quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"O Último Exorcista". Oxalá que sim



P.e Gabriele Amorth tem mais um livro. Intitula-se “O Último Exorcista” (Paulinas). E eu só posso concordar. Oxalá que sim.

Mas depois leio na contracapa, escrito pelo próprio: “O Último Exorcista é um título conscientemente provocador. É claro que não sou o último exorcista deste mundo. Depois de mim, outros virão e já existem outros, mesmo entre os jovens. Mas, no mundo, somos tão poucos… Muitos bispos já não acreditam no demónio nem já nomeiam exorcistas nas suas dioceses. Estamos reduzidos a poucos e cada um de nós, na sua batalha quotidiana, sente-se como se fosse o último exorcista a combater o grande inimigo. Esta é a minha grande angústia e preocupação, sendo por isso que aceitei que o livro saísse com este título».

Debruçando-me recentemente sobre vários títulos deste padre exorcista, sinto uma certa perplexidade quanto ao seu trabalho. Vejamos. Em “Mais fortes que o mal” (Paulus), P.e Amorth diz que é ação do diabo e dos seus demónios o seguinte (o subtítulo da obra é “O demónio: reconhecê-lo, vencê-lo, evitá-lo”):

- a doença mental (os manicómios estão cheios de vítimas da ação do diabo)
- as pernas presas antes de um casamento por maldição da sogra
- cancros
- falências de negócios
- sonhos de caracter sexual
- filmes de terror
- filmes violentos
- filmes de sexo
- desenhos animados
- tentações dos santos
- assassínios
- feitiços, amarrações, maldições, macumbas, wudu, mau-olhado, filtros mágicos
- maldição do pai para a filha no dia do casamento
- luzes que se ligam sozinhas
- magos “com poderes reais”, feiticeiros e bruxos
- sapos que desaparecem de sacos com água fechados
- pregos enferrujados que aparecem debaixo do colchão sem ninguém os pôr lá.

Isto tudo e ainda vou só na página 72. O livro tem mais duzentas páginas.
Perante esta panorama (acho piada que ele distinga magos com poderes reais dos magos charlatães, o que diz muito da sua capacidade de acreditar), só não vê a ação do demónio quem não quer.

O caso das materializações  - pregos enferrujados – nos colchões é um dos muitos casos hilariantes. “Não se trata de coisas inseridas manualmente no interior dos colchões, mas por via maléfica”, diz, certamente desconhecendo a desmontagem que o P.e Quevedo fez da materialização do algodão (há vídeos por aí). É muito curioso, aliás, que os exorcistas repudiem todo o trabalho dos parapsicólogos e céticos.

Com tudo isto, tenho três hipóteses para explicar o trabalho de P.e Gabriele Amorth.
A primeira é a que ele próprio assume. Que o diabo existe e que há que falar dele para estarmos atentos e não cairmos no pecado (que é o mais importante mas não dá tanto espetáculo) nem sofrermos infestações, vexações e possessões (que é só sofrimento, mas é mais espetacular). O trabalho dos exorcista incide sobre este segundo aspeto.

A segunda é minha. O diabo existe ou não existe. Se existe (o que é existência de um não ser?) e mesmo que não exista (tem uma existência simbólica, pelo menos, e influência na vida de alguns) convém-lhe que alguém o divulgue e faça acreditar nos nadas que oprimem muita gente (maldições, maus olhados, poder dos feitiços, etc. etc.). Quanto mais se acredita, mais oprimem. O P.e Gabriele Amorth, paradoxalmente, faz um trabalho nesta linha. Quem se sente vulnerável, por mil e um aspetos, ao ler as suas obras poderá pensar que nos seus tormentos há dedo demoníaco. Como diz um autor que acredita na pessoalidade do diabo, Jean Vernette: “Meter Satanás em todo o lado é prestar-lhe honras. E por vezes induzir em tentação quem estava bem longe disso”.

A terceira, também da minha autoria. O diabo não existe. E o P.e Gabriele Amorth, com a sua credulidade ingénua, involuntariamente, é certo, mais argumentos dá a quem não aceita a existência pessoal do anjo caído. Por oposição, julgo que este padre exorcista serve a verdade. “Se o diabo é isto – podemos pensar –, é claro que não existe”.

9 comentários:

Clovis Horst Lindner disse...

Bom comentário, Jorge. O padre Amorth só dá força a um ocultismo exagerado que não cabe mais no século 21. É muico cômodo meter a culpa no diabo por tudo que acontece de ruim no mundo ou na nossa vida. Assim, não temos que assumir que os problemas de hoje são o exato resultado das opções que fizemos ontem... Ademais, a Paulinas já se prestou a publicar bons livros no passado. O que aconteceu aos bons teólogos do passado, que tinham espaço na Paulinas? Será que o coisa ruim anda solto por lá também?

Anónimo disse...

Jorge e Clovis,

de facto espanta-me que o p. Amorth, sabendo como sabe que mentir é grave (sendo mesmo uma obra do demo segundo alguns), tenha mentido com o nome que deu ao seu livro... estará possuído?

Já acerca das Paulinas: é um facto que agora só publicam literatura "light". Esse é um problema da Igreja Católica (não haver muita gente com arcaboiço para ler coisas mais dificilmente digeríveis), mas passa-se o mesmo nas Igrejas Evangélicas? Não sei.

Fernando d'Costa

Anónimo disse...

Chamar-se "O último exorcista" é um acto evidente de vaidade. Desse modo compreendemos melhor as atitudes dos seus discípulos que andam por aí a enganar as pessoas.

Américo Mendes

everton marques disse...

meu caro clovis...nao é esta em pleno seculo 21 a acao do demonio tem tomadas grandes proporçoes,isso mesmo em pleno século 21..ha e o que aconteceu dos teologos terem sumidos da paulinas foi que com esta decadençia que estamos vivendo simplesmente eles nao tem mais o que dizer! só que ja assistiu um exorcismo saberá o que estou dizendo..pax dominüs.

Anónimo disse...

"eu vim para destruir as obras de satanas", negar o demonio eh negar a divindade de Cristo... Quem voce pensa que é para dizer se o demonio existe ou nao??? entao vc esta acima do magisterio da igreja?? acima dos santos que vivemciaram experiencias??? acima dos papas??
Vc eh um covarde que tem medo de Anunciar verdadeiramente o nome de Jesus e Viver a missao que o Cristo Jesus Deu aos apostolos "expulsarao demonios em meu nome"...
...Meu caro clodovil, ops clodovil eh um homosexual daqui da minha cidade vc faz juz em ter o nome dele....

Anónimo disse...

o jorge e o clodovis são duas bichas frustradas
bichonassssss

Jorge Pires Ferreira disse...

Ao anónimo das 1:47,

Negar o demónio não é negar a divindade de Cristo. Pode ajudar, pelo contrário, a reconhecer o carácter pecador dos homens e mulheres. Por outro lado, ao contrário do que pensa, o Magistério da Igreja não é claro sobre a existência do demónio, e muito menos obriga a acreditar nele, já que, acreditar, pôr a confiança, só se faz em relação a algo positivo e bom.

E não adianta dizer que os demónios são visados nas “coisas invisíveis” do Credo porque, nesse caso, estará a dizer que Deus criou o mal.

Quanto aos insultos, ficam com quem os profere.

Jorge Pires Ferreira disse...

Anónimo das 1:56,

diga o que quiser, que não serei eu a impedi-lo de falar ou escrever, mesmo escondido no anonimato.

Anónimo disse...

Todos vocês são um bando de mau informado!
Se são tão sábios assim, criem fórmulas para resolver de imediato os problemas da humanidade.

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...