Matthias Heine, protestante, escreve no “Die Welt” de 03 de Março de 2010 que a Igreja Católica precisa de uma nova Inquisição para lidar com os clérigos pedófilos, uma Inquisição que recupere o nome da antiga e excomungue os violadores de crianças.
Já aqui havia referido o texto. Veio na edição de Maio do "Courrier internacional". Está escrito com algum humor, mas não com ironia, e faz o que nunca um católico poderia fazer: uma defesa da Inquisição antiga, ainda que se refira à medieval, a que tinha como finalidade extirpar a heresia que surgia no interior do cristianismo, anterior à espanhola e portuguesa. Imaginemos um católico a dizer o mesmo…
O autor do texto, crítico de teatro no “Die Welt”, para lá da questão do assunto principal da pedofilia, adianta uma idiossincrasia do protestantismo logo a abrir o texto: “Se há coisa que os protestantes conservadores secretamente admiram na Igreja Católica é o rigor e a determinação com que ataca os seus inimigos. Na cultura protestante do diálogo, sonhamos às vezes com uma autoridade que dê um murro em cima da mesa e diga num tom categórico: «És um herege, vade retro!»” Uns parágrafos à frente, escreve que os próprios protestantes esperam que a limpeza de faça na Igreja católica, “já que a maioria neopagã e ateia considera todas as religiões responsáveis pelo que se passa entre os católicos. Há mesmo quem abandone o protestantismo «por causa do Papa»”.
Sobre a Inquisição, lembra três aspectos inovadores. Faz um elogio da Inquisição, algo que está nos antípodas da mentalidade comum (ia a escrever “mentalidade anticatólica”, mas mesmo entre os católicos existem tais convicções – por isso mesmo é que o católico não se aventura a defender a Inquisição, exceptuando num ou noutro aspecto histórico). São estes, não por esta ordem:
1) A Inquisição surgiu para controlar excessos da justiça popular. Heine aponta que em 1143, em Colónia, um grupo de hereges foi mandado para a fogueira pela populaça, contra a vontade do bispo.
2) A Inquisição abria inquéritos mesmo quando não havia queixa formada, desde que houvesse suspeitas. Tal situação, diz o crítico, era um procedimento ultramoderno que mais tarde os sistemas judiciais adoptaram.
3) A Inquisição iniciou o arquivo de dados. “O procedimento actual, que obriga o juiz de instrução e as autoridades policiais a interrogar testemunhas, a comparar depoimentos e a classificar testemunhos para consulta posterior, é uma invenção do Santo Ofício”.
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