Há a questão das intenções e da verdade. E se alguém
afirma coisas como “Cristo, afinal, não era cristão”; Jesus Cristo foi “totalmente
diferente do que pensamos”; “a religião cristã era herética”, Jesus era “intolerante
para com os não judeus” – tudo frases de José Rodrigues dos Santos nos noticiários
de ontem – se não falta à verdade, tem intenções de dizer que os outros (a
Igreja católica) faltam, deturpam, enganam.
Na realidade, José Rodrigues dos Santos – que com certeza há
muito não vai à missa, a julgar pelo modo como pronuncia Cafarnaum – não deve
saber que todas as passagens sobre as quais acha que descobriu uma verdade desconhecida
do povo católico são proclamadas nas missas de domingo e da semana.
A linha geral da sua argumentação parece-me mais ou menos
esta: apresentar uma verdade que supostamente está em contradição com o que a
Igreja anuncia. Por exemplo: “Cristo, afinal, não era cristão”. Isto parece um
escândalo. (A formulação mais adequada seria antes “Jesus afinal não era cristão”.
Mas ele começou a frase por Cristo.) Se não foi cristão, quem nos enganou? - é a pergunta que fica no ar. Ora, ele, desmentindo o que supostamente se afirmou, aparece como arauto da verdade.
Na realidade, nunca a Igreja afirmou que Jesus foi cristão. Jesus foi judeu e pronto. Os seus seguidores, interpretando a sua vontade e devido às circunstâncias históricas, fizeram a Igreja cristã. Afinal, Rodrigues dos Santos diz a verdade e a polémica esvazia-se porque não tem por onde estar cheia. Mas entretanto lançou a suspeita de que a Igreja terá querido algo diferente (e do diferente ao oposto vai pouca distância) do que queria Jesus Cristo. Teria havido manipulação. Mas saberá JRdS o que Jesus queria? Eu não digo que sei. Só procuro.
Na realidade, nunca a Igreja afirmou que Jesus foi cristão. Jesus foi judeu e pronto. Os seus seguidores, interpretando a sua vontade e devido às circunstâncias históricas, fizeram a Igreja cristã. Afinal, Rodrigues dos Santos diz a verdade e a polémica esvazia-se porque não tem por onde estar cheia. Mas entretanto lançou a suspeita de que a Igreja terá querido algo diferente (e do diferente ao oposto vai pouca distância) do que queria Jesus Cristo. Teria havido manipulação. Mas saberá JRdS o que Jesus queria? Eu não digo que sei. Só procuro.
Quando há dias li a bibliografia, notei que não fazia
referência a nenhum dos dois recentes volumes de Bento XVI sobre Jesus Cristo.
Pelo menos ao primeiro, de 2007, deveria.
A Agência Ecclesia colocou-lhe a questão. E o que respondeu JRdS? “Admitiu não ter considerado esta obra do Papa na elaboração do seu
novo livro por a considerar «apologética» e de um âmbito teológico, não
histórico”, diz a agência católica (aqui).
Mas eu lanço outra explicação. O Papa conhece os autores
citados pelo jornalista-escritor e outros que o jornalista ignora, mais de tradição
alemã, onde a separação entre o Jesus da história e o Cristo da fé mais se
colocou, de forma radical, principalmente a partir de Rudolf Bultmann. Ora a linha de fundo de Bento XVI / Ratzinger, como a de muitos outros teólogos e exegetas, quer
alemães quer norte-americanos (os destas duas nações são os melhores), é a da
continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé, o das convicções dos
crentes. Naturalmente isto vai contra a pretensão de JRdS mostrar um novo Jesus
e em contradição com o da maioria católica. Além do mais, como citar alguém que
está no centro da hierarquia, o Papa, quando a linha de fundo do romance é
mostrar que a igreja dominante ocultou e oculta, enganou e engana?
Por fim, valeria a
pena ouvir tudo o que o padre e professor Anselmo Borges, insuspeito quanto a
simpatias para com a hierarquia, já que por vezes é uma voz incómoda na Igreja
portuguesa, disse na apresentação do livro. Fico pela frase que aparece no “Público”
de hoje. “[Anselmo Borges] deixou mesmo um desafio: que o autor retire a
afirmação de que «as citações de fontes religiosas e informações históricas e
científicas incluídas neste romance são verdadeiras». «Não é verdadeiro, não
precisa disso, vai ser um bestseller»”.
Mais sobre "O último segredo":
Aproxima-se a polémica.
O resumo do enredo.
A notícia do DN e alguns comentários.
