sexta-feira, 8 de março de 2013

Ana Vicente: Mais um 8 de Março...


Texto de Ana Vicente no "Público" de ontem. Interessa-me especialmente do último parágrafo da segunda coluna para a frente.

16 comentários:

Euro2cent disse...

... 'tadinha. Mais uma que engoliu as patranhas jacobinas todas - "lock, stock and barrel", como dizem os anglo-saxónicos - e não fica contente enquanto não formos todos iguais como as bactérias, e igualmente cultos.

Quer dizer, nada de estranhar no orgão oficial do Bloco de Esquerda.

Helena V. disse...

Deixo uma imagem, partilhada neste dia 8 de março por uma amiga. É uma pintura, de autor anónimo, de cerca de 1540-50, que está em Guimarães, no Museu Alberto Sampaio. Representa a descida do Espírito Santo, também sobre figuras femininas... Muito interessante. De um jacobino avant la lettre?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pentecostes_-_autor_desconhecido.jpg

Anónimo disse...

Nem uma palavras sobre o tratamento das mulheres no Islão? Nem uma? Perde todo o seu crédito...

Anónimo disse...

Era o que faltava. Tinha de falar do islão? E do hinduísmo, por causa das que se imolam quando os maridos morrem? E das práticas tribais? E da Antiga Roma? E do zoroastrismo? Tinha de falar de tudo para não dizer nada? Velha técnica para quem não quer avançar em nada.

Anónimo disse...

Caro anónimo. Se há, nos dias de hoje, um problema universal com o tratamento face às mulheres, esse está no Islão. Não há que ignorar. Esse Islão que está entre nós.

Anónimo disse...

Caro anónimo (2:21 PM)… existem muitas formas subtis para se tecer certas espécies de “burkas” que alguns ainda teimam em vestir às mulheres das sociedades judaico- cristãs… apontar o exemplo “islão” é uma boa “tentativa”, (é claro que carrega infelizmente muita verdade sim..!).. mas ainda assim, tal realidade não esconde uma outra realidade gritante e escandalosa nas nossas sociedades cristãs! Meu caro anónimo, sabe, há um outro “islão” (para usar a sua fórmula) muito pouco falado mas também tão destruidor e maligno que está profundamente enraizado e tão presente entre nós, e olhe que não é só a sociedade laica, muitos grupos ditos “cristãos” também não estão nada inocentes no tema! Certamente que é terrível essa forma de olhar e tratar a mulher como o fazem muitas sociedade islâmicas radicais, mas entre um lado e outro, que venha o diabo e escolha! A verdade é que tanto um como o outro, são profundamente corrosivos e destruidores da dignidade da mulher…!

Peter

Anónimo disse...

Caro Peter: é verdade que entre nós há muito mal feito às mulheres. Concordo consigo. Mas:

a) este texto é sobre o "dia internacional das mulheres" e não "dia português (ou ocidental) das mulheres" e 1/5 das mulheres do mundo são muçulmanas; não falar destas é trair a intenção deste dia, por mais que as demais denúncias sejam acertadas (só perdem por serem obtusamente cegas do que nos rodeia mais amplamente);

b) o cristianismo (foi você que pôs este em debate) sanciona, como faz o islão mais ortodoxo:

b.1) a violência contra as esposas que não desejem ter relações sexuais com os seus esposos?
b.2) a diminuição ontológica (não prática ou de missão, mas a nível do próprio ser) das mulheres face aos varões?
b.3) a relação sexual com meninas pré-pubescentes?
etc.?

Quer responder-me a estas questões?

Peter disse...

Caro Anónimo (1:20 PM), o tema em causa não se reduz a espaços geográficos, sociais e temporais, e a gravidade da situação não se reduz nem se avaliza aqui a partir das “quantidades”…! Mesmo que se tratasse apenas de um episódio e envolvesse nem que fosse só uma mulher, esse seu “mas” que reconhece o que apontei ainda que colocado na balança das supostas “traições e cegueiras”… deixa de ter sentido, não pode ter mesmo, ai sim, seria trair a identidade, unicidade, singularidade e o valor sagrado da pessoa humana, seja ele homem ou mulher…! Sobre as 3 questões que me dirige, a economia do espaço limita-me, mas apontarei apenas alguns “detalhes”, até porque a minha intenção não é a polémica mas sim contruir-abrir diálogos para o bem…!

