Pedro Mexia escreve no “Ípsilon” (“Público”) de hoje uma crítica ao livro “O Hipopótamo de Deus” (ed. Assírio &Alvim), do padre e poeta Tolentino Mendonça. Dá-lhe apenas três de cinco estrelas. Mas só diz bem. Sintetiza bem o livro (a maior parte dos textos que o compõem foram saindo na imprensa católica - li-os e citei alguns neste blogue) e o momento católico que se vive. Transcrevo os parágrafos do meio do texto de Pedro Mexia. Talvez apareça on-line um dia destes.
“Aquilo que tem afastado as pessoas de «tenda» católica é, digamos, a atitude da trupe. É essa atitude que se discute em «O Hipopótamos de Deus e Outros Textos».
José Tolentino Mendonça defende que as três tarefas decisivas para um padre, hoje, são a transmissão do Evangelho, o acolhimento pastoral e o diálogo com o mundo. Os padres católicos nunca abandonaram por completo as duas primeiras funções, mesmo quando as cumprem com algum desleixo; em contrapartida, a abertura ao mundo, mau grado o já longínquo Vaticano II, nunca foi uma prioridade. O «mundo» era, antigamente, um dos inimigos da fé, junto com o «demónio» e a «carne», e a Igreja ainda não abandonou completamente essa ideia. O «Hipopótamo de Deus» propõe uma renovada atenção ao que se passa aqui e agora, à nossa volta, à nossa porta, ao mesmo tempo que desmistifica algumas ideias caricaturais acerca do catolicismo.
Tolentino é poeta, e é a aproximação poética, e não apenas argumentativa, que faz com que tudo no catolicismo pareça aceitável e até atraente. Basta por exemplo elogiar o espírito «nómada» dos peregrinos, e uma actividade que nos parece própria de uma religiosidade acrítica ganha contornos aventurosos, dignos de um Chatwin. Uma prática tida como arcaica, como é o jejum, é apresentada como uma vantajosa purificação. O ancestral conflito com a ciência é atenuado com uma frase bem formulada sobre o céu. Em resposta a Saramago, diz-se que a história de Abel e Caim mostra que a fraternidade não é uma condição mas uma escolha. E assim por diante”.
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