Ferreira Fernandes no DN de hoje.
Em agosto de 1944, os oficiais alemães acusados de participar no atentado falhado contra Hitler foram julgados em Berlim. Iriam ser todos fuzilados, mas a condenação começou logo no julgamento. Todos os réus tinham calças largas e sem cinto. Quando se levantavam, agarravam-se às calças numa posição ridícula. Em 1952, o PC checoslovaco organizou o Processo de Praga contra ex-dirigentes comunistas caídos em desgraça. À entrada dos réus no tribunal, assistentes, advogados e juízes gargalharam porque os 14 detidos tropeçavam nas calças largas e sem cinto. Onze foram condenados à morte e executados (há um belo filme, A Confissão, de Costa-Gavras, sobre o processo). Ontem, dezenas de soldados ucranianos foram passeados numa avenida de Donetsk, na região leste da Ucrânia controlada por separatistas pró-russos. Os soldados iam de mãos amarradas nas costas e eram escoltados por baionetas e insultados pela multidão nos passeios. Depois de eles passarem, dois camiões de água varreram o asfalto, como que a limpá-lo, e a multidão riu. Era muito importante que os factos históricos - e ontem é também História - fossem lidos como as peças de Shakespeare. O trágico e o rir vão muitas vezes a par. E quando assim é, é porque a tragédia ainda é maior. Na tragicomédia "A Tempestade", Shakespeare quer mostrar que o mal existe - é preciso que se saiba que ele existe para o combater, porque derrotado nunca será. Estás a ouvir, Europa?
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1 comentário:
Uma moribunda já não ouve absolutamente nada, a não ser apenas o seu estertor acompanhado pelas mantras dos feiticeiros da religião económica e espiritual que estão de turno temporal!
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