a primeira coisa que faria era proibir à Igreja Católica ensinar qualquer pessoa. Não lhe permitiria manter escolas, pois vejo a educação religiosa como contrária aos melhores interesses da República. Onde a Igreja Católica tem dominado, nunca a sociedade foi democrática.
Para terminar, nunca tinha pensado numa citação preferida de Gore Vidal, mas há uma que me vem com alguma frequência à memória quando se fala de assunto maior da política internacional. Está num dos prefácios (o livro tem dois; o outro é de Edward Said) de “História judaica, religião judaica. O peso de três mil anos”, de Israel Shahak (ed. Hugin, 1997):
 (…) Nenhuma outra minoria na história Norte-Americana conseguiu desviar tanto dinheiro dos contribuintes norte-americanos para investir no “lar nacional” [como os judeus dos EUA]. É como se o contribuinte norte-americano fosse obrigado a apoiar o Papa na sua reconquista dos Estados Pontifícios simplesmente porque um terço do nosso povo é católico.
Discordo de Gore Vidal em quase todos os assuntos (mas não, não defendo a restauração dos Estados Pontifícios). Só que ele bateu-se pelo direito a discordar, apesar de, pelos vistos, negar o direito de educação à Igreja Católica. Mas escreveu também: “Deixem pluralismo e diversidade ser o nosso objetivo”. A melhor comunhão é a de diferentes.

Gore Vidal (1925-2012)

Cardeal Martini no "Expresso". É de tirar o fôlego, mas no sentido literal


No "Expresso", o português, da semana passada. Julgo que nunca tinha lido um parágrafo tão grande na imprensa portuguesa como o primeiro deste texto. Perdi-me. Nem sei onde está o predicado.

Monumento português em Espanha

No "i" de hoje. Cá está um monumento português que nunca visitei. Passou mesmo à final. Pode-se votar aqui.

Mais

A vida é mais bela do que a prudência.

Abbé Pierre em 1995

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Dois bispos do Porto falam dos sacrifícios económicos dos portugueses

A entrevista a D. Januário Torgal Ferreira vem no DN de hoje. A de D. Manuel Clemente veio no "Correio da Manhã" de ontem. Ambos ligados ao Porto. D. Januário é natural do Porto. D. Clemente é bispo do Porto. Ambas as entrevistas em jornais da Lisboa. Mas tons, modos, conteúdos muito diferentes. Nesta caso concreto, porque o assunto de fundo é o mesmo, prefiro a clareza, os modos, a humildade, também, de D. Manuel Clemente. Basta ler a primeira resposta de cada entrevista.


Diz o velhinho aos adolescentes


A geração atual é a primeira geração planetária da história. Vai ser condenada a três realidades.

Tudo saber e, portanto, nunca mais poder dizer «eu não sabia».

Partilhar a terra, o trabalho e os saberes: para enfrentar a explosão demográfica e as novas pobrezas.

Ocupar o tempo livre; para afrontar a pré-reforma e o desemprego maciço nos países industrializados.


Abbé Pierre (1912-2007) numa mensagem às crianças de dez a catorze anos da Génération Planète (meados dos anos 90)

sábado, 8 de setembro de 2012

O "Ecce Homo" da senhora Giménez continua a inspirar

O "Ecce Homo" da senhora Cecilia Giménez tornou-se um fenómeno cultural digno de estudo. Não é só a questão do humor, da paródia. Nisto também está o poder do rosto, da imagem crística, da nossa cultura que oscila entre o iconoclasmo e a adoração da imagem.

Agora está no Wallpeople de Barcelona,uma espécie de muro das lamentações dedicado à criatividade pessoal, mais ou menos anónima.


FB e devidos links aqui.

Vídeo sobre o que é o Wallpeople:
Wallpeople Barcelona 2012 from Wallpeople on Vimeo.