Pergunta-me o caro: b) o cristianismo (foi você que pôs este em debate) sanciona, como faz o islão mais ortodoxo:

b.1) a violência contra as esposas que não desejem ter relações sexuais com os seus esposos?

Sabe, há muitas formas de “violência”… vou citar-lhe aqui só este exemplo entre muitos até para perceber que não estou imbuído de parcialidades nem numa espécie de cruzada a favor das mulheres… aqui o que me “importa é o ser humano, o Amor não tem género, Deus que é Amor ama sem fazer essas “distinções” humanas…! Que me diz por exemplo sobre o Sacramento do Matrimónio onde as pessoas que se tornam incapazes de ter uma relação sexual acabam por ver o seu casamento invalidado dando espaço (imagine-se o absurdo) até à anulação de algo que é considerado Sagrado e indissolúvel…! (Cân. 1084 § 1. A impotência para copular, antecedente e perpétua, absoluta ou relativa, por parte do homem ou da mulher, dirime o matrimónio por sua própria natureza.) …! E olhe meu caro, aqui não se trata de “desejar” ou não “ter relações sexuais”…! Ainda estou para compreender onde foi o homem buscar autoridade para legislar sobre o Amor entre dois seres humanos que nãos e reduz apenas às relações sexuais…!

b.2) a diminuição ontológica (não prática ou de missão, mas a nível do próprio ser) das mulheres face aos varões?

O caro acredita mesmo ou quer-nos convencer que o SER ontológico não é também parte e fruto da sua própria ACÇÃO entre outras dimensões… retirar-lhe essa dimensão não é amputar a sua totalidade… ou a mulher é alguma espécie de “prótese” que existe no CORPO e que só serve para determinadas acções que fazem parte do todo que forma a Igreja… e quando não é precisa, retira-se para uma “estante” montada nas nossas carpintarias teológicas e sociais…!

continua...

Peter disse...

continuação:

b.3) a relação sexual com meninas pré-pubescentes? etc.?

Quando li esta última questão, vieram-me logo à memória alguns episódios… não são uma resposta "directa" à questão que levanta, mas nem por isso deixam de fazer parte desse contexto que dá forma à sua questão… suponho até que esse seu último “etc.?” deixa-me essa porta aberta…. fiquemos agora por estes dois casos:

Um dos casos, aconteceu em 2009 com o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho que excomungou uma menina de 9 anos e a equipa médica que a operou para impedir uma gravidez fruto de uma violação, negando-se depois a excomungar o violador e afirmando publicamente que o aborto era um crime mais grave que a violação! Já agora, essa decisão foi “sancionada” positivamente depois por Roma! Não vou alongar-me… pode encontrar mais dados aqui na Folha de S. Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u530540.shtml

O outro caso também em 2009 e que se pode interligar com a sua primeira questão (b.1), passou-se em Espanha com o Arcebispo de Granada, Javier Martinez durante uma homilia onde afirmou que o “abortar, dava permissão absoluta ao homem para abusar da mulher”.. pode escutar e ver aqui a homilia: http://www.youtube.com/watch?v=c8uBK4vTMMc

Menina-Mulher… Mulher-Menina… 8 anos… ou adulta… a verdade é que em ambas já existia esse dom precioso que é gerar vida… pode argumentar que estou a desviar-me da questão, mas creio que não os podemos dissociar aqui da última questão que levanta… e mesmo das outras, as 3 fazem parte do mesmo caldo onde se cultiva essa cultura da violência (não só a física) e que matam a essência do SER…!

Sabe, o mal está na base e não nas periferias…como são por exemplo o acesso ao sacerdócio e outros temas... isso são apenas “detalhes” comparados com o que está aqui verdadeiramente em causa….! Meu caro Anónimo, podemos andar às voltas, mas iremos terminar-cair inexoravelmente na questão nuclear sobre a condição da mulher que já implodiu há muito dentro da Igreja…!

Peter disse...