JRdS diz que João Paulo II veio a Portugal em 1976... (Mas Wojtyla ainda não era papa)
6 comentários:
Ouvi uma vez dizer que todas as mentiras têm um pouco de verdade, pois as verdadeiras mentiras depressa são descobertas, como diz o povo: "Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo." JRdS ao escrever este livro mete ao barulho perguntas que indicam caminhos de verdade, meias verdades e muitos enganos e mentiras. Não precisamos de ler este livro, o que nós precisamos desesperadamente é de pessoas que amam o Senhor e amam a Escritura, e tenham a formação acadêmica para fazer pesquisas critico-históricas bíblicas por amor á verdade. Não se pode esperar nada de bom de pessoas que não têm este amor nos seus corações, escrevem coisas tolas sobre a Bíblia, e depois colocam estudiosos cristãos a trabalhar para refutá-las e assim apagar as duvidas infrutiferas que estes livros levantam. O que precisamos é ler e acompanhar teologos, como os que foram convidados pelo Prof. Anselmo Borges a estar em Valadares (Pikaza, Castillo, Queiruga...), e ser mobilizados pelo seu amor e paixão, e por colocarem a vida nestas questões, e pelo nosso interesse assim poder levar estas questões a níveis mais elevados dentro da hierarquia da Igreja Católica, e esclarecer os nossos irmãos sobre quem é Cristo, quem foi Jesus, e porquê O seguir e assim descobrir o Amor ao Próximo e o Amor a Deus. JRdS não nos leva por estes Caminhos de Verdade, e assim, por ignorância, acaba por nos tirar a Vida.
Permito-me uma sugestão:o amigo podia liderar um grupo que se dispusesse a passar umas horas a vasculhar a bbiblioteca da ucp e com o material recolhido publicavamos uns "titulos com nome grandioso".Estando garantida a qualidade de "bestseller" abriamos uma conta em nome do estado portugues edepois de comunicado o caso á troika talvez ainda se fosse a tempo se salvar o subsidio de ferias e o do natal
José Rodrigues dos Santos quer ganhar dinheiro. Escreve.
Até aqui nada de especial.
O que já não posso aceitaqr é que utilize meias verdades, jogue na ignorância de muitos (que verão nesta "bombástica obra" vazia de argumentos, um caminho de sabedoria...) e com isso dê um triste espectáculo de que em nome do dinheiro vale tudo!
Se o movesse a procura da verdade, como afirma, não diria tanto disparate! Sim, até a palavra Cafarnaum...
Não é possível perceber porque que é que o Pe. Anselmo Borges se presta ao papel de acólito deste sacerdote do novo deus-dinheiro!
Álvaro Pereira de Moura
http://www.snpcultura.org/uma_imitacao_requentada_nota_sobre_o_ultimo_segredo_jose_rodrigues_santos.html
E assim vamos calar o JRdS.
Quanta inveja!
Que medo tem esta gente santa, que através de um romance se possa saber a verdade da mentira e a mentira da verdade.
Muito obrigado José Rodrigues dos Santos por reabrir a velha polémica sobre as verdades e mentiras da igreja católica. Vou ler esse livro! E oferecer aos meus amigos católicos.
Espero que ganhe muito dinheiro com ele, já que os medrosos lhe dão tanta publicidade gratuita.
Para o último anónimo: penso que não se trata de inveja, inveja, publicidade.
À volta de Jesus Cristo há sempre polémica quando o que se diz dele se afasta daquilo que se sabe ou em que se crê.
O que José Rodrigues dos Santos diz no seu último romance tem, de facto, polémica, sem ter de novidade nos contextos mais académicos, tem muito de presunção e tem graves erros factuais, como dizer que Jesus morreu no Yom Kippur (em Setembro/Outubro).
Por mim, não me importo de fazer com que ele venda mais. Não quero é ficar calado sempre que devo realmente falar. O romance, sendo muito fraquinho ao nível da estrutura narrativa - não sou pedreiro, mas sei ver que o muro está torto - tem afirmações sobre Jesus, os evangelhos e a Bíblia que merecem ser debatidas. Contrapostas. Refutadas. É só um romance? Pois sim, mas também segundo o autor, para lá da trama, há a questão da verdade. Ele quer revelar a verdade, mesmo que fale de teses e as apresente como dogmas. É daqueles romances com bibliografia. E é bom debater. Ele pode ganhar com a publicidade, mas o conhecimento bíblico - que considero mais importante - pode ter aqui um bom impulso. Direito por linhas tortas.
Enviar um comentário