Anselmo Borges: "Uma igreja outra é possível"

Texto de Anselmo Borges no DN de hoje (aqui):



No dia 8 de Agosto, em jeito de testamento espiritual, deu a sua última entrevista, no Il Corriere della Sera, afirmando que a Igreja precisa de "uma mudança radical. A começar pelo Papa e pelos bispos". Preocupava-o uma Igreja 200 anos atrasada, sem vocações, agarrada ao bem-estar: "os nossos rituais e vestimentas são pomposos." "Na Europa do bem-estar e na América, a Igreja está cansada." Três instrumentos para sair deste esgotamento: "O primeiro é a conversão. Deve reconhecer os próprios erros. Os escândalos de pedofilia obrigam-nos a empreender um caminho de conversão. As perguntas sobre a sexualidade e sobre todos os assuntos que dizem respeito ao corpo são um exemplo. Devemos perguntar-nos se as pessoas ainda escutam os conselhos da Igreja em matéria sexual. A Igreja é ainda uma autoridade de referência ou apenas uma caricatura nos media?" O segundo conselho e o terceiro têm a ver com a recuperação da palavra de Deus e dos sacramentos como ajuda e não como castigo.

O cardeal Carlo M. Martini morreu na semana passada. Lúcido, e depois de ter recusado a obstinação terapêutica. Perito em crítica textual do Novo Testamento, foi arcebispo de Milão durante 22 anos e um intelectual eminente. Homem de diálogo - é um best-seller a obra Em Que Crê quem não Crê, debate com o agnóstico Umberto Eco -, era a figura mais brilhante do Colégio dos Cardeais.

Em 2008, exprimiu, com coragem, o seu pensamento sobre questões fundamentais para a Igreja e para o mundo actual, num livro de conversas com outro jesuíta, G. Sporschill: Colóquios Nocturnos em Jerusalém. Aí, interrogava-se: "Quando o Reino de Deus chegar, como será? Como será, depois da minha morte, o meu encontro com Cristo, o Ressuscitado?"

Causava-lhe preocupação "a falta de coragem". "A Igreja deve ter coragem para reformar-se", pois ela "precisa constantemente de reformas". "Porque eu próprio sou tímido, digo a mim mesmo na dúvida: coragem!" Atreveu-se a pôr Lutero, "o grande reformador", como exemplo, recordando que "a Igreja católica se deixou inspirar pelas reformas de Lutero no Concílio Vaticano II". A Igreja actual tem "medo", mas, se Jesus voltasse, "lutaria com os actuais responsáveis da Igreja", recordando-lhes que "não devem estar fechados em si mesmos, mas olhar para lá da própria instituição".

Foi sempre fiel à "sua" Igreja, que devia ser "uma Igreja simples, com menos burocracia", pobre, humilde, que não depende dos poderes deste mundo, uma "Igreja inventiva", "jovem", que dá ânimo sobretudo aos mais pequenos e pecadores, que luta pela justiça, mais colegial, e que volte ao Concílio, pois "há a tendência de afastar-se dele".

Sobre a juventude e a sexualidade, incluindo as relações pré-matrimoniais: "nestas questões profundamente humanas, não se trata de receitas, mas de caminhos." A Igreja deve ir ao encontro de uma sexualidade que não está "reservada ao confessionário e ao âmbito da culpa", uma sexualidade "sã e humana", com "uma nova cultura que promova a ternura e a fidelidade".

Foi sensível no trato com os homossexuais e compreendia o uso do preservativo. Confessou que a encíclica Humanae Vitae, em 1968, com a proibição da "pílula contraceptiva", "é co-responsável pelo facto de muitos já não tomarem a sério a Igreja como parceira de diálogo e mestra". Mas estava convicto de que "a direcção da Igreja pode mostrar um caminho melhor do que o da encíclica". Procuramos "um novo caminho" para falar sobre a sexualidade, a regulação da natalidade, a procriação medicamente assistida. Contra o celibato obrigatório, disse que era preciso "debater a possibilidade" de ordenar homens casados e de abrir a ordenação às mulheres.

Reconheceu as suas "dúvidas de fé". "Combati com Deus", "porque, quando vejo o mal do mundo, fico sem alento e entendo os que chegam à conclusão de que Deus não existe". Mas acreditava que "o amor de Deus é mais forte", e o inferno está vazio.