As fontes da citação do primeiro comentário (Cân. 1084 § 1.), encontram-se no Código de Direito Canónico, Cap.III (DOS IMPEDIMENTOS DIRIMENTES EM ESPECIAL)…referentes ao Matrimónio

Peço desculpa pelo lapso…

Anónimo disse...

Já agora, deixo-lhe em pdf a homília do Arcebispo de Granada completo!

https://docs.google.com/file/d/0B9NYHdRmfMfZYzZUblpRM05xV28/edit?pli=1


Peter

Helena V. disse...

Estou completamente de acordo com o que escreve, Peter, e agradeço-lho profundamente.
Reforço que a ordenação das mulheres não é, em si mesma, a questão. Sempte o achei. E insisto que existe uma interligação entre a doutrina da moral sexual católica e a dificuldade por parte da Igreja em reconhecer as mulheres na plenitude da sua natureza enquanto seres absolutamente iguais em dignidade (ontologicamente, portanto).
Eu experimento-o como mulher: uma certa forma de me fazer ouvir, com credibilidade e sem apelo a paternalismos, é vista com desconfiança. Paira a dúvida: "quem é esta?". E, como resposta, é inelutável a secundarização do que "ela" diga... Isto é muito evidente, demasiado.
E essa, caro anónimo da 1:20 PM, é uma forma de violência, subtil mas de uma eficácia enorme, que destitui, afasta e relega para um lugar de subalternidade.
Dir-me-á que o que eu diga ser "lugar de subalternidade" é um lugar em que as mulheres exercem a máxima dignidade de tecer o essencial do tecido da vida eclesial, nas comunidades de base, na Igreja doméstica que é a família, etc. Mas se o fazem como forma mitigada de participação, no silêncio e resignadas ao que lhes cabe... será saudável, digno, desejável, evangélico? Não, não é.
A tradição, esse pilar da Igreja equiparável ao Evangelho por alguns intervenientes neste fórum (dizendo-se suportados pelo que lhes dita o Magistério), vê apenas com um dos dois olhos: é patriarcal. Ninguém o pode negar. E reflecte uma visão distorcida da sexualidade humana, instrumentalizada ao serviço da procriação. Fá-lo em detrimento da valorização efectiva da dimensão afectiva e relacional da sexualidade, como fonte de comunhão de vida e de prazer.
Todas as determinações a este respeito (referidas pelo Peter), toda a doutrina da moral sexual radica nesta desfiguração da sexualidade, que é uma desfiguração da humanidade. Eu diria mesmo, e retomando a expressão tão forte e pungente de Bento XVI, que o "rosto defigurado da Igreja" radica nesta assimetria no que toca às formas e lugares de participação de homens e mulheres na Igreja. "Homem e mulher os criou"(Gn 1). Homem e mulher nos criou!

Anónimo disse...

Peter, não me respondeu. Apenas quis atirar areia para os olhos. Ande lá. faça um esforço e diga:

b) o cristianismo (foi você que pôs este em debate) sanciona, como faz o islão mais ortodoxo:

b.1) a violência contra as esposas que não desejem ter relações sexuais com os seus esposos?
b.2) a diminuição ontológica (não prática ou de missão, mas a nível do próprio ser) das mulheres face aos varões?
b.3) a relação sexual com meninas pré-pubescentes?

mas vou mais longe e clarifico: restrinja-se aos textos ortodoxos do cristianismo (tudo o que se afasta destes pode ser ou não cristão). Ande lá. Esforce-se.

Anónimo disse...

Obrigado cara Helena... muito forte mesmo... fez-me bem escutá-la... não cuide o seu coração… todos sabemos que o Espírito Santo é imparável... ninguém poderá jamais suster essa corrente que já transborda os "muros" da Igreja... é só uma questão de tempo… a história do caminho da humanidade é suficientemente clara nisso…!

Saudações fraternas…

Peter

Anónimo disse...

Caro Anónimo (5:21 PM)….Ainda mais claro do que fui…! “O pior cego é aquele que não quer ver.” …! “ Faça lá um pequeno esforço por favor e não permita às suas emoções que lhe obscureçam a razão…!

Peter

Anónimo disse...

Peter, não fuja; não seja cobarde; seja um homem e não um rato. Responda objectivamente e sem subterfúgios às perguntas objectivas que aqui coloquei.

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