domingo, 7 de julho de 2013

Bento Domingues: "Paciência com Deus (1)"

Início do texto de Bento Domingues no "Público" de hoje:


Há pessoas que falam da vontade de Deus e dos seus desígnios, com tanta certeza e desenvoltura, que até parece que Deus lhes lê o seu jornal todas as manhãs. Fico, depois, perplexo com o recurso ignorante a certas construções teológicas acerca da vida interna da SS. Trindade, como se andassem nos corredores de um museu de antiguidades. Não posso deixar de admirar essa arrojada arquitectura mental, cheia de subtilezas, para que o mistério da divina unidade na trindade das pessoas não surja como um absurdo, no contexto da sua recepção na cultura grega. Admito que esta concepção possa ajudar a acolher e cultivar a unidade plural nas nossas sociedades e no mundo em geral. Não tenho, todavia, paciência para a racionalização neutralizante da vida das metáforas. Ao perderem a sua energia poética passam a ser conceitos de nada. Tenho diante de mim, uma curiosa imagem com três cabeças numa só. Coitada. Prefiro a sobriedade enigmática dos textos do Novo Testamento.

Todo o texto aqui, amanhã. E, já agora, três imagens como a que o dominicano tem diante dele.



4 comentários:

Anónimo disse...

Eu gosto das tentativas antropomórficas de falar de Deus. São melhores do que as zoomórficas e ainda melhores do que as fitomórficas.

JS

Anónimo disse...

A censura está atarefada neste blog.

Jorge Pires Ferreira disse...

Houve um anónimo que escreveu, como primeiro comentário ao parágrafo acima, o seguinte:

"recurso ignorante a certas construções teológicas". Exactamente! Os ignorantes da teologia só dizem barbaridades quando falam de Deus. Por outro lado, a denúncia da "racionalização neutralizante da vida das metáforas" deve ter feito São Tomás dar saltos na sepultura.

Fim de citação.

Não sei porquê, o comentário não apareceu. Não fiz nada para que não aparecesse, como nunca faço. Só apago o spam e uma vez o comentário de alguém que recorreu ao calão.

Como recebo por e-mail todos os comentários, pude reproduzir o que deveria ter aparecido e não apareceu. Tenho mais do que fazer do que censurar ideias. Até porque acredito profundamente na liberdade de expressão. Mesmo sob anonimato.

J. Duque disse...

Jorge: tanto quanto sei, estas representações da Trindade (rostos com três faces, a fazer lembrar a estatuária dalguns deuses hindus...) foram mesmo censuradas pelo Concílio de Trento (séc. XVI) - daí o facto de serem muito raras e de grande valor nos antiquários…

Seria interessante escrever um breve artigo sobre a representação artística deste grande mistério do Cristianismo ( o Deus único em essência e em três pessoas). Tanto quanto sei, só no fim da Idade Media é que apareceu a representação conjunta das três Pessoas divinas tal como hoje as vemos nalgumas igrejas e museus : Deus-Pai como um ancião barbudo e coroado com uma tiara; Deus -Filho como um homem também barbudo de cerca de 30 anos (o Jesus “clássico” da iconografia cristã) e Deus-Espirito Santo como uma pomba (ou também, mais raramente, como uma criança).
Os cristãos orientais têm outras formas de representar a Trindade (ex.: o famoso ícone de Andrei Rubliev, em que os três anjos que visitam Abraão simbolizam as Três Pessoas divinas) e nunca pintam como seres humanos o Pai (assinalado por uma mão que sai de uma nuvem) e o Espírito Santo (simbolizado por: pomba, luz, línguas de fogo) - só o Filho, porque encarnou, pode ser pintado explicitamente como um Homem.

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