sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Por que razão não haverá um concílio nos próximos 50 anos



Ando a ler um livro maravilhoso (com tantos que há para ler, é uma insensatez perder tempo com obras menos do que isso) para assuntos como Deus, fé, crença, ciência, tradição e teologia: “Existe Deus? – Um confronto sobre verdade, fé e ateísmo”, de Joseph Ratzinger e Paolo Flores d’Arcais. É de 2009, na Pedra Angular. E tem como texto inicial um célebre debate entre os dois autores da capa, realizado em 21 de fevereiro de 2000, no Teatro Quirino, em Roma.

A certa altura (pág. 69), a concluir o debate, pergunta o entrevistador:
Quarenta anos depois, vê o Cardeal Ratzinger naquele acontecimento [II Concílio do Vaticano] um dos elementos da crise do cristianismo europeu? Ou seja, houve em si uma mudança?
Joseph Ratzinger responde:
Uma mudança, não. Penso sempre que aquele esforço era necessário, que era a altura de abrir novos trilhos da linguagem e do pensamento teológico, e de granjear um novo encontro com o mundo, uma nova profundidade da fé, sobretudo também no diálogo com os nossos irmãos, as Igrejas não católicas. 
Neste sentido, parece-me que foi um acontecimento providencial, necessário, mas… com a comparação da intervenção cirúrgica queria ainda mostrar que um acontecimento benéfico não implica logo, necessariamente, os efeitos positivos esperados. E tenho um ilustre predecessor, o grande teólogo Gregório de Nazianzo, justamente denominado, como “o” teólogo. Havendo sido convidado pelo imperador para o Concílio de Constantinopla, depois das anteriores experiências que tivera com outros concílios, disse: «Nunca mais irei a um Concílio, porque só cria confusão», tal era o seu desespero. 
Eu não me expressaria assim, mas foi ele que o disse: um Concílio, como mensagem, como ação, digamos como intervenção profunda na vida das Igrejas, é necessário, mas ao mesmo tempo suscita também novas complicações… e estamos numa fase quem que temos de enfrentar essas complicações.
Paolo Flores d’Arcais acrescenta, provocando risos e aplausos:
Também porque naqueles Concílios acabavam por decidir os imperadores; hoje, felizmente, são os Bispos que, pelo contrário, decidem.

5 comentários:

Anónimo disse...

Salvé! Após uma semana em Espanha, reparo que as tensões neste blog sobre a ordenação feminina estão quentes. Talvez seja de deixar passar esse tema por algum tempo. Não sei.

De qualquer modo, gostei do que li aqui citado de Ratzinger. Não se pode pedir que as decisões sejam tomadas em comum e ao mesmo tempo pedir que as mesmas sejam tomadas por decreto descendente.

Não compreendo a aversão a Martini. mas é o que se diz: só se atiram pedras às árvores que têm bons frutos.

Fernando d'Costa

Jorge Pires Ferreira disse...

Já por cá sentia a sua falta, Fernando!

Em relação à ordenação feminina, os ânimos estão, na realidade, resfriados. Mas não deste lado. Houve alguma exaltação, sim, mas passou rápido.

Do meu lado ainda mantêm-se e as leituras sobre o assunto. Com muito proveito.

Anónimo disse...

Para os filo-demonianos:

"Padre colombiano pratica 10 exorcismos por semana": conclusão a tirar: há demónios e do diabo.

Fernando d'Costa

Jorge Pires Ferreira disse...

Reparou nas sapatilhas limpinhas do exorcista?

Fez-me lembrar o que um missionário da Boa Nova perguntou a um jovem de um dos novos movimentos eclesiais, daqueles que usam umas fatiotas coloridas: "E vocês vão assim para o meio da lama?"

Quanto à notícia, o diabo existe na proporção direta da existência de exorcistas.

Jorge Pires Ferreira disse...

Fernando, volto agora a este assunto para notar que no caso do colombiano (a notícia foi depois reproduzida, pelo menos pelo DN) mais uma vez acontece o que a história das possessões mostra com abundância: a mulher é possuída por demónios (como nas possessões coletivas dos conventos femininos franceses de XVI e XVII - nunca acontecia nos masculinos) e o homem é que os deteta e expulsa.

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