Já alguém observou que no livro-entrevista ao Papa cabe ao jornalista Peter Seewald o papel de duro e integrista, fazendo Bento XVI parecer o liberal que não é. Talvez Seewald ainda esteja a viver o complexo de alguns convertidos que passam de um extremismo ao outro sem conhecerem a moderação e a tolerância. Diria que é um “complexo Paulino”, se ignorasse a bem-aventurança de Romanos 14,22, que é um elogio à liberdade: “Feliz de quem não se condena a si mesmo, devido às decisões que toma”. Como Paulo bem sabia, a paixão pela verdade não deve tornar ninguém num opressor da liberdade de opinião. Pagou com a vida essa convicção, porque o que ele sabia ser a Verdade fazia dele um alvo a eliminar na óptica do poder instituído. Hoje diríamos que os fins nobres não valem para justificar os meios intolerantes.
Ora, Peter Seewald, a propósito do manifesto dos teólogos de língua alemã, em boa parte dele compatriotas, afirmou numa entrevista à agência austríaca kath.net:
Atingiram o ponto sensível de milhões de fiéis, que finalmente estão fartos dessa discussão que aturamos pacientemente durante anos. Afirma-se, com lágrimas de crocodilo nos olhos, que se pretende “tirar a igreja de sua ocupação paralisante consigo mesma”. Nada disso. São justamente esses grupos que transformaram a ocupação consigo mesma praticamente numa mania e, com isso, estão impedindo há 25 anos que a igreja na Alemanha se volte para os verdadeiros problemas. Fico espantado com a falta de honestidade da discussão, os argumentos equivocados, o tamanho da demagogia praticada neste caso. Mas é possível que essa campanha também tenha um efeito de mobilização e solidarização entre as pessoas fiéis à igreja com o qual os responsáveis por ela não contavam. Quem semeia ventos pode acabar colhendo tempestades.
Não podia discordar mais da opinião do entrevistador do Papa agora entrevistado (exaltou-se na entrevista). Os problemas focados no manifesto são reais problemas. Se há 25 anos que impedem que a igreja na Alemanha se volte para o que realmente interessa é precisamente porque não estão realmente discutidos e resolvidos. Hão-de voltar sempre enquanto não estiverem resolvidos. Os cristãos – penso na realidade Portuguesa –, não estão, na realidade, fartos da discussão. Ainda não falaram, sequer.
1 comentário:
"não estão, na realidade, fartos da discussão. Ainda não falaram, sequer."
:)))
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