sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Pensando a economia do Papa Francisco

Quando o Papa escreve que “Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa” (EG 53), está certamente a lamentar as vítimas do sistema económico a preconizar mudanças. Mas a questão é:

- estas mudanças são uma mudança de sistema (da economia de mercado para outra)? Ou mesmo “estruturalmente”, como escreve Teresa Toldy no JL, por exemplo?

ou

- estas mudanças são limites éticos, normas, códigos, valores, dentro da economia de mercado?

Imagino que alguém pode fazer o mesmo tipo de afirmação, por exemplo, em relação aos acidentes rodoviários. “Este sistema rodoviário mata. Não é possível que a morte por atropelamento de idoso ou uma criança não seja notícia, enquanto o é o lançamento de um novo modelo de automóveis”. (Na realidade, os atropelamentos são notícia, tal como o é, ainda que nem sempre, a morte de um sem abrigo - dependerá muito do tipo e âmbito do órgão de informação.)

Uma eventual chamada da atenção para as vítimas da estrada estaria a preconizar um novo sistema rodoviário (carros com seis rodas, motos com três, sentidos desnivelados, velocidade máxima de 10 km/h) ou simplesmente a exigir que se cumpram as regras legais e éticas de tal sistema? Por outras palavras, há sistema alternativo à economia de mercado? Qual? A alternativa ao sistema rodoviário é ficar em casa.

2 comentários:

Euro2cent disse...

> A alternativa ao sistema rodoviário é ficar em casa.

Suponho que não tem prestado atenção às noticias sobre veículos autonomos ("self-driving"). Não falta muito para que os donos dos carros sejam proibidos de os guiar, resolvendo esse problema.

É uma questão de riqueza. Somos suficientemente ricos, como sociedade, para resolver esse problema técnico.

Idênticamente, o da fome e frio (e saúde básica), também podia levar um toque. Devia haver uma parte da riqueza nacional - desde direitos minerais a espectro radiofónico, passando por rendimentos dos sistemas de justiça e segurança - que fosse património público para distribuir por todos os cidadãos de pleno direito.

Já devia dar para umas sopas.

Anónimo disse...

O sistema capitalista (liberalismo puro) é tão pernicioso como o sistema comunista e, julgo que o Santo Padre se refere a isso. È urgente um sistema económico com ética e valores cristãos, um sistema “misto” em que os estados não se desresponsabilizem dos problemas sociais, quando o Papa disse que os católicos deviam intervir activamente na politica, foi porque na politica faz falta a ética e os valores cristãos!
Nós católicos não devemos “pregar uma coisa e fazer outra”, até porque a fé sem obras é vazia…

José Pinto

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