Alguma imprensa inglesa definiu-o como o "Papa perfeito para o século XXI". Como seria a Igreja, se Martini tivesse sido Papa? De qualquer modo, ele foi um exemplo de que uma Igreja outra é possível.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

7 de setembro de 1867. Nasce Camilo Pessanha



O poeta Camilo Pessanha, autor de “Clepsidra”, nasceu no dia 7 de setembro de 1867, em Coimbra, e morreu no dia 1 de março de 1926, em Macau.

Voz débil que passas,
Que humílima gemes
Não sei que desgraças...
Dir-se-ia que pedes.
Dir-se-ia que tremes,
Unida às paredes,
Se vens, às escuras,
Confiar-me ao ouvido
Não sei que amarguras...
Suspiras ou falas?
Porque é o gemido,
O sopro que exalas?
Dir-se-ia que rezas.
Murmuras baixinho
Não sei que tristezas...
_ Ser teu companheiro? _
Não sei o caminho.
Eu sou estrangeiro.
_ Passados amores? _
Animas-te, dizes
Não sei que terrores...
Fraquinha, deliras.
_ Projetos felizes? _
Suspiras. Expiras.

O meu carro é mais papista do que o teu


A Renault ofereceu um carro elétrico ao Papa, notícia do DN de hoje, mas a germano-católica Mercedes já prepara um papamóvel híbrido. E Bento XVI, que decerto preferia estar com os seus livros nos tempos livres, lá tem de fazer o frete.


Por que razão não haverá um concílio nos próximos 50 anos



Ando a ler um livro maravilhoso (com tantos que há para ler, é uma insensatez perder tempo com obras menos do que isso) para assuntos como Deus, fé, crença, ciência, tradição e teologia: “Existe Deus? – Um confronto sobre verdade, fé e ateísmo”, de Joseph Ratzinger e Paolo Flores d’Arcais. É de 2009, na Pedra Angular. E tem como texto inicial um célebre debate entre os dois autores da capa, realizado em 21 de fevereiro de 2000, no Teatro Quirino, em Roma.

A certa altura (pág. 69), a concluir o debate, pergunta o entrevistador:
Quarenta anos depois, vê o Cardeal Ratzinger naquele acontecimento [II Concílio do Vaticano] um dos elementos da crise do cristianismo europeu? Ou seja, houve em si uma mudança?
Joseph Ratzinger responde:
Uma mudança, não. Penso sempre que aquele esforço era necessário, que era a altura de abrir novos trilhos da linguagem e do pensamento teológico, e de granjear um novo encontro com o mundo, uma nova profundidade da fé, sobretudo também no diálogo com os nossos irmãos, as Igrejas não católicas. 
Neste sentido, parece-me que foi um acontecimento providencial, necessário, mas… com a comparação da intervenção cirúrgica queria ainda mostrar que um acontecimento benéfico não implica logo, necessariamente, os efeitos positivos esperados. E tenho um ilustre predecessor, o grande teólogo Gregório de Nazianzo, justamente denominado, como “o” teólogo. Havendo sido convidado pelo imperador para o Concílio de Constantinopla, depois das anteriores experiências que tivera com outros concílios, disse: «Nunca mais irei a um Concílio, porque só cria confusão», tal era o seu desespero. 
Eu não me expressaria assim, mas foi ele que o disse: um Concílio, como mensagem, como ação, digamos como intervenção profunda na vida das Igrejas, é necessário, mas ao mesmo tempo suscita também novas complicações… e estamos numa fase quem que temos de enfrentar essas complicações.
Paolo Flores d’Arcais acrescenta, provocando risos e aplausos:
Também porque naqueles Concílios acabavam por decidir os imperadores; hoje, felizmente, são os Bispos que, pelo contrário, decidem.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Paulo e as mulheres



O bom das polémicas é que nos dão oportunidade de aprofundar temas, de procurar livros que de outro modo não seriam lidos, de descobrir novas perspetivas sobre assuntos mais ou menos consolidados. Foi assim com diabo/demónio e é assim as mulheres e a ordenação.

