Marco Politi, que tem em português pelo menos um livro, “Adeus a Wojtyla” (Gráfica de Coimbra) escreveu uma obra crítica para Bento XVI (há tempos aqui referido). Diz que o Papa governa a meio gás porque está demasiado interessado nos seus livros.
Sabendo que não se pode ao mesmo tempo ser líder religioso-político e ficar concentrado em problemas teóricos tão importantes como o de explicar Jesus Cristo ao homem contemporâneo. Isso significa que a mente do papa, em algumas partes do dia, está concentrada em sua atividade de estudioso. Um jornalista também sabe que é difícil ser cronista e também escrever um livro. Imagine um papa.
O Papa está isolado:
Não só já não vê frequentemente os núncios – somente no início e no fim de suas missões: ele também não vê, um a um, os bispos em visita ad limina. Vê apenas as delegações, mas não fala com cada um. Falta-lhe muita informação sobre o que acontece no chão da Igreja. E isso o fecha em uma espécie de torre de marfim, em que predominam os problemas teóricos sobre a capacidade de enfrentar as questões concretas de modo inovador.
E a Igreja está numa tripla crise:
Vaticano e a Igreja estão atravessando uma crise tripla: de visão geopolítica – o Vaticano perdeu muito peso na cena internacional –, de relações ecumênicas. Há uma paralisia em todas as direções. Com os protestantes, o papa vai à Alemanha, faz um belo discurso sobre Lutero, mas depois não há novidades. Com os anglicanos, está tudo parado. O mesmo também acontece com os ortodoxos, que estão próximos e, no entanto, não houve progressos significativos. E há uma terceira crise interna: continua a grande falta de sacerdotes, razão pela qual muitas paróquias no primeiro mundo não têm pároco. E houve uma forte queda na presença das mulheres nas congregações femininas. Entre 2004 e 2009, perderam-se 40 mil freiras, o que significa um enfraquecimento da infantaria da Igreja.
Há então algum aspeto positivo neste pontificado? Politi
responde o seguinte:
Conta muito a imagem de sobriedade que esse pontífice dá e, sobretudo, a sua pregação de um cristianismo simples, que não deve ser considerado como um pacote de proibições, mas sim como uma verdadeira identificação com a mensagem de Cristo e, portanto, ter uma fé consciente, mas também fortemente caracterizada pela solidariedade com o próximo e com o gênero humano. Frequentemente, há estereótipos sobre Ratzinger como o cardeal panzer. Mas, visto de perto, ele é uma personalidade muito calorosa, muito sensível, também com senso de humor. Ele acredita verdadeiramente que no mundo moderno o importante é um cristianismo testemunhado com simplicidade e convicção. Essa é uma grande mensagem. Ainda desde a sua primeira encíclica, ele enviou a mensagem de que o cristianismo, em seu núcleo, é uma religião de amor, justamente em uma fase em que há muito fundamentalismo religioso.
Os negritos são meus. Parece-me que o diagnóstico faz sentido. Ler tudo aqui.
7 comentários:
Bamos lebar com ele até aos cem. Os alemães costumam ser rijos. Infelizmente digo eu.
Não concordo, de todo.
Acho que este Papa tem trabalhado bastante e ensinado mais ainda.É um homem autêntico e de verdade. No que me respeita, tenho progredido com ele no conhecimento de Deus.
Quanto à falta de Padres, sempre direi que penso que tal se deve mais a um imperativo de recentralização da missão do Padre, devendo este identificar-se cada mais com Cristo Senhor e não adaptar-se a "esquemas" instalados em Paróquias - não é para isso que Cristo os chama; devemos, todos nós em Igreja, valorizar cada vez mais essa identificação; desmundanizar a Igreja.E quanto mais mais progredirmos nesta purificação e renovação em Igreja, mais verdadeiras vocações surgirão. Cristo não chama homens para o sacerdócio para se tornarem homens mundanos e vulgares mas para O seguirem custe o que custar; para liderarem homens e mulheres nesse seguimento. Se é que me faço entender ....
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=48117
Nem mais Maria de Fátima!
Só quem anda distraído, que pelos vistos é o caso do senhor de barba e do dono do blog, pode fazer uma avaliação destas do pontifício do Papa Bento. Leiam mais textos do Papa (muito raramente divulgados por aqui) e vejam as viagens do Papa, e aprendam, em vez de acharem que sabem tudo.
Caro João, eu não faço avaliações do pontificado de Bento XVI. Mas olhe que o Papa não está acima das críticas. Apenas "postei" parte da avaliação que um vaticanista, credenciado (não vi ninguém criticá-lo quando escreveu livros sobre João Paulo II) faz.
Quanto aos textos do Papa, até costumo lê-los. Muito mais do que provavelmente pensa. A finalidade do meu blogue não é divulgar textos de Bento XVI. Se fosse divulgar textos de alguém, preferia divulgar a Bíblia e clássicos da Igreja - como até tenho feito - antes de chegar a Bento XVI. Aliás, há outros que o fazem bem e gratuitamente(Ecclesia, ACIDigital, Vatican.va, etc.), como bem sabe.
Caro Jorge, o blogue é seu e obviamente pode publicar o que lhe apetecer. No entanto para mim é esquisito que um católico publique qualquer texto escrito por hereges que tentam dividir a Igreja, para que não restem dúvidas falo do senhor frei bento domingues e senhor anselmo borges, em vez de publicar textos do Sumo Pontífice. Mas isto sou eu, que não sou um “cristão do reino”, como o Jorge. Sou dos maus.
Sr. João,
Se o Sumo Pontífice escrever crónicas semanais em jornais portugueses falando de questões que nos tocam, terei todo o gosto em publicá-las no meu blogue.
De resto, lá vou lendo o que o Papa diz escreve, e que, sendo pertinente e importante, raramente é imprevisível. É o papel dele.
Por outro lado, ainda em relação ao Papa, se o sr. João tivesse lido o recente livro-entrevista, talvez tivesse notado que três ou quatro vezes ele diz que gostava era de ser professor. Aceitou ser bispo, aceitou ser cardeal, aceitou ser papa, sim, mas sempre a pensar na sua biblioteca e nos seus livrinhos. Eu não o censuro por isso. São factos. Toda a pessoa tem os seus interesses.
Outro aspecto, ainda. Chama-lhe Sumo Pontífice. Um nome bonito, sim, porque quer dizer máximo criador ou fazedor de pontes, que é isso que é um pontífice. Portanto, lançando pontes a Bento, Anselmo, João, Jorge e seja que mais for. É isso que é ser católico: olhar mais para o que une do que para as diferenças.
Mas Sumo Pontífice também é um nome feio. Sumo remete para os sumo sacerdócio tão criticado pro Jesus - tenho cá para mim que ele nunca gostaria que lhe chamassem sumo sacerdote. Pontifex é um título do imperador, do poder, da honra e da glória. Demasiado conotado com os deste mundo para ser usado pelo sucessor dos apóstolos. Mas isto é a minha opinião. O sr. João, na sua vigilância,dir-me-á de imediato de estou a banalizar mais um dogma.
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