Retrato de Ambrósio de Milão, do séc. V.
Pormenor de um mosaico na Basílica de Santo Ambrósio (em Milão; não confundir com a Catedral)
Num tempo de secularização, laicidade, pluralismo, diz-se que o significado cristianismo, a credibilidade da fé, a pertinência da religião se jogam no campo cultural, mais do que no campo político (estou a pensar em intervenções recentes do historiador António Matos Ferreira e de D. José Policarpo).
Ambrósio de Milão (340-397) disse o mesmo com 1600 anos de avanço, comentando o trecho evangélico de Lc 5,4:
«Avança para o largo (duc in altum)», quer dizer, para o mar alto dos debates. Haverá profundidade comparável ao “abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência do Filho de Deus" (Rm 11,33), à proclamação da sua filiação divina?... A Igreja é conduzida por Pedro para o mar alto do testemunho, para contemplar o Filho de Deus ressuscitado e o Espírito Santo derramado.
Quais são as redes dos apóstolos que Cristo manda lançar? Não será o encadeado das palavras, as voltas do discurso, a profundidade dos argumentos, que não deixam escapar aqueles que são agarrados? Estes instrumentos de pesca dos apóstolos não fazem morrer a presa, mas guardam-na, retiram-na dos abismos para a luz, conduzem-na lá de baixo até às alturas...
«Mestre, diz Pedro, trabalhamos toda a noite sem nada apanhar mas, à tua palavra, lançarei as redes». Também eu, Senhor, sei que para mim se faz noite quando tu não me dás ordens. Ainda não converti ninguém com as minhas palavras, ainda é noite. Falei no dia da Epifania: lancei a rede e não apanhei nada. Lancei a rede durante o dia. Espero que tu me ordenes; à tua palavra, tornarei a lançá-la. A confiança em si mesmo é vã, mas a humildade dá muito fruto. Aqueles que até então não tinham apanhado nada, eis que, à palavra do Senhor, capturam uma enorme quantidade de peixes.
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