Uma abordagem desta última questão, numa linha clássica e segundo o velhinho método de escutar as fontes, exige que se veja o que pensou e disse São Paulo, para além das palavras e ação de Jesus e do que vem nos outros escritos neotestamentários, seguindo depois para a história pós-apostólica. São Paulo importa porque é o maior missionário, é o fundador de comunidades, leva o cristianismo (ou pelo menos é o grande impulsionador) para o centro do império romano. E o cristianismo é em grande parte paulino.

Ora, no Ano Paulino (2008-2009), um basicamente inútil ano para o conhecimento de Paulo e da Bíblia em geral, apesar dos esforços de Bento XVI, se pouco se ficou a conhecer de Paulo, ainda menos de “Paulo e as mulheres”. Mas foi publicado em português, nas Paulinas, um título que só aborda esta questão. O autor principal é o dominicano irlandês Jerome Murphy-O’Connor, que é reconhecidamente uma autoridade sobre São Paulo, com a colaboração das teólogas italianas Cettina Militello e Maria Luisa Rigato.

O livro é muito esclarecedor porque mostra (lista não exaustiva):
a) a perfeita igualdade mulher-homem no desempenho dos ministérios nas comunidade de Paulo;
b) que as mulheres eram “ministras” e lideravam comunidades;
c) que Júnia é mesmo apóstola (e "Junius" ou "Junias", termos que aparecem em algumas Bíblias, como a “de Jerusalém”, não aparecem em nenhum outro documento da época de Paulo);
d) que as mulheres podem falar e falam nas assembleias, sendo a proibição de 1 Co 14,34-35 uma intromissão posterior, na linha das outras cartas que também são atribuídas a Paulo, mas, sabemos hoje, não são do Apóstolo.

Concluindo uma parte, Jerome Murphy-O’Connor escreve um capítulo intitulado “Temos de escolher”. Visto que as cartas de Paulo e as atribuídas a Paulo (Cartas a Timóteo e a Tito) são contraditórias (as de Paulo afirmam a completa igualdade nos ministérios; as outras denotem posições antimulheres ou antifeministas), mas tanto umas como outras são canónicas (“o que conta é a aceitação pela Igreja e não a autoria”), “temos de escolher”.

Cito, porque penso que não podia ser mais claro:
Aqueles que querem ordenar mulheres, podem apelar para as cartas autênticas de Paulo. Não podem, todavia, ficar satisfeitos e pensar que estão a obedecer às Escrituras, porque isso não é verdade: observam apenas uma parte das Escrituras. Devem enfrentar o facto de que estão a rejeitar, implicitamente, a autoridade das outras cartas canónicas, que é idêntica. 
Do mesmo modo, os que não querem que as mulheres sejam ordenadas podem apelar para 1 Timóteo e Tito. Não podem, contudo, sentir-se fortalecidos ou justificados por terem as Escrituras do seu lado, porque estas, só em parte, os apoiam. Devem reconhecer que a sua opção significa, necessariamente que estão a rejeitar a autoridade de Paulo” (pág. 49-50).
 Como Paulo, neste assunto (e noutros), me parece mais fiel ao espírito de Jesus, estou com Paulo.

Eclesialmente estamos em 1812, no tempo de Pio VII

Na "Visão" desta quinta-feira.

A entrevista em questão, pode ser lida em português aqui na íntegra.

A Igreja ficou 200 anos para trás. Como é possível que ela não se sacuda? Temos medo? Medo ao invés de coragem? No entanto, a fé é o fundamento da Igreja. A fé, a confiança, a coragem. Eu sou velho e doente e dependo da ajuda dos outros. As pessoas boas ao meu redor me fazem sentir o amor. Esse amor é mais forte do que o sentimento de desconfiança que às vezes eu percebo com relação à Igreja na Europa. Só o amor vence o cansaço. Deus é Amor. Eu ainda tenho uma pergunta para você: o que você pode fazer pela Igreja?

Sinodalidade e sinonulidade

Tenho andado a ler o que saiu no sínodo e suas consequências nacionais, diocesanas e paroquiais. Ia para escrever que tudo se resume à imple...