sábado, 22 de fevereiro de 2014

Anselmo Borges: "O que pensam os católicos sobre a Igreja?"

Texto de Anselmo Borges no "DN" de hoje.

1- A Bendixen & Amandi realizou, entre Dezembro de 2013 e Janeiro de 2014, com 12 038 fiéis adultos de 12 países maioritariamente católicos dos cinco continentes, para a Univisión, a principal televisão em espanhol dos Estados Unidos, uma sondagem sobre temas importantes na e para a Igreja. Fiabilidade: 95%.

Alguns resultados, com dissonâncias entre a doutrina e a opinião e vivência dos fiéis. a) Anticonceptivos: 78% a favor; 19% contra; 3% não responderam. b) Ordenação sacerdotal das mulheres: 45% a favor; 51% contra; 4% não responderam. c) Casamento dos padres: 50% sim; 47% não; 3% não responderam. d) Aborto: 8% deve permitir-se sempre; 65% nalguns casos; 33% nunca; 2% não responderam. e) Quanto ao casamento homossexual, há acordo com a doutrina: 66% contra; 30% a favor; não responderam 4%. f) Como avalia o trabalho do Papa Francisco? 41% excelente; 46% bom; 5% medíocre; 1% mau; 7% não responderam.


2- "Agora, o Papa Francisco, no confronto com os reaccionários da Cúria, pode apelar para as respostas da maioria dos fiéis sobre temas tão importantes. O Papa emérito Bento XVI escreveu-me há pouco, a mim eterno rebelde, uma carta afectuosa na qual mostra empenho em apoiar Francisco, esperando que ele tenha todo o êxito - "a minha única e última tarefa é apoiar Francisco", escreve." Quem isto revelou foi Hans Küng, o famoso teólogo crítico, condenado por João Paulo II e um dos poucos peritos do Vaticano II vivos, numa entrevista ao La Reppublica, no dia 10 deste mês, sobre a sondagem, na qual é manifesta a distância entre a Igreja oficial e os fiéis.

Para ele, o mais importante nela é a maioria esmagadora de vozes favoráveis a Francisco, que também já lhe escreveu pessoalmente: 87% dos católicos interrogados em todo o mundo e 99% dos italianos estão de acordo com ele. É "um pequeno milagre" Francisco ter conseguido, em menos de um ano, inverter a tendência dos fiéis e não só quanto à crise de confiança na Igreja.

Interrogado sobre o significado dos resultados da sondagem para a hierarquia, Küng dá uma resposta sensata: "Para os bispos preparados para reformas, e eles existem em todo o mundo, eles significam um grande encorajamento. Quanto aos conservadores, que têm as suas reservas: deveriam reflectir sobre as suas reservas e escutar os argumentos dos renovadores. Os bispos reaccionários, presentes não só no Vaticano mas em todo o mundo, deveriam abandonar a sua resistência obstinada e optar pela razoabilidade."

E o Papa Francisco? "Se me é permito dar-lhe um humilde conselho, deveria avançar com coragem no caminho iniciado e não ter medo das consequências." Em concreto, "espero que use a arte do "Distinguo" que aprendemos na Universidade Gregoriana: onde, na sondagem, há consenso na Comunidade eclesial, deveria propor uma solução positiva ao Sínodo. Onde há dissentimento, deveria permitir e suscitar um debate livre na Igreja. Onde ele próprio tem uma opinião diferente da da maioria dos católicos, como quanto à ordenação das mulheres, deveria nomear uma task force de teólogos e outros peritos, homens e mulheres, para enfrentar o tema."

Está contente? "Não me considero vencedor, não travei batalhas para mim, mas para a Igreja. Tenho a alegria de ver, ainda vivo, o êxito das ideias de reformas da Igreja pelas quais tanto combati."

3- A Igreja Católica é a única instituição verdadeiramente global. Assim, um problema maior será o da convivência com a variedade de posições.

Exemplos, a partir desta sondagem global, após a apresentação dos dados totais. Os divorciados recasados não podem comungar: na Europa, não concordam com esta proibição 75%, mas a não concordância é de 46% nas Filipinas. Ordenação das mulheres: na Europa estão a favor 64%, mas, nas Filipinas, 76% são contra. Casamento homossexual: em Espanha, 64% são favoráveis, mas na África 99% opõem-se-lhe. Na Europa, 50% pronunciam-se a favor do casamento dos padres, mas na África só 28%.

6 comentários:

Anónimo disse...

Seguindo a logica democrática destas sondagens: Não votei neste Papa, por isso não sigo nada do que disser. Não escolhi o meu bispo, nem sequer lhe dou ouvidos. Não votei no meu padre da paróquia, não vou nas missas dele. Fico em casa e voto nas sondagens, porque isto sim é ser Igreja, viva a Democracia. 25 de Abril para sempre...

Anónimo disse...

A palhaçada destas sondagens pode ser exemplificada no seguinte: qual o resultado de 23+7x78/3?

Uns (talvez uns 49%) recusar-se-ão ao trabalho de elaborar a conta e dirão 2, 7, 64, 9826 ou qualquer outra coisa e apegar-se-ão a esse resultado "para o que der e vier".

Outros (talvez outros 49%) farão a conta, mas errarão e, assim, dirão 65, 75, 1864, 854 ou outra coisa qualquer e dirão, aos quatro ventos, "nós temos razão".

Outros (os 2% que faltam), enfim , farão a conta correctamente e dirão 205 e aceitarão que as regras da matemática tenham feito com que o resultado fosse esse.

O Rambo da Amadora

Anónimo disse...

Julgo ter entendido que ABorges conclui q esta sondagem está de acordo com o pensamento do Papa Francisco, o qual apenas ainda nao implementou tais directrizes devido às resistencias da Curia. Depois apoia-se em HKung e no seu discurso q tb segue o mesmo diapasao. Estendi bem ou mal????!!!
Jacome

Anónimo disse...

Nem de propósito vem o Papa Francisco citando o apostolo SJoao afirmar que aqueles que transformm a Fé numa ideologia sao anticristos e sao demonios. Lembrei-me desta afirmação por um lado pela insistencia de Anselmo B em manipular e fazer jogo sujo com o Papa Francisco cada vez de uma forma mais descarada (imagine-se o que seria um Papa a aceitar o aborto e o casamento homosexual!!!!????), mas por outro lado lembrei-me também do percurso devida de HKung -um homem por aqui tao citado - que apresenta o suicidio como soluçao final para o seu caso particular.também considera ABorjes este um caminho a adoptar pelo Papa. Isto é deveras intrigante e assustador. Coisas como caminho de santidade, entrega aos outros, sair de si proprio, quebrar o ciclo do egocentrismo, seguir Jesus etc etc são temas que não entram aqui pois nao se enquadram nos esquemas mentais previamente defenidos por este 'jesus' marcado com uma agenda politica/ideologica e disfarçado de quando em quando com uns pozinhos de espiritualidade só para não ser demasiada descarado.
Jacome

Anónimo disse...

o que vejo desta treta todo é uma montanha de pessoas a pensarem que as mudanças são inevitáveis e que, assim, quando se derem conta que Francisco não vai ir contra Jesus, irão ficar desiludidas.

Euro2cent disse...

Os Jesuítas são um ramo de combate, talvez o mais perito em usar as tácticas do inimigo "ad majorem Dei gloriam", como diz no rótulo. Não é por nada que o adjectivo "jesuítico" não é própriamente elogioso.

Mas em tempo de guerra não se limpam armas, e se calhar a Igreja fartou-se de perder a guerra de propaganda a que tem estado impiedosamente sujeita.

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No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...